quarta-feira, junho 18, 2008

À luz de ...



Vamos a ver se nos entendemos. Se na minha casa se consome electricidade é natural, e justo, que eu pague a despesa relativa ao fornecimento desse serviço. Ao fim e ao cabo é o respeito pela velha máxima do “utilizador pagador”. Tiro proveito, logo, pago.


Agora, saber que há por aí uns quantos fulanos (particulares e empresas) que não costumam pagar as suas facturas e a quem nada lhes acontece, a mim não me parece nada bem. E ainda me parece pior quando a fornecedora da energia – a EDP, aquela mesma empresa que, ainda há pouco, aumentou os seus administradores 118%. – propôs que toda essa importância que lhe é devida fosse paga pelos clientes que ainda costumam cumprir as suas obrigações. Ou seja, os clientes cumpridores vão ter que pagar as dívidas dos faltosos.

E a proposta – tão chocante
como inesperada - foi bem acolhida pela ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos).

Já nos basta ter que pagar a electricidade muito mais cara do que no resto da Europa. Em Portugal, o preço sem impostos foi, em 2007, superior em 21,1% ao preço médio comunitário. E se a análise for feita por países a diferença, em relação a alguns deles, é ainda maior. Por exemplo, em 2007, o preço da electricidade em Portugal sem impostos era superior em 114,8% ao da Grécia, em 41,4% ao de Espanha, em 30,5% ao da Suécia e em 61,9% ao da Dinamarca. Não chega?
Estes preços bastante mais altos do que os praticados pelos nossos parceiros da UE justifica, em parte, os lucros fabulosos da empresa. Recorde-se que, no ano passado, a EDP teve um resultado líquido de 907,3 milhões de euros. Não admira, pois, que o seu logótipo seja um sorriso seguido da “assinatura” “Sinta a nossa energia”.

Ora, uma empresa com tamanhos resultados (e a ainda que os não tivesse) deveria fazer aquilo que é normal em qualquer empresa séria. À luz das boas práticas empresariais, mas também da ética e da justiça, a EDP deveria fazer reflectir os seus prejuízos (provocados pelos “incobráveis”) numa rubrica de custos. Mais nada.

Entretanto, e uma vez que a proposta ainda vai ser submetida a discussão pública, foram adiantando que se os clientes (os tais ingénuos que continuam a pagar) tiverem mesmo que assumir o pagamento que os outros negaram, será imputado a cada um qualquer coisa como 1 euro.

Não é esse valor, portanto, que mais estimula a minha indignação. Para mim trata-se, apenas, de uma questão de princípio.


3 comentários:

Anónimo disse...

Com tantos milhões de lucros até eu mostrava um sorriso de orelha a orelha e uma energia maior de que se tivesse Red Bull.

Anónimo disse...

Aí está uma boa maneira da classe média se manifestar de forma a dar um recado à classe política: revogar as instruções de débito directo da EDP e ir pagar a conta não permitindo o débito desse montante por não ser contratual.
Que tal ?
Talvez não tivesse a violência dos camionistas ou o barulho do businão mas lá que ia dar confusão, lá isso ia.

E já agora nesta onda de sermos levados a pagar coisas que não queremos: alguém acredita que a BRISA (empresa cotada em Bolsa) suporte sozinha os tais custos das portagens nocturnas dos transportadores?

Ingénuos...

Anónimo disse...

Pretende-se repartir pelos consumidosres cumpridores os prejuizos da EDP das facturas não cobradas, i.e. os prejuízos do exercício da actividade. SERÁ QUE ESTÃO DISPOSTOS A DISTRIBUIR TAMBÉM OS LUCROS???

Zé da Burra o Alentejano