sexta-feira, dezembro 19, 2008

Boas Festas e Bom Ano Novo


Neste Natal de 2008, quero


partilhar convosco o meu presépio




e desejar-vos a todos

Saúde,
Paz e
Amor



BOAS FESTAS!
BOM ANO NOVO!

quarta-feira, dezembro 17, 2008

E quem lutará por eles?

Ainda há pouco tempo escrevi neste espaço que as ondas de protesto oriundas das confederações patronais e dos sindicatos mais fortes poderiam vir a destabilizar o Estado, levando o Governo a fazer cedências sucessivas.

Depois das ameaças de rua patrocinadas pelas empresas de transportes, a escalada de protestos tem vindo a subir de tom e não se sabe até onde poderá ir. As exigências dos professores, dos magistrados, dos trabalhadores da higiene urbana, dos médicos e de vários outros grupos já se fizeram ouvir.

E o problema nem é o de satisfazer e o de acudir a tanta reindivicação. A questão é a de se saber onde se vai buscar mais e mais dinheiro e como é que a distribuição por alguns pode vir a prejudicar a atribuição a muitos outros, porventura mais necessitados e, de certeza, com menos possibilidades de se fazer escutar.

É o caso dos reformados e dos pensionistas. Não, obviamente, de todos. Não dos que têm reformas de luxo nem dos muitos que auferem míseras reformas e pensões para quem o Estado, apesar de tudo – e justamente - ainda vai olhando. Como aconteceu hoje no Parlamento onde o Primeiro-Ministro anunciou que o complemento solidário para idosos vai subir 3,3 por cento em 2009.

Refiro-me aos reformados e pensionistas das chamadas classes média e média-baixa. Mesmo sabendo-se que a esmagadora maioria dessa franja da população ganha reformas escassas, o Estado nada faz para melhorar as suas condições de vida. É cruel dizer-se (e pensar-se) isto mas o facto é que não vale a pena ajudar quem já não produz e já não contribui para a riqueza nacional. Portanto, como há pouco dinheiro, o melhor é investi-lo no sistema financeiro, nas famílias jovens que ainda têm muito tempo para descontarem e terem filhos, nas empresas que criam ou mantêm empregos, na ciência, na escola, nas energias alternativas e em tudo o mais que possa vir a trazer benefícios no futuro ou que, no presente, não crie grandes problemas sociais.

É um ponto de vista e uma escolha. Mas volto a perguntar, e os velhos ou mesmo aqueles que ainda não o sendo, já foram postos à margem do emprego e da sociedade, apesar de terem contribuído para ela ao longo de anos? Esqueceram-se, porventura, de que eles também são credores de dignidade e de atenção?

A verdade é que os reformados e os pensionistas das classes média e média-baixa não têm confederações, nem sindicatos nem, sequer, têm voz. E não a tendo, são sistematicamente esquecidos à sua (má) sorte de grupo que não vale a pena apoiar.

Fala-se muito no esforço do Estado na educação e no emprego para os jovens. Concordo absolutamente com isso. Mas o que dizer em relação aos que já foram jovens, aos que trabalharam, muitos deles, nas mais difíceis condições e durante muitos anos para se sustentarem e sustentar o Estado, que não tiveram as mesmas oportunidades que hoje existem, nem quanto à educação nem quanto ao emprego, o que é que o País tem para lhes dar? Acredito que nada.

A sociedade deve estar muito atenta ao problema. Não por motivos meramente economicistas, em que os eventuais aumentos das reformas poderiam potenciar um maior consumo. Antes pela obrigação de olhar para quem, mais frágil pela idade, pela doença, pelos desafectos e pela falta de perspectivas, já não tem quem lute por si.

terça-feira, dezembro 16, 2008

Um outro olhar sobre a Banca

O ilustrador e “cartoonista” Gonçalo Viana, apesar de ter formação em arquitectura, dedica-se a tempo inteiro à ilustração e ao “cartoon” desde 2002, depois de ter regressado de Londres, onde trabalhou, colaborando actualmente em diversas publicações portuguesas e estrangeiras.

Já este ano venceu, por unanimidade, o Prémio Stuart de Desenho de Imprensa 2008, com o “cartoon” “Ponta do Iceberg”, relativo à polémica do Millenium BCP.

Inspirado numa outra polémica – a falta de supervisão do Banco de Portugal (e do seu Governador, o Dr. Victor Constâncio) sobre o BCP e o BPN – publicou agora o cartoon “Ensaio sobre a Cegueira”



Muito bom!

Relato de uma professora de matemática

O texto que se segue – cujo título faz lembrar vagamente o de algum livro do escritor argentino Jorge Luís Borges - chegou-me através de mail e, presumivelmente, tratar-se-á de um relato verdadeiro. Mas, ainda que não o seja, eu sinto – e alguns de pensarão o mesmo – que há muito de verdade na “evolução” do que tem sido o ensino da matemática nestas últimas décadas no nosso país.
Culpa dos professores? Culpa dos estudantes? Culpa de quem pensa e elabora os programas? Se calhar de todos. A verdade, porém, é que existe um sentimento geral de que hoje se sabe menos das matérias incluídas nas disciplinas ditas fundamentais para o conhecimento, nomeadamente a matemática, o português, a geografia e outras.
A propósito, e sem querer atear ainda mais o já quente dossier dos professores, diria ainda, e de certo modo a este propósito, que se soube finalmente esta semana que o modelo de avaliação apresentado pelos sindicatos dos professores mais não é do que um processo de auto-avaliação, cujo resultado, na minha perspectiva, visa juntar num mesmo patamar os bons e os maus professores, os mais experientes e os aprendizes, isto é, pretende que, na prática, nada se altere para que tudo fique como antes.
Mas vamos lá, então, ao relato de uma professora de matemática:
“Na semana passada comprei um produto que custou 1,58€. Dei à empregada 2,00€ e da minha bolsa tirei mais 8 cêntimos, para evitar receber muitas moedas.A pequena pegou no dinheiro e ficou a olhar para a máquina registadora, aparentemente sem saber o que fazer.Tentei explicar que ela tinha que me dar 50 cêntimos de troco, mas ela não se convenceu e chamou o gerente para ajudá-la.Ficou com lágrimas nos olhos enquanto o gerente tentava explicar e ela aparentemente continuava sem entender.
Por que estou a contar isto? Porque me dei conta da evolução do ensino da matemática desde 1950, que foi assim:
1. Ensino da matemática em 1950:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por €100,00.O custo de produção desse carro de lenha é igual a 4/5 do preço de venda .Qual é o lucro?
__________________
2. Ensino de matemática em 1970:Um cortador de lenha vende um carro de lenha por €100,00.O custo de produção desse carro de lenha é igual a 4/5 do preço de venda, ou seja, €80,00.Qual é o lucro?
__________________
3. Ensino de matemática em 1980:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por €100,00.O custo de produção desse carro de lenha é € 80,00.Qual é o lucro?
_________________
4. Ensino de matemática em 1990:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por € 100,00.O custo de produção desse carro de lenha é €80,00.Escolha a resposta certa, que indica o lucro:( )€ 20,00 ( )€40,00 ( )€60,00 ( )€80,00 ( )€100,00.
__________________
5. Ensino de matemática em 2000:Um cortador de lenha vende um carro de lenha por € 100,00.O custo de produção desse carro de lenha é € 80,00.O lucro é de € 20,00.Está certo?( )SIM ( ) NÃO _________________
6. Ensino de matemática em 2008:
Um cortador de lenha vende um carro de lenha por €100,00.O custo de produção é € 80,00.Se você souber ler coloque um X no€ 20,00.( )€ 20,00 ( )€40,00 ( )€60,00 ( )€80,00 ( )€100,00
O desabafo da professora, para além da ironia implícita, constitui um lancinante grito de revolta e de desespero. Óbviamente, que o subscrevemos por inteiro.

domingo, dezembro 14, 2008

Mas as crianças, Senhor ...

Na azáfama consumista do fim-de-semana, em que tentava efectuar as últimas compras de Natal, deparei com imensas pessoas que tinham estampado nos rostos a ansiedade por não saberem o que comprar para oferecer, por um lado e, por outro, o desespero de sentir que a verba previamente estabelecida para as prendas natalícias, já tinha sido largamente ultrapassada. Sem que tivessem, sequer, a possibilidade de efectuar um orçamento rectificativo.

Juro que ouvi várias pessoas perguntarem aos seus acompanhantes coisas do género “O que é que vamos oferecer à tia? ou “A Joana tem tudo, o que é que havemos de lhe dar?”

A verdade é que, há muito, o genuíno espírito de Natal deu lugar à correria louca das compras e à pressão de se conseguir oferecer prendas agradáveis, úteis e baratas, se possível.


Às tantas, porém, o cansaço bateu-me à porta e tive que parar um pouco para descansar e matar a sede e algum vazio que já me ia pelo estômago. Acabado o petisco, havia que voltar rapidamente à correria anterior, a entrar em todas as lojas possíveis, a enfrentar os empurrões inevitáveis e a encarar as fatais hesitações do não-sei-o-que-fazer.

Antes porém, detive-me junto à enorme árvore de natal daquela catedral do consumo e olhei embevecido para o majestoso pai-natal que acenava para as criancinhas para que tirassem uma fotografia com ele.

E aí, fiquei apavorado ao ver pais “empurrar” os seus filhos, que choravam desalmadamente, para os braços do simpático velhinho das barbas brancas. Miúdos que gritavam com medo, que se agarravam com desespero às calças das mães ou dos pais e que manifestavam claramente que não queriam aproximar-se daquele “monstro” que tocava uma sineta esquisita e que dizia, com voz de trovão, “Oh! Oh! Oh!”.

Nessa altura, não pude deixar de recordar os versos da Balada da Neve, de Augusto Gil

“Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor?!... Porque padecem assim?!...”

quinta-feira, dezembro 11, 2008

Sorridente

Apesar das condições externas e internas serem adversas para o governo, o Primeiro-Ministro José Sócrates tem motivos para andar sorridente.


Relativamente às oposições dentro do seu próprio partido e da área mais à esquerda do PS, vai conseguindo, com habilidade, fazer uma gestão sem grandes sobressaltos. Quanto às oposições da direita, se ao CDS não lhes dá demasiada importância por que ninguém sabe se num futuro próximo não terá que fazer algum tipo de acordo com eles, já ao PSD vai disfrutando tranquilamente as lutas intestinas entre Manuela Ferreira Leite e os seus pares.


E tão sossegado está que chegou a referir “Enquanto isto continuar assim, nós a governarmos, e eles, oposição, a dizer mal, tudo está perfeito".

Feliz e sorridente, portanto.


Ainda por cima, o charmoso Sócrates, acabou de ser nomeado, no último fim-de-semana, pelo magazine do jornal espanhol “El Mundo” o sexto homem mais elegante de 2008. Um “jovem dinâmico, seguro de si mesmo, que faz jogging todas as manhãs e veste fatos Armani”, acrescenta o jornal.


Mais feliz e mais sorridente, ainda.


Por isso não me admira que, com tanta felicidade e com tanto sorriso à mistura, o Primeiro-Ministro tenha proferido – com a segurança que lhe é característica – a frase que todos nós tanto queríamos ouvir: “os portugueses com a descida do preço do petróleo e das taxas de juro vão viver muito, mas muito melhor, em 2009”.


Feliz e sorridente mas, provavelmente, demasiado optimista, não vos parece?




terça-feira, dezembro 09, 2008

A excursão dos deputados

Manuela Ferreira Leite ficou possessa ao saber que 30 deputados da bancada do partido que lidera não estiveram presentes na Assembleia da República na última sexta-feira.

Para além de ser importante para o PSD poder aprovar projectos que derrotariam o partido do governo, a ausência de 30 dos seus 75 dos deputados fez estremecer ainda mais a já frágil e contestada liderança de Ferreira Leite.

Mas não foram só os 30 do PSD. Também no PS 13 deputados não compareceram às votações. Ou muito me engano ou foram nalguma excursão.

É lamentável que os representantes do povo na casa da democracia mostrem tão pouco respeito por quem os elegeu, faltando aos seus compromissos sempre que lhes dá jeito, nomeadamente quando há fins-de semana prolongados.

Claro que o que agora sucedeu não é um fenómeno novo mas, exactamente pela frequência com que acontece, urge pôr fim a tamanha desvergonha e irresponsabilidade.

Como não tenho qualquer poder para acabar com estas situações, posso, pelo menos como cidadão, pensar que isto terminaria rapidamente se à segunda falta não justificada, fossem cassados os mandatos dos senhores deputados.

Tenho a certeza de que com mão dura, a bandalheira findava em três tempos.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

A luz ao fundo do túnel?

Claro que já adivinhava que depois do meu último texto sobre as divergências entre Professores/Sindicatos e o Ministério da Educação iriam “chover” desabafos de alguns amigos que, sobre esta matéria, têm opiniões diferentes das minhas. Pena foi que não quisessem partilhá-las connosco neste espaço.

Durante o fim-de-semana falei também com amigos meus que são professores, e que juram a pés juntos que tudo vai mal no reino da educação e que não há saída possível para este monumental problema, nem mesmo que a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues venha a ser afastada. Afirmam que a Escola não é uma empresa e que, portanto, qualquer tipo de avaliação é praticamente inexequível, para além de que discordam da maior parte das medidas impostas por este Governo. Por conseguinte, a coisa está preta e, aparentemente, sem fim à vista.

Mas, permitam-me a franqueza, a política dos braços caídos em que nunca existem soluções, não vai lá muito bem com o meu feitio. Admito que a situação é complexa mas tem que haver uma solução.

Aliás, e sobre este assunto, deixem-me transcrever um pedaço da crónica de Miguel Sousa Tavares, publicada no Expresso do último sábado.

“Li no 24 horas o caso de um agrupamento de escolas, às portas de Lisboa, onde, segundo explicação do director, a malfadada avaliação foi simplificada pelos próprios professores, mesmo antes do Ministério o fazer, e posta em aplicação há mais de um ano, sem burocracias, sem horas perdidas em reuniões, sem complicações. Simplesmente, os professores concordaram com o princípio da avaliação e trataram de o pôr em prática, da forma mais simples e mais justa que entenderam. E não é o primeiro caso que leio de uma escola assim”.

Afinal, ainda que ténue, parece brilhar uma luz ao fundo do túnel. Acredito que será possível. Tem que ser!


quinta-feira, dezembro 04, 2008

A luta

Esta coisa extraordinária que é a democracia, dá-nos, quando bem utilizada, a possibilidade de exprimir livremente as nossas opiniões. E é exactamente por isso que hoje me atrevo – e eu sei que tenho amigos que têm posições completamente diferentes da minha – a dissertar um pouco sobre esta confusão imensa que assentou arraiais no reino da educação.

Na minha perspectiva, a greve que ontem os professores levaram a cabo não trouxe nada de novo. Em relação à adesão, os números, como habitualmente, divergem. A Plataforma Sindical dos Professores disse que foram 94% e o Ministério da Educação afirmou que aderência teria ficado nos 61%, embora reconhecesse que “estávamos perante uma greve significativa”.

Enquanto que a Plataforma afirmou que “foi a maior paralisação de docentes em Portugal”, o Ministério replicou que “encerraram apenas 30% das escolas.

Já hoje os professores vão fazer uma vigília de dois dias junto ao Ministério de Educação, na 5 de Outubro em Lisboa .

O certo é que continuam em disputa o estatuto da carreira docente e o actual modelo de avaliação dos professores, tudo num braço-de-ferro entre professores e Governo que não pára, que fecha escolas, que deixa os pais preocupados e as crianças e adolescentes felizes por não terem aulas e que, em última análise, só prejudica alunos e famílias.

E para nós, população comum não docente, o que sobressai desta luta sem fim à vista, é que quer o Ministério quer os Sindicatos não querem ceder nas suas posições. Sobretudo os Sindicatos que estão totalmente irredutíveis apesar dos responsáveis da Educação terem já aceite alterar algumas matérias, perante as exigências apresentadas pelos professores. Simplificou o modelo, adiou os efeitos da sua aplicação, alterou muitas das suas permissas e sentou-se à mesa para negociar.

O que transparece para a opinião pública é que o que de facto interessa aos professores e aos Sindicatos que os representam, é que não se faça qualquer avaliação e que todos, sem excepção, cheguem ao fim da carreira, independentemente dos méritos de cada um.

E se assim for, isso não contribui para a melhoria da qualidade do ensino nem para a dignificação dos próprios professores. Em todas as actividades existe avaliação e nem todos os profissionais considerados bons nas empresas conseguem atingir o topo.

E se é certo que terá havido alguns erros neste processo por parte do Ministério da Educação, sobretudo na deficiente comunicação com os professores e nalguma burocratização excessiva, não é menos verdade que os problemas entre as partes existem desde a imposição das aulas de substituição, do inglês obrigatório no primeiro ciclo e das escolas abertas até mais tarde.

Mas, convenhamos, não há modelos perfeitos e os que são implementados são sempre alterados nos anos seguintes com melhoramentos que as necessidades e o bom-senso aconselham. É assim que acontece nas empresas privadas e em algumas empresas públicas que conheço.

Portanto, e concluindo, é inadmissível que não haja um modelo de avaliação. Então, se este não serve o que é que as estruturas dos professores propõem em alternativa. Nada, ao que sei. Apenas pretendem suspender este modelo, ou como já ouvi a um responsável sindical, a substituição poderia passar pela ideia de uma auto-avaliação. Só podem estar a brincar.

Os Sindicatos com a radicalização das suas posições e a falta de apresentação de alternativas sérias, também em nada ajudam a moralização e a credibilização que os professores tanto almejam e merecem. Está em causa, ao fim e ao cabo, a sua dignidade e respeito.

Sem estar por dentro dos detalhes do projecto, só posso avaliar a situação pela que vou ouvindo às diferentes partes em confronto, aos analistas e aos comentadores. E a minha sensação, como de resto tenho constatado que é comum à generalidade das pessoas, é que com este tipo de radicalismos não vamos a parte alguma.

E é pena, por que os verdadeiros destinatários dos avanços do sistema educativo – os alunos – nada ganham com todo este imbróglio.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Um caso de amor

Comovo-me sempre ao ouvir falar de amores duradouros e em fidelidades eternas. Mas as coisas nem sempre acontecem assim e casamentos que deveriam prolongar-se até que a morte separasse o casal, desmoronam-se, quantas vezes, como um castelo de cartas.

Foi o que aconteceu a Oliveira Costa, ex-banqueiro, ex-presidente do BPN e ex-marido da senhora com quem estava casado há 42 anos.

E o motivo foi:

- Outra mulher?
- Outro homem?
- Problemas inconciliáveis?

Nada disso, a separação deu-se, apenas, por amor.

Reparem que eu escrevi separação e não divórcio, porque é disso que se trata.

Oliveira e Costa não está divorciado mas separado de pessoas e bens, uma modalidade mais rápida - e mais conveniente neste caso - do que o divórcio, em que o casamento pode continuar por tempo indefinido, mas a partilha dos bens é feita de imediato.

Na prática o casal continua casado e junto, apenas decidiram fazer a partilha dos bens. Ela ficou com os dois apartamentos em Lisboa, os dois imóveis no Algarve e as duas quintas (uma no Cartaxo e outra em Aveiro) e ele ficou só com as acções do BPN e da SLN que, hoje, já quase nada valem.

Bem pode, agora, o Ministério Público - por causa das trafulhices que foram feitas no BPN - querer impugnar a separação de bens. Ainda que o venha a conseguir, uma coisa é certa. Para mim, que me comovo facilmente, este é um verdadeiro caso de amor. Oliveira e Costa despojou-se da quase totalidade dos seus bens para entregá-los à sua companheira de 42 anos de casamento. Querem maior prova de amor do que isto?

terça-feira, dezembro 02, 2008

Incompatibidades

Ele há coisas que custam a acreditar. De tão óbvias que são, chega a parecer mentira que haja pessoas que as não entendam.

Na semana passada o Dr. Manuel Sebastião, o actual Presidente da Autoridade da Concorrência, participou numa sessão na Ordem dos Economistas, de que é, também, Vogal da Direcção.

Ora, o artigo 14º. dos Estatutos da Autoridade da Concorrência diz de forma clara:

“os elementos da AdC não podem desempenhar quaisquer outras funções públicas ou privadas, ainda que não renuneradas, com excepção das funções docentes no ensino superior”.

Pois o Dr. Sebastião, apesar de, como claramente se vê, não poder acumular os dois cargos, exerce-os de facto e sem se incomodar. E quando a comunicação social o questionou sobre uma eventual incompatibilidade no desempenho das duas funções, ele foi lesto a responder que, no seu caso, não existe qualquer incompatibilidade .

Volto a ler com toda a atenção o artigo décimo quarto e mantenho a interpretação feita anteriormente. Aliás, o texto parece-me ser suficientemente claro. Por isso, e na ausência de outros artigos que complementem (ou contradigam, o que não é raro) o citado clausulado, não posso deixar de reflectir “mas, afinal, o que é que o senhor não percebeu ainda?

Com os embaraços que as duplicações normalmente geram, vamos a ver é se Manuel Sebastião, presidente da Autoridade da Concorrência, não se lembra de multar a Ordem dos Economistas, por esta ter como vogal um tal Manuel Sebastião que assim acumula indevidamente duas funções que, perante a lei, são incompatíveis. Esperemos!

Orgulho

Felizmente a campanha do Banco Alimentar correu bem. Apesar do tempo frio e chuvoso e das dificuldades por que passam os portugueses, ainda assim, foi bem patente a vontade em aderir ao movimento.

A recolha do Banco Alimentar Contra a Fome, realizada neste fim-de-semana em Portugal, bateu um novo recorde com a recolha de 1.905 toneladas de alimentos, um aumento de 19% em relação a Dezembro do ano passado.

Desta forma, os produtos conseguidos irão ser distribuídos já a partir de hoje pelos 14 bancos alimentares a 1618 instituições, tendo por destino 245 mil pessoas. O que significa que cerca de 2,5% da população portuguesa é ajudada, de alguma forma, pelos alimentos entregues pelos bancos alimentares.

Uma vez mais ficou demonstrada a solidariedade do povo português.

Devemos estar orgulhosos.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Vamos a isso


Meus Amigos

Hoje pretendo apenas lembrar que no próximo fim-de-semana, dias 29 e 30 de Novembro, os Bancos Alimentares Contra a Fome levam a cabo uma nova campanha de recolha de alimentos em 1.119 estabelecimentos comerciais das zonas de Lisboa, Porto, Coimbra, Évora e Beja, Aveiro, Abrantes, São Miguel, Setúbal, Cova da Beira, Leiria-Fátima, Oeste, Algarve, Portalegre e Braga.

De salientar que só na área de actuação do Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa, os produtos recolhidos nesta campanha serão distribuídos a partir da próxima semana a 283 Instituições de Solidariedade Social previamente seleccionadas, que apoiarão cerca de 62.800 pessoas com carências alimentares comprovadas.

E é tão fácil aderir a esta causa. Basta aceitar um saco de plástico entregue pelos voluntários do Banco Alimentar Contra a Fome devidamente identificados (localizados à entrada de cada um dos estabelecimentos comerciais), colocando no seu interior bens alimentares de preferência não perecíveis, tais como leite, conservas, azeite, bolachas, açúcar, farinha, massas, óleo, etc.

Vá, o recado está dado. Vamos a isso.















Perguntar não ofende

Perante todo o descalabro financeiro a que temos assistido nos últimos tempos e, particularmente em Portugal, com o recente escândalo do BPN e a eventual queda do BPP, é natural que os cidadãos se interroguem quanto à segurança dos seus depósitos e poupanças na Banca.

Por isso, não é de estranhar que surjam dúvidas e preocupações legítimas que se possam manifestar, por exemplo, numa pergunta endereçada ao banco, que poderia ser a seguinte:

“Se um dos meus cheques for devolvido por "INSUFICIÊNCIA DE PROVISÃO", como é que eu poderei saber se isso se refere a mim ou a vocês?"

quarta-feira, novembro 26, 2008

Ganância

Recentemente a imprensa deu conta da preocupação manifestada pelo Presidente da União de Misericórdias Portuguesas, Manuel Lemos:

“Há cada vez mais famílias a retirar idosos de lares das misericórdias para os levarem para casa e obterem, assim, mais uma fonte de rendimento"


O "retirar idosos de lares para os levarem para casa" parece-me bem. Seria desejável que as famílias pudessem assumir essa atitude e ter junto de si os seus idosos. Como acontecia antigamente.

No entanto, as condições de vida de hoje são bem diferentes das de outrora e poucos são aqueles que podem acolher os seus idosos. Às famílias foge-lhes o tempo (porque todos os da casa trabalham) e sobram-lhes a situação económica desesperante e as enormes dificuldades em arranjar pessoas minimamente qualificadas para cuidarem dos seus. E, sejamos claros, talvez a razão maior para que esse impedimento aconteça, seja o resultado daquilo que o nosso egoísmo gerou - a ideia de que o “natural” é “despachar” os velhos para qualquer lado, a bem do conforto e da tranquilidade daqueles que lhes deviam bastante mais.

Por cruel que pareça e que isso nos custe a admitir, o destino da maioria de nós está já traçado. Mais dia menos dia encontrar-nos-emos numa sala de um qualquer lar, casa de repouso ou, para os mais afortunados, uma residência sénior. É a vida!

Porém, o que mais me indignou, foi a constatação de que muitas pessoas retiram os seus velhos dos lares, não para que eles se sintam mais aconchegados em casa na última fase da vida, mas apenas para lhes sacarem as suas magras pensões que servirão como fonte adicional de receita para as despesas da família.

Não é o amor que os move, apenas a ganância.

Atitude torpe e desumana.


segunda-feira, novembro 24, 2008

E se Obama fosse africano?

Nunca deixo de transcrever textos inteiros (ou fragmentos), quando a sua leitura me deixa impressionado. Desta vez trago-vos uma crónica (um pouco longa para um blogue, admito, mas, ainda assim, imperdível) de Mia Couto, um escritor que admiro e um homem que é uma referência de honradez e coragem em África.
Foi publicada no jornal moçambicano “Savana” no passado dia 14. É um texto brilhante e a análise de Mia Couto é lúcida e inteligente, como sempre.

“Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.

Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.

Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.

Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: " E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.

E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.

2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.

3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.

4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.

6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.

Inconclusivas conclusões.

Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.

Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.

A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.

Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.

No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.

Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia."

domingo, novembro 23, 2008

A caça à multa

O número deste mês da revista do Automóvel Club de Portugal publica uma reportagem interessante sobre a caça à multa no nosso país.

Com o sugestivo título “Os militares não se escondem!”, nela se dá conta de:

- agentes da Brigada de Trânsito da PSP e da GNR que se disfarçam atrás de pilares de pontes ou no interior de carrinhas sem identificação, munidos com radares;

- carros da corporação (com radar) encobertos pela vegetação;

- radares instalados em carros descaracterizados ou em sinais de sinalização.

Todos escondidos nos sítios mais extraordinários, unica e exclusivamente com o intuito de multar.

Aliás, facturar é a palavra de ordem. O Estado arrecadou 58,4 milhões de euros, entre Janeiro e Setembro deste ano, só em multas decorrentes das infracções ao Código da Estrada, mais quatro milhões do que as multas cobradas no período homólogo, mais 7%, portanto, do que no ano anterior.

E eu que até sou a favor da intensificação da fiscalização, acho que esta não é a melhor forma de actuar. Seria óptimo que houvesse uma presença mais assídua dos agentes nas nossas estradas. Mas deveria ser uma presença que fosse, sobretudo, geradora de uma efectiva dissuasão das más práticas dos condutores.

Mas não é isso que acontece. Em Portugal, ao contrário do que sucede com as principais polícias europeias, há uma verdadeira política de repressão e não de prevenção.

E o próximo ano vai ser ainda pior. No OGE para 2009, o Governo espera arrecadar 97,4 milhões de euros em multas do Código da Estrada.

Até já há quem diga que “o melhor é ir roubar para a estrada”.

Cuidado, pois, meus amigos. Nada de pé no acelerador nem manobras perigosas desnecessárias. É que pagar multas sai caro e não pagá-las pode levar à penhora das contas bancárias, bens e, inclusivamente, do ordenado do infractor.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Quando o jeito não abunda ...

Os portugueses estão demasiado fartos dos políticos e das polémicas geradas por assuntos que não têm qualquer interesse para o seu quotidiano. E, também estão cansados da indiferença com que muitos desses políticos ignoram as matérias que, essas sim, têm a ver com o dia-a-dia dos cidadãos e com o estado do país.

Daí que não me tenha incomodado em demasia com as afirmações que Manuela Ferreira Leite proferiu durante um almoço na Câmara do Comércio Americana em Portugal.

Segundo a líder do PSD a enorme dificuldade em reformar certos sectores contra a vontade das respectivas classe profissionais, poderia justificar um tipo de medidas mais drásticas. “Até nem sei se não seria bom estar seis meses sem democracia para pôr tudo na ordem e depois voltar à democracia”, disse Ferreira Leite.

A afirmação é, de facto, preocupante e os partidos à sua esquerda e à sua direita reagiram prontamente, indignando-se pelo posicionamento anti-democrático da líder do PSD, a qual, disseram alguns, mostrou a sua verdadeira cara.

Mas dentro do próprio PSD choveram, também, inúmeras críticas contra a Drª. Manuela. Luís Filipe Menezes não perdeu a ocasião de sublinhar que a esta “gafe” juntam-se outras igualmente graves como foram os discursos sobre o aumento do salário mínimo e sobre os cabo-verdianos e ucranianos.

E é neste contexto de tamanha crispação, de guerras de palavras e de lutas intestinas, que os portugueses, bem mais preocupados com a crise económica que lhes afecta os bolsos, olham desinteressados e desiludidos para a classe política que temos.

Mesmo admitindo que Manuela Ferreira Leite quis colocar no discurso uma dose de ironia (de que não nos apercebemos), mesmo que saibamos que existem muitos exageros em períodos pré-eleitorais, mesmo assim, penso que não é admissível ouvir a responsáveis políticos tantos e tão graves dislates.

No caso de Manuela Ferreira Leite, porém, já todos percebemos que o problema maior acaba por não ser a substância do que diz mas sim a enorme falta de jeito e a inabilidade política que lhe é característica. E, quando o jeito não abunda ...



terça-feira, novembro 18, 2008

Oitenta aninhos

18 de Dezembro de 1928. Faz hoje 80 anos que nasceu o Rato Mickey. Um desenho animado (e uma banda desenhada) criado por Walt Disney que depressa se tornou uma das personagens mais conhecidas do mundo.

Todos nós (quase todos) crescemos tendo por perto aquela figura simpática. A minha infância foi enfeitada pela alegria do Mickey e dos seus amigos. O Donald, o Pluto, o Pateta, a Minnie e tantos outros.







É bom recordar!


Parabéns MICKEY

segunda-feira, novembro 17, 2008

Silogismos

Antes de mais, devo dizer que sempre achei piada a esta palavra. E, embora esquisita e pouco usada, sei o que ela quer dizer. Acredito, no entanto, que haja pessoas não façam a mínima ideia sobre o seu significado. Dito por outras palavras, para não melindrar alguém, todos empregam frequentemente os seus mecanismos mas alguns não conhecem o seu nome técnico. Está bem assim?

De um modo simplista poder-se-á dizer que o silogismo é um argumento ou raciocínio formado por duas ou três proposições (premissas) e uma conclusão.

Ou seja, é um encadeamento de argumentos que permite obter uma ilação.

Segundo a Wikipédia, o filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) definiu que um silogismo é uma argumentação lógica perfeita.


Vejamos dois exemplos:

- Toda a regra tem excepção.
Isto é uma regra. Logo, deveria ter excepção.
Portanto, nem toda a regra tem excepção.


- Hoje em dia, os trabalhadores não têm tempo para nada.
Já os vagabundos têm todo o tempo do mundo.
Tempo é dinheiro.
Logo, os vagabundos têm mais dinheiro do que os trabalhadores.



Toda a a estrutura destes dois silogismos está perfeita: duas ou três premissas e uma conclusão. Só não sei é se todas as conclusões terão sempre lógicas perfeitas.

domingo, novembro 16, 2008

O órgão de controlo


Descansem que não vou escrever sobre o Banco Popular de Negócios. E não o faço, apenas por que todo este caso é uma enorme embrulhada que ultrapassa há muito as normais operações efectuadas pela banca e passou a ser um mero (mas complicado) caso de polícia. Muito embora haja quem diga que a procissão ainda vá no adro, já toda gente percebeu que estamos perante uma trafulhice imensa e um lamaçal de transacções fraudulentas, pensadas e levadas a cabo por uma teia de malandros, muitos deles já identificados. Um caso de polícia, portanto, que deve ser tratado pela polícia e pelos tribunais.

Por isso, prefiro, hoje, analisar o tema BPN na perspectiva da regulação e supervisão bancária e, concretamente, sobre o órgão responsável por essa missão específica. E vou fazê-lo com os olhos do cidadão comum que observa com perplexidade o imenso imbróglio que explodiu diante de nós.

Se eu fosse polícia e perguntasse a um automobilista
“num cruzamento, se vier da esquerda, deixaria passar os outros veiculos que se apresentassem pela direita?”
o que acham que o condutor me responderia? Obviamente que, feita a pergunta desta maneira, a resposta só poderia ser “quem vem da direita tem a prioridade”. Ainda que, no dia-a-dia, o tal condutor se estivesse a marimbar para os outros e considerasse que ele tinha sempre a prioridade, viesse da direita ou da esquerda.

Como é evidente, é necessário que a pergunta seja correctamente formulada e, neste exemplo, a interrogação poderia e deveria ter sido colocada de um outro modo que levasse a uma resposta menos intuitiva.

Seguindo o exemplo do polícia, como acham que os bancos respondem quando o Banco de Portugal lhes faz a pergunta – de forma inocente, é claro – então, digam-me, por favor, se não for muito incómodo, os senhores têm por acaso alguma off shore? A resposta pode muito bem ser “De facto temos duas off shore, uma na Madeira e outra nas Ilhas Caimão”, quando a verdade é que aquele banco tem provavelmente essas duas e mais umas dezenas espalhadas pelo mundo. Só que, desta forma, o Banco de Portugal e a CMVM (se o banco estiver cotado em bolsa) vão acreditar piamente no que lhes foi dito e ficam tranquilos como bébés.

Dá para perceber que as aldrabices no BPN foram muito bem idealizadas. Admito mesmo que o BdP tivesse dificuldades em descobrir que a "escrita" do BPN ia bastante mais além do que os Relatórios e Contas que lhe eram apresentados mostravam. De facto, numa marosca que tinha um banco paralelo e, ainda por cima, com um sistema informático virtual, onde só tinham acesso o presidente do BPN, um administrador e um informático, era complicado detectar o que quer que fosse.

Contudo, quem se dedica ao difícil mester de exercer uma actividade de controlo ou de regulação tem que ser mais perspicaz, porventura mais desconfiado, talvez até mais impertinente. Não pode dar-se por satisfeito, apenas, por ter feito as perguntas. Tem, sobretudo, que exigir as respostas e ... rapidamente. Parece que neste caso do BPN as questões levantadas no início do ano pelo Banco de Portugal ficaram por responder meses e meses, sem que o Banco Central voltasse à carga, o que é inaceitável.

Mas há mais. Alguém compreende que o órgão fiscalizador, perante todas as reservas apresentadas pelos diversos auditores do BPN, em vários exercícios, tivesse ficado mudo e quedo? E o que dizer sobre as duas comunicações enviadas pelo Banco de Cabo Verde ao BdP a alertar para diversas operações suspeitas? E o que fizeram perante os “boatos” que, durante anos, foram publicados na comunicação social? Por que não houve quaisquer reacções?

O Governador do Banco de Portugal bem pode dizer que não é polícia mas, provavelmente deveria sê-lo. O que não se pode admitir é que um órgão de controlo se fique tranquilamente pela leitura e análise dos relatórios que os bancos são obrigados a fornecer. Se calhar está na hora da acção fiscalizadora ser mais interveniente, mais presente dentro das diversas instituições, de modo a tentar, em tempo útil – se possível em tempo real – descobrir as eventuais anomalias que apareçam. Algumas delas fraudulentas.

Acredito que o Banco de Portugal não tenha ainda meios (tecnológicos, digo eu, por que humanos deve ter de sobra) para a tal actuação eficaz. Mas é tempo de investir nessa matéria. Tanto mais que o nível de sofisticação de algumas operações efectuadas pela banca, há muito que justifica igual “requinte” por parte da entidade que tem por missão controlá-la.

sexta-feira, novembro 14, 2008

Casual Friday

Dá-me uma fúria dos diabos quando penso que, enquanto que há uns anos atrás, independentemente da estação do ano ou do dia da semana, a forma de vestir dos homens era determinada pelas administrações das empresas, isto é, do começo do dia ao fim da tarde, todos tínhamos que usar fato e gravata, agora, pelo menos à sexta-feira, a rapaziada tem o privilégio de poder trajar conforme lhe dá na realíssima gana.

Se calhar é melhor abrir um parêntesis para lembrar a época do “PREC – Processo Revolucionário em Curso”, um intervalo na normalidade das vestes (e não só ...) de então em que os homens, qualquer que fosse a actividade em que trabalhassem, mesmo nas mais formais, normalmente envergavam no seu dia-a-dia umas calças de ganga e uma camisa aberta pelo menos até ao umbigo, calçavam umas sandálias ou umas chinelas e, orgulhosamente, punham na cabeça uma boina “à CHE”. Bons tempos!

Mas saltando sobre esse período glorioso, que aos mais novos pouco dirá, voltou-se a vestir à séria, fazendo recordar aos homens que o uso do fato e da gravata é imprescindível e que faz deles uns verdadeiros vencedores. Sem esse traje - que tanto nos custava a suportar durante as longas tardes de verão em que o ar condicionado era um luxo a que poucos tinham acesso - a respeitabilidade que a gravata e um fato sem máculas e sem rugas conferia, não perspectivava uma carreira promissora àqueles que tentavam fugir ao estipulado.

E do oito quase que passámos para o oitenta. Da obrigatoriedade séria, diária e rigorosa transigiu-se de tal forma que fomos dar ao à-vontade das actuais sextas-feiras, isto é, ao “Casual Friday”. Aliás, com a cumplicidade das empresas da chamada “Nova Economia”, que foram as principais responsáveis pelo abandono dos códigos rígidos do vestuário masculino de outrora.
No entanto, e ao contrário do que alguns pensam, não se aligeirou a vestimenta às sextas só para serem simpáticos para os trabalhadores. Não, isto “pegou” apenas por que parece bem e é moderno. Traduzindo, virou moda, nada mais.

Contudo, meus caros, até para se ter um “look” informal é necessário ter bom gosto. Andar vestido à-vontade não significa andar de qualquer maneira.

Não se deve abusar da informalidade nem fugir muito ao que habitualmente é associado a uma imagem profissional e de autoridade. É preferível optar-se pelos tons “tradicionais”, como o preto, o azul e o cinzento, contrastando, eventualmente, com alguns tons mais claros como o bege. Tem mais classe, podem crer.

E, em último caso e para terminar, mandem às ortigas o conceito do “casual” e voltem a vestir, se assim o entenderem, o tradicional “fato e gravata”…Não será isso, certamente, que vos tornará homens mais respeitáveis e credíveis e em profissionais de eleição. Mas uma fatiota a preceito, acreditem, ficar-vos-á bem.

quarta-feira, novembro 12, 2008

"Mama África"



Para as novas gerações o nome de Miriam Makeba pouco dirá. No entanto, e de forma sucinta, diga-se que Makeba foi uma cantora sul-africana de sucesso na década de 60 (e não só) e, sobretudo, foi uma grande activista dos direitos humanos e contra o apartheid no seu país.


Anteontem, aos 76 anos, sofreu um ataque cardíaco que a vitimou, quando agradecia em palco os aplausos do público que assistia ao espectáculo em que participava. Morte impressionante, talvez a que sempre ambicionara, de uma mulher a quem muitos chamavam "Mama África", que lutou continuamente pela igualdade de direitos e por uma sociedade justa e não racista.


Como homenagem a Miriam Makeba recordemo-la na sua canção Pata Pata, que se tornou um enorme sucesso mundial.








terça-feira, novembro 11, 2008

A turba à solta

Quando três centenas de manifestantes, entre alunos e professores, bombardearam com ovos e palavras de ordem o carro da Ministra da Educação, obrigando-a a abandonar a cidade de Fafe onde tinha uma sessão agendada, o mínimo que se pode dizer é que a turba está à solta.

Independentemente de se gostar ou não da Ministra e das políticas de educação do Governo, este tipo de comportamento é absolutamente vergonhoso e intolerável. Os manifestantes, “empurrados” por uma coligação de sindicatos-professores-alunos-oposições apenas conseguiu dar uma péssima imagem de um movimento de professores que tenta defender as suas convicções.

Tem razão o Presidente da Câmara Municipal de Fafe em se dizer envergonhado com o que se passou. O que se viu não foi uma manifestação contra a Ministra da Educação. O que se assistiu foi a falta de educação que nenhum ministro, de qualquer cor política, por mais competente que seja, consegue transmitir a quem a não tem.

segunda-feira, novembro 10, 2008

Embirrações

Sempre embirrei com as montras de vidros espelhados que teimam em devolver a imagem de quem passa à sua frente. Desde sempre, é verdade, mas esse sentimento tem aumentado substancialmente com o passar dos anos. Por que será?

Não é, certamente, por uma questão de (mau) feitio mas, quem sabe, por que a imagem do meu corpo esbelto que vejo reflectido no vidro, parece mostrar um certo volume abdominal que, de facto, eu não tenho, não quereria ter ou não gosto de ver.

Já tentei ignorar todas as montras que caminham ao meu lado. Melhor dizendo, desprezei-as pura e simplesmente. Contudo, nem sempre consigo manter o olhar firme para a frente, acabando por ceder, aqui e ali, ao olhar de soslaio que, com vaidade, procura o meu outro eu, o tal que se impõe pela sua pujante elegância, lindo como um Deus do Olimpo.

Percebem, agora, por que odeio esses malditos vidros espelhados?



domingo, novembro 09, 2008

Descaramento




Tive alguma dificuldade em escolher o tema para hoje, tantos foram os assuntos que deram que falar nestes últimos dias.

No entanto, e sem prejuízo de que ainda possa vir a escrever sobre alguns deles, acabei por optar por um episódio que demonstra inequivocamente o ridículo, o descaramento e a insensatez de que são protagonistas algumas figuras públicas do nosso país. Neste caso, refiro-me concretamente a Fátima Felgueiras.



Já se disse quase tudo sobre este enredo que dura há dez anos. Agora, finalmente, acabou o julgamento e a autarca foi condenada a três anos e três meses de prisão, embora com pena suspensa por igual tempo.

Considero que os crimes que deram origem à dita condenação acabaram por ser menores, digamos assim, mas foram estes, e só estes, que o tribunal considerou estarem provados, embora eu desconfie, e comigo muitos portugueses certamente, que haveria matéria muito mais “quente” para condená-la.

Mas a situação que eu achei perfeitamente surrealista foi a saída triunfante de Fátima Felgueiras do tribunal. Era vê-la contentíssima como se nada se tivesse passado, gritando vitória, apregoando que se tinha feito finalmente justiça, que afinal ela sempre dissera a verdade e que não tinha sido condenada mas sim libertada.

O jornalista Fernando Madrinha, escrevia a este propósito no Expresso do passado sábado: “... uma autarca descarada e sem escrúpulos, que achincalhou a Justiça e se serviu do voto dos eleitores para “lavar” a sua imagem, sai do tribunal de Felgueiras a rir-se como no dia em que chegou ao aeroporto da Portela, qual vedeta de telenovelas brasileiras”.

Subscrevo, por inteiro, as suas palavras. Na verdade, os cidadãos ficaram defraudados perante a forma como as coisas acabaram e a justiça foi, uma vez mais, enxovalhada. Nem sequer a fuga para o Brasil, teve qualquer consequência, o que nos leva a pensar que, também desta vez, o crime acabou por compensar.

Porém, e apesar do seu riso vitorioso e alvar, é bom lembrar que Fátima Felgueiras, embora com a pena suspensa, foi, de facto e indiscutivelmente condenada.




quinta-feira, novembro 06, 2008

A inenarrável senhora Palin



Agora que a derrota foi assumida pela candidatura republicana à presidência dos Estados Unidos, chegou a hora de sacudir responsabilidades pelo fracasso e de apontar o dedo àqueles que, em princípio e segundo a opinião de alguns, foram os principais causadores de tão grande desastre.

E o pessoal que acompanhava o candidato McCain não tardou a dizer que Sarah Palin era indiscutivelmente a maior responsável.

Segundo disseram, “ficaram chocados com a falta de conhecimentos da governadora do Alaska nos briefings”, por exemplo, “Ela não percebia que África era um continente e não um país e chegou mesmo a perguntar se a África do Sul não era apenas parte de um país”.

Ainda de acordo com a mesma fonte – o editor-chefe de política da conservadora Fox News, Carl Cameron - “Palin também não conseguia indicar os países que faziam parte da NAFTA (a zona de comércio livre na América do Norte), um dos temas importantes da campanha.
Cameron revelou também que “as tensões entre a candidata e o staff da campanha de McCain aumentaram e por vezes as discussões acabavam com elementos da equipa a chorar”.

Felizmente que a candidata à vice-presidência dos EUA, e potencial Presidente dos Estados Unidos da América, não chegou ao poder. Tanta ignorância aliada às declarações (perigosas) que fez sobre política externa durante a campanha, não auguravam nada de bom para o país e para o mundo.

Mas é isto que eu acho extraordinário nos Estados Unidos. De lá podemos sempre esperar que nos chegue o melhor e o pior que se possa imaginar. No limite, poder-se-á até dizer que lá acontece tudo, o melhor dos melhores ou o pior dos piores. E, neste caso, convenhamos, a senadora Sarah Palin pertence a este último grupo.

quarta-feira, novembro 05, 2008

O nome do dia

Como não podia deixar de ser, o nome que foi mais pronunciado hoje foi o de Barack Obama.
Ele é indiscutivelmente o nome e o homem do dia.


Depois de uma renhidíssima e longa campanha, esta madrugada foi eleito Presidente dos Estados Unidos. Na verdade uma vitória histórica, quer por que Barack Obama é o primeiro presidente americano negro, mas sobretudo, por que a sua campanha arrastou, e não só nos Estados Unidos, multidões que esperam que a esperança e a confiança que depositaram nele se tornem numa verdadeira oportunidade de mudança.


Milhões e milhões de cidadãos da América e também de todo o mundo, anseiam por alterações quer das políticas internas americanas, quer das relações entre os Estados Unidos e os demais países.


Todos estarão de acordo que os Estados Unidos se mantenham como a grande referência mundial que é, mas o que pretendem é que essa liderança tenha por base uma relação de confiança e entreajuda entre os diversos parceiros e não, apenas, que seja motivada pelo seu potencial bélico.


É curioso que a imprensa de hoje dos países reconhecidamente “inimigos” dos americanos, melhor dizendo, de George W. Bush, desde Cuba à Venezuela, tenha manifestado essa esperança e afirmado que os seus países estão disponíveis para o diálogo, agora possível com a nova Administração americana.


Barack Obama mobilizou os cidadãos de todo o mundo ao redor de uma nova vontade e de um novo espírito. Espera-se que todo esse capital de confiança conquistado se traduza, na prática, em mudanças reais e num novo padrão de relacionamento entre os países, em que exista paz e cooperação.


Para já Obama demonstrou uma força e uma personalidade invulgares nos líderes da actualidade. Mas o mundo continua cheio de dúvidas e expectativas.






terça-feira, novembro 04, 2008

Aberrações

A história correu célere nos jornais e foi difundida pela internet, onde os mails circularam rapidamente de endereço em endereço. Mesmo assim, não resisto à tentação de a contar, em atenção aos que, por distracção, alheamento, impossibilidade ou por ter coisas mais interessantes para fazer, não chegaram a conhecê-la.

E conta-se em duas palavras. Um assinante de uma operadora de telecomunicações morreu. Perante o infeliz acontecimento, o filho do falecido fez aquilo que qualquer um de nós faria. Escreveu à operadora a comunicar o facto e a pedir que o contrato fosse cancelado.

Em resposta, a dita operadora informou que só poderia dar seguimento ao pedido, se a carta fosse devidamente assinada pelo titular do contrato, isto é, pela pessoa que tinha falecido.

Ora, como tal não é possível – os mortos não costumam assinar cartas - só nos resta perguntar:

- tratou-se de uma distracção?

- o zelo do funcionário que “tratou” do assunto é tamanho que não poderia ter havido um outro tipo de solução?

- Ou, tão simplesmente, as regras são para se cumprir e, portanto, os contratos só podem ser cancelados quando a solicitação for efectuada pelo próprio titular, ainda que esteja morto.


Aberrações destas deviam ser proibidas!

segunda-feira, novembro 03, 2008

Desenrascansos à parte ...

Sempre ouvi dizer que Portugal é o país do desenrasca e os portugueses os mestres do desenrascanso.

Ao fim e ao cabo, acho que com estes epítetos se pretende fazer justiça à forma como, mesmo sem grandes planeamentos, rigores e esforços demasiados, as coisas acabam por aparecer feitas e, na maior parte dos casos, bem feitas. Existem bastos exemplos de obras e organizações que à beira da inauguração ou da entrada em vigor, pareciam ter um tal atraso que ninguém, em seu perfeito juízo, acreditava que estivessem prontos a tempo. Pois enganava-se quem assim pensava, por que, nas últimas horas, nos derradeiros minutos, as questões resolviam-se como por milagre. Daí o falarmos no tal desenrascanso dos portugueses.

Mas aquela que sempre considerámos como sendo uma das principais características dos lusitanos, não é, afinal, o desenrasca mas sim a flexibilidade. Foi deste modo que num dos últimos “Prós e Contras” da RTP, Guta Moura Guedes, “a senhora design” como foi já baptizada, classificou esta habilidade inata das nossas gentes.

É uma maneira elegante e moderna de se rotular uma aptidão que faz parte do nosso código genético.

E, vendo bem, as palavras até são complementares no seu significado. “Desenrasca” quer dizer “livrar-se de uma dificuldade”, enquanto que “flexibilidade” exprime “destreza, agilidade, aptidão”. Ora, como toda a gente sabe, para nos livrarmos de uma dificuldade é necessário, muitas vezes, ter destreza, agilidade e aptidão. Ou não será assim?


domingo, novembro 02, 2008

O Magalhães




Já tenho manifestado aqui o meu apoio a diversas medidas levadas a cabo pelo governo. Na maioria dos casos, em minha opinião, elas visam combater os efeitos trágicos das crises que se abateram sobre nós. Desta vez, porém, devo dizer que não gostei de ver José Sócrates, em plena sessão da cimeira ibero-americana de S. Salvador, a debitar um discurso de vendedor de banha da cobra para convencer os Chefes de Estado e de Governo ali presentes, que a nossa maravilha tecnológica (o computador Magalhães) era uma das maiores invenções à face da terra desde o tempo da descoberta da roda.

Embora perceba que Sócrates estava a tentar, através da denominada diplomacia econónima, vender uns quantos milhões de “Magalhães”, para compensar o abrandamento das nossas exportações para os mercados tradicionais, achei que o papel que ele decidiu assumir foi demasiado humilhante.

De um primeiro-ministro, esperava mais formalidade e a dignidade própria da função.

O computador Magalhães pode até ser o “petróleo” que nos permita sair da situação aflitiva em que vivemos. Tudo bem, vendam-no o mais que puderem. Mas, por favor, façam-no no recato dos gabinetes e nos encontros bilaterais, durante os almoços e recepções.

Agora, numa assembleia como aquela, francamente não gostei de ver.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Irresponsabilidade?

Não podia estar mais de acordo. Tanto a líder do PSD como o presidente da Associação Nacional das Pequenas e Médias Empresas afirmaram que a actualização do salário mínimo em 2009 é uma irresponsabilidade. E é.

Quando um governo, apanhado por sucessivas crises financeiras e especulativas que vieram desabar sobre uma economia tão pobre como a nossa, se lembra de aumentar o salário mínimo a uns quantos privilegiados – cerca de 200 mil – o que é que nos passa pela cabeça? Ou que não faz a mínima ideia do que anda a fazer ou que já está a pensar nas eleições que se vão realizar no próximo ano.

Convenhamos que, para quem já aufere 426 euros todos os meses, começar a ganhar 450 euros é absolutamente exagerado. Um aumento de 27 euros mensais é obsceno. Um aumento de 378 euros por ano é inacreditável. E depois venham falar dos aumentos dos administradores ...


Fez bem Manuela Ferreira Leite dizer que, como não se sabe como vai estar a economia em 2009, o governo deveria ter sido mais prudente.

Fez bem Augusto Morais, presidente da Associação Nacional das PME dizer que os postos de trabalho de cerca de 43 mil trabalhadores com contratos a termo certo poderão estar em risco.


Irresponsabilidade do primeiro-ministro? Será certamente, tanto mais que com 27 euros a mais em cada mês estou mesmo a ver que vai disparar o consumo e a inflação.

quarta-feira, outubro 29, 2008

Não há bela sem senão



A Évora associam-se sem esforço palavras como encanto, História, monumentalidade, gastronomia e simpatia (das suas gentes). Todas elas de uma forma espontânea e natural.

Talvez por isso a cidade nos reclame a presença constante. E é bom calcurrear as suas ruas e encontrar a cada esquina pedaços de História e de histórias que só os alentejanos sabem contar.

A visita é obrigatória, como obrigatório se torna levar os sentidos bem despertos para “absorver” uma cidade que de “Museu” se tornou em “Património da Humanidade”.

Évora tem, pois, encantos multifacetados e maravilhosos.


Mas não há bela sem senão. De uma cidade com tais características esperava-se um pouco mais. Sobretudo mais cuidado com o estado em que se encontram os arcos que ladeiam a Praça do Giraldo e seguem pela Rua João de Deus, a caminho da Porta Nova. Quem passa sob as suas arcadas, imediatamente se apercebe do mau estado em que estão as paredes e os tectos desses arcos. Falta de pintura, carência de reboco, lâmpadas de iluminação à vista e mal arranjadas e, provavelmente, o pior dos piores, a existência de imensas teias de aranha que se espalham um pouco por toda a parte e, pelo tamanho que têm, há já bastante tempo. É uma pena.


Admito que a Câmara Municipal tenha prioridades que obriguem a desviar verbas para outras coisas, porventura mais urgentes. Contudo, não me parece que as reparações que são necessárias efectuar atinjam valores por aí além.

Os responsáveis pela autarquia e pelo turismo têm que fazer um esforço. Os eborenses e os visitantes exigem e merecem que a dignidade do centro histórico da cidade venha a ser recuperada.











terça-feira, outubro 28, 2008

Sigamos o cherne, minha Amiga

De vez em quando gosto de revisitar Alexandre O’Neill



“Sigamos o cherne, minha Amiga”



Sigamos o cherne, minha Amiga ...!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria ...


Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado ...


Sigamos pois o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume de água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentindo o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa ...


segunda-feira, outubro 27, 2008

Insaciáveis

Ao terminar a crónica de ontem perguntava “Onde estão os responsáveis e o que lhes vai acontecer?”. Pois relativamente ao assunto de hoje, os responsáveis já estão localizados, só não sei o que lhes vai acontecer.

Sem entrar em detalhes que já todos conhecem, o que eu quero aqui sublinhar é a imensa falta de carácter de algumas pessoas que são postas à frente de empresas públicas que, ao invés de gerirem
com competência e sobriedade essas empresas de dinheiros dos contribuintes, acumulam aselhices e aldrabices umas atrás das outras, sem o mínimo de decoro e vergonha.

Foi o que se passou na Gebalis, uma empresa da Câmara de Lisboa, responsável pela gestão de bairros municipais da autarquia e que, em 2006, registou um prejuízo de 4,97 milhões de euros.

Perante tal situação, os seus administradores, se fossem pessoas sérias, deveriam ter centrado a sua atenção na recuperação da empresa. Mas não, pelos vistos, não foi isso que aconteceu. Em vez das medidas drásticas que se impunham, decidiram ajudar a “afundá-la” ainda mais.
Gastaram à tripa forra, sem qualquer pudor e não se coibiram de viajar para o estrangeiro, tendo almoçado em restaurantes do maior requinte gastronómico da Europa, Brasil e Índia, onde nunca faltaram sequer os vinhos de preços elevados, o whisky velho e o marisco.

E para que ninguém pensasse que eram egoístas, Francisco Ribeiro, Clara Costa e Mário Peças, os três “honestos” ex-administradores da Gebalis, retiraram, segundo frisa o despacho de acusação do Ministério Público, dinheiro vivo do Fundo de Caixa da empresa “para pagar refeições para si próprios, para os amigos, para as pessoas do seu círculo particular ou até de outros funcionários”.

Uma verdadeira sem-vergonhice. Em pouco mais de um ano e meio estes senhores, (ir)responsáveis de uma empresa pública em dificuldades, passearam-se e banquetearam-se em diversas capitais europeias, no Brasil, na Índia e em Marrocos e causaram, segundo o Ministério Público, um prejuízo de 200 mil euros.

A finalizar, e como nota de rodapé, os três ex-administradores apesar de terem “comido à conta e à grande” nunca abdicaram de receber os respectivos subsídios de almoço que a Gebalis lhes concedia. Insaciáveis!

domingo, outubro 26, 2008

Não, não entendo

Hoje levantei-me bem disposto e achei que era giro fazer qualquer coisa de diferente. Criar uma empresa, por exemplo. Não sei se de comércio, de indústria ou de serviços, não interessa para o caso, desde que fosse uma PME que é, ao que parece, as que vão agora ser mais apoiadas pelo Estado.

Como sou um tipo organizado, pensei imediatamente que a empresa tinha que ter uma estrutura sólida, capaz de fazer andar o negócio de forma sustentada. Desde logo, imaginei um organograma que contemplasse áreas de planeamento, contabilidade, jurídica, marketing e publicidade e por aí fora.

Pelos meus cálculos a empresa começaria a funcionar e seria natural que pedisse pareceres aos técnicos para melhor fundamentar as minhas decisões. Só que cismei na possibilidade de que os pedidos pudessem não ser devidamente analisados pelos meus especialistas por que eles, vá lá saber-se porquê, os iriam “reenviar” para gabinetes de consultadoria externos. Ou seja, eu teria contratado uma série de pessoas para tratarem dos problemas da empresa e viria a descobrir que todos os assuntos estariam à espera das opiniões de gabinetes contratados no exterior. Isto é, eu pagaria aos meus empregados e também aos consultores externos. Era bom não era? Claro que não. Desisti da ideia e fiquei mal disposto para o resto do dia.


Pois se a minha história não passa de uma mera conjectura, a verdade é que, no nosso país, por deficiente organização dos serviços de Estado, foi possível que esse disparate acontecesse.

Segundo o Tribunal de Contas só entre 2004 e 2006 o Estado gastou com consultores externos cerca de 134 milhões de euros em estudos, consultadorias, pareceres, auditorias e projectos, muitos dos quais não tiveram sequer qualquer aplicação prática.

Mas, perguntar-se-á, não existiam nos serviços da Administração, técnicos capazes para atender as necessidades? Deveria haver, digo eu. Pelo menos existiam e existem vários órgãos nas estruturas e, em cada uma delas, certamente que havia lá uns quantos especialistas que deveriam estar aptos a estudarem os diversos assuntos. Para isso é que foram contratados.

Por isso não entendo como é que se recorre tão facilmente a gabinetes externos quando dentro da “máquina” existem tantos peritos que poderiam e deveriam ser capazes de dar os pareceres requeridos. Pedir um estudo a um escritório de advogados quando os diversos Ministérios têm acessorias jurídicas em que abundam bandos de juristas e advogados? Não, não compreendo.

Estamos falados, portanto, quanto às adjudicações efectuadas que, a maior parte das vezes, estariam perfeitamente desajustadas face à existência de competências nos diversos serviços.

Porém, o assunto não se esgota ainda. Então, e depois da adjudicação (isto quando havia adjudicação, por que em muitos casos a coisa fez-se por ajuste directo) que controlo é que existia sobre o andamento dos casos? Segundo o Tribunal de Contas, em 38% dos estudos pedidos a consultores externos, as entidades do Estado não faziam a mínima ideia da fase em que se encontravam.

O trabalho do TC diz respeito apenas a três anos e a 13 entidades. E só por nesta amostra “voaram” 134 milhões. E nos outros departamentos, o que terá acontecido, quanto é que nós gastámos desnecessariamente?

Perante a falta de “transparência” e a “opacidade” detectadas pelo Tribunal de Contas na auditoria ao Sector Público Administrativo do Estado, não posso deixar de perguntar, embora adivinhe a resposta:

Onde estão os responsáveis e o que lhes vai acontecer?

quinta-feira, outubro 23, 2008

Basta de machismos




Soube-se há pouco que o regulamento do uniforme da TAP é muito claro sobre o uso da “lingerie” do pessoal feminino. É obrigatório que todas usem roupa interior e o “soutien” deverá ser sempre de cor branca ou cor de pele.




Basta de machismos, digo eu. Se para elas existem regras escritas e rigorosas quanto ao uso da farda, por que não para eles? Ou será que a TAP não vê qualquer problema em que os seus funcionários masculinos não usem cuecas ou, vestindo-as, que elas sejam em cor-de-rosa vistoso e com corações debruados?

quarta-feira, outubro 22, 2008

O fosso

A OCDE, organismo internacional cuja credibilidade ninguém discute, anunciou esta semana que Portugal é o 3º país mais desigual na distribuição da riqueza.

Nada que não suspeitássemos já mas, ainda assim, custa-nos saber que a situação é de tal forma grave que, no conjunto dos países onde o fosso entre os ricos e os pobres é mais acentuado e onde a distribuição dos rendimentos dos cidadãos é mais desigual, o nosso país conseguiu um
desonroso 3º. lugar no pódio dos países mais injustos, a par dos Estados Unidos e só superado pela Turquia e pelo México.

Curiosamente, em entrevista dada ontem à SIC Notícias, Bagão Félix, ex-ministro da Segurança Social e do Trabalho e ex-ministro das Finanças, afirmou:

“os gestores, devido ao capitalismo global, deixaram de pensar em estratégias financeiras a médio e longo prazo, preocupando-se apenas com o curto prazo e com os bónus que recebem”.

Ele deve saber do que fala …

Às vezes as ideias baralham-se e dá nisto. Nem sei por que é que me lembrei de fazer a ligação entre o facto de, em Portugal, os gestores terem ordenados obscenos (expressão do próprio Bagão Félix) e o fosso cada vez maior entre os que mais têm e os que mal sobrevivem.

Uma sugestão financeira

Em tempos tão difíceis como os que vivemos, em que os mercados flutuam mais do que cascas de noz em mar picado e em que os ataques cardíacos acontecem ao sabor dos trambolhões das bolsas, a pergunta de quem vai tendo, ainda, algum dinheiro é:

“E agora, o que é que eu faço? Onde é que vou aplicar a “massa”?

Bem, sem querer influenciar quem quer que seja, peço-vos que leiam uma história contada por um leitor da “BBC online”:


“Quem tenha comprado 1000 dólares de acções da Nortel, tem agora 49 dólares. Se fossem da Enron, os 1000 iniciais já só valem 16,5. Se fossem acções da United Airlines, o saldo seria zero. Porém, se tivessem comprado 1000 dólares de cerveja em lata e, depois, a bebessem toda (à cerveja, está claro), só pela venda das latas para reciclagem receberiam nada menos de 214 dólares.
Portanto, o melhor investimento é beber muita cerveja e reciclar as latas”.



Atenção, não estou certo que o resultado seja exactamente o que foi sugerido pelo divertido leitor inglês. No entanto, acredito que quem esteja na disposição de comprar (e de beber) tantos litros de cerveja, possa não ficar rico mas, seguramente, sentir-se-á muito mais “aconchegado”. No mínimo... digo eu.

segunda-feira, outubro 20, 2008

Pobres, pobres, pobres

Não é a primeira vez que escrevo sobre pobres e pobreza no nosso país.

E se o caso não fosse tão grave diria, como na anedota, “sobre este assunto tenho duas coisas para contar, uma boa e uma má. Qual querem ouvir primeiro?”.

Digo-vos, então, primeiro, a Boa : Desde 2000, quando a União Europeia assumiu o compromisso de lutar contra a pobreza, Portugal foi o país da Comunidade em que o número de pobres mais caiu.

Agora, a Má : Mesmo assim, estamos dois pontos acima da média dos outros Estados-membros.

Apesar de termos conseguido alguns resultados positivos, a verdade é que Portugal tem actualmente um milhão e 800 mil cidadãos que vivem com um salário mensal de 360 euros, ou seja, no limiar da pobreza.

E estes números dizem respeito apenas aos chamados “pobres tradicionais”, nomeadamente os idosos com pensões baixíssimas, os desempregados e os que têm os denominados “salários low cost” que, para além de ínfimos, são resultantes de empregos de grande precariedade.

Mas, para além desses e de todos os outros de quem sem diz “terem uma pobreza envergonhada” – aqueles que não constam para as estatísticas - começaram a aparecer há uns tempos os “novos pobres”´, estes, vítimas das múltiplas crises nacionais, internacionais e dos azares da própria vida que desabaram sobre as suas cabeças, e que, mesmo com empregos e com ordenados fixos, já não conseguem honrar os seus compromissos pessoais e familiares.

Todos eles a viverem situações de uma aflição excessiva e, a maior parte, a sobreviver com quase nada. Daí já não nos admirarmos que sejam cada vez mais as pessoas que recorrem ao auxílio das instituições de solidariedade social.

Uns por que passam pela pobreza sem serem pobres mas a maioria com o destino inevitavelmente traçado de sofrerem as agruras da miséria extrema.

Perante tal “sorte” cabe ao Estado e à Sociedade acudir a quem está em situação tão difícil. Sem desconfianças mas com um olhar atento para evitar ou minimizar os casos de abuso e de fraude.

domingo, outubro 19, 2008

Outros tempos ...

“Sou de um tempo onde não se ia à praia – ia-se para a praia”. Assim começava uma crónica de Manuel Serrão publicada há pouco numa revista em que ele revisitava as suas memórias de infância e onde lembrava que a praia desses tempos “não era uma questão de moda mas uma terapia”.

Tenho mais uns anitos que o Manel e, por isso, e por privilégio, também vivi toda a felicidade dos meses de verão passados na praia com a família, onde o pai só estava presente no mês de Agosto e aos fins de semana e onde, entre o jogo do prego e os mergulhos (dois ou três por dia, obrigatórios, por que faziam bem à saúde) do Sr. António(o velho banheiro), se faziam boas amizades que, na maioria dos casos se perderam pelos anos.

Quando se tem já idade suficiente para isso, é curioso fazerem-se comparações entre os hábitos de uma determinada época e os que estavam em uso umas décadas antes.

Há dias, jantava com a família num restaurante. Eram quase onze horas e as pessoas continuavam a chegar para o repasto. Um dos presentes na mesa, oitenta e dois anos muito presos aos costumes e tradições de toda a sua vida, não parava de se espantar com a hora tão tardia a que muitos iam iniciar a refeição da noite.

Embora ainda longe dos oitentas, recordo-me bem que na casa dos meus pais almoçava-se à uma e jantava-se às oito horas em ponto e com toda a família sentada à mesa. O rigor das horas das refeições era sagrado. Ditado pela “moda” da época e pelo autoritarismo sem oposição do chefe da família.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Trabalhar, trabalhar, trabalhar


“Trabalhar com dedicação faz bem ao coração”

“Trabalhar com moderação faz bem ao coração”

“Trabalhar na perfeição faz bem ao coração”


Estas algumas das frases escritas em azulejos que encontrei à venda numa festa popular de uma pequena aldeia do nosso país.

Mas ainda que seja verdade que o trabalhar (com dedicação, com moderação ou mesmo com perfeição, conforme
o desígnio de cada um), faça bem ao coração, recordo o que um grande amigo meu me disse há uns anos:

“Trabalhar é anti-natural. Já viste que, dos animais, só o homem e a formiga é que trabalham?"


quarta-feira, outubro 15, 2008

O busílis

O Governo atrasou-se a entregar na Assembleia da República o Orçamento Geral do Estado para 2009.

De facto, as coisas não correram bem e registaram-se três problemas de uma assentada. O primeiro, um atraso de três horas e meia na entrega do OGE (estava previsto para as 16h00 e acabou por ser às 19h30). O segundo, porque o Orçamento apresentado numa “pen usb” não foi entregue na totalidade (faltavam elementos essenciais). O terceiro, porque o que faltara na véspera (os mapas, o PIDDAC e o relatório que acompanha a proposta orçamental) só chegaram à AR durante esta noite e manhã.

Portanto, o Governo falhou!

No entanto, e embora considere que este tipo de erros não devem acontecer, acreditem que não fiquei nada espantado com o coro de protestos que foi orquestrado por toda a oposição pelo redondo “espalhanço” do Executivo. Falou-se de desrespeito pela Instituição AR e pelos deputados e agitaram-se punhos irados contra o Governo relapso.

E não me espantei, porque estou já demasiado habituado a que no nosso país se discuta o acessório enquanto que o fundamental só é considerado – quando o é – lá mais para as calendas. É uma característica das nossas classes política, sindical e empresarial.

Mas, mesmo reconhecendo que o Governo falhou, sobretudo porque o que está em causa é o conteúdo (ou a falta de) da “pen”, um acessório tão caro a governantes que tanto prezam e apregoam as novas tecnologias, o que questiono é se tal erro vai impossibilitar a discussão da proposta do OGE na Assembleia.

E a resposta parece-me clara: NÃO, DE FORMA ALGUMA.

É que o calendário parlamentar quanto ao Orçamento prevê a discussão na generalidade nos dias 5, 6 e 7 de Novembro e a a votação na especialidade e votação final global nos dias 27 e 28 de Novembro.

Portanto, o busílis da coisa não foi o conteúdo da proposta em si, com todo o leque de divergências, insuficiências e demagogias que ela pudesse conter (ainda mais com um calendário eleitoral à vista) mas o atraso de umas quantas horas na entrega da mesma.

Já agora, e para enterrar um pouco mais o Governo (por mais um atraso), refira-se que o primeiro-ministro Sócrates chegou hoje com cerca de uma hora de atraso à Cimeira de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, em Bruxelas, justificando o sucedido com o facto de ter viajado desde Lisboa num voo comercial.
Foram muitos atrasos em tão pouco tempo...