quinta-feira, março 13, 2014

Renegociar a dívida? Nem pensar!



Ainda ontem eu mencionava aqui o chamado "Manifesto dos 70", subscrito por individualidades de várias tendências e hoje tenho que voltar ao tema para comentar a afirmação de Passos Coelho no discurso de abertura de uma conferência organizada pelo Jornal de Negócios e pela Rádio Renascença:


"Renegociar a dívida? Nem pensar! Isso está totalmente fora de questão".


Embora com outro estilo, percebi a mesma "segurança" e a mesma teimosia que já tinha ouvido a Sócrates e que Passos tanto criticou enquanto líder da oposição. E, confesso, tenho dificuldade em entender as pessoas que se julgam detentoras da verdade absoluta e não ouvem (não querem ouvir) os argumentos de quem não concorda com elas. Como ficou claro nesta conferência quando o Primeiro-Ministro manifestou espanto por personalidades tão bem informadas estarem a levantar a questão quando Portugal está regressar aos mercados e ao crescimento.


É que uma coisa é defender convicções, outra é o autismo que roça a arrogância e que subestima quem deles discorda.


Posso até questionar se este foi o momento próprio para a apresentação do documento. Não posso, porém, admitir que Portugal fique eternamente refém da vontade dos nossos credores e dos mercados. Temos feito um esforço enorme para cumprir mas, certamente, teremos que fazer mais e melhor. Mas temos necessidade de mais tempo. Não foi, afinal, o que aconteceu com a Alemanha após a II Grande Guerra? Convém lembrar que 50% da enorme dívida contraída pelos alemães foi perdoada e o restante valor foi reescalonado para ser pago em 30 anos e, mesmo para uma parte desse montante, o período foi ainda mais alongado. E convém recordar também que o acordo entre os credores dos alemães teve em consideração três princípios:


1. Perdão/redução substancial da dívida;


2. Reescalonamento para um prazo longo;


3. Prestações adequadas ao poder de pagamento do devedor.


Bem sei que outras foram as circunstâncias e outros os intervenientes. Contudo, seria bom que pelo menos os dois últimos requisitos fossem também assegurados aos países agora em dificuldades. Tanto mais que, no que nos diz respeito, o "Manifesto dos 70" é bastante claro ao afirmar que não se pretende redução da dívida. Queremos apenas honrar os nossos compromissos mas ... com um prazo mais razoável.


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