Não paro de me interrogar. Os dias vão passando, já lá vão oito meses desde que tomou posse e, todas as semanas são anunciadas novas medidas que vêm mexer em interesses instalados há muito. Até quando, Engenheiro Sócrates, vai aguentar todas as pressões que lhe são dirigidas de todos os quadrantes, sem que se deixe desfalecer?
A agitação social está ao rubro. Pudera, o que me admiraria é que estando a pôr em causa tantos privilégios, esses senhores não começassem a fazer uma guerra dos diabos.
A agitação social está ao rubro. Pudera, o que me admiraria é que estando a pôr em causa tantos privilégios, esses senhores não começassem a fazer uma guerra dos diabos.
Mas, Engº. Sócrates, o senhor foi mais papista que o Papa. Então deu-lhe para questionar uma data de coisas em meia dúzia de meses, coisas essas que os sucessivos governos (incluindo os do seu próprio partido) desde há trinta anos nunca quiseram pegar, nem ao de leve que fosse?
Aliás, eu acho que não lhe fez nada bem ter ouvido o Major Valentim Loureiro afirmar que o senhor era um homem de coragem. É que, notou-se, encheu-se de brios e vá de querer imitar o major-valentão a saltar para a praça pública e a disparar em todas as direcções : “quantos são, quantos são?”.
Começou logo no discurso de posse quando desafiou o lobby das farmácias - sector intocável! - e jurou que os medicamentos sem prescrição médica iriam ser vendidos noutros locais. Não terá começado mal?
A partir daí tem sido um nunca mais acabar. Enfrentou as polícias, as magistraturas, os professores, a administração pública, os laboratórios farmacêuticos, as moageiras, os sindicatos e, máximo dos máximos, teve a ousadia de mandar investigar instituições financeiras suspeitas de fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Mais, acabou com os dois meses de férias dos tribunais, aumentou a idade de reforma, terminou com muitos dos privilégios dos políticos e, pela primeira vez em tantos anos, sente-se uma vontade determinada em atacar a corrupção.
Mais ainda, tem posto cobro a múltiplas situações inacreditáveis de clientelismo e fraude nas empresas públicas e sabe-se que a Autoridade da Concorrência está de olho em muitas empresas e sectores, para pôr cobro aos cartéis existentes.
E, agora, até quer mandar retirar os crucifixos das escolas? Das mesmas escolas que acolhem muitas crianças dos mais diversos credos. Das mesmas escolas que são do Estado, do mesmo Estado que até é laico?
E já não quero falar das montanhas de problemas que lhe caíram em cima com projectos tão polémicos como os da Ota e do TGV.
Em muito pouco tempo o governo, que o senhor dirige, incomodou os mais poderosos sectores da sociedade. Por acaso pensou que muitos desses interesses instalados contavam que se eternizassem a incompetência e a desonestidade dos múltiplos governantes que por aí passaram?
Já viu como poderia andar descansado a esta hora se embarcasse na inércia em que o país mergulhou há muitos anos?
É preciso coragem para tão grande empreitada. Os portugueses já quase não acreditavam que um dia ainda iriam ter um governo sério, que quisesse mesmo resolver os problemas do país. A desilusão estava instalada.
E é por isso, por essa coragem, pela honestidade e pela determinação em querer fazer de Portugal um país, que lhe pergunto, com toda a admiração:
Até quando vai conseguir aguentar, Sr. Engº. José Sócrates?
1 comentário:
Se de facto o lobby das farmácias vem sendo um sector intocável, nas suas próprias palavras, faz sentido que tenha sido atacado, e desde o início. É que pelas regras de então (será que as novas já estão em vigor? - lanço o repto a quem me queira informar)uma farmácia era um negócio que "não podia senão dar lucro", pois a licença estava dependente da população residente (ou trabalhadora) na zona. Uma vez conseguida a licença "era só encher os bolsos". Além de que hoje em dia se entra numa farmácia e dá ideia de estarmos numa obtusa galeria de arte que tem por telas mensagens publicitárias (não me lembro de nenhum outro tipo de estabelecimnento onde isso aconteça - mais uma vez lanço o repto).
Quanto à questão dos crucifixos, recorro às suas próprias palavras para dizer que é exactamente por o estado ser laico e nas escolas estudarem crianças dos mais diversos credos (ou "descrentes", como eu) que os crucifixos deviam ter sido retirados das escolas há já muito tempo.
Não posso deixar de lamentar que na sua "fúria" o Engº Sócrates e/ou o seu partido não tenham revelado a mesma coragem para despenalizar o aborto até às 12 semanas em sede de Assembleia da República, ou pelo menos ter avançado com o respectivo referendo.
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