sábado, dezembro 31, 2011

Bom Ano Novo



Dentro de poucas horas passaremos de 2011 para 2012. O engraçado é que, teoricamente, tudo continuará igual. A diferença, a pequena e subtil diferença é que quando o relógio nos avisar que é meia-noite do dia 31 de Dezembro de 2011 teremos, a partir daí, um outro ano - INTEIRO - pela frente! Um ano novinho em folha!


E vai ser um ano e tanto, em que tudo vai aumentar: o desemprego, as taxas moderadoras, a água, a luz, as comunicações, os transportes públicos, as portagens, as rendas, o IVA, eu sei lá que mais, e, também, o próprio ano aumenta porque tem mais um dia. É verdade, 2012 vai ser um ano bissexto.


Mas vai ser um bom ano. Provavelmente quando chegarmos a 31 de Dezembro de 2012 – daqui a um ano – vamos ter saudades dele porque em 2013 os sacrifícios pedidos provavelmente ainda vão ser maiores.


A terminar, e a propósito da compra de parte de capital da EDP pelos chineses, um toque de bom humor, como sinal de esperança para os próximos 366 dias:


“A paltil de Janeilo pala sua maiol comodidade pague as fatulas da EDP - ELETLECIDADE DE POLTUGAL num dos muitos milhales de postos de coblança existentes no Pais ... A LOJA DO CHINÊS MAIS PLÓXIMA!!!”

BOM ANO NOVO!


quarta-feira, dezembro 28, 2011

Hoje faço anos



Interrompo as férias natalícias, no dia do meu aniversário, para partilhar convosco um excerto de um pensamento do Nobel da Literatura, o alemão (naturalizado suíço) Hermann Hesse, que acho sábia e adequada:


“… para mim, a noção de pessoa velha ou nova só se aplica às pessoas vulgares. Todos os seres humanos mais dotados e mais diferenciados são ora velhos ora novos, do mesmo modo que ora são tristes ora alegres… A idade só perde valor quando quer fingir ser juventude…”


quarta-feira, dezembro 21, 2011

Boas Festas

Nesta época de festas,


Desejo-vos SAÚDE, PAZ e AMOR

... e que 2012 vos traga tudo de bom

BOAS FESTAS!

BOM ANO NOVO!


terça-feira, dezembro 20, 2011

O Natal não é ornamento

Mesmo em vésperas de Natal, nada melhor do que uma reflexão em forma de poema do poeta José Tolentino de Mendonça

"O Natal não é ornamento"

"O Natal não é ornamento: é fermento

É um impulso divino que irrompe pelo interior da história
Uma expectativa de semente lançada
Um alvoroço que nos acorda
para a dicção surpreendente que Deus faz
da nossa humanidade

O Natal não é ornamento: é fermento
Dentro de nós recria, amplia, expande

O Natal não se confunde com o tráfico sonolento dos símbolos
nem se deixa aprisionar ao consumismo sonoro de ocasião
A simplicidade que nos propõe
não é o simplismo ágil das frases-feitas
Os gestos que melhor o desenham
não são os da coreografia previsível das convenções

O Natal não é ornamento: é movimento
Teremos sempre de caminhar para o encontrar!
Entre a noite e o dia
Entre a tarefa e o dom
Entre o nosso conhecimento e o nosso desejo
Entre a palavra e o silêncio que buscamos
Uma estrela nos guiará
O Natal não é ornamento"

segunda-feira, dezembro 19, 2011

“Ou se põem finos ou …”



Quando vi na televisão a notícia de que um vice-presidente da bancada do PS, Pedro Nuno Santos, afirmou que “Portugal devia marimbar-se para os credores”, julguei não ter percebido. Só depois de ter ouvido a repetição é que fiquei com a certeza que as palavras daquele senhor tinham sido exactamente aquelas. E mais disse, ”que o país deve suspender o pagamento da sua dívida para deixar as pernas dos banqueiros alemães a tremer”.


Inacreditável. É que este dirigente partidário pertence a um país que tem as suas contas descontroladas e que deve muito dinheiro ao exterior. Um país que teve que pedir a "ajuda" internacional e está, por isso, a ser fiscalizado ao pormenor e em permanência. Para cúmulo, trata-se de um dirigente de um partido que assinou o memorando de entendimento justamente com quem nos financiou e está a controlar-nos. Será que ele enlouqueceu?


Percebo que as declarações do dirigente socialista foram feitas durante um jantar com militantes do partido e que o calor partidário leva muitas vezes a dizer aquilo que não se quer ou não se pode. Mas há um limite que é ditado pelo bom senso. Fica-lhe bem dizer que “os interesses dos portugueses estão à frente do dos credores”. Pode até pensar, e isso é legítimo, que deveríamos, juntamente com outros países em dificuldades, tentar renegociar a dívida mas, convenhamos, o homem excedeu-se. Frases como “Estou a marimbar-me que nos chamem irresponsáveis. Temos uma bomba atómica que podemos usar na cara dos alemães e franceses. Essa bomba atómica é simplesmente não pagarmos”, ou “ os senhores ou se põem finos ou nós não pagamos” são, no mínimo, desajustadas.


Imagino como os banqueiros alemães terão ficado com as pernas a tremer ao saber da ameaça do deputado português: “ Ou se põem finos ou …”. Deu-me até um certo gozo pensar na aflição que sentiram e no movimento que, de imediato, se terá gerado.


Mas, perante o ridículo da situação (que não passa disso mesmo), o que se espera é que àquele dirigente lhe seja indicada a porta de saída. Porque, tal como ele mencionou, isto é como um jogo de póquer em que o bluff é uma arma. Mas nos jogos ganha-se e perde-se e ele, manifestamente, exagerou e perdeu esta jogada.


sexta-feira, dezembro 16, 2011

“A Secreta Viagem”

David Mourão-Ferreira (1927 – 1996) foi um escritor e poeta português. É considerado como um dos grandes poetas contemporâneos do século XX.

De David Mourão-Ferreira,
“A Secreta Viagem”



No barco sem ninguém, anónimo e vazio,

ficámos nós os dois, parados, de mão dada...

Como podem só dois governar um navio?

Melhor é desistir e não fazermos nada!


Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos,

tornamo-nos reais, e de madeira, à proa...

Que figuras de lenda! Olhos vagos, perdidos...

Por entre nossas mãos, o verde mar se escoa...


Aparentes senhores de um barco abandonado,

nós olhamos, sem ver, a longínqua miragem...

Aonde iremos ter? — Com frutos e pecado,

se justifica, enflora, a secreta viagem!


Agora sei que és tu quem me fora indicada.

O resto passa, passa... alheio aos meus sentidos.

— Desfeitos num rochedo ou salvos na enseada,

a eternidade é nossa, em madeira esculpidos!


quinta-feira, dezembro 15, 2011

Caricaturas à parte …


Na entrevista que concedeu ao programa Sociedade das Nações, da SIC Notícias, Pedro Passos Coelho afirmou “só o tempo pode mostrar se o acordo que saiu do último Conselho Europeu vai servir para aliviar a pressão dos mercados contra países com problemas de défice público ... não é com cimeiras que se resolvem os problemas da Europa …”


E é capaz de ter razão. Se calhar não vão ser as cimeiras que irão resolver os problemas. Seja como for, o que me preocupa mesmo é que o nosso presente (e provavelmente o futuro) está cada vez mais a parecer-se – ainda que de forma caricatural – com o desenho que a seguir publicamos. Infelizmente.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

“Óqueijo”



Sabendo, embora, que muitas das expressões que empregamos no nosso quotidiano são incorrectas ou inexistentes o facto é que continuamos a usá-las.

Como foi o caso de, nos tempos em que aprendi francês, sempre que deveria perguntar “moi?” ter-me habituado (na tentativa de ser espirituoso) a dizer “je?”. Até que na prova oral do exame do último ano do secundário, ter caído no mesmo erro (desta feita não quis ser engraçado) e respondi exactamente da mesma forma – “je?”. Perante o espanto do examinador, ainda por cima um francês de gema, consegui dizer-lhe, no melhor francês que sabia, que a minha resposta tinha sido uma “blague” e tudo acabou da melhor maneira. Para quem, perguntam? – a “je”, respondo!


Foi também o que aconteceu aquando de uma série televisiva dos tempos famosos do Herman, em que uma das personagens – interpretada por Lídia Franco - uma suposta condessa, afirmava sistematicamente “não me chame condensa que me põe tensa”. Então não é que, toda a minha gente apanhou o ar nasalado da Lídia Franco, que tinha uma graça incrível, e começou-se a dizer o condensa, como se fosse um bordão?


Já o OK entrou na nossa linguagem corrente provavelmente por via dos filmes norte-americanos. A partir de certa altura a utilização daquele termo tornou-se tão vulgar que quase não havia uma frase que se prezasse que não incorporasse o OK como elemento, sem o qual a frase não teria sentido. Pelo menos o sentido devido. Mas nós portugueses, quero dizer, alguns de nós, achámos que deveríamos aportuguesar o termo e, quer nas interrogações quer nas afirmações, começámos a utilizar não o conhecido OK, mas a versão lusitana de “óqueijo”. “Então, as coisas estão todas em ordem?”. “Tudo em cima, está tudo “óqueijo”.


Embora conscientes dos erros que vamos dizendo – sim porque este tipo de asneiras só muito raramente as cometemos na escrita – de vez em quanto lá saem. Fruto de alguma história que conhecemos, por que lhes achamos piada ou, simplesmente, por que sim.



terça-feira, dezembro 13, 2011

Ele há coisas que não lembram nem ao diabo …



É claro que as coisas acontecem. Mas há limites, caramba.


Calculem que, no Reino Unido, um português foi contratado para dirigir um sector de uma fábrica e, passado pouco tempo, foi despedido. Porquê? perguntarão. Por ser incompetente ou por não dominar bem a língua inglesa? Nada disso, o homem tinha as competências necessárias e até fala bem quatro línguas, incluindo a de Shakespeare. Então qual teria sido o motivo?


Ele foi dispensado “apenas” porque os 18 trabalhadores polacos que tinha a seu cargo não sabiam falar inglês nem mostraram a mínima vontade de aprender.


Vai daí, a direcção da fábrica inspirada, porventura, em Bertolt Brecht - "mude-se o povo se não se pode mudar o governo" (neste caso, mude-se o chefe se não se consegue convencer os operários) - decidiu afastar o português que dominava, como referi, fluentemente o inglês mas que, por razões que nem consigo imaginar, não falava uma língua tão óbvia e universal como o polaco.


Vejam de que tamanho seria o falatório se isto tivesse acontecido no nosso país?


segunda-feira, dezembro 12, 2011

A Cimeira que deixou tudo mais ou menos na mesma



Embora houvesse uma moderada esperança a verdade é que da cimeira da União Europeia, realizada nestes últimos dias, não saíram conclusões que esclarecessem qual virá a ser o futuro da zona euro e da própria Europa. Mesmo tendo em conta que existe interesse de todos os 27 membros em que a União Europeia continue, o facto é que “as vontades” de alguns estão a abalar a confiança na manutenção desta bonita ideia de uma Europa unida.


Quanto ao euro, tal como hoje existe, parece caminhar para o fim. Como escrevia a semana passada a The Economist, “depois dos países periféricos, os estragos da crise chegam ao epicentro da moeda única, com a Itália e a Espanha a darem os primeiros sinais”. E não ficará por aí, digo eu. É por isso que aquela revista dá apenas algumas semanas de vida ao euro. O que nos faz interrogar: e se o euro acabar? Afinal, há países que não estão no clube e continuam a pertencer à UE. Só que se o euro desaparecer os efeitos catastróficos, sobretudo para as economias mais débeis como a nossa, não se farão esperar.


Voltando à cimeira, apesar das esperanças de alguns, penso que no fundo, no fundo, ninguém acredita que a cimeira tenha resolvido qualquer problema estrutural do euro. E, por isso, todos os países do eurogrupo, a começar pelos mais frágeis, estão derrotados e condenados a optar entre as más e as péssimas soluções para gerirem as suas crises.

De concreto apenas se sabe qual foi a ementa que foi servida na quinta-feira quando se sentaram à mesa para o jantar de trabalho: sopa, bacalhau, bolo de chocolate e gelado. Petisco que, a julgar pelos resultados da cimeira, não foi suficientemente apreciado por todos os membros dos 27 países: um grupo de 17 “tinha ganho” uma nova "união de estabilidade orçamental" (mais uma expressão da nova linguagem), 9 vão ter que consultar os seus parlamentos e 1 (o Reino Unido) – o de sempre - ficou definitivamente de fora.

Curioso, porém, é notar que apesar das dúvidas sobre o futuro do euro e da Europa, há mais um país a aderir à União Europeia. A Croácia assinou agora em Bruxelas, o tratado de adesão e entrará em Julho de 2013. Isto se a Europa ainda existir.


quarta-feira, dezembro 07, 2011

Uma cena única e profundamente emocionante



Fiquei emocionado ao ver e ouvir a Ministra italiana do Trabalho a chorar em público, anunciando, com voz embargada, os sacrifícios que vão ser pedidos aos pensionistas.


Elsa Fornero, uma economista e académica, agora Ministra do Governo de Mário Monti, não conseguiu conter as lágrimas quando revelava as medidas neoliberais que vão tomar para tentar salvar a terceira maior economia da União Europeia. Emocionou-se e chorou. Provavelmente por pensar no que está para vir e como isso vai afectar os cidadãos. Mas sobretudo por saber que poderemos estar perante o princípio do fim de um estado social por que tanto lutámos e que constitui uma das maiores conquistas geracionais das últimas décadas. É que o estado social como nós conhecemos e nos habituámos está-se a desmoronar como um castelo de cartas.


Mesmo percebendo como esta Ministra está distante da política (daquela que os políticos dos últimos anos têm vindo a fazer, sem estratégias, sem ideologias e, principalmente, sem ética), aqueles minutos sofridos denotam uma sensibilidade que não pode deixar de nos tocar. É uma cena única e profundamente emocionante.


Para quem não assistiu, convido-os a aceder a


http://www.youtube.com/watch?v=cLN5tWK2v9w


terça-feira, dezembro 06, 2011

“Suite 605”



Para aqueles que ainda têm dúvidas sobre o que é realmente a zona franca da Madeira (depois de anos a quererem convencer-nos do contrário), sugiro que leiam o livro que o economista João Pedro Martins, especialista em comércio internacional, publicou recentemente. “Suite 605” conta a história secreta de centenas de empresas que cabem numa sala de 100 m2”, instalada no paraíso fiscal da Madeira. Um espaço do tamanho de um mosaico de cozinha atribuído a cada uma dessas empresas fictícias (onde multinacionais coabitam com empresários portugueses) cuja verdadeira actividade se traduz na fuga aos impostos e ao branqueamento de capitais, de forma legal. A chamada “burla legal”.


Segundo o autor há “um ninho de corrupção na Madeira e um viveiro do crime organizado onde a elite corrupta que capturou a economia e o poder político se recusa a pagar impostos”. Mas diz mais, “as máfias russas e italianas estão lá a lavar dinheiro … perante a complacência das autoridades portuguesas, uma responsabilidade que é imputada transversalmente a vários políticos da Madeira e do Continente”.


Contudo, quando se levanta a questão sobre o que é que sucederia se acabasse o offshore da Madeira, a resposta recorrente é que seria um desastre. Mas não é assim. Com tanta aldrabice, o PIB está inflacionado e, assim, o que acontece é que Portugal perde para além de credibilidade, cerca de 500 milhões de euros de fundos comunitários. Quanto à Madeira, com 30% da população a viver abaixo do limiar da pobreza, não tem acesso a fundos comunitários nem a verbas do OE exactamente porque o PIB da Região está também muito inflacionado.


Há dez milhões de milhões de euros que estão estacionados em paraísos fiscais (na Madeira e por todo o mundo). É muito, muito dinheiro.


Em “Suite 605” põe-se o dedo na ferida. Continua, porém, a faltar a coragem política para se acabar com este crime organizado.


segunda-feira, dezembro 05, 2011

Preocupante



A recente recolha de alimentos do Banco Alimentar, embora não tivesse atingido os mesmos números da campanha de Novembro de 2010, ainda assim, mostrou bem como os portugueses continuam a ser solidários e não esqueceram os mais carenciados.


Apesar de todas as dificuldades, nomeadamente a falta ou a precariedade do emprego, os cortes dos subsídios de Natal e os problemas sempre crescentes que todos sentimos, muitos milhares de pessoas aderiram – uma vez mais e de forma generosa - à campanha do BA. Mesmo sabendo que vêm aí dias ainda mais difíceis.


E, neste momento, os números apontam já para um milhão de idosos a viver com menos de 280 euros por mês. Preocupante, na verdade.


quarta-feira, novembro 30, 2011

Expliquem-me lá por que é que o IMI vai aumentar em 2012?



A decisão está tomada pela coligação PSD/CDS. No próximo ano vai aumentar o IMI depois da reavaliação geral de imóveis que começará a ser feita ainda em 2011. Ou seja, o IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) entrou em vigor em 2003 e os prédios que não foram transaccionados desde então (dado que não foram reavaliados entretanto) verão o seu valor patrimonial aumentar e, consequentemente, os contribuintes vão pagar mais.

Sinceramente não percebo por que razão, tendo o mercado da habitação desvalorizado (e muito), o valor patrimonial dos prédios vai continuar a aumentar. Dou um exemplo: se comprei uma casa em 2005 por 200 mil euros e ela hoje, em termos de mercado, vale apenas 170 mil, porquê, agora, uma actualização do valor patrimonial? Só se for para descerem esse valor e começar a pagar menos IMI. Será? Não me parece …


terça-feira, novembro 29, 2011

Oito ou oitenta



Não viram neste blogue qualquer comentário aos milhões que a Madeira vai gastar em fogo-de-artifício nas festividades natalícias e na passagem de ano. Achei que era muito dinheiro, é verdade, mas que, feitas as contas, tanto gasto justificar-se-á pelas receitas obtidas pelo turismo.


Mas – e a acreditar no que a imprensa noticiou ontem - não há contas que cheguem para fundamentar o custo do novo automóvel do Ministro Mota Soares. É que custou 86 mil euros! Não acham demasiado? Pedem-se tantos sacrifícios aos cidadãos e há pagamentos a fornecedores que o Estado não consegue cumprir por falta de dinheiro mas, para tamanho luxo, sempre se arranjam alguns trocos.


Logo Mota Soares que, até há pouco, andava de Vespa. Ou seja, o oito e o oitenta. Bem podem agora argumentar que a viatura foi uma herança do Governo anterior. Pode até ser, mas há sempre forma de dar a volta às coisas e é escandaloso gastar tanto quando as dificuldades são muitas. Até por uma questão de exemplo. E, se calhar, a própria Audi poderia fornecer – pelo preço acordado com o “despesista Governo anterior” - em vez de uma viatura de estadão, três outros carros mais baratos mas igualmente dignos.


Não chocaria tanto. Não concordam?


segunda-feira, novembro 28, 2011

Ah fadista!



Mais do que a vitória do último sábado, em que o Benfica cilindrou o Sporting por … um a zero, fiquei bem mais feliz ao saber que o Comité Intergovernamental da Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) decidiu promover o fado a Património Imaterial da Humanidade.


Fiquei satisfeito, já se vê, mas arrepiei-me todo quando me lembrei que um amigo me disse, a semana passada, que “imaterial” mesmo era o seu ordenado depois do corte do subsídio de Natal deste ano e dos próximos. Porém, depois de consultar a wikipédia fiquei mais descansado ao saber que esse tal Património Imaterial da Humanidade é uma distinção mundial criada em 1997 para a protecção e o reconhecimento de expressões culturais e tradições, tendo em vista as gerações futuras. Pretende-se que permaneçam vivas coisas como os saberes, as formas de expressão, as celebrações, as festas e danças populares, as lendas, as músicas, os costumes e outras tradições. E fiquei a saber também que desde o início até ontem já existiam 90 bens imateriais registados.

Confesso que, como lisboeta e português, fiquei muito contente com o galardão. O fado canta a vida e a “sorte” do nosso povo há cerca de dois séculos. O fado é o destino e é a nossa canção tradicional, a mais urbana das canções portuguesas, um ícone nacional que fala de amor e saudade, que é desgraçado, vadio, aristocrata, que tem amores e ciúme e que tem divulgado os versos dos nossos melhores poetas.


O prémio da UNESCO deixa-nos, pois, orgulhosos e alegres (curiosa contradição de um estilo de música que é associada à tristeza) e, parafraseando o Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, o Fado dá aos portugueses “alegria […] numa altura em que Portugal necessita como nunca de notícias positivas”. Apesar de, daqui para a frente, o Fado deixar de ser só nosso para ser de todos, da Humanidade.


Então, silêncio que se vai cantar o FADO! Não aqui mas no “Baú”, cujo endereço é http://www.bau-demascarenhas.blogspot.com/


sexta-feira, novembro 25, 2011

Duas sugestões solidárias para o próximo fim-de-semana



A próxima Campanha do Banco Alimentar Contra a Fome para Recolha de Alimentos em supermercados realiza-se em 26 e 27 de Novembro de 2011, ou seja, já no próximo fim-de-semana.

Como de costume, conto com todos os meus Amigos.


E, já agora, uma sugestão para quando fizer a sua doação aos voluntários do Banco Alimentar. Ao encher o seu saquinho de compras inclua produtos enlatados da marca Sicasal, uma empresa portuguesa que sofreu recentemente um incêndio nas suas instalações e que, apesar dos prejuízos avultados, assegurou que a sua laboração vai continuar e ninguém vai ser despedido. Os trabalhadores da Sicasal têm trabalhado arduamente na recuperação e limpeza das suas instalações e bem merecem este acto de solidariedade. E a empresa também.

É o chamado dois em um. Podemos ajudar quem bem o merece entregando os produtos a quem bem o necessita.

Por favor, alimentem esta ideia!


quarta-feira, novembro 23, 2011

Os sem-abrigo



Em algumas das minhas crónicas tenho abordado o problema dos que sofrem por carência alimentar. Mas o desemprego (ou outras circunstâncias adversas da vida) que, em muitos casos, atinge um ou vários elementos dos agregados familiares, causam outros tipos de carências e de pobreza. Nomeadamente, viver na rua.


Sabe-se que existe um número crescente de sem-abrigo – uma situação que não escolhe idade, género, grau académico ou profissão – e, simultaneamente, os centros de acolhimento estão esgotados e o aumento de pedidos às equipas que distribuem alimentos e agasalhos são um desafio cada vez maior para as instituições, algumas já sem capacidade de resposta.


O perfil dos sem-abrigo mudou. Actualmente quem vive na rua já não é apenas o “desgraçado” com um historial de exclusão social. As equipas de apoio já registaram casos de pessoas que estiveram muito bem na vida e que agora passam por momentos terríveis. E têm encontrado também pessoas que trabalham, têm casa, mas não possuem os recursos suficientes para pagar as despesas, recorrendo, por isso, às carrinhas para conseguir alimentos e a outras instituições para receberem roupa.


Portugal tem dois milhões de pobres há três décadas mas a crise veio agudizar as situações de pobreza extrema. E, infelizmente, os próximos anos não vão ser nada fáceis.


terça-feira, novembro 22, 2011

“Curto mas … educado”



Ontem tive a pachorra de ouvir algumas horas de debate (na especialidade) da proposta do Orçamento de Estado para 2012. Foi enfadonho, foi … chato! E devo confessar que fiquei sem perceber qual vai ser o rumo do país no próximo ano. De resto, as frequentes contradições e a pouca habilidade política e oratória de alguns dos intervenientes (mais do Executivo que da Oposição) também não ajudaram.


Como aconteceu com o Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, cujo tom de voz é reconhecidamente monocórdico. Não altera um decibel que seja no registo do seu discurso que se mantém igual do princípio ao fim. Monótono e parco de palavras mas muito directo quando envia a mensagem.


Conta-se a propósito que, numa reunião do Conselho de Ministros, o Ministro da Economia apresentava as suas propostas para promover o crescimento económico quando, de forma seca, o seu colega das Finanças comentou “não há dinheiro!”. Perante a insistência de Álvaro Santos Pereira em prosseguir com a apresentação das suas opiniões o ministro das Finanças interrompeu-o de novo perguntando-lhe “Qual das três palavras é que não percebeu?”.

Nestes casos costuma-se dizer que foi “curto e grosso”. Quanto a Vítor Gaspar foi simplesmente “curto mas … educado”.


segunda-feira, novembro 21, 2011

Os Direitos Adquiridos



Há muito que estamos habituados às contradições dos políticos. É confrangedor (e cansativo) ler ou ouvir o que eles dizem em determinado momento e muitas vezes o contrário logo a seguir, um pouco ao sabor dos seus interesses. E são raros os que escapam a este “fado”. Ângelo Correia, esse “magnífico vulto”da nossa história política não foge à regra e aí está o que ele pensa sobre a velha questão dos “direitos adquiridos”.


Em Novembro de 2010, no programa Plano Inclinado da SIC Notícias, Ângelo Correia afirmou que “adquiridos são apenas os direitos como o direito à vida, o direito à liberdade, etc.”. Defendeu que “todos os outros direitos, ou seja, aqueles que custam dinheiro ao Estado, são direitos que não existem, que estão dependentes da solidez da economia”. E concluiu o raciocínio dizendo que “a ideia de direitos adquiridos se trata de uma "burla".


Porém, menos de um ano depois, a 23 de Outubro de 2011, quando questionado por uma jornalista da Antena 1 sobre a possibilidade de, em função do momento difícil que o país atravessa, abdicar da sua subvenção vitalícia de ex-titular de cargo público (quando, ainda por cima, trabalha no sector privado), Ângelo Correia afirmou “não estar disponível, por se tratar de um "direito adquirido" legalmente”.


Em que ficamos senhor engenheiro? Tamanha incoerência deve-se a quê? A lapsos de memória, a falta de ideias firmes sobre o assunto ou a pura desonestidade intelectual?


sexta-feira, novembro 18, 2011

De novo em causa o tormentoso problema da água que se bebe no Parlamento



Em 19 de Janeiro deste ano escrevi aqui que havia a possibilidade dos nossos Deputados virem a beber água da torneira em vez da água engarrafada que lhes era servida no Parlamento. Dava-vos, então, conta que o argumento mais forte para terem chumbado essa proposta foi a pequena dimensão da poupança, que se cifraria, em 2011, nuns reles 7 500 euros.


Pois bem, passados estes meses, o assunto voltou à baila e a Comissão Parlamentar do Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local chumbou agora a proposta do PS para que a água consumida na Assembleia da República fosse da torneira. No entanto, a questão não está ainda encerrada. Foi aprovado um projecto do PSD que encarrega o Conselho de Administração do Parlamento de apresentar um estudo sobre os custos e benefícios da medida (financeiros e ambientais), no prazo máximo de 30 dias.


E a coisa não vai ser fácil. Se quanto à parte financeira, já na anterior legislatura se tinham apurado ganhos de uns escassos (?) 7 500 euros, quanto às eventuais vantagens ambientais, os objectivos não podem ser muito ambiciosos. Ficar-se-iam, tão-somente (!), pela redução de resíduos de embalagens das garrafas ou garrafões de plástico e pela diminuição das emissões poluentes na produção e transporte da água engarrafada. Estão a ver a complexidade do problema?


Por isso é que para se resolver esta questão bicuda (mesmo transcendental) terá que se proceder à elaboração de um estudo aprofundado (capaz de avaliar todos os impactos) que torne possível a tomada de uma decisão que se nos afigura … tão simples.


O que nos deixa uma interrogação. Será que os Deputados encarregues desse estudo não terão para resolver outros assuntos bem mais importantes para o país e para os cidadãos? Eis uma pergunta para a qual todos nós teremos resposta.


quinta-feira, novembro 17, 2011

Corrigiu-se um erro a tempo



Quando no passado dia 19 de Outubro eu escrevia aqui sobre a possibilidade de Portugal vir a receber no próximo ano só uma pequena parte daquilo que o “Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados – PCAAC” nos costuma atribuir, fazia-o deveras preocupado. Por um lado, porque aumentou muito o número de pessoas que recorrem às Instituições de Solidariedade Social para matar a fome e, por outro, porque a quantidade dos alimentos doados tem sido significativamente menor. Pensava-se, na altura, que essa medida poderia vir a afectar mais de 400 mil portugueses.


Felizmente, a minoria de bloqueio formada pela Alemanha (sempre ela), Reino Unido, Suécia, Dinamarca, Holanda e República Checa recuaram na sua intenção de reduzir drasticamente o apoio a milhões de pessoas sem capacidade para satisfazer uma das mais básicas necessidades – a de comer.

O PCAAC vai continuar nos dois próximos anos (para já) e vai abranger 18 milhões de europeus. Corrigiu-se um erro a tempo. Ainda bem.


quarta-feira, novembro 16, 2011

Afinal o mundo não acabou …



Até há poucas horas, os portugueses andavam num desespero. E nem era propriamente por causa da crise, nem sequer pelo desemprego ter subido para os 12,5%. Tão-pouco pelo facto de ficarmos sem os subsídios de férias e de Natal nos próximos anos. O que atormentava mesmo a rapaziada era a possibilidade da nossa selecção não ser apurada para o Europeu de Futebol de 2012. Só isso.


O treinador Paulo Bento bem tinha afirmado na véspera que, caso a equipa não conseguisse estar presente na fase final da prova, a disputar na Ucrânia e na Polónia, a vida iria continuar e ele manter-se-ia casado e com duas filhas. Mesmo assim os portugueses estavam ansiosos e à beira de um ataque de nervos.


Só por volta das onze da noite os corações sossegaram. A nossa equipa ganhou e goleou a Bósnia e Ronaldo, o CR7, voltou a ser o maior. A Selecção Nacional de Futebol tinha-se apurado para o Euro 2012 e reconciliara-se com os adeptos e com o país. A auto-estima do povo subiu em flecha e, apesar das preocupações do dia-a-dia, a vitória por 6 a 2 tornou-nos mais fortes e mais orgulhosos. Afinal o mundo não tinha acabado …


terça-feira, novembro 15, 2011

Engenharia financeira ou embuste?



A propósito do corte (e da supressão nos próximos anos) do 13º mês lembrei-me de um texto que tem sido veiculado pela net e que, mesmo que não corresponda (por inteiro) à verdade, está bem montado e matematicamente certo. E conta-se mais ou menos assim:


O subsídio de Natal, o chamado 13º mês, foi criado em Portugal logo depois do 25 de Abril de 1974. Mas o 13º mês é uma das mais escandalosas mentiras dos donos do poder, quer se intitulem "capitalistas" ou "socialistas", e é justamente aquela em que os trabalhadores mais acreditam.


Eis uma simples demonstração aritmética de como tem sido fácil enganar os trabalhadores.


Suponhamos que alguém ganha € 700,00 por mês. Multiplicando-se esse salário por 12 meses, o total anual é de € 8 400,00. Ou seja, 700,00 x 12 = € 8 400,00.


Mas o Governo, generoso como é, decidiu criar um 13º mês. Um bónus, um suplemento, uma gentileza, um carinho, se quiserem. Aos 8 400,00 auferidos no ano dá ao trabalhador mais um vencimento (700,00). Isto é, 8 400,00 + 700,00 = € 9 100,00.


Só que qualquer trabalhador, habituado a fazer contas para estender o seu magro orçamento até ao fim de cada mês, pode chegar rapidamente à seguinte conclusão: Se ganha 700,00 euros por mês e o mês tem quatro semanas, significa que ganha 175,00 € por semana. Como o ano tem 52 semanas, quer dizer que são 175,00 x 52, o que dá os mesmos 9 100,00 euros.


Oh Diabo! Mas afinal onde é que está o bendito subsídio de Natal que esperamos o ano inteiro? É que até parece que alguém nos anda a enganar. E isto sem falar, claro está, que há meses que têm 30 dias mas outros 31 e que uns meses têm 4 semanas e outros 5.


Resumindo, não existe qualquer pagamento adicional, o que há é a reposição de um dinheiro já ganho e que não foi entregue na altura própria. Tão simples como isso. E não é por acaso que em certos países os trabalhadores recebem semanalmente.


Como classificar, então, esta forma de pagamento? Será um caso de engenharia financeira ou, simplesmente, um embuste?


segunda-feira, novembro 14, 2011

E as comissões? Ainda faltavam as comissões …



Foram muitos os que defenderam que sem a “ajuda” da troika, Portugal rapidamente entraria em banca rota. E, tanto fizeram, que ela foi-nos concedida.

Assim, o plano de ajuda externa ao nosso país, negociado entre o Governo e a troika (CE/FMI/BCE), estabeleceu um empréstimo de 78 mil milhões de euros durante três anos. Portanto, para nos aguentarmos, teremos que suportar sacrifícios inauditos para poder pagar o capital emprestado mais os respectivos juros. Sim, porque os empréstimos não são de borla.


Só que, e este pormenor parece ter passado despercebido a muita gente, para além desse enorme esforço – só em 2012 teremos que pagar em juros 8,8 mil milhões de euros – vão sair dos cofres do Estado até 2014 mais 655 milhões de euros para comissões devidas à troika. Ah, pois é, este ano serão 335 milhões, para o ano 211 milhões, 84 milhões em 2013 e os restantes 25 milhões em 2014. Como vêm, as “ajudas” pagam-se … e bem. E a verdade é que a informação sobre estas comissões – de 655 milhões de euros, repito – passou por entre os pingos da chuva e poucos terão sentido o espanto de saber em quanto é que nos fica a tal “ajudinha”. Agora é esperar que, ao menos, ela sirva para aproveitarmos a oportunidade para se fazerem as tais reformas de que tanto falamos (e necessitamos) há anos. Isto, se conseguirmos sobreviver.


sexta-feira, novembro 11, 2011

Eça, de novo – a intemporalidade do escritor e político



Como sabem, não me canso de manifestar a minha admiração por Eça de Queiroz. Sobretudo pela sua escrita fácil e pela contemporaneidade da sua obra. O que, de resto, sentimos facilmente quando espreitamos os seus escritos com mais de 100 anos. Há ideias e frases que permanecem actuais.


Recentemente têm “navegado” na internet excertos de textos que nos fazem recordar a intemporalidade de Eça. Como quando, em 1872, escreveu nas “Farpas”:


"Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma decadência de espírito".


Então, já Eça “criticava as elites e as suas debilidades, a incapacidade total de sermos respeitados internacionalmente, um desprestígio internacional que só perde para a Grécia". Mais ou menos como acontece agora.


Entre o tempo em que Eça de Queiroz viveu e os dias de hoje quase tudo mudou e poucas coisas são comparáveis. O mundo de Eça era a de um país com profundos atrasos e, hoje, Portugal, mesmo com uma crise financeira e social preocupante, é um país completamente diferente. Contudo …


Contudo, convém recordar as palavras do escritor e político num artigo publicado no “Distrito de Évora”, em 1867, em que dizia “Hoje, que tanto se fala em crise, quem não vê que, por toda a Europa, uma crise financeira está minando as nacionalidades? É disso que há-de vir a dissolução".


Era uma mensagem que adivinhava um futuro sem futuro. Porém, cento e tal anos depois, continuamos – melhor ou pior - a sobreviver. E, quem sabe, se durante muitos anos mais.


quarta-feira, novembro 09, 2011

Um exemplo a seguir?



Veio há dias na imprensa que na Eslováquia, um país da União Europeia e do Euro, o salário dos políticos está indexado ao salário médio nacional e ao défice. Se o salário médio dos eslovacos subir, o salário dos políticos também sobe, se a meta do défice não for atingida, o salário dos políticos desce.


Obviamente que não estava a pensar em nada em concreto. Mas …


terça-feira, novembro 08, 2011

Com todo o respeito

Pelo título desta crónica devem ter pensado que ia escrever sobre o novo disco de originais do Jorge Palma. Não, não vou. Já estou como a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, que disse de forma clara - quando a Europa, para resolver os problemas europeus, mostrou a intenção de mendigar dinheiro aos países emergentes - “se os europeus não põem lá o dinheiro deles, por que é que nós havemos de lá pôr o nosso?”. Tal qual, comprem o disco do Jorge, ouçam-no e (agora digo eu) apreciem-no.

A minha reflexão de hoje tem a ver com a falta de líderes de qualidade na Europa. Que saudades tenho de Willy Brandt, de Helmut Kohl, de François Mitterrand ou do nosso Mário Soares. Políticos que tinham uma ideologia, um caminho, um sonho. Dos actuais dirigentes, porém, apenas se vislumbra a sua insensatez e a incapacidade para levar por diante a consolidação de um projecto Europeu que se pretendia forte.

Por cá, Passos Coelho quis mostrar ao mundo que podíamos ser ainda melhores do que aquilo a que os nossos credores nos obrigam. E vá de arranjar medidas drásticas, sufocantes e desesperantes para as pessoas (ainda é capaz de haver por aí quem se lembre que, no meio disto tudo, existe gente?). Medidas que foram, de resto, incluídas na proposta de Orçamento de Estado para 2012 onde, entre tanta tragédia, sobressai o corte dos subsídios de férias e de Natal.

Afinal, e ao que veio agora dizer o Ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, um dos subsídios talvez possa ser mantido, como o Partido Socialista pretende. No que é que ficamos? Havia ou ainda há margem de manobra para não castigar demasiado os portugueses? Se havia porque é que o OE foi tão severo? Para experimentar a rapaziada, para fazer um teste à nossa reacção? Cuidado que essas experiências às vezes dão maus resultados.

Ouvindo Passos Coelho defender que Portugal só conseguirá sair da actual crise "empobrecendo" e o Ministro da Juventude e do Desporto incitar os jovens a emigrar dá a ideia que o nosso Governo já desistiu de Portugal. É o que sente um número crescente de portugueses. E eu também penso assim. Com todo o respeito.


sexta-feira, novembro 04, 2011

Não sei onde é que ele vai buscar estas ideias!



Com o fim-de-semana à vista e enquanto as leis laborais continuam a ser discutidas e não nos obrigam a ir trabalhar aos sábados, vamos fazer um esforço adicional para ultrapassar as dificuldades. COM HUMOR! Nesse sentido, (só não sei se é mesmo humor ou …) transcrevo, com a devida (e divertida) vénia um excerto de uma crónica publicada recentemente por Ricardo Araújo Pereira. Dizia assim:


“… Ufa! Que sorte. Portugal livrou-se de um primeiro-ministro que dava o dito por não dito, faltava às promessas e impunha sucessivas medidas de austeridade, cada uma mais dura que a anterior. É bom olhar para trás, recordar esses tempos longínquos e suspirar de alívio. Para o substituir, os portugueses escolheram um primeiro-ministro que dá o dito por não dito, falta às promessas e impõe sucessivas medidas de austeridade, cada uma mais dura que a anterior. Trata-se de um conceito de governação tão diferente que, por vezes, parece que estamos a viver num país novo.
Quem vive em democracia tem de estar preparado para estas mudanças radicais”.


Não sei onde é que o Ricardo foi buscar estas ideias!


quinta-feira, novembro 03, 2011

As boas e as más notícias


Enquanto esperamos pelos resultados do anunciado referendo na Grécia se, entretanto, não cair o Governo, e já que no fim-de-semana passado mudou a hora e o relógio atrasou 60 minutos, é altura de colocarmos as “nossas realidades” em perspectiva.

E o cartoonista Henrique Monteiro definiu bem, e com humor, esse espírito



quarta-feira, novembro 02, 2011

Boquiaberto



A crise tem servido para justificar tudo, as muitas dificuldades mas também as enormes incompetências. E eu, na minha boa-fé (que já começa a ser burrice), pensava que quem governa tem que (pelo menos) procurar alternativas para ultrapassar os obstáculos. Tentar de uma forma inteligente, isto é, pôr em prática estratégias adequadas e mais os planos A ou B, ou o abecedário todo. Mas parece que não é bem assim.


Pelo que li, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, um senhor que eu não conhecia e que dá pelo nome de Alexandre Miguel Mestre, disse, em São Paulo, que “o jovem português desempregado em vez de ficar na "zona de conforto" deve emigrar”. E disse mais “o país não pode olhar a emigração apenas com a visão negativista da fuga de cérebros. Se o jovem optar por permanecer no país que escolheu para emigrar, poderá dignificar o nome de Portugal e levar know-how daquilo que Portugal sabe fazer bem".


Pois foi, fiquei boquiaberto. Então, em vez do governo aliciar os jovens para saírem para o exterior, não era a sua obrigação tentar a todo custo promover mais trabalho no nosso país? Não deveria aproveitar ao máximo todo o conhecimento que os jovens adquiriram em Portugal e que foi pago, na maior parte dos casos, com o dinheiro dos contribuintes? E depois, sair para onde, se a taxa de desemprego lá por fora também já é alta? E, já agora, que raio de “zona de conforto” é que os jovens desempregados têm? Estaria o senhor secretário de Estado a pensar no subsídio de desemprego que dura enquanto dura?


Compreendo que por falta de alternativas muitos jovens (e não só) tentem a sua sorte no Estrangeiro, mas ouvir um membro do governo apelar para que se vão embora, parece-me completamente descabido. Fez-me lembrar a velha frase “se o povo não está satisfeito com o governo, então que se mude o povo”.


segunda-feira, outubro 31, 2011

A noite de Halloween



Estamos em 31 de Outubro. Esta vai ser a noite do Halloween. E o que é que é isso ao certo, perguntarão alguns dos meus Amigos. Dei-me ao trabalho de ir à Wikipédia e lá diz que “O Dia das Bruxas (Halloween é o nome original na língua inglesa de um evento tradicional e cultural, que ocorre nos países anglo-saxónicos, com especial relevância nos Estados Unidos, Canadá, Irlanda e Reino Unido, tendo como base e origem as celebrações dos antigos povos. Não existem referências de onde surgiram essas celebrações)”.


Apesar de Portugal não se encaixar nos países anglo-saxónicos, o que temos constatado é que parece haver uma certa adesão à noite do Halloween. Mas, digam-me lá, se não é uma tradição portuguesa por que carga de água é que se comemora? Digamos que – e esta é a minha opinião - por moda e, especialmente, por razões comerciais, como que um aquecimento para outra época também ela muito comercial que é o Natal. Ou seja, antes das árvores de Natal, dos pais natais, das estrelinhas, brinquedos e doces vários, vá de começar a “época de caça às bolsas” com abóboras, morcegos e máscaras. Ao fim e ao cabo, o 31 de Outubro é o ponto de partida para os 55 dias de uma época marcadamente comercial.


O que nos leva a reflectir se não deveríamos, sobretudo em tempos tão difíceis como os que vivemos, pensar nos dias 31 de Outubro como sendo o Dia Mundial da Poupança. Deu para entender?


sexta-feira, outubro 28, 2011

Ser Poeta

Da poetisa portuguesa Florbela Espanca (1894 – 1930)

“Ser Poeta”


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além-Dor!

É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

quinta-feira, outubro 27, 2011

Havaianas, sandálias & Cª. Lda.



Desculpem-me a franqueza mas tenho que dizer que já estava farto de ver tanto pé (des)calçado com havaianas, sandálias & Cª. Lda. Felizmente o tempo está mais frio, já chove e as havaianazitas vão ter que ficar arrumadas até à próxima primavera.

Provavelmente a culpa nem será das próprias havaianas ou de quem as inventou, mas a verdade é que eu tenho um sério problema com a fixação do olhar em certos pontos-chave das pessoas que passam por mim. Saltam-me imediatamente aos olhos, os olhos, os lábios, as mãos e, desnecessariamente, os pés.

Quanto aos olhos, lábios e mãos eles são como um cartão-de-visita e definem muitas vezes que tipo de pessoa é que temos pela frente. E o calçado também. Os pés não, olhar para esses desgraçados não dará seguramente para penetrar no íntimo das pessoas. Mas, na minha modesta opinião, dará para avaliar o grau de estética e elegância de uma criatura.

Se os pés são bonitos e bem-feitos todas as sandálias, havaianas e “pés descalços” ficam bem. Dá gosto olhar para eles.

O pior é quando eles são feios, deformados, com dedos encarquilhados e sobrepostos e tortos, as unhas demasiado compridas ou curtas ou sujas ou com o verniz a cair ou negras de pisadas, os joanetes e as calosidades nos dedos e nos calcanhares, a sujidade espalhada por tudo quanto é sítio. E quando o barulho incessante e incomodativo do bater das chinelas aperta, então, é o descalabro total.

E se em tempo de praia, enfim, são desculpáveis os maus gostos de cada um, noutras estações e nas cidades as chineladas são perfeitamente intoleráveis. Chegou-se mesmo ao ponto em que se usam havaianas com smoking ou fato de noite. Vejam só!

Eu sei que a comodidade do pé à-vontade supera em muito a estética da coisa. Mas, que querem? Um pé mal-amanhado completamente à mostra faz-me lembrar um corpo anafado vestido de lycra em que as gorduras teimam em fazer pregas.

Perguntarão, mas o que é que os outros têm a ver com o que cada um veste ou calça? Os outros não sei mas, no que me diz respeito, não gosto e não acho elegante, apesar de considerar que as pessoas que os usam (e que têm os pés feios) têm todo o direito de o fazer.

Nestas modas de Verão, eu já não gostava das “mules” e dos “shocks”. Começou-se a usar e zás, poucos escaparam à tentação de entrar também na procissão. Mas ficavam-lhes bem, condiziam com o seu tipo de corpo e de pé? Não, usavam por que era moda e isso bastava-lhes.

Felizmente a chuva e o frio trouxeram de volta os sapatos fechados e as botas, o calçado mais elegante e democrático que servem, igualmente, os pés bonitos e os outros. Como vêm o mau tempo não nos trás apenas desconforto.


quarta-feira, outubro 26, 2011

“Isto só acontece em Portugal”



Não sei se alguma vez vos falei do Sr. Rodrigues, um dos donos de um café que frequentei durante vários anos. O Sr. Rodrigues, um homem a atirar para o obeso e de bigode farfalhudo, é o típico português do bota a baixo, um ás do queixume, que sempre acaba qualquer tentativa de conversa com um “isto só acontece em Portugal”. Mais um cidadão que fundamenta as suas doutas opiniões na ignorância do que se passa lá fora.


Não vejo o Sr. Rodrigues há algum tempo mas, certo de que não terá mudado, quase podia jurar que o corte dos subsídios de férias e de Natal dos próximos dois anos lhe poderia sugerir o tal “isto só acontece em Portugal”, dito de forma inflamada e absolutamente inquestionável.


Enganar-se-ia, porém, mais uma vez.


De facto, nem todos os países têm essa prática. Se é verdade que países como a Espanha, a Itália, a França e a Holanda têm esses subsídios, se bem que os valores não sejam em todos os casos do mesmo montante dos ordenados mensais, outros há que esse tipo de benesses não existem. É o caso, por exemplo, dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da Irlanda. Já na Alemanha existe uma gratificação - que não é um direito – cujos montantes não são fixos. Ainda há casos como a Hungria, em que nunca houve um 14º mês mas o 13º já existiu e foi retirado em 2009, precisamente quando o país foi “ajudado” pelo FMI. Isto para já não falar dos inúmeros países que nunca ouviram falar em vencimentos adicionais.


Esta é a realidade do que se passa lá fora e que mostra que, afinal, não estamos tão mal como isso. O que não invalida que sintamos um mal-estar pelo corte parcial do subsídio de Natal deste ano e com o corte dos dois, nos dois próximos anos (pelo menos). Mal-estar, desolação, incomodidade, o que lhe queiram chamar. Mas o fundamental da questão nem é, na minha perspectiva, retirarem-nos dois meses de salário em cada ano. O que nos deve preocupar mesmo é o baixo nível salarial da maioria dos portugueses e o desemprego. Mas isso levar-nos-ia a outras reflexões …


terça-feira, outubro 25, 2011

Tolerâncias

Uma das (más) características dos portugueses é a de raramente cumprirem horários. Ao contrário do que acontece com outros povos, para nós existe sempre uma margem para o atraso. A prova disso está – recordam-se? – na tolerância oficial de quinze minutos que antigamente (penso que hoje já não é assim) era uma prática dos funcionários públicos. Em vez de entrarem às 9 horas, chegavam até às nove e um quarto.

Aliás, ainda é frequente marcarem-se encontros, para as dez, dez e meia. Ora, isso não é uma combinação, ou se marca para as dez, ou para as dez e um quarto ou para as dez e meia. Entre as e as, é que não é nada. Ou antes, é falta de organização.

Há uns anos, quando a minha empresa foi reprivatizada, o presidente, homem do mundo e com outros hábitos, marcou a primeira reunião com todos os Directores para as oito da manhã. Claro que ficou esperando que as pessoas convocadas chegassem … a pouco e pouco e para além da hora agendada. Aqueles senhores estavam tão habituados às tais tolerâncias que não gostaram mesmo nada quando o presidente lhes disse, de uma forma firme e definitiva que, a partir daquele momento, as horas deveriam ser respeitadas. Segundo sei, nunca mais alguém chegou atrasado.

O mesmo se passou recentemente no dia da apresentação do Orçamento de Estado para 2012. O Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, no seu estilo pausado e rigoroso, começou a falar à hora aprazada. Quem não achou piada a esse “excesso de rigor” foram alguns jornalistas que iam cobrir o acontecimento e chegaram mais tarde.

Dir-me-ão: “Nem tanto ao mar nem tanto à terra”. Pois sim, mas a condescendência para com os atrasados também tem limites.


segunda-feira, outubro 24, 2011

Precaução



Sigo com interesse as crónicas do jornalista/escritor/viajante Gonçalo Cadilhe. Especialmente aquelas que transmitem outras vivências e “cheiros” das regiões mais desconhecidas ou exóticas.

Numa que ouvi na rádio na semana passada, Gonçalo falava sobre a Indonésia, a sua dispersão geográfica e as suas religiões e companhias de aéreas.

A República da Indonésia é um grande país localizado entre o Sudoeste Asiático e a Austrália, composto pelo maior arquipélago do mundo, qualquer coisa como 18 mil ilhas. Daí que as deslocações inter-ilhas tenham que ser feitas por aviões pertencentes a uma das muitas companhias aéreas existentes. Porém, como quase todas são de tão má qualidade, os acidentes são constantes e quase sempre fatais para quem viaja. Aliás, quase todas essas companhias estão proibidas de operar no espaço europeu. Mas, internamente, e sem alternativas, a única solução é embarcar e ter fé em Deus.

E já que falamos em Deus, diga-se que a Indonésia, para além de grande, tem um leque de religiões bastante diverso. Mais de 80% do povo é muçulmano, 10% são cristãos e há uma miríade de outras religiões entre as quais o Budismo e o Hinduísmo.

Mas houve uma coisa que achei muito curiosa nesta crónica do Gonçalo Cadilhe. Devido à falta de segurança da maior parte dos aviões, as operadoras aéreas decidiram distribuir folhetos com orações (das várias religiões) aos passageiros.

Precaução? Talvez! À cautela, porém, os viajantes sempre vão lendo as orações enquanto não chegam ao seu destino.

Sintomático e preocupante, não acham?


sexta-feira, outubro 21, 2011

Discretamente ...



Sempre gostei de pessoas discretas. Admiro aqueles que, sendo bons naquilo que fazem, não se põem em bicos de pés, à espera dos aplausos. Como acontece com a Elvira Fortunato, a cientista portuguesa de micro-electrónica, uma das melhores do mundo. Ou com o arquitecto Souto Moura que recebeu há pouco o “Nobel” da Arquitectura. Percebem o quero dizer? Vêm de mansinho e são verdadeiras sumidades.

Mas também há dos outros. Os que – discretamente – tentam driblar as leis esquecendo-se que ainda existem auditorias independentes que, mais dia, menos dia, vão pôr a nu as irregularidades que cometeram.

Foi o que sucedeu com o Director-Nacional da PSP, três Directores-Adjuntos e o Inspector Nacional que decidiram aumentar as suas próprias remunerações. No ano passado estes directores de topo da PSP passaram a vencer pelo novo regime remuneratório da corporação enquanto que a esmagadora maioria dos efectivos desta força de segurança, passado mais de um ano, ainda não conseguiu transitar para a nova tabela. E, em segredo (não existe forma mais discreta), autorizaram a sua “promoção” que custou ao Estado mais uns míseros 24 mil euros.

A auditoria da Inspecção Geral de Finanças apurou ainda, para além destas apressadas promoções, outros procedimentos irregulares e ilegalidades relacionados com abonos salariais e contratações.

Não sei se, neste caso, podemos falar de desonestidade pura e dura. Mas houve, claramente, falta de ética. A não ser que estes quadros superiores da PSP tivessem querido demonstrar aos seus subordinados que as promoções – tal como os exemplos - começam por cima.


quinta-feira, outubro 20, 2011

O cavalo do inglês



Conta-se que dois amigos britânicos conversavam sobre a “experiência científica” que um deles estava a fazer com o seu cavalo, a quem, a cada dia, dava um pouco menos de ração, sem que se reflectisse no seu desempenho. Porém, um dia, ao lhe perguntarem como estavam os resultados da experiência, o dono do animal, lamentou-se: “Aconteceu uma infelicidade, justamente quando o cavalo já quase não comia, caiu pró lado e... morreu”!!!

Temo que ao país venha a acontecer o mesmo que ao cavalo. É que continuo sem perceber, com as medidas de austeridade que têm sido anunciadas, como vamos conseguir gerar riqueza. De uma forma muito simplista, pode-se dizer que os cortes dos rendimentos (de salários, subsídios, etc.) provocam dois efeitos: um, as pessoas não conseguem poupar, dois, há retracção no consumo. Ora se não se gasta nas lojas, nos restaurantes, se não compram equipamentos, se não vão a espectáculos, enfim, se não há consumo, esses estabelecimentos começam por reduzir o pessoal e, muitos deles, acabam por encerrar portas. Com mais falências e mais desempregados o Estado fica com dois problemas nas mãos: por um lado deixa de receber as receitas provenientes dos impostos (IVA, IRS, IRC) e os descontos dos trabalhadores e, por outro, fica com um acréscimo de encargos, nomeadamente com mais subsídios de desemprego.

Ou seja, o Estado vê a sua economia a definhar. As receitas caem drasticamente enquanto as despesas tendem a subir por via dos encargos sociais. A não ser que estes últimos venham, também, a ser progressivamente retirados.

Outra coisa que me faz confusão, e também ainda não vi isso explicado, é porque é que os bancos não querem recorrer aos 12 mil milhões de euros que faz parte do programa de assistência a Portugal. Em princípio, essa verba destinar-se-ia ao financiamento das empresas e, dessa forma, a dinamizar a economia. Que motivo será esse?

Por isso digo que a recessão que o Ministro das Finanças prevê que possa alcançar 2,8% no próximo ano faz lembrar a história do cavalo do inglês. De tanta austeridade, o mais provável é que o país – sem a economia a funcionar – enfraqueça gradualmente e venha a morrer.


quarta-feira, outubro 19, 2011

Preocupação e Desespero

Na passada segunda-feira assinalou-se o dia mundial contra a pobreza extrema e foram divulgados pelo Eurostat os seguintes dados: só na Europa existem cerca de 43 milhões de pessoas que não têm meios para pagar uma refeição diária, 79 milhões que vivem abaixo do limiar da pobreza e 30 milhões que sofrem de subnutrição.


Com o trabalho empenhado dos 240 Bancos Alimentares em 21 países europeus conseguiu-se distribuir no ano passado 360 mil toneladas de produtos alimentares a Instituições de Solidariedade Social. Mais de metade do total dos alimentos entregues vieram do Programa Europeu de Apoio Alimentar a Carenciados (PCAAC) que ajudou 18 milhões de pessoas consideradas mais necessitadas.


Mas a crise e os consequentes cortes de verbas estão a pôr em risco a continuidade do Programa e, assim, Portugal pode deixar de receber as 18 toneladas de alimentos que todos os anos nos chegam, ou seja, um quinto do que tem recebido. O que quer dizer que mais de 400 mil portugueses podem vir a ser afectados. Cidadãos que, na maioria dos casos, só sobrevivem porque têm este apoio alimentar.


Sabemos que a preocupação e desespero – de utentes e instituições - tem vindo a crescer e vai-se agravar nos próximos tempos. O número de pessoas carenciadas continua a aumentar e as soluções tardam em aparecer.


terça-feira, outubro 18, 2011

Provisórios



As coisas têm vindo a piorar. Todos os dias vamos sabendo de novos impostos, de perdas (que dizem ser temporárias mas que sabemos se irão prolongar sei lá até onde), algumas que julgávamos há muito serem um direito adquirido. As condições de vida estão a deteriorar-se significativamente e a angústia e o desespero está a atingir proporções preocupantes. A vida de todos nós está a ficar insuportável.


Nos últimos meses, então, sempre que alguém anuncia uma nova medida de austeridade, acrescenta-lhe que será provisória durante ou até uma data qualquer.


Este ano vamos ficar sem cerca de 50% do 13º mês. Um corte provisório. Já depois de termos digerido este anúncio, fizeram-nos saber que em 2012 e 2013 os nossos subsídios de férias e de Natal irão à vida. Mais um corte provisório que pode, no entanto, “eternizar-se” durante mais uns anos (embora o Ministro das Finanças tenha dito ontem, em entrevista à RTP, que estas medidas não poderão perpetuar-se por motivos legais. Só que as leis mudam). E temo (fico arrepiado só de imaginar) que a partir de dois mil e qualquer coisa, algum Governante pense na possibilidade de começarmos a pagar – não sei se de forma provisória ou já definitiva – ao Estado o correspondente aos subsídios que agora nos foram esbulhados. Entenderam bem, não é não irmos receber, é sermos nós a pagar. E certamente que o faremos sentindo, palavra por palavra, os versos do Sérgio Godinho “com uma força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes”.


É que, para mim, os “Provisórios” eram, até há uns anos, apenas uma marca de tabaco.


Bem que os pacotinhos de açúcar do Café Nicola já andavam a mentalizar-nos: “Um dia ficamos sem subsídios de férias e de Natal”. E não é que tinham razão?


segunda-feira, outubro 17, 2011

Afogar as mágoas



Na última sexta-feira o meu filho espantava-se comigo porque que estava à espera de encontrar aqui no blogue um texto que disparasse em todas as direcções por causa do corte dos subsídios de férias e de Natal do próximo ano. Segundo ele, dava a ideia de que eu – ao escrever sobre a Fada do Dente, coisa que neste momento não interessa a ninguém – estava-me perfeitamente nas tintas para o que se tinha passado.


Expliquei-lhe que não tinha sido bem assim. Na verdade, depois de ouvir a comunicação de Passos Coelho ao país, sobre as novas (e duríssimas) medidas de austeridade e enquanto todos nós lá em casa tentávamos assimilar e digerir tudo aquilo - calados, revoltados e assustados - eis que, em vez de espernear, fui ao frigorífico e surgi na sala (aparentemente com uma expressão descontraída) com uma garrafa de espumante acabada de abrir e umas quantas flutes.


Percebi a confusão que se instalara naquelas cabecinhas e a certeza de que as medidas anunciadas tinham conseguido acabar comigo de vez. E percebi, também, que se questionavam sobre o que iríamos comemorar se estávamos à beira de saltar para o precipício.


Nada mais simples. É que, penso eu, para além de se dever beber na comemoração das vitórias é importante que também o façamos quando queremos afogar as mágoas. E, perante a hecatombe …