Os comentários que aqui foram feitos a propósito do texto “A Boa Educação Também se Aprende” levaram-me a considerar que faria todo o sentido voltar ao assunto. Aliás, não só os comentários mas, também, uma mensagem que um amigo me enviou pela net.
E começo exactamente por fazer referência a essa mensagem que, resumidamente, me questionava sobre se eu não estaria fora deste tempo. Por outras palavras, o meu amigo perguntava se, actualmente, ainda se justificará uma forma de tratamento como as que eu, no fundo, acabei por defender. E a minha resposta é, claramente, que continua a justificar.
Quanto aos comentários propriamente ditos, parece-me que dois deles estão em sintonia com o que escrevi, mas relativamente ao comentário subscrito pelo nosso companheiro MR, verifiquei que, aparentemente, tem uma opinião diferente da minha. E, porque este é um espaço plural, poderemos discutir livremente os argumentos de cada um.
Ao fim e ao cabo, sinto a necessidade de voltar ao tema porque, para mim, as formas de tratamento têm a ver com questões de princípio.
Antes, porém, gostaria de contar uma pequena história acontecida poucos anos depois da revolução de Abril de 74, numa época em que as mulheres davam passos decisivos para a sua emancipação na sociedade, embora com muitos erros de percurso à mistura e, quanto a mim - o principal – o de quererem afirmar à viva força, uma igualdade total e absoluta com os homens.
E a história é esta. Esperava um elevador e, quando chegou ao piso onde me encontrava, abri a porta e ofereci passagem à senhora que estava ao meu lado. A reacção dela não podia ser mais violenta e inesperada. Disse-me para passar primeiro porque ali, homens e mulheres, eram todos iguais. Lembro-me bem de que chegou a dizer “Dá-me passagem só porque sou uma mulher? Não, nós mulheres temos os mesmos direitos dos homens, você estava primeiro, logo, entra primeiro”.
O que aquela mulher não percebeu é que exactamente por sermos homens e mulheres somos diferentes. Não me refiro ao aspecto físico, naturalmente. Tão-pouco à questão dos direitos e deveres. Felizmente nessa matéria foram conseguidos resultados importantíssimos e decisivos para uma igualdade entre os sexos, muito embora, por enquanto, ela só se registe verdadeiramente ao nível da legislação.
Mas a verdade é que somos definitivamente diferentes. E é exactamente nessa diferença que se encaixam na perfeição as tais regras de cortesia e de amabilidade a que chamei regras de boa educação.
Por exemplo, regras como a de um homem abrir uma porta para deixar passar uma senhora, a de um homem subir ou descer uma escada à frente da senhora, a de o homem dar a parte de dentro do passeio a uma senhora, a de o homem abrir a porta do carro para a senhora entrar, a de o homem segurar/ajustar a cadeira para a senhora se sentar e, eu sei lá, tantas outras manifestações de cortesia, como … o tratamento por Srª. D. Maria João (ou, simplesmente, D. Maria João) mas nunca, e jamais, por senhora Maria João.
Reparem que eu estou apenas a dar exemplos de manifestações de cortesia na relação homem/mulher. Mas, algumas delas, e muitas mais, poderiam ser evocadas em outros tipos de relação, nomeadamente com as pessoas mais velhas.
Voltando, agora, ao comentário do MR, devo confessar que desconheço como e quando começou a forma de tratamento em apreço. Mas é legítimo pensar que o tratamento por dona é, em si mesmo, um tratamento respeitoso, provavelmente originado na monarquia, onde os nobres eram todos dons e donas e não consta que essas donas, assim fossem tratadas por serem donas de casa. Quanto à questão que levanta dos apelidos das senhoras, penso que actualmente ela já não se coloca. Como se sabe, hoje em dia há muitas mulheres que adoptam os nomes de família dos maridos mas, muitas outras, preferem manter os seus próprios nomes de solteiras.
Mas estou de acordo consigo, MR, quando diz que há gente de todas as idades que são muito mal-educados. É verdade que sim, infelizmente. E sou capaz de concordar também consigo (pelo menos em parte) quando refere que este tipo de tratamento não é uma questão de boa educação mas trata-se, isso sim, de uma convenção e que a boa educação vai para além das convenções. De facto, a boa educação vai para além de todas as convenções e, exactamente por isso, é necessário que se estimulem as pessoas a terem padrões de comportamento adequados à vida em sociedade, nomeadamente, a serem pessoas educadas e respeitosas. Por isso, quanto a esse tratamento não passar de uma mera convenção, não sei o que lhe diga. Há boas e más convenções e, se esta for boa, então, que se mantenha.
Mas, independentemente dos conceitos que cada um de nós tem sobre o que é, ou o que deve ser, a educação e para além do tema não se esgotar com os exemplos atrás referidos, atrevo-me a dizer, correndo o risco de me chamarem (pelo menos) “cota”, que apesar de poderem estar em desuso certas regras de delicadeza, elas continuam a ser apreciadas pela maioria das mulheres e, curiosamente, por muitas mulheres jovens.
O que acho é que muitos homens jovens ainda não perceberam isso …
5 comentários:
Caro senhor Desmacarenhas,
Seguro-lhe a porta para entrar na minha humilde casa, Azul Bolorento. Naturalmente que o convite é extensível à Sra. Dona Desmacarenhas e a todos os seus.
Calorosas saudações,
Manuel Rodrigues
É demascaranhas!
Mas essa treta da cortesia e da gentileza também se aplica quando vamos no automóvel? Temos que dar passagem às senhoras, mesmo quando elas não têm prioridade? Vai lá, vai…
Caro MR
Tenho muito gosto em conhecê-lo, ainda que seja apenas através da blogosfera. Aproveito para lhe agradecer a simpatia de nos ter franqueado a porta da sua casa – o Azul Bolorento – que passaremos a frequentar com prazer.
Gostaria, no entanto, de colocar os pontos nos ii. É que ficaria mais eu, se continuasse a ser demascarenhas.
Os melhores cumprimentos
Mil perdões. O sacana do "s" é um irrequieto e avançou uma sílaba. No entanto já o chamei à atenção e ele comprometeu-se a não voltar a sair do seu lugar.
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