quinta-feira, setembro 30, 2010

O silêncio das palavras


“…Depois a subida a pé até ao cemitério, em silêncio de palavras … Impressionou-me aquela timidez respeitosa perante a solenidade da morte …”

Tocou-me a descrição que eu vi escrita algures sobre a atitude assumida, durante um funeral, por quem se ia despedir de um ente querido. Talvez porque não estamos habituados a presenciá-la, pelo menos nos centros urbanos. Sempre que vou a velórios ou a funerais, assisto a animadas cavaqueiras de pessoas que já não se encontram há tempos e que aproveitam a oportunidade para pôr a conversa em dia, para contar as últimas ou para tratar de assuntos, porventura importantíssimos, que não tiveram outro tempo ou espaço para serem debatidos. Murmúrios que vão subindo de tom até o deixarem de ser.

Questiono-me muitas vezes sobre tamanho desrespeito. E não compreendo porque se ignora o recolhimento necessário e que aquele é o lugar para homenagear o falecido e a sua família. E deparamos apenas com o ruído (demasiado alegre por vezes) em vez do “silêncio das palavras”. Dá que pensar.


1 comentário:

Anónimo disse...

Noutros países a morte é encarada de outra forma...festeja-se a vida que o falecido teve, fala-se sobre ele, come-se e bebe-se em sua homenagem. No nosso não. Tem que estar tudo caladinho e muito choroso ou então conclui-se que não se está triste ou até que estamos felizes porque alguém morreu.
Não encaro a conversa entre os presentes como um desrespeito. Pode haver desrespeito, mas não tem que o ser e muitas das vezes não é.