quinta-feira, julho 03, 2008

Quando se puxa o lençol

A entrevista que o Primeiro-Ministro concedeu ontem à RTP1 não trouxe quase nada de novo.

Sócrates anunciou que irá alterar as regras do IRS para quem tem crédito à habitação (com a criação de escalões diferenciados, em substituição do patamar único para todos) e do IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) para que as famílias mais desfavorecidas tenham melhores condições para enfrentar os sucessivos aumentos das taxas de juro do crédito à habitação. Também ouvimos anunciar que o Governo vai taxar as mais-valias das petrolíferas.

Tirando estas duas novidades, repetiu o que nós já sabemos, que as contas públicas estão controladas, que o apoio social tem vindo a aumentar, bla-bla-bla, bla-bla-ba.

E referiu, por diversas vezes, que o país, a Europa e o Mundo se sentem incapazes de controlar uma crise que vem de fora e que é alimentada basicamente pelos produtores de petróleo e pelos especuladores.

E não será esta a verdade nua e crua? Perante isto, o que é que podem fazer os governos senão promover medidas avulsas para tapar os “buracos” que vão surgindo um pouco por todo o lado quando as dificuldades vão sendo maiores? Ou então, promover políticas de médio-longo prazo que visem, gradualmente, substituir o petróleo. E, convenhamos, nesta matéria, este Governo tem desenvolvido nos últimos três anos um conjunto importante de acções no campo das energias alternativas.

O que me custa a perceber é que a oposição e alguns comentadores encartados da nossa praça não queiram (ou não possam) apresentar propostas sérias e exequíveis que salvem o país e se fiquem pela posição cómoda e fácil do deita abaixo, não aceitando como válida uma só iniciativa do Governo.

A verdade é que há mais desemprego, as famílias estão mais individadas, estamos cada vez mais afastados da Europa em termos de qualidade de vida e o número de pobres e novos pobres tem aumentado. Mas atribuir a culpa de tudo o que acontece de mal única e exclusivamente ao Governo parece-me, francamente, uma politiquice reles. Ou será que as crises provocadas pelo aumento das taxas de juros, dos combustíveis e dos bens alimentares são males menores que pouco influenciam a nossa economia?

Por muito mau que seja um Governo – seja ele de que quadrante for - de certeza que encontraremos alguma coisa de jeito que ele tenha realizado. Uma só que seja. A não ser que achem preferível que o Governo nada faça (como sugeriu ontem, na SIC Notícias, Medina Carreira), cruze os braços e deixe o país definhar rapidamente. O que não levaria muito tempo.


Milagres não se fazem. Ao serem anunciadas medidas - que pecam, porventura, por serem tímidas - que visam aliviar um pouco a situação dos portugueses, logo se levanta um coro de descontentes porque a receita fiscal irá baixar e, consequentemente, o investimento público diminuir, ou com a quebra da taxa do IMI que fará ir por água abaixo os orçamentos das autarquias.


A questão é que, num país pobre como o nosso, de economia aberta e muito exposta a todos “espirros” que nos chegam de fora, quando puxamos o lençol para cobrirmos o pescoço, os pés ficam destapados.


2 comentários:

Anónimo disse...

O grande problema de muitos dos tais comentadores encartados é que se esquecem, ou desconhecem o pensamento de Aristóteles:

“o ignorante afirma, o sábio duvida e o sensato reflecte”

Anónimo disse...

Já algumas vezes me tenho perguntado: porque é que não colocam a DECO à frente da entidade que trata dos assuntos dos consumidores e a Quercus a dirigir o Ministério do Ambiente? E atribuir-lhes objectivos claros e mensuráveis.
Assim se veria se tinham unhas para tocar esses instrumentos ou se de facto é só garganta.
E já agora pegar nesses comentadores de pacotilha e colocá-los a eles em funções efectivas nos terrenos em que são "especialistas" (só seria difícil colocar alguns generalistas que sabem de tudo.)
Porque nestes casos é que é bem verdade: "Falam, falam mas não os vemos fazer nada"