segunda-feira, dezembro 05, 2005

A Boa Educação Também se Aprende


Acreditem que se há coisas com que eu afino de verdade, é a de me tratarem por “Senhor Mário”. Sei lá, é uma coisa que me arrepia e quase me leva a responder “Olhe, senhor Mário era o seu …”

Talvez eu seja antiquado, não sei! O que sei é que, noutros tempos, se ensinava aos miúdos como se deviam tratar os adultos. Aos homens pelo apelido e às senhoras pelo primeiro nome, antecedido de senhora dona.
O senhor António Silva Borges era o Sr. Borges e, a esposa, Miquelina Antunes Horácio Borges era a Sr.ª D. Miquelina.
Este era o tratamento que estava incluído nas regras de boa educação que, como disse, se ensinava desde cedo.

Mudaram-se os tempos, foram-se perdendo certos valores e, entretanto, chegou-nos dos “states” um outro tipo de tratamento. Aliás dois, e que depressa se impuseram.

O primeiro deles, foi o de passar a haver uma certa liberalização, um certo intimismo no relacionamento que fez com que as pessoas se passassem a tratar apenas pelo primeiro nome. Era o António, o Mário, a Leopoldina.
No outro, que apareceu logo de seguida, as pessoas tratavam-se na mesma pelo primeiro nome mas, para lhe dar um pouco mais de formalismo, juntavam-se aos nomes próprios a indicação de senhor ou senhora, conforme os casos. Passaram, então, a ser o senhor António (ou, às vezes, o shôr António), o senhor Mário e a senhora Leopoldina.

E se
, com o primeiro, enfim, sobretudo entre colegas de trabalho a quem, no dia a dia, se dispensa uma formalidade por aí além, eu até estou de acordo, quanto ao segundo tipo de tratamento não posso estar mais em desacordo. Acho mesmo que, no mínimo, é um tratamento de mau gosto, mas é sobretudo, um tratamento de má educação.

E, na minha opinião, ele verifica-se não porque os costumes se alteraram, mas porque as pessoas que os utilizam não foram devidamente ensinadas ou, provavelmente, quem as ensinou também desconhecia essa forma básica de cortesia e de boa educação.

Ainda nos últimos dias tive a oportunidade de ser presenteado com as duas formas de tratamento. A primeira aconteceu na Caixa Geral de Depósitos, onde fui atendido por uma funcionária que aparentava estar na casa dos cinquenta anos. Tratou-me por Sr. XXX (apelido). A segunda, veio de uma diligente, simpática, bem-falante e educada empregada de uma loja de electrodomésticos que me tratou, do princípio ao fim, por sr. XXX (primeiro nome).
E se já disse que a simpática atendedora até era educada, porque razão não me tratou ela pelo apelido? Provavelmente porque nunca a ensinaram.

E este tipo de tratamento generalizou-se de tal forma pelo comércio em geral, pelos centros de atendimento das empresas (João Paulo, eu sei que são mais conhecidos por “call centers”), por tudo quanto é sítio, que eu tenho receio que seja assimilado rapidamente por todos. Se é que o não foi já!

Mudam-se os tempos mas será que se mudaram as regras de educação?

3 comentários:

Anónimo disse...

Tenho visitado este blog e ficado feliz por existir alguém que escreve e pensa desta forma e hoje não pude de deixar de fazer um pequeno comentário a este post.

Trabalho todos dias num desses 'centros de atendimento das empresas ' e é com desalento que verifico o desprezo de uma geração ( e talvez das seguintes mais ainda ) pela educação e pela língua portuguesa.
Ter alguém a tratar as pessoas por senhor joão ou senhora joana é o pão nosso de cada dia e erros de escrita pior ainda , ainda hoje apanhei 'urbanizassao', um colega alegremente a perguntar : o seu nome é com V de Vaca? - sim existem palavras como Viseu, Vitória, Vila, ou outras, mas ele achou que Vaca fazia sentido..., mas não foi por erros de escrita que resolvi escrever este post, foi outra razão.
Exactamente hoje uma cliente agradeceu-me tratá-la por Senhora Dona Ana Maria , por tudo o que vem escrito no seu post, porque está na 'moda' o senhora, o dona e até mesmo a falta de um de outro e porque ficou alegremente impressionada de ser uma pessoa nova a fazê-lo.
Já agora, na formação que recebemos dão a indicação para não dizermos por exemplo : Senhor xxx ( apelido ), mas sempre Senhor 1ºnome e Apelido, no caso das mulheres é que é mais grave(quanto a mim), dizem para comunicar Senhora Dona 1º nome , mas ( e aqui está um pormenor 'delicioso') no script que lemos a cada cliente e supostamente temos de seguir à risca está Senhora Maria ..., não acham que está bem feito?
Até uma próxima* Zi

Anónimo disse...

Exmo Sr Dr Cirurgião Dentista Xxxxx de Xxxxx Xxxxx, estou inteira e completamente de acordo consigo. Mas acho que a falta de educação não está presente apenas neste âmbito.
A impressão que eu tenho é que as pessoas tendem a considerar que as liberdades conquistadas tornaram desnecessários aspectos básicos da educação, como o respeito pelos outros e actos de delicadeza. Agora parece que acções como cumprimentar quem chega (ou quem está) e respeitar filas de pessoas são coisas do tempo da outra senhora, e que nos tempos de hoje já não se justificam.

MR disse...

"Senhora dona" + nome próprío? Porque razão é que isso é melhor educado que "senhora" + nome próprio? E porque motivo é que devemos tratar as senhoras pelo nome próprio e os senhores pelo apelido? Porque partimos do príncípio que elas têm todas o apelido do marido?
E de onde vem o "dona"? De dona de casa?
Não me parece que isso seja uma questão de (boa) educação, apenas de convenção. A boa educação vai para além das convenções.
E essa história que antigamente as pessoas eram mais respeitosas acho que é uma ilusão. Conheço muito velho malcriado. Se preferirem, conheço muitos senhores e senhoras donas de idade avançada com falta de educação.