quinta-feira, abril 11, 2013

Experiência para quê?



Recordo-me sempre da frase de Sócrates (do filósofo, não a do regressado ex-Primeiro-Ministro) - "Só sei que nada sei" - quando julgo conhecer bem determinado assunto e, depois, acabo por concluir que, afinal, não sabia a coisa tão bem como pensava. Como me aconteceu, há dias, quando soube que um membro do Governo tinha nomeado dois assessores (especialistas). E porquê?

Julgava eu que a grande diferença entre um técnico e um especialista se baseava fundamentalmente na experiência. A ambos é requerida, claro está, a formação académica adequada e a preparação específica para um cargo mas, uma vez alguém admitido, seria espectável que começasse por ser técnico e, depois, pelo menos para alguns deles, com o tempo e a experiência adquirida, pudessem ascender a especialistas. Seria natural que, até por uma questão de maturidade, assim acontecesse.

Mas vivemos numa era onde tudo se passa a uma velocidade estonteante. Daí que os especialistas (sejam lá do que forem) "nasçam" cada vez mais cedo.

Foi certamente por isso que o Secretário de Estado-Adjunto do Primeiro-Ministro, Carlos Moedas, nomeou dois "técnicos especialistas", de 21 e 22 anos, para integrar a equipa de "acompanhamento da execução de medidas do memorando". O Governo justificou as contratações com os "excelentes currículos académicos, o que "lhes confere alguma competência (?)".

Um deles, o de 21 anos, tem uma licenciatura em Economia e um brilhante percurso profissional: "um estágio profissional não remunerado no Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia e Emprego, entre Setembro e Dezembro de 2012". Ah, e foi comentador algures e escreveu num blogue.

O outro, com uns tenros 22 aninhos, está a concluir um mestrado em Administração de Empresas e, como experiência profissional orgulha-se de ter também feito um estágio no mesmo Gabinete entre Junho e Agosto de 2011.

Apesar de já em Janeiro deste ano, uma auditoria do Tribunal de Contas aos gabinetes ministeriais questionar "o grau de experiência profissional" dos 164 especialistas até então contratados para os gabinetes ministeriais, já que 15,3% tinham entre 24 e 29 anos, o Governo continua a insistir nestes jovens que se transformam num abrir e fechar de olhos em especialistas, talvez lembrando o ditado "De pequenino é que se torce o pepino" (a letra da canção do Sérgio Godinho diz "De pequenino, de muito pequenino se torce o destino".

Pode até ser que não sejam ainda tão grandes especialistas como isso mas estarão, entretanto, a fazer currículo e a assegurar o futuro.

1 comentário:

Vexata disse...

Sobre os “técnicos especialistas”, já é ousadia considerar técnicos, putos 21 anos, agora especialistas, isso sim, ao fim de quinze anos a estudar, devem ser especialistas em aprendizagens. Está certo!
É desta vez, é assim que este governo está a aprender!
Mas pelos vistos só estes é que aprendem!