segunda-feira, março 12, 2007

O julgamento


Recordo-me de um concurso que passou na televisão há alguns anos, que se chamava, salvo erro, “A Cadeira do Poder”, apresentado por Artur Albarran, e onde também participava a agora vice-presidente do PSD, Paula Teixeira da Cruz. Nesse programa os concorrentes “vestiam a pele” de políticos e o intuito de cada um deles era o de, através dos seus argumentos, levar de vencida os respectivos adversários. Se bem me lembro, chegou a haver debates muito interessantes.



Talvez por influência desse programa de TV, ou pelos muitos “Big Brothers” que encheram noites e noites de televisão, o Major Valentim Loureiro apareceu em várias manchetes de jornais, nestes últimos dias, a dar conta que, uma vez que tem mesmo que ser julgado, então que o julgamento seja público e através da ... televisão.



Com excepção daqueles julgamentos em que o número de arguidos, de advogados e de testemunhas é tão grande que não cabem numa vulgar sala de audiências, por maior que ela seja, e por isso têm que recorrer a outras salas mais amplas, normalmente em salões de bombeiros ou de juntas de freguesia, que eu saiba, os julgamentos em Portugal fazem-se nos tribunais.

Mas Valentim Loureiro, ao seu jeito, e com a impetuosidade e o calor verbal que se lhe conhece, tratou de contra-atacar fortemente o ter que ser julgado, considerando o procurador de Gondomar que efectuou a investigação “um romancista, e o juiz que o vai julgar de ser ainda mais “ficcionista” que o próprio procurador. Aos olhos de muitos, um contra-ataque de manifesto desespero.

E, com este estado de alma, tratou de lançar o repto:

“Quero ser julgado publicamente. Já os desafiei a levarem advogados e juizes para me julgarem na televisão. Já percebi que os tribunais não me levam a sério”.

O Major que é acusado de 27 crimes e que jura a pés juntos que não se vai demitir dos cargos que ocupa, o do Metro do Porto e o de Presidente da Câmara Municipal de Gondomar, gostaria, se chegasse a ser julgado na televisão, de conseguir o mesmo resultado que obteve na última eleição para a Câmara,

“Quando votaram, os gondomadorenses que me deram a maioria, já conheciam todas as acusações”.



É precisamente nisso que Valentim está a apostar. Querer ser julgado na TV para, com a força incontestável do seu mediatismo, tentar convencer os juizes da bondade da sua argumentação.

É certo que não pode, agora, recorrer à velha manobra de oferecer electrodomésticos aos seus munícipes, mas continua a acreditar que o seu ar desafiador e confiante junto de milhões de telespectadores, possam influenciar, de alguma forma, a decisão dos juizes.

Eu creio, Major, que ninguém lhe vai dar essa oportunidade. Nem mesmo acreditando na sua afirmação de que os tribunais não o levam a sério. Eles, lá saberão porquê.

Acima de tudo, a decência e o bom senso impedem certamente que a sua vontade se realize. O julgamento deverá ser feito, sim, mas no tribunal. E é aí que o senhor vai ter que convencer os juizes da sua inocência.



2 comentários:

Anónimo disse...

É o verdadeiro artista português!


A par de Felgueiras e Jardim, devia ser incluído num case study sobre a corrupção, carisma e latosa descomunal.

Temos muito a ensinar aos finlandeses.


E talvez uma coisita ou outra a alguns sul-americanos.

Anónimo disse...

Se não sabiam ficam agora a saber que a RTP assegurou hoje a transmissão em directo e em exclusivo dos julgamentos de Valentim Loureiro e de Pinto da Costa.

Caso venham mesmo a efectuar-se estes julgamentos através da TV, eles realizar-se-ão nos novos estúdios da televisão do Estado, recentemente inaugurados.

Não se conhecem ainda quanto é que estes dois artistas vão cobrar pela sua participação.

Se isto for mesmo para a frente, a RTP está, uma vez mais, a prestar um bom serviço público!