quarta-feira, junho 09, 2010

Falando de pobrezas


Li há dias algures "Um país onde se admite a possibilidade de taxar o subsídio de Natal, ou mesmo acabar com ele, mas que gasta de dinheiros públicos para TGV, altares, estádios de futebol, frotas milionárias para gestores públicos, reformas obscenas a quem trabalha meia dúzia de anos ou nem tanto, etc... é um país pobre, de facto. Mas de espírito, antes de mais”.


Subscrevo a afirmação. Mais, revolto-me com a ideia.

Porém, para além desta pobreza (moral e sem ética) existe a outra, a do dia-a-dia, a que sabemos existir sobretudo para os idosos, os desempregados, os sem-abrigo, para todos aqueles a quem a vida foi madrasta e que vemos espelhada nas estatísticas dos que não têm que comer.

A média diária de pessoas que são ajudadas pelo Banco Alimentar ronda as 285 mil. Destas, "33% são crianças" e "mais de 40%" idosos.

Isabel Jonet, presidente do BA, “recusa falar em fome, separando a realidade portuguesa da que existe nos países onde a subnutrição é a principal causa de morte. Prefere aludir a "carências alimentares”, porque, apesar de tudo, as crianças são apoiadas pelas instituições". Mas os casos não deixam de ser graves, já que muitas crianças só comem o que recebem dessas instituições, fazendo apenas uma refeição por dia”.

Uma pobreza que aumenta a cada dia que passa.

Mas ainda há as outras pobrezas, a “envergonhada” e a dos “novos pobres”, onde estão incluídos todos aqueles que, embora trabalhando, não lhes chega o dinheiro para cumprir os seus compromissos quanto mais para comprar comida.

Acho demagógico o agitar de bandeiras de que “quem não trabalha é por que não quer ou não sabe gerir o que tem”. Haverá desses, sim senhor, mas muitíssimos mais não trabalham porque, simplesmente, não há trabalho, porque a precariedade, a exploração e a discriminação são uma realidade, a qual, fatalmente, leva à pobreza.

E, obviamente, estas formas de pobreza entristecem-me, preocupam-me e revoltam-me.

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