sábado, dezembro 22, 2007

Boas Festas e Bom Ano Novo



Nesta época muito especial, quero desejar-vos a todos

Saúde e Paz

ou, como se dizia outrora,

Saúde, sorte e ... dinheiro para gastos.

E, porque a música é sempre uma belíssima companhia, nesta ou em qualquer outra altura, convido-os a entrar em


http://badaboo.free.fr/merryxmas.swf


BOAS FESTAS!

BOM ANO NOVO!



terça-feira, dezembro 18, 2007

"Morre lentamente", de Pablo Neruda


Morre lentamente ...
Quem não viaja, quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.


Morre lentamente ...
Quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
Não arrisca vestir uma cor nova,
Não conversa com quem não conhece.


Morre lentamente ...
Quem evita uma paixão,
Quem prefere o “preto no branco” e os pontos nos “ii”,
A um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.


Morre lentamente ...
Quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.


Morre lentamente ...
Quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
Não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.


Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço
Muito maior do que o simples acto de respirar.


Estejamos vivos, então!

______________________

Pablo Neruda, poeta chileno (1904/1973), de seu verdadeiro nome Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, foi um dos mais importantes poetas e escritores em língua castelhana do século XX.
Recebeu o Nóbel da Literatura em 1971.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

O sucesso da Presidência Portuguesa da União Europeia


Eu ainda sou daqueles que gostam de ver Portugal realizar bem qualquer coisa em que se meta. Dirão que é lamechice minha mas, o que querem, fico todo orgulhoso de ver o meu país brilhar quando consegue atingir determinados objectivos, ainda por cima difíceis, e quando os outros países, ditos grandes, nos olham com a desconfiança que não vamos ser capazes. Enganaram-se.

Por tudo isso fiquei ainda mais contente com a boa prestação da presidência portuguesa da União Europeia, que agora termina.

E, convenhamos, que a agenda proposta era difícil. Havia que aprovar um Tratado que há muito se esperava e que tinha como interlocutores os representantes de alguns países que não estavam para aí virados, como os polacos e os italianos. Havia várias cimeiras prometidas. Desde logo com África, onde o problema era o Zimbabwé e mais uns quantos ditadores africanos que não queriam ouvir falar em direitos humanos. E as cimeiras com o Brasil, com a China e com a Índia.

Era uma missão espinhosa mas, uma vez mais, Portugal saiu-se bem e dignificado. Não é justo,pois, denegrir o sucesso que foi todo o trabalho desta presidência, muito embora não se possam ainda visualizar os resultados que se venham a alcançar resultantes das várias cimeiras.

Uma só coisa, na minha perspectiva, manchou a parte final da assinatura do “Tratado de Lisboa”. Não, não estou a falar daquela deselegância do primeiro-ministro inglês Gordon Brown, que chegou umas quantas horas atrasado. O que eu achei menos conseguido foi a actuação da cantora Dulce Pontes.

Eu que sempre admirei a artista e que acho que ela tem um magnífico instrumento vocal, penso que ela não esteve nos seus melhores dias. Berrou em vez de cantar e a magnífica voz que possui perdeu-se no meio de tantos gritos, ainda por cima numa das mais belas melodias portuguesas de sempre, a “Canção do Mar”.

O que levou algumas más línguas a sugerir que o atraso de Gordon Brown se justificaria porque ele terá feito tudo para escapar à actuação de Dulce Pontes.

Foi uma pena!

quinta-feira, dezembro 13, 2007

“Estes putos”




Estamos quase no fim-de-semana e é tempo de começarmos a descontrair um pouco para ver se aproveitamos convenientemente a pausa merecida que aí vem.

E lembrei-me de vos indicar um endereço onde podem ver o nosso “primeiro”, José Sócrates, numa divertida montagem de imagens tendo por base o conhecido fado “Os Putos”, cantado por Carlos do Carmo.

Tanto mais que esta brincadeira tem como “protagonista” o próprio José Sócrates, o ainda actual presidente em exercício da União Europeia e um dos principais obreiros do Tratado Reformador, assinado hoje, dia 13 de Dezembro de 2007, em Lisboa, com toda a pompa e circunstância, pelos mais altos dignitários dos 27 da União Europeia.

Vejam então, divirtam-se e bom fim-de-semana


http://www.youtube.com/watch?v=Xmfw2qJhWnQ&feature=related

quarta-feira, dezembro 12, 2007

O "Tratado de Lisboa" e os acordos


É amanhã formalmente assinado na capital portuguesa o denominado “Tratado de Lisboa”. Para que fosse possível chegar a um consenso com os líderes europeus sobre o novo Tratado reformador, foi necessário um persistente e difícil trabalho diplomático da presidência portuguesa e da ajuda preciosa de alguns outros responsáveis europeus, nomeadamente a chanceler alemã Angela Merkel. Só com grande paciência e habilidade política foi possível ultrapassar todos os obstáculos e conseguir os acordos necessários para que se tornasse possível este objectivo da União Europeia e da Presidência Portuguesa em particular.


Mas não é deste “Tratado de Lisboa” que amanhã irá ter a presença dos 27 chefes de Estado e de Governo da União Europeia que vos quero falar hoje, pese embora a importância que ele efectivamente tem para a Europa comunitária.

Tão-pouco vos vou falar de um outro “Tratado de Lisboa”, este firmado entre as monarquias da Península Ibérica, em 1864, em que se fixaram definitivamente as fronteiras ainda hoje vigentes entre Portugal e Espanha, exceptuando Olivença que, neste momento, não vem ao caso.


Então do que é que eu pretendo falar hoje, perguntarão inquietos os meus amigos? Justamente dos acordos que estão subjacentes aos “Tratados”. E porquê dos acordos, o que é que eles me preocupam?

NADA, absolutamente NADA! A não ser ...


A não ser a forma como quase toda a gente pronuncia a palavra de uma forma errada, ou seja, dizem “acórdos” quando deveriam pronunciar “acordos” com o o fechado. A toda a hora políticos, membros do governo, jornalistas e pessoas anónimas incorrem nesta asneira crassa quer na Assembleia da República, nos telejornais, em entrevistas, em debates, em tudo o que é sítio. Para mais, muitas dessas pessoas tinham a obrigação e o dever de saber dizer correctamente o plural da palavra, já que, muitos deles, têm assessores que não estão lá apenas para ganhar dinheiro.

Claro está que já tenho ouvido pronunciar a palavra de forma correcta (mal seria que ninguém o soubesse), como o fazem, por exemplo, Pacheco Pereira, Judite de Sousa ou Rodrigo Guedes de Carvalho.


Mas, então, qual é a regra, como é que em português se deve pronunciar correctamente o plural de acordo?

Os substantivos e os adjectivos terminados em o átono, cuja tónica é o fechado, geralmente formam o plural com alteração do timbre da vogal tónica, ou seja, mudando o o fechado para o aberto.

Poder-se-ia, portanto, pensar que o plural de acordo seria acordos (leia-se acórdos). Mas não.

Na verdade, há um conjunto de palavras que mantêm no plural o o fechado característico do singular, como sejam por exemplo: acordos, adornos, bolos, bolsos, cachorros, cocos, consolos, encostos, molhos *, pescoços, etc., etc..

* atenção que os molhos com o fechado dizem respeito a condimentos, por exemplo os diversos molhos que podem acompanhar bifes. Se pronunciarmos molhos (mólhos), com o aberto, estamos, evidentemente, a falar de feixes de qualquer coisa, por exemplo, molhos de alecrim.

A este fenómeno que consiste na alteração do timbre da vogal tónica por influência da vogal átona final, dá-se o nome de metafonia.


Meus caros, esta abordagem àquilo a que poderíamos chamar “o bom português” tem uma finalidade clara. A de podermos todos alertar e ajudar os mais distraídos, recordando que o plural de acordo não é “acórdos”, mas sim acordos, com o fechado.

Estamos de acordo?

segunda-feira, dezembro 10, 2007

O fim dos nossos usos e costumes?


Penso que a maioria dos que habitualmente visitam este espaço, terá lido o artigo que António Barreto escreveu no Público há umas semanas atrás ou, pelo menos, dele terá tido conhecimento através de mail.

Apesar disso, e correndo o risco de voltar a um assunto que, em termos de notícia, já foi devidamente lida e analisada, penso que o tema continua na ordem do dia e, por isso, não resisto à tentação de o publicar na íntegra.

Sou um admirador confesso de António Barreto que, desta vez, voltou a presentear-nos com um artigo muito bem elaborado e com um conjunto de questões que merecem, pelo menos a nossa reflexão:


“A meia dúzia de lavradores que comercializam directamente os seus produtos e que sobreviveram aos centros comerciais ou às grandes superfícies vai agora ser eliminada sumariamente. Os proprietários de restaurantes caseiros que sobram, e vivem no mesmo prédio em que trabalham, preparam-se, depois da chegada da "fast food", para fechar portas e mudar de vida. Os cozinheiros que faziam a domicílio pratos e "petiscos", a fim de os vender no café ao lado e que resistiram a toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada, podem rezar as últimas orações. Todos os que cozinhavam em casa e forneciam diariamente, aos cafés e restaurantes do bairro, sopas, doces, compotas, rissóis e croquetes, podem sonhar com outros negócios. Os artesãos que comercializam produtos confeccionados à sua maneira vão ser liquidados.
A solução final vem aí. Com a lei, as políticas, as polícias, os inspectores, os fiscais, a imprensa e a televisão. Ninguém, deste velho mundo, sobrará. Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, quem não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas industriais e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado. Estes exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm Estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo; organizam-se no governo nacional, sob tutela carismática do Ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho; e agem através do pessoal da ASAE, a organização mais falada e odiada do país, mas certamente a mais amada pelas multinacionais da gordura, pelo cartel da ração e pelos impérios do açúcar.
Em frente à Faculdade onde dou aulas, há dois ou três cafés onde os estudantes, nos intervalos, bebem uns copos, conversam, namoram e jogam às cartas ou ao dominó. Acabou! É proibido jogar!
Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas, refrigerantes e cerveja em copos de vidro. Tem de ser em copos de plástico.
Vender, nas praias ou nas romarias, bolas de Berlim ou pastéis de nata que não sejam industriais e embalados? Proibido.
Nas feiras e nos mercados, tanto em Lisboa e Porto, como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias semanais e levam tudo quanto é artesanal: azeitonas, queijos, compotas, pão e enchidos.
Na província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas e ovos? Acabou. É proibido.
Embrulhar castanhas assadas em papel de jornal? Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos? Proibido.
Usar, na mesa do restaurante, um galheteiro para o azeite e o vinagre é proibido. Tem de ser garrafas especialmente preparadas. Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou. Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou. É proibido.
Ir a casa buscar duas folhas de alface, um prato de sopa e umas fatias de fiambre para servir uma refeição ligeira a um cliente apressado? Proibido.
Vender bolos, empadas, rissóis, merendas e croquetes caseiros é proibido. Só industriais.
É proibido ter pão congelado para uma emergência: só em arcas especiais e com fornos de descongelação especiais, aliás caríssimos.Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira que faz isto há trinta anos? Proibido.
As regras, cujo não cumprimento leva a multas pesadas e ao encerramento do estabelecimento, são tantas que centenas de páginas não chegam para as descrever.
Nas prateleiras, diante das garrafas de Coca-Cola e de vinho tinto tem de haver etiquetas a dizer Coca-Cola e vinho tinto.
Na cozinha, tem de haver uma faca de cor diferente para cada género.
Não pode haver cruzamento de circuitos e de géneros: não se pode cortar cebola na mesma mesa em que se fazem tostas mistas.
No frigorífico, tem de haver sempre uma caixa com uma etiqueta "produto não válido", mesmo que esteja vazia.
Cada vez que se corta uma fatia de fiambre ou de queijo para uma sanduíche, tem de se colar uma etiqueta e inscrever a data e a hora dessa operação.
Não se pode guardar pão para, ao fim de vários dias, fazer torradas ou açorda.
Aproveitar outras sobras para confeccionar rissóis ou croquetes? Proibido.
Flores naturais nas mesas ou no balcão? Proibido. Têm de ser de plástico, papel ou tecido.
Torneiras de abrir e fechar à mão, como sempre se fizeram? Proibido. As torneiras nas cozinhas devem ser de abrir ao pé, ao cotovelo ou com célula fotoeléctrica.
As temperaturas do ambiente, no café, têm de ser medidas duas vezes por dia e devidamente registadas.
As temperaturas dos frigoríficos e das arcas têm de ser medidas três vezes por dia, registadas em folhas especiais e assinadas pelo funcionário certificado.
Usar colheres de pau para cozinhar, tratar da sopa ou dos fritos? Proibido. Tem de ser de plástico ou de aço.
Cortar tomate, couve, batata e outros legumes? Sim, pode ser. Desde que seja com facas de cores diferentes, em locais apropriados das mesas e das bancas, tendo o cuidado de fazer sempre uma etiqueta com a data e a hora do corte.
O dono do restaurante vai de vez em quando abastecer-se aos mercados e leva o seu próprio carro para transportar uns queijos, uns pacotes de leite e uns ovos? Proibido. Tem de ser em carros refrigerados.
Tudo isto, como é evidente, para nosso bem. Para proteger a nossa saúde. Para modernizar a economia. Para apostar no futuro. Para estarmos na linha da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas. Para nosso bem, pois claro”.


Belo texto a que não falta a ironia que lhe dá um gosto especial. E muito actual também, uma vez que nos vamos interrogando cada vez mais se as leis que nos são impostas por Bruxelas e a determinação com que as autoridades nacionais nos pretendem proteger nos vários domínios, não irão provocar a descaracterização das tradições e dos usos e costumes dos portugueses. “Para nosso bem, pois claro”.

Mas se, genericamente, até estou de acordo com as questões colocadas por António Barreto, não posso, no entanto, deixar de assinalar que a (tão criticada) ASAE - a organização mais falada e odiada do país, como afirma António Barreto – tem tido uma acção extremamente positiva nomeadamente no campo do combate ao comércio ilegal e da segurança alimentar.

Poderá, admito, haver aqui e ali alguns exageros decorrentes dum excesso de legislação - nem sempre elaborada com o bom-senso e o conhecimento exigíveis - ou da aplicação cega por parte da ASAE dessa mesma legislação. Mas temos que reconhecer que a ASAE tem actuado “democraticamente” em vários sectores de actividade, fiscalizando tudo e todos, mesmo aqueles que, em princípio, se julgariam imunes a qualquer fiscalização.

Mesmo com todos esses exageros, e particularmente no que respeita à área da restauração, acreditem que me sinto agora muito mais seguro desde que a ASAE começou a trabalhar.

Tenho, no entanto, uma dúvida para a qual ainda não obtive resposta: “como é que os restaurantes vão confeccionar uma (verdadeira) açorda alentejana, que tradicionalmente é preparada com pão duro, se esses mesmos restaurantes não podem guardar pão de vários dias”?

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Línguas traiçoeiras


A desilusão dos ingleses quando, há umas semanas, a Croácia foi a Wembley vencer a equipa da casa por 3 a 2 e eliminá-la da fase final do Europeu de futebol do próximo ano, já se adivinhava mesmo antes do início do jogo. É certo que a selecção inglesa não atravessa uma boa fase e que os croatas têm uma excelente equipa. Mas o que provavelmente, determinou tão “chocante” desaire foi uma outra coisa que, ainda por cima, nada tem a ver com o futebol.

É que, antes do início da partida, quando perante 90 mil espectadores, o cantor Tony Henry cantou o hino croata, em vez de entoar “Mila Kuda si planina” (Tu sabes, minha querida, como nós amamos as nossas montanhas) trocou inadvertidamente a letra e cantou convictamente “Mila Kura si planina (Minha querida, o meu pénis é uma montanha).

Claro que os ingleses não deram pelo engano do cantor, mas os jogadores croatas não puderam evitar um sorriso que, provavelmente, os descontraiu para o jogo e, daí, o resultado conseguido.

Mas vejam como a troca de duas simples letras numa palavra pode fazer toda a diferença:

“Mila Kuda si planina”

“Mila Kura si planina”

Tal como a portuguesa, a língua croata também é muito traiçoeira.

terça-feira, dezembro 04, 2007

De pequenino é que se torce o pepino ...


Depois de há pouco mais de uma semana o juiz-desembargador Clemente Lima, inspector-geral da Administração Interna, ter desancado à grande e à francesa a PSP e a GNR, acusando-as de incompetentes e pouco eficazes, nós os cidadãos comuns pensámos, naturalmente, que as forças de segurança e de investigação tinham colapsado por completo. Apenas a Polícia Judiciária escapou às duras críticas do responsável máximo do IGAI. E isso porque tem outra tutela e porque, presumo eu, é mais competente.

Mas, logo a seguir a termos ficado muito preocupados por já não podermos contar com quem julgávamos confiar para nos proteger, veio a boa notícia que, em Portugal, ainda existem investigadores de alto gabarito. Felizmente!

Foi no preciso momento em que tivemos conhecimento que, após intensas investigações, Pedro Moutinho, o iluminado dirigente da juventude popular, descobriu que o líder parlamentar do partido comunista, Bernardino Soares, teve estreitas e perigosas ligações com organizações terroristas em Novembro de 1975.

Moutinho para além desta importantíssima revelação, afirmou também ter descoberto que a deputada do Bloco de Esquerda, Ana Drago, em 25 de Novembro de 1975, fez parte dos grupos que se barricaram na Ajuda para fazerem frente ao avanço das tropas de Jaime Neves.

Sem querer pôr em causa a pesquisa do esforçado e brilhante investigador, devo dizer que não me espanta minimamente que os nomes agora divulgados tenham pertencido efectivamente a células terroristas, no chamado verão quente de 1975.

O que me surpreende, isso sim, é como é que eles conseguiram ser protagonistas de tamanhos “distúrbios revolucionários”, uma vez que em 1975, Bernardino Soares tinha quatro anos de idade e Ana Drago apenas três meses.

Com toda a propriedade pode dizer-se que “De pequenino é que se torce o pepino”!

segunda-feira, dezembro 03, 2007

A ser verdadeiro, até dói ...


Claro que quando ontem me mostrei preocupado com as alterações ortográficas que vão ser introduzidas na nossa língua, essa preocupação apenas diz respeito a uma parte do problema, o qual se pode denominar genericamente de “como se pode escrever tão mal o português”.

Não basta que não se cometam calinadas ao nível da ortografia, é necessário também que os textos façam sentido e que obedeçam minimamente às regras gramaticais em uso, nomeadamente a sua sintaxe.

E, para demonstrar que a minha preocupação tem razão de ser, vejam este “naco de prosa” que, supostamente, faz parte de um relatório elaborado pelo árbitro de futebol Carlos Xistra quando, na época passada, este senhor mostrou um cartão amarelo ao jogador do Benfica, Micolli, no jogo em que os encarnados defrontaram o Estrela da Amadora.

O texto circula pela net e custa-me até a crer que seja verdadeiro. Mas a ser ...


** RELATÓRIO DO ÁRBITRO CARLOS XISTRA **

... "O jogador da equipa visitada, Micolli, desmandou-se em velocidade tentando desobstruir-se no intuito de desfeitear o guarda-redes visitante. Um adversário à ilharga procurou desisolá-lo, desacelerando-o com auxílio à utilização indevida dos membros superiores, o que conseguiu. O jogador Micolli procurou destravar-se com recurso a movimentos tendentes à prosecução de uma situação de desaperto mas o adversário não o desagarrava.
Quando finalmente atingiu o desimpedimento desenlargando-se, destemperou-se e tentou tirar desforço, amandando-lhe o membro superior direito à zona do externo, felizmente desacertando-lhe.

Derivado a esta atitude, demonstrei-lhe a cartolina correspectiva." ...



Se este texto for mesmo verdadeiro, começamos então a perceber porque é que os relatórios dos árbitros nunca são do conhecimento público...

Em qualquer dos casos, e mesmo sendo adepto do Benfica, acho que se o Micolli, depois de se desenlargar, realmente amandou com um dos membros contra o adversário, fez muito bem o árbitro Carlos Xistra ter-lhe demonstrado a cartolina correspectiva.

domingo, dezembro 02, 2007

O Novo Acordo Ortográfico


Ao que parece, e de acordo com o noticiado pela “Agência Lusa” e pelo “Semanário SOL” agora é que, finalmente, vai ser assinado o tão anunciado acordo ortográfico da língua portuguesa.


A partir de Janeiro de 2008, os países da CPLP – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste - terão a ortografia unificada. Ou seja, todos iremos escrever da mesma forma o português, que é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol.


Pelo que dizem, o facto de haver duas ortografias dificulta a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. Pelo contrário, a sua unificação, facilitará a divulgação da língua. É o que dizem mas, cá para mim o argumento não me convence, muito embora eu saiba que os brasileiros não percebem lá muito bem o que dizemos e os livros de autores portugueses (os poucos que se vendem no Brasil) têm que ser traduzidos para português do ... Brasil. Mas adiante ...


Com as modificações propostas no acordo, calcula-se que 1,6% do vocabulário escrito em português de Portugal seja modificado. No Brasil, a mudança será bem menor: 0,45% das palavras terão a escrita alterada. Mas, note-se, todas estas alterações dizem respeito apenas a mudanças ortográficas e nada mais.

Cabe-me, porém, colocar algumas reticências quanto à forma como este acordo foi concertado. A pressão exercida pelo Brasil conseguiu levar o nosso país a aceitar um acordo que, provavelmente, nunca desejou e que nunca foi consensual. A língua mãe é portuguesa, nascida em Portugal e foi o Brasil, herdeiro dessa língua, que conseguiu um acordo à sua medida, com uma reduzida percentagem de alterações para eles. E pergunto, será que nestes anos todos em que discutiram o acordo, não tivemos capacidade nem firmeza para impor a nossa vontade? Se isto se tivesse passado com a língua inglesa, será que a Inglaterra se sujeitaria ao mesmo perante os Estados Unidos? Duvido.

O que vai, então, mudar na ortografia?
Vejamos alguns exemplos:

As paroxítonas terminadas em "o" duplo, por exemplo, não terão mais acento circunflexo. Ao invés de "abençôo", "enjôo" ou "vôo", os brasileiros (e os outros) terão que escrever "abençoo", "enjoo" e "voo".


Mudam-se as normas para o uso do hífen no meio das palavras; O hífen vai desaparecer do meio de palavras, com excepção daquelas em que o prefixo termina em “r”, casos de "hiper-", inter-" e "super-". Assim passaremos a ter "extraescolar", "aeroespascial" e "autoestrada".


Não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do substantivo dos verbo "crer", "dar", "ler", "ver" e seus decorrentes, ficando correcta a grafia "creem", "deem", "leem" e "veem". Criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como "louvámos" em oposição a "louvamos" e amámos" em oposição a "amamos".


O trema (brasileiro) desaparece completamente. Estará correcto escrever "linguiça", "sequência", "frequência" e "quinquénio" ao invés de lingüiça, seqüência, freqüência e qüinqüênio.


O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação de "k", "w" e "y". O acento deixará de ser usado para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição). No Brasil, haverá eliminação do acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia". O certo será “assembleia”, “ideia”, “heroica” e “jiboia”. Estas duas últimas palavras também levavam acento agudo no nosso país.

Em Portugal, desaparecem da língua escrita o "c" e o "p" nas palavras onde ele não é pronunciado, como em "acção", "acto", "adopção" e "baptismo". O certo será “ação”, “ato”, “adoção” e “batismo”;

Também em Portugal elimina-se o "h" inicial de algumas palavras, como em "húmido", que passará a ser grafado como no Brasil: "úmido";

Portugal mantém o acento agudo no “e” e no “o” que antecedem o “m” ou o “n”, enquanto o Brasil continua a usar o circunflexo nessas palavras: académico/acadêmico, génio/gênio, fenómeno/fenômeno, bónus/bônus;

Muito embora o protocolo do “Novo Acordo” deva ser assinado até ao final deste ano, as alterações só produzirão efeito a partir de 2017. Temos, portanto, dez anos para nos acostumarmos à ideia, mas estou em crer que o caos linguístico está para chegar. Parece-me muito difícil que aqueles que, nos diferentes países escreveram o “nosso” português durante anos e anos, consigam agora aprender e redigir a nova grafia que aí vem.

Acredito que para as novas gerações, aquelas que nos próximos anos comecem a aprender a escrever, esta alteração profunda não constitua uma dificuldade mas, para todos os outros, a confusão vai ser enorme. E se hoje já nos queixamos dos frequentes erros ortográficos que vamos vendo por aí, daqui a algum tempo, essas queixas vão aumentar significativamente e todos nós ficaremos incluídos no enorme grupo daqueles que vão escrever mal a nossa língua.

Se calhar, é tempo de voltarmos aos tempos da nossa infância e começarmos, de novo, a fazer cópias e ditados.

Vai ser um verdadeiro “ato” de coragem!

quarta-feira, novembro 28, 2007

Memorandum




BANCO ALIMENTAR CONTRA A FOME DE LISBOA
RECOLHE ALIMENTOS

NO PRÓXIMO FIM-DE-SEMANA, 1 E 2 DE DEZEMBRO


Com a solidariedade generosa de todos, vamos contribuir para minorar as carências alimentares com que se debatem ainda muitos portugueses.


Conto consigo para continuarmos a “Alimentar esta ideia”

terça-feira, novembro 27, 2007

Com um currículo assim ...




Para além das restantes competências, a senhora até tem carteira de fadista! Que mais é que se pode exigir para lhe arranjar emprego?


Rogério Samora, o pedante!



Já por diversas vezes tenho aqui manifestado o meu apreço e o meu orgulho pelas proezas conseguidas por portugueses, quer no nosso país quer no estrangeiro, nas mais diversas actividades. Portugueses que se distinguiram pela sua qualidade e pelos quais eu sinto uma enorme admiração.

Pelo contrário, fico muito incomodado quando tenho conhecimento que outros portugueses também se distinguiram não pelas suas qualidades mas por atitudes arrogantes de quem se acha o melhor de todos, como aconteceu recentemente com o actor Rogério Samora.

Este senhor esteve duas semanas na Índia a gravar cenas de uma novela produzida por um dos nossos canais de televisão. No regresso, já no avião da British Airways que fazia a ligação Londres - Lisboa, o actor teve uma atitude completamente despropositada ao comentar em voz alta:

“Tantos portugueses, que nojo!…”


Claro que ele não estava a gracejar, o que já seria de muito mau gosto. E só se apercebeu da tremenda asneira que tinha cometido quando soube que tal “bojarda” tinha sido (bem) ouvida por jornalistas da RTP, SIC, Público, Diário Económico e Expresso.

Não podemos deixar passar em claro uma atitude como esta, ainda por cima vinda de alguém que tem nome na praça, que tem um currículo notável como actor mas que, como pessoa, manifesta uma clara deficiência de formação moral.

Samora é pedante e pretensioso e, como dizia Fernando Madrinha no Expresso,


"nunca é demais relembrar este triste episódio para vincar a pequenez de quem se julga… qualquer coisa”.




domingo, novembro 25, 2007

A "obra feita"


Ainda na última quinta-feira me referi aqui a ele e já estou, de novo, a falar de Luís Filipe Meneses. E não é porque eu tenha algum ódio de estimação especial (que até o acho simpático), mas porque sempre que se fala em “obra feita” vêm à baila uns quantos nomes, entre os quais o do autarca de Vila Nova de Gaia.

Claro que para os munícipes e por quem por lá passa a constatação é evidente. Na realidade fazem-se coisas, a cidade está mais bonita, existem mais apoios e é uma urbe onde apetece viver. Por isso Menezes invoca com orgulho o progresso da sua cidade e enaltece o facto de “ter feito obra”.

Mas, sem tirarmos o mérito ao autarca de Gaia, pergunto como é que essa obra foi feita, à custa de quê, com que dinheiro? A Câmara gastou o que tinha e o que não tinha e é hoje, logo a seguir à autarquia de Lisboa, o município mais endividado do país.

Da mesma forma que, sem ter dinheiro suficiente para isso, eu fosse comprar uma bela moradia e a apetrechasse com todo o tipo de equipamentos modernos para garantir o máximo de conforto. Quando chegasse a hora de pagar tudo aquilo, teria forçosamente que recorrer aos bancos para me financiarem todo aquele despesão.

Em nome da “obra feita” estamos sempre prontos a condescender e a esquecer as enormidades que se cometem na gestão das autarquias, que permitem gastar desmedida e irresponsavelmente, sem que haja recursos bastantes.

E esta lógica tanto se aplica nos casos como o de Menezes (que eu acredito que seja uma pessoa séria) como nos demais em que se desvalorizam as suspeitas de desvio de fundos para proveito próprio dos autarcas.

Relativamente aos políticos sul-americanos já encaramos com um sorriso complacente as inúmeras tropelias e aproveitamentos de que são protagonistas, pelo menos os que vêm a público. Como aquele candidato a qualquer coisa que anunciava nos cartazes de propaganda eleitoral, e de forma despudorada, “Votem em mim. Eu roubo como os outros mas realizo. Ladrão por ladrão, votem em mim”. E, ao que parece, teve votos ...

E será que é com igual sorriso e condescendência que olhamos para os nossos políticos e os avaliamos?


Temos que ser mais rigorosos e pensar que para julgar um político não basta a obra. Só existe bom governo quando essa obra existe, é boa e o endividamento se situa dentro dos limites do razoável. Doutra forma, estaremos a entrar no jogo demagógico e porventura fraudulento desses políticos, que se põem em bicos de pés para impressionar os seus eleitores, dizendo-lhes que são os candidatos ideais “por terem feito obra”. Resta saber como ...

quinta-feira, novembro 22, 2007

A sinalética


Quando, ontem, afirmei que os portugueses eram uns grandes maganões, juro que não estava a brincar. São, de facto, muito brincalhões!

E, a prová-lo, aí está uma notícia que foi divulgada recentemente. O líder do PSD, Luís Filipe Menezes, anunciou publicamente os seus planos políticos que o levarão ao poder em 2009, planos que passam, como primeira prioridade, pela conquista da Junta de Freguesia de Caldas de São Jorge, em Santa Maria da Feira.

Segundo Menezes, ganhar a Junta de Caldas de São Jorge significa duas coisas: a primeira é que a vitória do PSD na Junta “castiga de forma irreversível o governo do PS”; a outra, quer dizer que “votar no PSD nessas eleições é também votar no PSD em 2009”.

E sabem qual é o programa de peso que a lista proposta pelo PSD apresentou ao eleitorado? Nada mais que “colocar ecopontos em toda a freguesia, passadeiras em locais perigosos, recuperar o parque escolar e mexer na sinalética”. Um programa bastante ambicioso como se vê e que, à partida, faz da lista laranja uma séria candidata à vitória.

Eu não disse que há pessoas que têm imensa graça?

Muita gente deve ter rido à grande. Mas José Sócrates, entre duas gargalhadas, pode ter ficado bastante apreensivo quando ouviu o líder da oposição afirmar:

“Caldas de São Jorge será a primeira vitória de um ciclo que conduzirá inevitavelmente o PSD ao governo nacional”.


Depois de no seu primeiro discurso, enquanto presidente do partido, Menezes ter proposto uma “nova Constituição da República”, agora sai-se com esta de que vencer em Caldas de São Jorge o vai levar directamente para S. Bento.


Ninguém sabe ao certo se ele está a falar a sério ou anda apenas a lançar a confusão. Mas que o princípio de que uma eleição para uma Junta de Freguesia pode ser o início de uma escalada que o conduzirá até primeiro-ministro é, no mínimo, bizarro.

Sócrates que se cuide. Não só porque corre o risco de ser substituído por “um político de grande visão e perspicácia” mas, sobretudo, porque esse político já tem em marcha um plano que ameaça alterar a sinalética nacional.




quarta-feira, novembro 21, 2007

Inadmissível

Todos sabemos que os portugueses gostam de se divertir e que, a esmagadora maioria, tem mesmo um alto sentido de humor. Trata-se, de facto, de um povo espirituoso por natureza, a que não será alheio o bom nível de vida e o elevado poder de compra que o país lhe proporciona e que ajuda - e de que maneira - a que se encare a vida de uma forma alegre e despreocupada.

Talvez por isso, se fique com a ideia que ninguém se incomoda a que a brincadeira se estenda, também, às linhas de emergência e, nomeadamente ao 112. Qual é o problema de se ocupar uma linha que, por definição, só pode ser utilizada para emergências, se os “brincalhões” se divertem à grande a fazer chamadas falsas que, de urgentes, nada têm?




Pois, para mim, que não consigo ter tanto humor, considero que é inadmissível que isto aconteça.

Só em 2006, a linha de emergência 112 recebeu 24.281 chamadas falsas, que originaram a saída de 8.984 ambulâncias, sem qualquer necessidade.

O que significa que, no ano passado, o 112 recebeu em média 66 chamadas falsas por dia, chamadas essas que motivaram o accionamento desnecessário de 25 viaturas médicas.

E será bom que os “engraçados” tenham consciência que cada telefonema a brincar, pode custar uma vida, e que essa vida até pode ser a sua ou de algum familiar seu.

Por favor, amigos brincalhões, manifestem a vossa boa disposição de forma mais criativa. Pensem que se um dia tiverem necessidade de uma ambulância e ela estiver ocupada numa falsa urgência, daquelas que inconscientemente vocês agora fazem, estão a pôr em risco uma vida que poderia ser salva.

Cabe a todos, instituições, cidadãos e comunicação social, assegurar e ensinar que o 112 é um número que só deve ser utilizado em situações verdadeiras.


Utilizar o 112 de qualquer outra forma, é inadmissível e, mais do que isso, é CRIMINOSO!


terça-feira, novembro 20, 2007

Supostamente!


Já os senhores do mundo – Bush, Blair e Aznar, que, em Fevereiro de 2003, participaram na famosa cimeira das Lajes, onde foram recebidos pelo nosso primeiro-ministro de então - tinham reconhecido há muito que a invasão no Iraque e a operação militar que daí resultou, fora determinada por informações falsas, quando, muito tempo depois, Durão Barroso, iluminado, porventura, por alguma graça divina, veio admitir agora e publicamente que “as informações que lhe foram transmitidas não correspondiam à verdade”.

Convenhamos, porém, Durão Barroso, levou demasiado tempo a reconhecer que fora enganado por todas aquelas informações que o convenceram na altura.

E a interrogação que a todos nós preocupa é como é que os responsáveis (?) mais influentes do planeta, baseados em “informações” pouco consistentes e, sobretudo, não confirmadas, puderam tomar a decisão de invadir militarmente um país, provocando uma imensa tragédia que se traduz em muitos milhares de mortos e feridos, quer entre os elementos das forças aliadas, quer entre os iraquianos, militares ou civis.

Catástrofe que tomou uma dimensão completamente desproporcionada, que ceifou a morte de tanta gente inocente, que destruiu o país e que provocou uma profunda instabilidade no Médio Oriente.

Quanto a mim, o que Durão Barroso pretendeu naquela altura foi “colar-se” aos grandes, nomeadamente ao poderoso presidente dos Estados Unidos, aparecer junto aos três líderes mundiais nas fotografias que correram mundo, dando a impressão que, também ele, era um deles, e nenhum dos quatro, teve a preocupação de pensar que o “problema” do Iraque se deveria ou poderia resolver essencialmente por recurso a meios políticos e diplomáticos e não por uma agressão militar.

Ou será que políticos tão experientes só quiseram acreditar no que lhes convinha (se calhar o petróleo) e deixaram, propositadamente, de lado outras soluções que, a serem aplicadas, teriam evitado tanto sofrimento.


Mas uma vez que não podemos recuar no tempo e corrigir as decisões do passado, seria muito bom que todas as lições aprendidas com a guerra do Iraque fossem agora aplicadas na situação latente do Irão que, como se sabe, está “debaixo de fogo diplomático” dos Estados Unidos, porque, supostamente, o Irão está a construir um arsenal militar nuclear.

E é destes “supostamentes” que eu tenho receio. Se as ilações com o que se passou no Iraque não foram bem apreendidas, é legítimo que se pense que se possa cometer mais uma agressão militar, agora contra o Irão, com todas as consequências daí decorrentes.







segunda-feira, novembro 19, 2007

Um rigoroso exclusivo do “Por Linhas Tortas”


Em princípio e se não acontecer algum percalço de última hora, vai mesmo realizar-se em Lisboa a Cimeira entre a União Europeia e a África, melhor dizendo entre a União Europeia e a União Africana.

E muito embora os britânicos já tenham feito saber que se Robert Mugabe vier a Lisboa, Gordon Brown não vai comparecer (e eles lá sabem porquê), a União Africana também já marcou uma posição: "Queremos que a cimeira se realize. O Zimbabué faz parte da União Africana e se a cimeira é com a União Africana, então, a União Europeia não pode escolher quem vai de África”.

Face às duas posições irredutíveis das duas Uniões, resta saber quem estará de facto presente em Lisboa a 8 e 9 de Dezembro, se Brown, se Mugabe? Eis a grande questão.
Mas se é certo que o primeiro-ministro britânico não irá comparecer a uma reunião onde esteja presente Robert Mugabe, por outro lado, o secretário de Estado para os Assuntos Europeus britânico, Jim Murphy, afirmou que a presença de Mugabe "não deve eclipsar a cimeira".

De realçar, ainda, que os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 decidiram hoje mesmo, em Bruxelas, questionar o presidente do Zimbabué quando se deslocar à capital portuguesa, pela falta de democracia e desrespeito pelos direitos humanos no seu país,.

Uma cimeira que promete.

Só que, o ditador Mugabe, dono e senhor do país mais pobre do mundo, é matreiro e sabendo, de antemão, das dificuldades que irá encontrar em Lisboa antecipou-se e jogou uma cartada de mestre. Com uma desfaçatez inaudita, enviou a Sócrates um convite para que a Cimeira de Lisboa se realize em Harare, a capital do Zimbabué.
E, para tornar claro que os convidados seriam bem recebidos e ficariam muito bem instalados, enviou fotografias do seu Palácio Presidencial.

“Por Linhas Tortas”, soube da existência dessas fotografias confidenciais e, num rigoroso exclusivo, conseguiu obtê-las para mostrar aos seus leitores fiéis.

Como diria um amigo meu, “Ei-se-las”:

































O "Por Linhas Tortas" vai concorrer ao "Super Blog Awards"


Ao entrarem hoje no “Por Linhas Tortas”, repararam, certamente, à direita no espaço dos links, num logo da Super Blog Awards. Porque esse logotipo faz lembrar o da Super Bock, poderão ter sido levados a pensar que cá o rapaz já tinha conseguido um patrocinador de peso e que estava a ganhar uma pipa de massa. Antes fosse!


Mas não, o Super Blog Awards mais não é do que um concurso de blogues, patrocinado pela Super Bock e a que eu decidi concorrer, não com a esperança de vir a ganhar qualquer prémio, mas com o intuito de poder divulgar por mais pessoas aquilo a que me propus desde o início, ou seja, criar um espaço de debate e de lazer, onde posso publicar as minhas convicções, os meus desabafos e estados de alma e um pouco de cultura.


Mas porque este concurso conta, numa primeira fase, com a votação dos leitores de cada blogue, naturalmente que espero ser merecedor dos vossos votos. Mas, quanto a isso, voltaremos ao assunto mais tarde e dar-lhes-ei, nessa altura, toda a informação necessária para que possam votar.

quinta-feira, novembro 15, 2007

"Cesário Verde Um Génio Ignorado"


Cesário Verde, foi sempre um poeta esquecido e que, por ter morrido prematuramente (1855 – 1886), nos deixou uma obra muito curta.


Apesar disso, José Joaquim Cesário Verde, imprimiu na sua poesia um carácter ousado de um realismo lírico e prosaico e a sua obra marcou indelevelmente a segunda metade do século XIX.

Porque o poeta parece ter agora ressurgido e, inesperadamente, voltou a falar-se dele e a descobrir a sua poesia, quis partilhar convosco um dos seus poemas.



A propósito, Maria Filomena Mónica, acabou de publicar um livro sobre Cesário, a que chamou

“Cesário Verde Um Génio Ignorado”,

e sobre ele disse:

“Fiz uma tentativa de revelar o poeta, porque acho que ninguém consegue explicar o Cesário. Ao contrário do Eça, do Júlio Dinis ou do Herculano onde se pode entender como é que o ambiente os levou a escrever, ele foi totalmente incompreensível para mim desde o início e acabei o livro a tirar-lhe o chapéu porque, apesar de todos os esforços, continua a ser muito difícil explicar como é que alguém que nasceu em Lisboa em 1855, que trabalhava numa loja de ferragens do pai, que só foi a Paris durante uma semana, com poucos ou nenhuns contactos com intelectuais estrangeiros, produziu uma obra poética ímpar, não só em Portugal como no mundo.”

E disse, ainda, “... tal como o Eça criou o português que falamos, o Cesário criou a poesia moderna. É o Fernando Pessoa que vai chamar a atenção para o poeta e a partir do pós - I Guerra Mundial é que uma elite muito pequena o vai ler. Mas até à Presença, é um poeta totalmente ignorado, porque escreveu demasiado cedo coisas demasiado boas ... Se Cesário Verde aparecesse hoje na TV era 'best-seller'”.

De Cesário Verde

De tarde

Naquele "pic-nic" de burguesas,

Houve uma coisa simplesmente bela,

E que, sem ter história nem grandezas,

Em todo o caso dava uma aguarela.

____________________________

Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher, sem imposturas tolas,

A um granzoal azul de grão-de-bico,

Um ramalhete rubro de papoulas.

_____________________________

Pouco depois, em cima duns penhascos,

Nós acampámos, inda o sol se via,

E houve talhadas de melão, damascos,

E pão de ló molhado em malvasia.

_______________________________

Mas, todo púrpuro, a sair da renda,

Dos teus dois seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda,

O ramalhete rubro das papoulas.



quarta-feira, novembro 14, 2007

O país do ó-ó


Mário Soares nunca escondeu que gostava de fazer umas sestas depois dos almoços. Mas não só depois das refeições, porque toda a gente se recorda que ele, de quando em vez, dormitava mesmo em reuniões públicas.

Mas se julgavam que esses tempos já pertenciam ao passado, enganaram-se redondamente porque
Portugal continua a ser o país do ó-ó.

Ainda agora, aquando da discussão na Assembleia da República do Orçamento de Estado, alguns governantes pareciam tão cansados que muita gente esperava que, a qualquer momento, alguém adormecesse e começasse para ali a ressonar. A tanto não chegou o ministro da economia Manuel Pinho, que embora não chegasse a ressonar, acabou por adormecer profundamente. Porém, sempre que alguém levantava o tom de voz, Manuel Pinho, entreabria os olhos, mas logo voltava a adormecer.

Também José Freire Antunes, historiador e deputado do PSD, não conseguiu aguentar a “canseira” do debate entre Sócrates e Santana e afundou-se num sono profundo, certamente que o levou a sonhar com paragens paradisíacas.

Já num recente “Prós e Contras”, da RTP1, o Secretário de Estado do Orçamento, Manuel dos Santos, quase se deixou trair pelo constante e incomodativo fechar das pálpebras.


E que razões provocarão tanta soneira? Um orçamento que dá sono, o calor fora de época que se faz sentir, o cansaço de quem trabalha tanto ou porque Portugal é, de facto, um país onde se consegue dormir bem e sem sobressaltos?

terça-feira, novembro 13, 2007

Eles estão a mangar connosco ...

Acreditem que eu andava contente por ter sido mais um dos portugueses que ajudou o governo a baixar o défice para os 3%. Sim, porque foi à nossa custa que se conseguiu o brilharete. Mas adiante ...

Contente, é verdade, apesar de tremendamente depalperado com as enormes restrições que fui forçado a fazer para pagar todos os impostos a que fui obrigado, ainda por cima tendo o meu vencimento congelado há anos.

E ia tão contente no meu contentamento, até que vejo,em grandes parangonas:


Ministério da Justiça adquire viaturas de luxo


MAU! Então, eles andam a pedir-nos que façamos uns sacrifícios danados, que já não conseguimos aguentar mais, a dizer-nos que esses sacrifícios até são por uma boa causa que têm a ver com o cumprimento de uma coisa a que eles chamam “O Pacto de Estabilidade e Crescimento” e, à socapa, de mansinho para ver se não damos por isso, vá de comprar cinco viaturas novas, novas e de topo de gama, para o Ministério da Justiça?

Então não é que, numa época de contenção orçamental, com a administração pública sujeita a restrições diversas, o Ministério da Justiça foi gastar 176 mil euros (35 mil contos), ainda por cima sem autorização do Ministério das Finanças e por ajuste directo e sem recurso a concurso público, o que viola claramente o que lei estabelece?

Esta aquisição, autorizada por despacho do secretário de Estado adjunto do ministro da Justiça, Conde Rodrigues, está a provocar algum mal-estar nos meandros judiciários, nomeadamente nos tribunais, uma vez que são constantes as queixas da falta de dinheiro para a compra dos materiais mais básicos.

Mas se nos meios judiciários, a medida gerou algum mal-star, para nós, contribuintes, de certeza que está a gerar um MAL-ESTAR ainda maior.


Se calhar é ingenuidade da minha parte, mas, provavelmente, eles compraram carros tão caros porque, de momento, não havia outros mais em conta. Quero eu dizer com a minha, que se houvesse para venda meios de transporte mais baratos e que fossem adequados e dignos dos “altos cargos que ocupam”, eles tê-lo-iam certamente comprado.

Mas não, o senhor secretário de Estado adjunto do ministro da Justiça mandou mesmo adquirir os carros de topo de gama e, para o presidente do Instituto de Gestão Financeira e de Infra-Estruturas da Justiça (IGFIEJ), comprou um Audi Limousine 2.0TDI, de 140 cavalos, viatura que custou ao Estado 38 615,46 euros, com 2831 euros de equipamento opcional, nomeadamente caixa de 6 CD, computador de bordo a cores, sistema de navegação plus, sistema de ajuda ao parqueamento, alarme e pintura metalizada.

Claro está que, neste momento de grandes dificuldades económicas que o país atravessa – o país, os portugueses em geral mas não, por certo, alguns governantes - dos cinco carros comprados, um foi atribuído ao próprio senhor secretário de Estado adjunto do ministro da Justiça, Conde Rodrigues, o mesmo que autorizou a aquisição.

Diz o povo: “Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte”. Mesmo sem ficar com a melhor parte, isto é, com o melhor carro, mesmo assim Conde Rodrigues não se esqueceu de se apropriar de uma das cinco viaturas.


Eles estão a reinar connosco, não estão?

segunda-feira, novembro 12, 2007

Uma questão de saúde pública!


Muito embora o nosso companheiro “Azul” esteja ausente há já algum tempo (suponho que se deve ter incompatibilizado com qualquer outro nosso amigo), ainda assim, tenho que ter algum cuidado quando trato de um assunto que já foi alvo da atenção de Miguel Sousa Tavares. Cuidado, sobretudo, para que eu não venha a ser acusado de plagiar a sua escrita ou as suas ideias.

A verdade, porém, é que, para além das preferências clubísticas, em que nos situamos perfeitamente nos antípodas, concordo com a maioria das posições expressas pelo Miguel, nas suas muito bem escritas crónicas, a ponto de, se isso me fosse pedido, as subscrever por completa identificação com as suas ideias.

O facto de podermos escrever sobre temas comuns, nós ou quaisquer outros, não significa, naturalmente, que nos estejamos a plagiar. Os assuntos públicos são, naturalmente, abordados por muita gente e, porque eles são públicos, ninguém se deve coibir de expressar livremente as suas opiniões sobre os mesmos.


Pois esta semana, um dos temas da crónica de Miguel Sousa Tavares foi o trágico acidente de autocarro num dos troços da A-3, em que faleceram 16 pessoas.

E o que é que provocou o acidente? Estrada perigosa, excesso de velocidade ou de álcool? Ao que parece, nada disso.

Dizem os técnicos que esta auto-estrada tem um desenho adequado e não oferece qualquer perigo. Quanto aos resultados dos testes feitos à condutora que provocou a tragédia, revelou que ela não ia alcoolizada nem sob o efeito de drogas. Apurou-se, também, que não seguia em excesso de velocidade, pelo que tudo leva a crer que se tratou de uma falha humana


Porém, em todos os casos em que há acidentes, sobretudo os que ocasionam vítimas mortais, é certo e sabido que as autoridades acabam por justificar o acontecido com o excesso de velocidade ou com o excesso de álcool. E as consequências desses “excessos” causadores de tanta mortalidade rodoviária traduzem-se, de imediato, em mais penalizações, mais coimas e mais proibições.

Ainda que aceite que os ditos exageros possam causar muitos dos acidentes, não entendo, no entanto, porque é que os responsáveis nunca atribuem “as culpas” aos maus traçados das estradas, à falta de cidadania e de civismo dos condutores, ao deficiente ensino da maioria das escolas de condução ou à total inépcia dos condutores?

Acredito, todavia, que uma boa parte desses acidentes se deve à total falta de capacidade, ou de habilidade, dos condutores. Basta conduzirmos em qualquer estrada do país e estarmos atentos à quantidade de desmandos que se verificam constantemente, quase debaixo do nosso nariz.

É que, enquanto o civismo ainda se vai ensinando, a falta absoluta de jeito para conduzir é totalmente inata e sem solução.

Por isso defendo há muito, que as escolas perante os candidatos que se mostrem totalmente inaptos para conseguirem uma carta de condução, devem simplesmente reprová-los de vez e sem qualquer possibilidade de tentarem de novo.

Ao fim e ao cabo, é uma questão de saúde pública!

domingo, novembro 11, 2007

Estupefacção!


Como não sou advogado e como não estou muito familiarizado com algumas das leis vigentes do nosso ordenamento jurídico, não posso nem devo, por mera atitude de bom-senso, assumir posições definitivas sobre matérias que não conheço bem.

Como cidadão comum, no entanto, tenho todo o direito de pensar sobre as respostas e explicações que nos são dadas sobre essas mesmas matérias, muitas delas as mais esfarrapadas e mal-amanhadas que é possível imaginar, as quais, obviamente, não aceito facilmente.


Ora vejamos, Fátima Felgueiras, Presidente da Câmara Municipal de Felgueiras, está a ser julgada no tribunal local pela prática de 23 crimes, no processo que ficou conhecido como “saco-azul de Felgueiras”.

Para além deste processo, Fátima Felgueiras irá responder, ainda, por sete crimes de participação económica em negócio e um de abuso de poder na forma continuada.

Fátima Felgueiras é, também, suspeita de ter feito cinco “contratos fictícios” com uma empresa, a Resin, num alegado esquema utilizado para financiar o PS durante actividades concelhias de Felgueiras.

Fátima tem ainda a decorrer outro processo por alegado favorecimento do actualmente extinto Futebol Clube de Felgueiras.

Todos estes crimes foram cometidos quando a Fátima Felgueiras era Presidente da Câmara e que, depois de serem descobertos, levou a que a senhora presidente, escapando a uma ordem de prisão já emitida, fugisse para o Brasil, protagonizando uma novela que deu muito que falar na época, e em que o marketing, a habilidade dos seus advogados e algumas circunstâncias muito mal explicadas e que os portugueses não chegaram a perceber, fizeram com que ela pudesse voltar - de resto mais remoçada e com muito melhor aspecto do seu exílio dourado - e que permitiram escapar de novo à prisão que a esperava e se pudesse voltar a candidatar à presidência da Câmara.

Mas, atenção, os processos que corriam contra ela continuavam em vigor e, por isso, ela está a ser julgada.

Contudo, e pese embora eu continue a não perceber como estas coisas são possíveis, mantenho-me calado e aguardo.


Onde a minha estupefacção se manifesta de forma mais intensa e a deixar-me absolutamente abazurdido e indignado, é quando penso que a senhora presidente responde em tribunal pelos crimes acima descritos e, pasmem-se os meus amigos, quem custeia as despesas jurídicas da sua defesa é precisamente a autarquia que ela presumivelmente lesou.

Ao que vem anunciado nos jornais, a autarca e a sua equipa de advogados já receberam 200 mil euros dos cofres da Câmara.


Repito, por não ser advogado, não posso aquilatar da legalidade com que estes pagamentos são feitos, que, segundo consta, são acobertados pela própria Lei que estabelece que o pagamento dos advogados aos autarcas está regulado pela lei 29/87, de 30 de Junho. O artigo 21 diz mesmo que só pode haver lugar a pagamento quando não há dolo. Sublinho, quando não há dolo, que é como quem diz, quando não há crime. Crime, aliás, crimes, que estão justamente a ser julgados, tendo como principal suspeita a autarca-presidente e mais uns quantos acólitos.


Mas mesmo do ponto de vista legal, a questão está longe de ser pacífica, e a fronteira entre o legal e o ilegal é muito ténue. Ainda por cima, os princípios e os procedimentos não são nada uniformes, porquanto se custeiam as despesas a alguns dos presumíveis implicados e a outros não.

Para além de que, os pagamentos, legal ou ilegalmente efectuados, também eles são pouco transparentes e apresentam contornos susceptíveis de levantar algumas suspeitas. Alguns dos pagamentos são feitos aos próprios arguidos mas outros são efectuados aos seus advogados, às esposas desses advogados e até a advogadas que nada têm a ver com o caso mas que trabalham no mesmo escritório dos causídicos dos arguidos. Portanto, sem critérios aparentemente aceitáveis ou pelo menos que se percebam.

Tudo isto é muito estranho!

Há, portanto, uma presidente que é acusada de uma série de crimes, que é mandada prender, que foge à justiça, que volta sem que nada aconteça, que concorre e que ganha de novo a Câmara e que tem um vastíssimo património avaliado em vários milhões de euros.

Só para que se tenha uma ideia, Fátima Felgueiras é proprietária de um apartamento e garagens em Felgueiras, vários escritórios também em Felgueiras, bem como uma casa junto ao Cineteatro Fonseca e ainda um terreno com viabilidade construtiva, uma casa de praia em Labruge, Vila do Conde, um apartamento no Edifício Marcofel, em Felgueiras, para além de um loteamento de terreno sito em Pombeiro, Felgueiras, avaliado em mais de três milhões de euros. É, ainda, propietária de três prédios rústicos e dois urbanos, em Felgueiras e Lousada.


Perante tudo isto, como é que nós, comuns cidadãos, leigos das leis, mas com cabeças que pensam, podemos perceber e aceitar que a autarquia ainda tenha o despudor de custear as despesas jurídicas da sua defesa com o dinheiro dos munícipes?

Não dá para aceitar. E, por isso, a palavra que mais define o meu assombro é exactamente Estupefacção!

quinta-feira, novembro 08, 2007

O mistério do quarto 311

À primeira vista pode parecer tratar-se de uma anedota (embora de mau gosto), mas contaram-me a história como sendo verídica, ainda que muito estranha. Mas, como se costuma dizer nestes casos, a fonte é absolutamente fidedigna.

Durante alguns meses acreditou-se que o quarto 311, do hospital Dom Pedro, em Aveiro, tinha uma maldição.

Todas as sextas-feiras de manhã, os enfermeiros descobriam um paciente morto neste quarto da unidade de cuidados intensivos.

É verdade que os pacientes tinham sido alvo de tratamentos de risco mas, no entanto, já se não encontravam em perigo de morte.

A equipa médica, perplexa, pensou que existisse alguma contaminação bacteriológica no ar do quarto.

Alertadas pelos familiares das vítimas, as autoridades conduziram um inquérito.

Os utentes do 311 continuaram, no entanto, a morrer e isso acontecia sempre à sexta-feira.


Por fim, foi colocada uma câmara no quarto pela Polícia Judiciária e o mistério resolveu-se: “todas as sextas-feiras de manhã, pelas 6 horas, a senhora da limpeza desligava o ventilador dos doentes para ligar o aspirador!!!"



A ser verdade, palavras para quê?

quarta-feira, novembro 07, 2007

Objectivo: Reforma


Os funcionários públicos que tenham, pelo menos, 55 anos de idade vão poder reformar-se antecipadamente com apenas 30 anos de serviço a partir de 2009, tal como já acontece hoje com os trabalhadores do sector privado.
Mas já em 2008, haverá um regime transitório que faz depender a passagem à aposentação (antes da idade legal) de 33 anos de descontos, independentemente da idade. Até agora, o mecanismo das reformas antecipadas só estava ao alcance dos trabalhadores com 36 anos de casa.
Eis uma boa notícia para quem tanto anseia reformar-se. Claro está que, depois, existem uma série de penalizações que se lhes aplicam por não terem ainda os 37 anos de serviço e completado os 65 anos de idade.

Mas, o que é que isso interessa? É certo que não levam a reforma por inteiro mas, em contrapartida, antevêem a abertura de múltiplas portas onde espreitam as oportunidades e a possibilidade de novas vidas.

Quando temos pela frente a perspectiva de ciclos que se abrem, e em que vamos poder, finalmente, ter mais tempo para nós e a possibilidade de começar a gerir a nossa vida em função das nossas necessidades, quem é que pensa na redução das futuras pensões?
Uma coisa sabemos, vamos ler mais, vamos viajar mais, vamos muitas mais vezes ao cinema e visitar os amigos, vamos pôr em ordem todas aquelas colecções que fomos apenas juntando durante toda a vida, vamos, enfim, colocar as fotografias espalhadas pelas gavetas nos álbuns respectivos.
E continuaremos a levantarmo-nos à hora de sempre? Claro que não, mais duas horas de sono nunca fizeram mal a ninguém. Tudo isto, para além de, a partir de agora, podermos ser o patrão de nós próprios, de não ouvirmos reprimendas quando o chefe está mal disposto ou de termos que enfrentar a careta que ele faz quando chegamos dois minutos atrasados.

VAMOS, enfim, SER LIVRES. SER LIVRES!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Não há quem esteja na vida activa e não tenha este tipo de desejos e ambições. São absolutamente naturais e revelam, na maioria dos casos, o cansaço de tantas correrias, da falta de tempo para tudo o que se quer fazer, nomeadamente, a falta de tempo para dedicar à família, aos amigos e ao lazer.
E o esgotamento aflige-nos de tal forma, que nem sequer damos valor a tantas coisas boas que também nos vão acontecendo ao longo dos anos.

Mas o sonho da reforma é muito grande e conseguir estar reformado até aos 55 anos é o objectivo da maioria dos trabalhadores. Alcançar a reforma ainda com saúde, com vontade de viver, de fazer coisas, de, porque não, aceitar novos desafios, embora com condições de exigência diferentes, ter tempo para a descoberta de si próprio, dedicando-se a actividades até então impensáveis por total falta de disponibilidade, é a aspiração de quem leva uma vida a trabalhar.

Tudo isso é natural. A liberdade que, finalmente, se conseguirá alcançar embriaga-nos e, com o passar do tempo, torna-se cada vez mais preciosa e não há valor que a pague.

Mas, atenção, como costumo dizer, nem tudo são vitórias.

E por ter dado de caras com um anúncio publicado recentemente no caderno de emprego de um semanário, que vinha, de certa forma, dar alguma consistência às faces de uma moeda a que chamaremos reforma, decidi partilhá-lo convosco. E vejam se eu tinha, ou não, razão.

Dizia o tal anúncio a pedir emprego:


SOU – Eng.º IST, 58 anos, reformado.
De início, foi bom. Agora é péssimo.

FUI – Director Industrial, Geral e Administrador
Líder organizado, bom senso, línguas.

PRECISO – Em tempo parcial, voltar à vida activa

ACEITO – Montantes baixos, sem vínculo

Resposta ao n.º .........


Nesta coisa das reformas, como acontece tantas vezes na vida, existem várias perspectivas por onde as situações podem ser analisadas. E nesta, a da ânsia de se alcançar a reforma, não tenho grandes dúvidas que, qualquer que seja o lado por onde se considere a nossa opção ou o nosso desejo, verificaremos mais tarde que, independentemente da decisão tomada, manteremos sempre uma enorme interrogação sobre se o que fizemos foi, de facto, o melhor.

terça-feira, novembro 06, 2007

E depois digam mal de nós ...



Certamente como consequência do plano tecnológico de Sócrates, aí está a prova cabal que Portugal está na linha da frente no que respeita às competências e aos saberes dos portugueses.

Enquanto que noutros países mais atrasados, são os gabinetes que procuram empregados para lá trabalharem, neste país abençoado, ensolarado, informado e tecnologicamente desenvolvido, já são os empregados que admitem “Gabinetes com formação e experiência em contabilidade e bom domínio da informática”.

Pelo menos, a fazer fé no anúncio junto.

Sinal dos tempos, meus senhores!

segunda-feira, novembro 05, 2007

Crueldade ou, apenas, coincidência?


Na Quarta-Feira, dia 31 de Outubro, comemorou-se o dia mundial da poupança.

Para os portugueses, para a esmagadora maioria dos nossos concidadãos, falar em poupança pode parecer que se está, no mínimo, a gozar com eles. De facto, a palavra “poupar” já constitui, por si própria, uma verdadeira afronta para quem vive em situação difícil.

Pois se os parcos rendimentos não chegam para comprar os produtos mais básicos para conseguirem sobreviver, se não ganham o suficiente para ir à farmácia buscar os remédios de que tanto necessitam, para eles e para a sua família, se o nível de endividamento para com a Banca e outros credores é de tal forma insuportável que já nem a DECO os consegue ajudar, se estão desempregados há um ror de tempo, se têm que ser ajudados por pais e demais familiares, como é que se lhes pode falar, então, em poupança? Como acham que eles conseguem entender que até existe um dia que é consagrado a uma coisa chamada poupança, um termo que eles nem conseguem imaginar, por muito que quisessem?


Mas o que eu achei curioso – ou talvez não – é que no mesmíssimo dia em que se celebrava o Dia Mundial da Poupança, a imprensa portuguesa tivesse noticiado que a Associação Nacional de Revendedores de Combustíveis (ANAREC) prevê que só neste ano de 2007, 40 542 pessoas abasteçam as suas viaturas de gasolina ou de gasóleo e não paguem. Isso mesmo, mais de 40 mil cidadãos chegam às bombas de gasolina, atestam os depósitos e põem-se em fuga sem pagar ... certamente por esquecimento.

A coisa é simples. Eles têm necessidade de andar de carro e o carro tem necessidade de combustível para andar. Mas como o raio da gasolina e do gasóleo estão tão caros, são eles que não vêem necessidade de pagar aos revendedores onde se abasteceram. E como não vêem essa necessidade, piram-se.

Eis uma bela forma de poupar. Já que não pode ser de outra maneira, aqui está a oportunidade de muitos portugueses conseguirem aforrar alguma coisita.

Muitos portugueses, digo bem. Repito, 40 542 em 2007, mais 20% que em 2006 e mais 73% que em 2005. Uma verdadeira catástrofe, como diz o presidente da ANAREC.

E como uma catástrofe nunca vem só, por causa de todos estes roubos, só nos dois últimos anos encerraram 144 postos de abastecimento, o que deixou no desemprego mais umas quantas centenas de portugueses que, também eles, vão sobreviver sei lá como, mais uns que não vão poder pensar em fazer poupanças ... se conseguirem sobreviver.

E para que se entenda de que prejuízos é que estamos a falar, cada posto de abastecimento tem que vender 4 mil litros de combustíveis só para compensar as perdas com as fugas dos condutores que não pagam.
Percebem agora porque é que eu não tive a certeza de ter achado curioso que no Dia Mundial da Poupança, se tenha sabido que quarenta e tal mil portugueses abastecem os seus carros e fogem?

Tratar-se-á apenas de coincidência ou isto tem a ver com o empobrecimento galopante que afecta a generalidade da população? Será que uma coisa tem directamente a ver com a outra? Isto, claro está, para não falarmos na questão da falta de princípios que, o facto em si mesmo, revela.


Mas há uma outra coisa que não deixa de ser estranha. Quando tanto se fala da necessidade das pessoas em começarem a efectuar poupanças (a pensar no dia de amanhã), cujo o dia inspirador é o 31 de Outubro – Dia Mundial da Poupança, três dias antes, a 28 de Outubro, comemora-se o Dia Mundial da Terceira Idade. O dia, justamente, daqueles para quem a palavra poupança tem um sentido muito misterioso, a roçar o perverso.

Crueldade ou, apenas, coincidência?

domingo, novembro 04, 2007

Um homem dentro de um carro - parte III - conclusão


Depois de, na sexta-feira 19 de Outubro, há pouco mais de duas semanas, ter aqui publicado um texto absolutamente inocente e que eu julgava que não tivesse qualquer tipo de sequência, ou seja, que a “história” acabasse nesse mesmo dia, o certo é que me enganei redondamente e “fui obrigado” a dar andamento àquele pedaço de prosa, o que, confesso, nunca me passara pela cabeça.

Mas, de facto, depois de um primeiro, houve um segundo texto e apercebi-me que se não conseguisse arrepiar caminho imediatamente estaria em vias de transformar um blogue despretensioso, que eu sempre imaginara estar destinado a receber umas inócuas e despretensiosas crónicas, num pseudo livro de ficção, de espionagem, de terror, policial, eu sei lá que mais, sem sequer poder imaginar onde é que tudo isto iria terminar.

Pelo que, decidi que seria melhor dizer-vos já o que sei sobre o assunto - e sei muito pouco, acreditem – para não vos deixar a “secar” semanas após semanas, sei lá até onde, na tentativa de vos enredar numa intriga, de onde dificilmente conseguiriam escapar e que nos ocuparia o nosso tão precioso tempo, quiçá durante alguns meses.

Eu sei que alguns companheiros nossos, tinham já engendrado uma belíssima e ardilosa trama, sem dúvida muito mais conseguida do que aquela que o próprio autor poderia vir a ter alguma vez a coragem e a imaginação de arquitectar. Por isso, parabéns a todos eles. Mas, a verdade, é que eu não fui tão longe, limitei-me, apenas, a relatar factos (que poderão ter alguma ficção à mistura) que, aparentemente, se poderiam interligar, e que, provavelmente lançaram eventuais e infundadas suspeitas, se calhar completamente desprovidas de fundamentação. Foram, afinal, os meus amigos que, à falta de programas de televisão mais interessantes, começaram a ficar curiosos e a pensar que, por detrás dos tais simples factos que se relatavam, existia um complexo enredo, quiçá intencional e, com toda a certeza, com ramificações internacionais.

Mas não, a verdade é que, e “há sempre uma explicação para tudo”, como gosta de dizer a minha mulher, neste caso, não há muito para contar, nem existe sequer uma intriga digna desse nome que venha criar um interesse acrescido ao “Por Linhas Tortas”, capaz, eventualmente, de suscitar um número recorde de comentários.

Então, ao certo, o que é que temos para contar? Vamos por partes...


Em primeiro lugar, o pensamento, aliás plausível, de que estaríamos perante um “mistério”, poderia ter sido resultado de uma coincidência invulgar. O apelido do senhor da minha rua e o daquele outro de S. Bernardo do Outeiro era exactamente o mesmo – “do Ó Salgado” – sendo que o primeiro era Manuel e o outro Justino. Um acaso que levantou legítimas expectativas aos leitores, mas que não passou apenas disso mesmo. Um mero acaso.

Depois, o arrepio sentido pelo Justino do Ó também levou algumas pessoas a especular sobre se esse calafrio não seria uma premonição que estivesse associada ao Manuel do Ó Salgado, face ao estranho comportamento deste último e partindo do princípio, também aceitável, de que eles até poderiam ser familiares. Mas não. Ao que parece, tudo teria ficado a dever-se a uma brisa outonal, normalmente bastante fresca na zona de S. Bernardo do Outeiro.

Quanto à Marina, não há muito para dizer. Ela era, melhor, ela é, de facto, uma jovem bonita e vistosa e de lindos cabelos longos e sedosos. Mas tinha uma outra particularidade, era filha de Justino do Ó, Justino esse que era o dono da melhor pastelaria de S. Bernardo do Outeiro, que ele montara justamente para que a filha pudesse ter uma vida mais confortável e com proventos acima dos que as outras moçoilas da região conseguiam.

Marina só tinha vindo à capital uma única vez. Já fora ao Porto umas quantas vezes, a Coimbra também, mas a Lisboa apenas viera uma vez e, por sinal, gostara muito. Tinha gostado da cidade, da sua luminosidade e apreciara muito a visita que fizera ao Castelo de S. Jorge e ao Cristo Rei. Ah!, e adorara os pastéis de Belém, que tratou logo de os vender na sua pastelaria, uma vez assegurado o transporte que levava os pastéis da fábrica de Lisboa directamente para S. Bernardo do Outeiro, todas as semanas.

E tanto gostara de vir à capital que tratou de programar uma outra visita que, desta vez, tinha passagem obrigatória por Mafra, onde pretendia visitar o palácio e o convento, que ela ouvira dizer que tinha sido mandado erigir pelo rei D. João V e que tinha, ao que lhe disseram, nada menos de 4500 portas e janelas.

Houve, porém, um problema. Na data em que a excursão de Marina deveria deslocar-se até Mafra, soube-se que, nessa mesma data, a vila seria visitada pelo presidente da Rússia Vladimir Putine, cujas fortes medidas de segurança poderiam impedir o acesso de particulares à vila de Mafra e, em especial, à zona do Convento.

Por isso, o pai Justino fez uma série de chamadas para a empresa de camionagem, para saber se a excursão sempre se realizaria ou não.



Não me posso esquecer de recordar o meu prestimoso e sempre presente vizinho, o reformado bancário, antigo delegado sindical e ex-revolucionário saudosista, cujas conversas que mantínhamos andavam sempre à volta do mesmo. Ou das últimas fofocas da rua e que ele soubera em primeira mão ou, claro está, dos problemas bancários que ele sempre considerava estarem a ser resolvidos da pior maneira, mas para os quais ele tinha soluções infalíveis.

Pois foi por ele que eu soube que nas últimas semanas tinha havido uma vaga de furtos de viaturas ali na nossa zona e que a coisa estava a ficar preta. A não ser que, e a proposta veio em tom decidido, constituíssemos uma milícia armada, capaz de enfrentar os assaltantes e de acabar de vez com os gagos.

Foi aí que ganhei coragem, não para integrar a tal milícia, mas para dirigir-me directamente ao tal senhor que estava todos os dias encafuado no automóvel, “a fazer, aparentemente, nada” para lhe perguntar, de forma afável e delicada, já se vê, porque razão ele estava lá durante os dias inteiros.

E a resposta, aquela que eu e os meus estimados companheiros, aguardávamos com tanta ansiedade, veio prontamente: “Estou aqui, porque comigo dentro do carro, eles (essa corja que andava a assaltar os automóveis) nem sequer pensarão em aproximar-se.

Obviamente! Ainda que, penso eu, os tais banditórios, não se ensaiassem nada em levar o carro, mesmo com o senhor lá dentro. Mas achei melhor não lhe dizer isto ...


Ficaram por saber duas coisas, mas essas já não tive coragem para perguntar. A primeira, porque razão ele ficara tão zangado quando uma pessoa se aproximou do carro e lhe tocou ao de leve no braço, e, a outra, uma das questões mais fundamentais desta história toda, porque é que ele repousava, invariavelmente, o braço esquerdo na janela aberta do seu carro ...

segunda-feira, outubro 29, 2007

Estrela do Mar


Há um bom par de anos estive em serviço com mais dois colegas no sul do país. Durante três semanas fazíamos cerca de cinquenta quilómetros por uma estrada sinuosa através da serra para chegar ao local de trabalho e, à tarde, voltávamos ao hotel onde estávamos instalados, pela mesmas curvas e contracurvas que já tínhamos enfrentado pela manhã.

Depois de um dia de trabalho e de ter cumprido mais de cem quilómetros a ziguezaguear pelas estradas desenhadas aos esses, sabia-nos bem chegar, tomar um banho recuperador e sair para beber algo fresco antes do jantar.

Num belo dia assentámos arraiais numa pastelaria do sotavento algarvio. Tinha sido um dia de calor forte, de muito trabalho (aqui está mais um dos que diz que se farta de trabalhar, pensarão) mas, apesar de tudo, estávamos bem dispostos.

E de tão bem disposto que estava, encomendei ao empregado que nos atendera três imperiais e um Sinatra. O pedido, confesso, foi feito com uma certa ironia, talvez, reconheço-o hoje, com um tom de ironia excessiva, a rondar o gozo.

Eu tinha pedido um Sinatra mas o que eu queria, naturalmente, era ouvir o Frank Sinatra cantar naquele fim de tarde. E, com aquele pedido estranho, no mínimo, eu esperava que o empregado ficasse pelo menos em estado de choque e com uma tremenda cara de parvo, por não fazer ideia se eu estava a pedir uma bebida exótica ou uma outra coisa qualquer.

Palermices de um lisboeta que se julgava mais esperto do que os outros.

Pois a cara de parvo foi inteiramente a minha quando, ao mesmo tempo que nos serviram as imperiais, fez-se ouvir através da instalação sonora da casa, a voz melodiosa e inconfundível do Frank Sinatra, ainda por cima cantando “My Way”, um dos meus temas preferidos.

A história não passa de uma recordação de outros tempos. Hoje lembro-a, apenas, porque ela foi importante na minha formação futura, enquanto homem.




Tantos anos depois e também no Algarve (agora para os lados do Barlavento) dou de caras com uma pastelaria que se chamava “Estrela do Mar”.

Irresistivelmente entrei, sentei-me e pedi uma bebida à empregada que me atendeu, ao mesmo tempo que lhe dizia “Sabe, o seu estabelecimento tem o nome de uma canção do Jorge Palma”.

“De quem?” perguntou a moça, completamente a leste do que eu estava a dizer. Disfarcei e não lhe respondi. Mas não pude deixar de pensar que o mínimo que eu podia esperar numa pastelaria que se chamava “Estrela do Mar”, era ouvir, em fundo, a voz do Jorge cantar uma canção tão bela e tão inspirada como a que ele compora uns anos antes, com esse mesmo título, e de que agora recordo os seus versos.

“Estrela do Mar”
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“Numa noite em que o céu tinha um brilho mais forte
e em que o sono parecia disposto a não vir
fui estender-me na praia sozinho ao relento
e ali longe do tempo acabei por dormir
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Acordei com o toque suave de um beijo
e uma cara sardenta encheu-me o olhar
ainda meio a sonhar perguntei-lhe quem era
ela riu-se e disse baixinho: estrela do mar
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Sou a estrela do mar
só a ele obedeço, só ele me conhece
só ele sabe quem sou no princípio e no fim
só a ele sou fiel e é ele quem me protege
quando alguém quer à forçaser dono de mim
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Não sei se era maior o desejo ou o espanto
mas sei que por instantes deixei de pensar
uma chama invisível incendiou-me o peito
qualquer coisa impossível fez-me acreditar
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Em silêncio trocámos segredos e abraços
inscrevemos no espaço um novo alfabeto
já passaram mil anos sobre o nosso encontro
mas mil anos são pouco ou nada para a estrela do mar”

Mas, para que não fiquemos apenas pelos versos, convido-os a assistir a um vídeo (embora de fraca qualidade) de cerca de 4,13 m, onde podem ouvir o Jorge Palma a cantar ao vivo a “Estrela do Mar”

http://www.youtube.com/watch?v=f_GR8r9h7PQ&mode=related&search=