sexta-feira, abril 24, 2015

"Sacrifícios" ...



Eu sei que as empresas privadas podem pagar aos seus colaboradores o que lhes der na real gana mas, mesmo assim, acho completamente descabido - porque estamos em Portugal, onde o ordenado médio não chega aos mil euros mensais - que se pague, por exemplo, ao Presidente da EDP, um montante que vai dos 600 mil a 1,9 milhões de euros por ano, o que quer dizer que, António Mexia ganha por dia, no mínimo, 1 644 euros. Um absurdo.

Nas empresas públicas, embora estejamos a falar de uma escala completamente diferente (mas em que já entra o dinheiro dos contribuintes), existem situações que me deixam igualmente perplexo. Todos se lembrarão de, há anos, Cavaco Silva ter declarado, naquele seu jeito provinciano, que o dinheiro que recebia "quase de certeza, não vai chegar para pagar as minhas despesas". Cavaco, recorde-se, prescindiu do seu vencimento de Presidente da República (6 523,93 euros) para acumular duas pensões: a de professor catedrático na Universidade Nova de Lisboa e a de reformado do Banco de Portugal, que juntas, totalizam 10 042 euros por mês.

Volto a lembrar que neste país o ordenado médio não chega aos mil e o fisco considera ricos aqueles que têm ordenados acima dos mil e quinhentos euros. Pois neste mesmo país, um senhor chamado Gonçalo Reis foi há pouco nomeado para Presidente da Televisão pública, em troca do qual vai receber um ordenado “desvantajoso em termos financeiros”, segundo afirmou. E para poder ganhar os 10 mil euros mensais - mais do que o primeiro-ministro - o Governo teve que "encaixar" a situação no regime de excepção previsto no Estatuto do Gestor Público.

Dinheiros à parte (porque o homem é capaz de ser um génio e merecer cada cêntimo que vai receber), o que me incomodou mais foi a declaração de Gonçalo Reis que dizia “o convite que recebi é desafiante em termos de gestão, mas desvantajoso em termos económicos face à minha situação no sector privado, pois o tecto atribuído é bastante inferior à remuneração que vinha auferindo”. Que chatice, digo eu. Então e agora como é que ele vai viver com um salário tão reduzido? Ou será que alguém o obrigou a aceitar aquele cargo tão mal remunerado? Mas se aceitou, porque é que não ficou calado?

Uma nota final para referir que o seu antecessor, Alberto da Ponte, tinha abdicado do tal regime de excepção, muito embora ganhasse bastante mais no cargo de gestão internacional que detinha no grupo cervejeiro Heineken antes de ir para a RTP. Enfim, são os "sacrifícios" que se fazem em nome da Nação ...

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