quarta-feira, maio 22, 2013

Uma outra forma de "ir aos mercados"




Quando ontem falava de empréstimos, não pude deixar de pensar no meu amigo Osvaldo. Conheci-o ainda na primária e desde sempre lhe observei uma característica: gostava de pedir emprestado. Melhor, "empresta ... dado". Começou em criança pelas sandes e bolachas e o seu rumo foi delineado sempre pela pedinchice.

Assim, fiquei banzado quando me disseram que ele se tinha mudado para um apartamento de um prédio de luxo, no centro da cidade. Devia estar bem de vida, de outro modo como é que poderia pagar tudo aquilo?

Com a franqueza de quem se conhece há muito, perguntei-lhe de chofre logo que o encontrei. "Então, pá, ganhaste o euromilhões? Ouvi dizer que moras num andar chiquérrimo ...

O Osvaldo, ajeitou o nó da gravata e com a mesma desfaçatez que sempre lhe conheci, respondeu-me de pronto:

"É verdade, moro num prédio lindíssimo de 20 andares com quatro fracções por piso e três estabelecimentos comerciais no r/c. Tudo gente rica, já se vê. E já lá estou a morar há quase três anos. Conheço-os a todos e são todos grandes amigalhaços meus".

Mas esperto como é, percebeu o que eu queria realmente saber e também não fugiu à resposta: "Como sou amigo de todos, organizei um plano para pedir dinheiro emprestado a uns e a outros, de modo a que eu possa pagar o que devo a quem já pedi e ainda ficar com umas boas massas para pagar os meus luxos. Só tenho que ter o cuidado de pedir, por exemplo, a vizinhos do 1º andar e, ao mesmo tempo, a uns do 5º e do 10º, de modo a que nenhum desconfie da coisa. Estás a perceber?".

Retorqui: "mas assim, vais-te endividando cada vez mais ..."

"É verdade" respondeu, "mas desde que eu cumpra os prazos de pagamento, quem é que se vai importar com isso. É pá, põe os olhos nos nossos governantes ..."
 

 

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