quarta-feira, setembro 03, 2008

Ainda o discurso do Presidente Cavaco

Já passou um mês após o discurso à Nação do Presidente da República, cujo o anúncio, se bem se lembram, alimentou um dia inteiro de especulação e criou enormes expectativas nos portugueses. Esperava-se que ele falasse em cenários horríveis que estariam em risco de acontecer ou, no mínino, que viesse dizer aos seus humildes súbditos coisas que eles estivessem realmente interessados em ouvir, por serem, afinal, assuntos que mexem no dia-a-dia das pessoas.

Mas o Presidente interrompeu as suas merecidas férias para, à hora de abertura dos telejornais, enviar recados ao país, melhor dizendo, à classe política, sobre o estatuto político-administrativo dos Açores, assunto muito importante sem dúvida mas que, para a maioria dos portugueses, não significa rigorosamente nada.

Num magistral artigo de opinião de Clara Ferreira Alves, num Expresso do princípio do mês, lia-se:

“Desde que o Presidente Cavaco foi eleito ainda não lhe ouvi uma palavra de jeito. O Presidente alinhava umas palavras em forma de discurso, soletra umas solenidades de circunstância, meia dúzia de lugares-comuns de sensatez e outras tantas banalidades, junta uma pitada de preocupação e vago fervor patriótico, acrescenta umas generalidades institucionais e já está.”

E, mais à frente:

“... é mais uma cena paroquial e uma anedota de Verão. Não estava à espera que ele fosse falar sobre o mundo complexo em que vivemos e vamos viver, com a perspicácia e a inteligência de um homem de Estado. Podemos tirar o rapaz de Boliqueime mas não podemos tirar Boliqueime do rapaz, dir-se-ia com crueldade. O Presidente Cavaco é um rapaz de Boliqueime e isso não é uma coisa boa. Nem má. É o que é. Num grande país europeu como a França, a Alemanha ou a Grã-Bretanha, Cavaco seria um apêndice, nunca um órgão político.”


A verdade é que a inquietação que o anúncio do discurso que o Presidente acabou por fazer à noitinha, provocou-me durante todo o santo dia uma enorme ansiedade e desorientação. A tal ponto que conseguiu baralhar o arrumo das malas que estavam a ser preparadas para viajar no dia seguinte. E, mais do que o desinteresse que teve o tal discurso, esse tempo que me fez perder, isso eu não lhe perdoo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Acho que o escritor americano Mark Twain não estaria a pensar no nosso Presidente quando disse:

“É melhor ter a boca fechada e deixar os outros pensarem que somos tontos, do que abrir a boca e acabar com a dúvida”.

Ou já estaria?

Anónimo disse...

Temos que registar também o discurso do PR, há dias, sobre a onda de violência que tem invadido o país. De salientar que a sua preocupação não é bem por causa dos portugueses e da insegurança em que vivem. Não, o que ele receia de facto, é o efeito que o fenómeno pode provocar no estrangeiro e nos estrangeiros que nos visitam.

Palavras para quê?

Anónimo disse...

Cavaco não é rei, como tal não somos seus súbditos. Se o Desmacarenhas é, não queira incluir os outros.

Depois, a Clara Ferreira Alves é uma ignorante pretensiosa.
"Podemos tirar o rapaz de Boliqueime mas não podemos tirar Boliqueime do rapaz, dir-se-ia com crueldade."

Ou seja, como Cavaco não nasceu na capital mas sim numa aldeia, nunca terá a sofisticação intelectual da senhora Clara e dos seus amigos.

"Magistral artigo"? A Clara debita, tal como ela diz de Cavaco, banalidades. Por exemplo "ainda não lhe ouvi uma palavra de jeito." ou "Num grande país europeu como a França, a Alemanha ou a Grã-Bretanha, Cavaco seria um apêndice, nunca um órgão político." Como diria como diz qualquer emigrante (ou não emigrante), "lá fora é que é bom".

Sim, sou eu, não preciso assinar.