segunda-feira, dezembro 19, 2005

O adeus ao selo




A notícia apanhou-me completamente de surpresa e confesso que me deixou muito preocupado: o selo tem os seus dias contados.
Vamos deixar de poder colá-lo no canto superior direito das cartas.
Ao que parece, o selo está seriamente ameaçado, não só pelas novas tecnologias de comunicação, como pelas modernas máquinas de franquiar dos correios e das empresas, pelo que, a sua utilização, poderá resumir-se, em breve, a uma mera peça de colecção.

Os responsáveis dos correios dizem que, cada vez mais, as pessoas comunicam por SMS e por e-mail e não tanto por carta, aquela mesma carta que, ainda há poucos anos, constituía um meio de correspondência por excelência, sobretudo pela proximidade pessoal que transmitia.

Assim, a subsistência do nosso selo, parece resumir-se ao mercado filatélico, já que os coleccionadores continuam a reivindicar a sua emissão.

Mas, e eu? Como é que eu vou resistir a tamanha perda? Como vou aguentar o suplício de não poder saborear a cola que os selos têm? Um hábito que estava tão enraizado na maioria dos portugueses de há uns anos atrás, e que foi de resto transversal a várias gerações, que utilizaram sistematicamente a língua para lamber o verso do selo, na tentativa de conseguir alguma aderência ao papel da carta.

Mas preocupa-me, ainda, uma outra coisa. Com a diminuição da circulação das cartas, o governo poderá vir a entender que não valerá a pena manter o serviço tal como hoje o conhecemos (e, então, adeus carteiros deste país) e, assim, determinar que essas poucas cartas ainda sobreviventes, possam vir a ser transportadas pelos novos “funcionários”, pombo azul e/ou pombo verde, que substituirão os antigos correio azul e correio verde, respectivamente.

15 comentários:

Anónimo disse...

Só podes estar a gozar!

Diz-me UMA pessoa - não mais que uma - que goste de lamber selos.

É que além de ser um atentado ao palato, é uma falta de higiene.


Concordo que o selo tem valor próprio que não o comercial. Faz parte de um património histórico e sentimental de várias gerações. Mas não vamos ficar agarrados a isso.

Antes de alguém se lembrar de inventar estes papelinhos que se lambiam e colavam, havia os pombos-correio. Achas que alguém chorou com a ideia da substituição?

A prioridade é facilitar a comunicação, torná-la mais rápida e eficaz. Se a mesma é ou não pessoal, isso depende quase única e exclusivamente do conteúdo.


E o fim do selo não pode significar o fim dos correios. Mal fora se o seu negócio dependesse apenas das cartas. Há toda uma panóplia de serviços postais que a net não pode usurpar.

Diz-me lá como é que envias um piano pela net? Nem com uma banda muito, mas mesmo muito larga.


Deixa lá os selos na sua merecida reforma e continua a acompanhar o progresso, como tens feito.

Anónimo disse...

Eu não percebo. Se o demascarenhas gosta de pôr a língua de fora, nem que seja para lamber os selos, o que é que os outros têm a ver com isso? Que coisa…
Quanto ao enviar um piano, não sei bem o que seria mais fácil, se mandá-lo pela net se pelo correio. Só se fosse num postal… mas sem selos.
Já agora, selos na reforma só aos 65 anos.

Anónimo disse...

A comunicação "rápida e eficaz" é essencial na sociedade de hoje, não o dúvido nem por 1 segundo (e não precisei de 5 minutos para chegar a esta conclusão!!!!). Mas quando falamos de correspondência que necessita de sêlos falamos de outra coisa: falamos daquelas situações em que "abrimos a alma ao correr da pena", em que além de palavras passamos para o papel sentimentos e emoções, porque enquanto escrevemos (à antiga, com a caneta e não com o teclado), estamos MESMO a pensar no destinatário da missiva e nas palavras que estamos a por no papel.

Anónimo disse...

Não é a pena que confere autenticidade ao que escrevemos. É o conteúdo das palavras.

Isso vale para papel, computador ou até sinais de fumo.

O selo teve a sua época, e isso ninguém lhe tira. As pessoas devem perceber é que a palavra, a ideia ou o sentimento vale mais que qualquer meio.

Anónimo disse...

A Maria mostrou ter alma e concordo com ela em absoluto. Por muito profundo que seja o que queremos transmitir, ao fazê-lo directamente através do teclado, o texto não consegue “tocar” quem quer que seja, ainda que esteja muito bem escrito e que o conteúdo seja profundo. Há emoções que só se conseguem transmitir através da pena, do extravasar dos nossos sentimentos postos no papel pela mão que segura a caneta. Para além do mais, onde existe romantismo numa carta enviada por mail?

Anónimo disse...

Agora fui relegado para a ala dos desalmados?


Ideias românticas à parte, agora pergunto eu: quando lêem um livro, cujo o conteúdo vos toca fundo, ele toca menos por estar impresso numa folha?

Ou preferiam que tivesse sido escrito à mão pelo autor?

Teria mais significado assim, ou afinal o que toca mesmo é o que está lá escrito?

E o que é que muda se o mesmo acontecer na internet? O sentimento perde-se na rede?


Não creio.

Anónimo disse...

Quando vejo um texto já impresso, no jornal, num mail ou numa folha, o que eu avalio é se tem ou não o “tal sentimento”, a tal alma. Nalguns consigo sentir-lhe o espírito, noutros não. O que eu digo é que quando se escreve directamente no papel há muito mais possibilidade das tais emoções virem a ser reflectidas.
Agora essa das “ideias românticas à parte”, vai-me desculpar mas, se não houver romantismo na nossa vida para que é que ela serve?

Anónimo disse...

De "ideias românticas" a "romatismo" vai um passo de gigante, mas essa é uma conversa diferente. Tal como "para que serve a nossa vida?".

Resumindo e baralhando, acho que já estava mais que na altura de o selo calçar umas pantufas confortáveis e sair de manhã para ir ver as obras.

Anónimo disse...

Como é que se consegue comparar um livro, ou um jornal, ou seja o que for que é dirigido a leitores não identificados, com uma carta que é dirigida a alguem em particular? Não lhe chamaria falta de sentimento, mas pelo menos muita falta de atenção!!!!

Anónimo disse...

É perfeitamente comparável, quanto mais não seja no contexto que referi. Se tivermos em conta que o sumo está na mensagem e não no meio, que está na palavra e não no seu suporte.

Uma carta que me esteja dirigida, em nada me garante, à partida, que me vá tocar. Pelo menos não mais que um livro.


Além de que os livros, apesar de não estarem endereçados concretamente a alguém, muitas vezes têm um público definido, e é quase como se tivessem sido escritos directamente para essas pessoas. Mas entendo que este ponto seja, no mínimo bastante discutível.


Como também compreendo que seja chocante para muita gente ouvir alguém falar com alguma frieza e distanciamento de assuntos sensíveis ou de uma natureza mais emocional. Acreditem que é apenas uma frieza ilusória. Uma arma para não cair nos sufocantes lugares-comum das ideias românticas.




O que quero dizer é, essencialmente, o seguinte: todas as pessoas são diferentes. Cada uma tem a sua forma de se deixar levar. Eu sou das que dá mais importância à mensagem e à ideia. Não podemos é querer que toda a gente dê valor às mesmas coisa na mesma medida.

Anónimo disse...

Porco, estou contigo. Espera que consigas sentir o meu apoio fraterno nestas palavras.
Maria e Suponhamos, estou à vontade para vos chamar tótós e outras coisas piores. Afinal de conta, se isto não for escrito à mão, não vos toca. Assim, cá vai:
TÓTÓSSSSSSS!!!

Anónimo disse...

Finalmente, luz!


Alguém que também não grama lamber selos.

Anónimo disse...

À mão ou no teclado a falta de educação é sempre dispensável. Além disso, há que haver capacidade para aceitar opiniões diferentes das nossas, e não me parece que o porcos no espaço precise desse tipo de apoio.

Anónimo disse...

Boa, Maria, não posso estar mais de acordo contigo. E, quem consegue exprimir um ponto de vista, como o fizeste, de uma forma tão simples e tão directa, não necessita sequer de o escrever à mão.

Anónimo disse...

Parece que fiz passar o meu ponto de vista. O conteúdo sobrepõe-se à forma.