O primeiro dia de cada ano costuma ser uma excelente data (como muitas outras, de resto) para se dar início a uma actividade ou para pôr termo a qualquer coisa que há muito pretendíamos fazer mas que, por falta de vontade ou de oportunidade, ainda não tínhamos conseguido.
Na verdade, 1 de Janeiro de 2008 constitui uma data marcante para mim. Por duas razões.
A primeira é que depois de uma relutância assumida de vários anos, resolvi inscrever-me num ginásio onde o exercício físico me ajudará a ter mais e melhor saúde. Espero!
A segunda razão tem a ver com o facto de, finalmente, ter deixado de fumar. Não que me faltasse a força de vontade para o fazer, nada disso. Aliás, eu até nem nunca fumei. Pelo menos de uma forma activa, muito embora tivesse durante muitos anos fumado dos cigarros dos outros. Isto porque nunca tive a força ou a persuasão suficiente para convencer amigos, colegas e desconhecidos a deixarem de fumar nos mesmos espaços que eu frequentava, quer os de lazer quer os de trabalho.
E sempre que tentava demovê-los de acender os cigarros – quase sempre em tom conciliatório, “às boas”, como se costuma dizer – acabava por ouvir “bocas” do tipo
“olha, se não estás bem, muda-te”, ou
“és um felizardo, estás a fumar e ainda por cima de borla”.
Anos, foram anos que, de uma forma passiva, fui fumando centenas, milhares de cigarros, cigarrilhas, cachimbadas e charutos.
Sem o desejar e com o desprazer de quem se sente mal perante o fumo incómodo, sempre tive a consciência que toda aquela nicotina e as demais substâncias nocivas constituíam um grave risco para a minha saúde.
E a liberdade que tantos fumadores apregoavam como sendo unicamente sua e o direito de se matarem entre as nuvens de fumo, espezinharam sempre, sem qualquer consideração, a minha vontade de não querer pertencer ao grupo das chaminés fumegantes e impediram-me de poder exercer a minha liberdade de escolha. A de não querer fumar, mesmo sendo de borla.
Agora que o tormento acabou, por força da lei antitabágica que entrou em vigor no primeiro dia do ano, não posso deixar de sorrir perante todo o tipo de argumentos aduzidos pelos fumadores. Do género:
“que as liberdades pessoais e o livre direito de escolha estão a ser desrespeitados pelo governo e por uns quantos não fumadores" que, por acaso, até são a esmagadora maioria;
“que vivemos numa ditadura mascarada de democracia, onde as pessoas vêem restringidas as suas vontades”.
Ou, ainda, opiniões fundamentalistas como a de Miguel Sousa Tavares que no Expresso desta semana dizia: “Só alguém com sérios problemas mentais poderia ter feito esta lei antitabaco. E só uma Assembleia de deputados incompetentes e sem coragem nem vontade própria a poderia ter aprovado. É uma lei à medida de um país de polícias e de eunucos”.
Liberdade? Ditadura? Lei elaborada por débeis mentais? Mas será que os fumadores que consideram a nova lei como “fascisoide”, só agora falam em falta de liberdade quando antes nunca pensaram naqueles que eram obrigados a partilhar o seu vício de fumar, contra vontade e com prejuízo da sua própria saúde? Onde é que, então, ficava a liberdade de quem não queria fumar?
Provavelmente esqueceram-se que durante anos a fio lançaram miríades de baforadas de fumo sobre os desgraçados que trabalhavam a seu lado, que ocupavam a mesa mais próxima no restaurante ou sobre aqueles que, na pastelaria, apenas tentavam tomar o pequeno almoço tranquilamente.
A partir de agora, existe uma lei equilibrada e que estabelece regras que defendem os direitos de fumadores e não fumadores.
Repito, a lei respeita os direitos de fumadores e não fumadores, uma vez que dá liberdade a quem queira continuar a fumar de o fazer mas ... em sítios que não prejudiquem a saúde dos que não querem fumar.
Pena é que o bom-senso e o respeito que há muito se exigia, só se verifique agora porque uma lei a isso obriga.
1 de Janeiro de 2008. Deixei de fumar!
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