segunda-feira, novembro 08, 2010

Não sejamos ingénuos



A visita de dois dias a Lisboa do Presidente chinês, Hu Jintao, poderia significar apenas a vontade de incrementar relações comerciais entre os dois países, como normalmente acontece em visitas de Estado em que Presidentes e Chefes de Governo se fazem acompanhar por uma comitiva de empresários. E, sobre isso, nada haveria a dizer, se bem que a China tenha muito mais a ganhar do que nós. Tanto mais que a valorização do euro face ao yuan favorece claramente as exportações chinesas.

O problema, porém, é que a China, como grande potência económica mundial se propõe comprar mais dívida soberana portuguesa e tornar-se um grande credor de Portugal, a exemplo do que já acontece em relação a muitos outros países (só nos Estados Unidos são credores de dois terços da sua dívida externa).

E é aqui que começa o busílis. Dir-me-ão que tanto faz devermos à China como a qualquer outro país, que neste momento todos os credores são bons, que o dinheiro não tem cor e que necessitados como estamos de mais e mais financiamento externo todo o dinheiro é bem-vindo. Pode até ser. Por um lado, eles estão cheios de dinheiro que pretendem investir, por outro, nós estamos a braços com uma grave crise de liquidez a necessitar urgentemente de um “salvador” que nos compre as emissões de dívida pública. Mas há outros riscos que, mesmo desesperados, não deveríamos correr.

Não se trata tão-só de os chineses nos comprarem – a nós, aos gregos, aos espanhóis, aos italianos, a toda a Europa e a uma boa parte das nações do mundo – dívida soberana. Na verdade, o que todos estamos a hipotecar é a possibilidade de podermos dizer não à China nos mais altos fóruns internacionais.

Não sejamos ingénuos, quando, por exemplo, estiverem em causa a violação dos direitos humanos na China, como acham que vão votar as nações que estão altamente devedoras à grande potência económica da Ásia? Há sempre um preço a pagar.

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