quarta-feira, março 28, 2007

O Maior Português de Sempre


Apesar de, em termos políticos, esta semana ter sido, ao que parece, bastante agitada, não só pela actividade intensa daqueles que já tinham uma saudade danada em voltar às luzes da ribalta – refiro-me, evidentemente, a Paulo Portas e a Santana Lopes – mas também, pela “peixeirada” que tem havido lá pelo CDS/PP, apesar disso, posso garantir-vos que tive uma semana muito bem passada e que me soube muitíssimo bem.

Agradeço a todos aqueles que tiveram a gentileza de me desejar boas férias e bom regresso. Muito obrigado!


E regressei precisamente no dia em que terminou o concurso da RTP, “O Maior Português de Sempre”. Embora não tivesse acompanhado algumas das sessões, mantive sempre a curiosidade em saber em quem é que iria recair a preferência dos portugueses, quem é que eles iriam considerar como o maior de todos nós.

Pela lista dos dez mais, achei que muitos foram os portugueses ilustres que poderiam figurar nessa galeria de honra, mas admito que não caberiam lá todos. Para já, acho que todos notaram que na lista final faltaram dois nomes incontornáveis e que teriam grandes possibilidades de chegar à vitória final. O meu, como me parece óbvio, e o de Jorge Nuno Pinto da Costa, embora quanto a este último, tivesse lá um homónimo de peso, D. Nuno Álvares Pereira. Mas adiante ...

Este concurso teve o mérito de aproveitar um espaço televisivo de grande audiência para divulgar junto do público, alguns dos maiores vultos da nossa História, e nas mais diferentes áreas, explicando em pormenor quem eram todos eles, o que fazem ou fizeram, o que significam ou significaram para o país e enaltecendo as qualidades e defeitos de cada um. Só por esse facto, o programa merece nota positiva.

Quanto à votação em si, aí a coisa já fia mais fino. Como, de resto, na maior parte das votações, há que ter em conta a personalidade, a cultura (ou a falta dela), a ignorância da história e da própria vida, as opções partidárias e ideológicas, as dificuldades económicas, os ressentimentos, os protestos e até as pressões internas ou externas de quem vota. E, provavelmente, muitas outras explicações se poderiam inventariar para justificar os porquês que levam os cidadãos a votarem desta forma e não de outra.

Eu, por exemplo, teria preferido que tivesse ganho Aristides de Sousa Mendes, exemplo máximo de compaixão e de defesa dos direitos humanos, que demonstrou uma solidariedade única por dezenas de milhares de pessoas que nem sequer conhecia, livrando-as de uma morte certa. Com a sua acção, enfrentou corajosamente o governo de quem dependia, ignorando as suas instruções, e acabando por ser castigado com a pior das penas. Foi completamente esquecido e despojado de todas as suas honras e morreu na miséria. Um grande homem, cujo o bom nome só foi reabilitada depois de 25 de Abril de 1974, que deve merecer o orgulho e a gratidão de todos os portugueses.


Contudo, o resultado foi outro e outro o vencedor. Salazar ganhou o concurso da RTP e foi considerado “O Maior Português de Sempre”. Ainda que para isso, e de acordo com as notícias vindas a público na imprensa, tivesse ajudado as correrias que umas dúzias de cabeças rapadas fizeram pela cidade, fazendo chamadas de diversas cabinas telefónicas públicas, provavelmente para oferecer mais uns votos ao seu líder ideológico.



Mas aquilo que eu considero mais curioso neste resultado, e isto é naturalmente a minha perspectiva, é que tendo sido esta a vitória de Salazar (no concurso), ela foi, provavelmente, a sua pior derrota de sempre.


Salazar conseguiu ser falado, discutido, enaltecido e até ganhar um concurso em plena democracia, um regime que ele nunca permitiu. Um concurso que, com estas características, nunca teria sido possível realizar durante a sua longa ditadura. Esta a sua grande derrota.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não é para qualquer um ser eleito simultaneamente o melhor e o pior de todos.

Já não se fazem ditadores desta categoria.