Não posso deixar de dar uma resposta a um comentário que foi feito ao texto publicado ontem, sob o título Santa Ignorância!
Meu Caro Ignorante, felizmente que TODOS somos bastante ignorantes em muitas matérias, o que, de certa forma, nos dá um gozo especial em irmos aprendendo sempre um pouco mais durante a vida toda.
Mas se, por um lado, nunca apontaria o dedo a um ignorante que mostrasse vontade de conhecer um pouco mais, por outro ficaria um deveras abespinhado se essa pessoa se mostrasse um pouco arrogante. O que me pareceu ser o seu caso, ao tentar branquear um compositor que foi de facto grande e que, se calhar, não teve mais reconhecimento público porque o Estado Novo não o deixou. Ainda assim, se procurar bem na net, acabará por recolher informação abundante sobre Jorge Peixinho.
Para quem nem sequer sonhava que houve um compositor e músico chamado Peixinho, não valerá a pena mencionar outros nomes, nacionais ou estrangeiros, com quem ele aprendeu e tocou. Nomes bem conhecidos por quem se interessa por música erudita.
Bastará, portanto, que lhe diga que Jorge Peixinho terminou em 1958 o Curso Superior de Piano no Conservatório Nacional. Como bolseiro da Fundação Gulbenkian, aperfeiçoou-se em Composição em Roma entre 1959 e 1961. Frequentou na década de1960, os cursos internacionais de composição de Darmstadt, onde participou em obras colectivas orientadas por Stockhausen. Em Lisboa, Peixinho divulgou, com grande escândalo, a música de John Cage (1961, 1964) e dirigiu cursos de música contemporânea. Em 1970, fundou o influente Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, que dirigiu até à sua morte, tendo-se apresentado com ele em diversos países da Europa e da América do Sul.
Jorge Peixinho recebeu vários prémios nacionais de composição:
Mas se, por um lado, nunca apontaria o dedo a um ignorante que mostrasse vontade de conhecer um pouco mais, por outro ficaria um deveras abespinhado se essa pessoa se mostrasse um pouco arrogante. O que me pareceu ser o seu caso, ao tentar branquear um compositor que foi de facto grande e que, se calhar, não teve mais reconhecimento público porque o Estado Novo não o deixou. Ainda assim, se procurar bem na net, acabará por recolher informação abundante sobre Jorge Peixinho.
Para quem nem sequer sonhava que houve um compositor e músico chamado Peixinho, não valerá a pena mencionar outros nomes, nacionais ou estrangeiros, com quem ele aprendeu e tocou. Nomes bem conhecidos por quem se interessa por música erudita.
Bastará, portanto, que lhe diga que Jorge Peixinho terminou em 1958 o Curso Superior de Piano no Conservatório Nacional. Como bolseiro da Fundação Gulbenkian, aperfeiçoou-se em Composição em Roma entre 1959 e 1961. Frequentou na década de1960, os cursos internacionais de composição de Darmstadt, onde participou em obras colectivas orientadas por Stockhausen. Em Lisboa, Peixinho divulgou, com grande escândalo, a música de John Cage (1961, 1964) e dirigiu cursos de música contemporânea. Em 1970, fundou o influente Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, que dirigiu até à sua morte, tendo-se apresentado com ele em diversos países da Europa e da América do Sul.
Jorge Peixinho recebeu vários prémios nacionais de composição:
O Prémio do Conservatório Nacional em 1958,
o Sassetti em 1959,
o da Casa da Imprensa em 1972,
o Gulbenkian em 1974,
o da S.P.A. em 1976 (duas categorias),
o do Conselho Português da Música em 1984,
o da S.P.A. em 1985 (categoria de música de câmara) e, finalmente,
o Prémio Joly Braga Santos em 1988.
Foi professor no Conservatório de Música do Porto (1965-1966) e na Escola de Música do Conservatório Nacional em Lisboa (1985-1995).
Quanto à sua obra, cuja criação esteve sempre sujeita à censura do regime anterior, a sua peça mais emblemática teve o nome de CDE. Jorge Peixinho escolheu a sigla CDE, não apenas pelas óbvias motivações políticas, mas, também, segundo as suas palavras, "identificando-a musicalmente à designação das notas na terminologia germânica: (DÓ= C) (RÉ= D) (MI= E)", sendo nessa identificação que reside "o princípio estrutural sobre o qual assenta toda a organização formal". De notar que, todos os especialistas, consideraram esta composição inteligente e criativa
Mas as suas preocupações de carácter político manifestou-as igualmente noutras composições em que também provou que a mais inteligente música instrumental consegue evidenciar essas mesmas preocupações. É esse o caso de:
Quatro Peças Para Setembro Vermelho (1972),
Morrer Em Santiago (1973),
A Aurora do Socialismo,
e "Madrigale Capriccioso" (1975),
Elegia a Amílcar Cabral (1973),
E a banda sonora que compôs para o filme Brandos Costumes, de Alberto Seixas Santos (1972).
Como vê, Jorge Peixinho é, indubitavelmente, um compositor contemporâneo e tenho pena que as escolas, as televisões e os meios de comunicação em geral, não divulguem este português que foi, de facto, notável.
Espero que tenha conseguido responder às suas interrogações.
Foi professor no Conservatório de Música do Porto (1965-1966) e na Escola de Música do Conservatório Nacional em Lisboa (1985-1995).
Quanto à sua obra, cuja criação esteve sempre sujeita à censura do regime anterior, a sua peça mais emblemática teve o nome de CDE. Jorge Peixinho escolheu a sigla CDE, não apenas pelas óbvias motivações políticas, mas, também, segundo as suas palavras, "identificando-a musicalmente à designação das notas na terminologia germânica: (DÓ= C) (RÉ= D) (MI= E)", sendo nessa identificação que reside "o princípio estrutural sobre o qual assenta toda a organização formal". De notar que, todos os especialistas, consideraram esta composição inteligente e criativa
Mas as suas preocupações de carácter político manifestou-as igualmente noutras composições em que também provou que a mais inteligente música instrumental consegue evidenciar essas mesmas preocupações. É esse o caso de:
Quatro Peças Para Setembro Vermelho (1972),
Morrer Em Santiago (1973),
A Aurora do Socialismo,
e "Madrigale Capriccioso" (1975),
Elegia a Amílcar Cabral (1973),
E a banda sonora que compôs para o filme Brandos Costumes, de Alberto Seixas Santos (1972).
Como vê, Jorge Peixinho é, indubitavelmente, um compositor contemporâneo e tenho pena que as escolas, as televisões e os meios de comunicação em geral, não divulguem este português que foi, de facto, notável.
Espero que tenha conseguido responder às suas interrogações.
5 comentários:
Tentei branquear? Curioso! Eu apenas constatei que nunca tinha ouvido falar dele, o que é triste pois deviamos ter orgulho caso um dos maiores compositores do século XX tenha sido português.
A informação que expôs é fácil de encontrar na net, o que eu disse é que não associo uma obra ao autor, não há uma música que eu conheça e que agora diga: "Ahh, afinal isto é do Peixinho!". Mas sim, não sou um especialista em música erudita. Mas também não sou um especialista em poesia e reconheço que Fernando Pessoa foi um dos maiores poetas do século XX. Tal como não sou especialista em futebol e reconheço que Eusébio foi dos maiores futebolistas do século XX.
Terá sido Jorge Peixinho um dos maiores compositores do século XX, ou é apenas como o Joaquim Agostinho? Destacou-se da vulgaridade da concorrência em Portugal e teve algum reconhecimento internacional, mas está longe de ser dos maiores ciclistas do século XX.
Não leve a mal, esta comparação é honrosa, podia dizer a mesma coisa mas colocando o nome Pedro Lamy, o que seria um pouco pior, penso eu.
Devo confessar a minha ignorância relativamente à obra de Jorge Peixinho.
Já tinha ouvido falar no seu nome, mas à semelhança do comentário do "Ignorante", agora menos ignorante (cujo comentário não me passou arrogância), também não o associo a nenhuma música.
Agora pergunto, é culpa minha de não conhecer Jorge Peixinho, ou dos meios de comunicação que, como dizes, o esqueceu?
É que o título do post anterior, "Santa Ignorância", parece que inquire hostilmente as pessoas, como se estivesse a dizer "Jorge Peixinho - O Grande! - uma das maiores figuras do século XX português! Mas afinal onde é que tens andado estes anos todos?!"
Também não sou especialista em música dita erudita, mas se me falares em Maria João Pires, saberei quem é. Eu e muita gente.
Pondo a questão em perspectiva, terá sido Jorge Peixinho uma figura assim tão grandiosa a ponto de escandalizar por haver quem não o conheça?
Caro “Um pouco menos ignorante”
Em primeiro lugar não fiquei zangado com o seu comentário. Talvez eu tivesse exagerado quando disse que tinha notado nas suas palavras um pouco de arrogância e de querer branquear um nome como aquele de quem estávamos a falar. Peço-lhe desculpa por isso.
Depois, o que disse é que JP foi um dos mais importantes compositores portugueses contemporâneos.
Quanto à informação que foi dada neste segundo texto, nomeadamente no que diz respeito às obras que JP compôs, é apenas um resumo daquilo que, de facto, pode encontrar na net.
Relativamente à música de Peixinho é, na verdade, uma música vanguardista, complexa e que não é acessível a muita gente, pelo que, é natural que não consiga associar a música ao autor. Mas isso eu entendo. O que eu queria dizer é que é bom que se saiba que existiu um tal músico, ou engenheiro, ou arquitecto ou pintor, embora muitas vezes não se conheça em pormenor ou não se consiga associar certas obras aos seus autores. Eu nunca fui a Brasília mas sei que existe uma pessoa chamada Óscar Niemeyer, que, por acaso, foi quem a desenhou.
- Quanto aos dois nomes que referiu, Eusébio e Joaquim Agostinho, o primeiro foi sem dúvida um dos melhores futebolistas do mundo (e arredores, digo eu) e, o segundo, foi o melhor ciclista do seu tempo em Portugal e teve grande relevo nas voltas a França em que participou.
A terminar, quero dizer-lhe caro amigo (ou amiga) que, apesar dos nossos pontos de vista, foi bom conversarmos e foi muito grato para mim reparar que de “ignorante”, com que assinou o seu comentário na sua primeira intervenção, passou para “um pouco menos ignorante” na segunda.
Foi um prazer e apareça sempre.
Caro “porcos no espaço”
Penso que já disse quase tudo o que havia para dizer sobre o assunto. Não quero, no entanto, de deixar de responder ao teu comentário e de sublinhar aquilo que afirmei no meu texto de ontem. TODOS somos ignorantes em muitas áreas do conhecimento, mas, sinceramente, eu não fico diminuído nem ofendido por não saber determinada coisa, tenho, antes, a atitude de procurar informar-me e aprender, por forma a saber um pouco mais.
É certo que fiquei demasiadamente admirado por ver uma plateia, constituída por pessoas de várias gerações, desconhecer o nome de um músico contemporâneo, compositor e pianista, e que, em abono da verdade, foi importante no universo português da música erudita.
Já não me admiraria tanto o desconhecimento de certa camada da população sobre a figura de Sergei Rachmaninoff. E nós dois sabemos que Rachmaninoff foi um enorme compositor, pianista e maestro russo, muito embora – nós próprios - não consigamos dizer de cor o que é que ele compôs.
Quanto a Maria João Pires, que eu adoro, e que é uma das mais extraordinárias pianistas portuguesas de sempre, neste caso é mais fácil conhecê-la porque, para além dos meios de comunicação social falarem mais vezes nela, não se nos coloca a questão de saber quais são as suas obras mais representativas, apenas, e só, pelo simples facto de que não é compositora.
Um abraço amigo
Gostei do debate travado em torno do nome de Jorge Peixinho. Tudo isso teve uma enorme contribuição para que a obra dele continue viva.
Parabéns a todos
Donizete Peixinho
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