domingo, julho 22, 2007

O profeta Saramago!

Caiu que nem uma bomba a afirmação de José Saramago que “Portugal acabará por integrar-se em Espanha”, pensamento que, afinal, vem ao encontro da opinião de muitos portugueses que pensam que hoje estaríamos muito melhor de vida se o nosso rectângulo fosse mais uma província espanhola. Não fora aquela maldita Batalha de Aljubarrota e ...

Claro que, nacionalismos à parte, o mundo tem mudado tanto nestas últimas décadas que já não poderemos dizer que isso não venha a acontecer um dia. A continuar esta evolução, sabe-se lá se daqui a uns anos vamos mesmo fazer parte da Espanha ou se Sócrates – teimoso e obstinado, como muitos afirmam ser – não consegue que seja a Espanha que seja integrada aqui no nosso cantinho.




Mas a frase de Saramago
"Não sou profeta, mas Portugal acabará por integrar-se na Espanha", tem, na minha perspectiva a ver com duas leituras possíveis.




A primeira, que o escritor não terá esquecido aquele episódio polémico que inviabilizou a candidatura do seu livro “O Evangelho segundo Jesus Cristo” ao Prémio Literário Europeu e cujos responsáveis máximos foram Sousa Lara e Santana Lopes. Por certo, essas mágoas não foram ainda desvanecidas.




A segunda leitura, tem a ver com o facto de se verificar uma crescente presença de investidores espanhóis em Portugal, que vão tomando conta de parte importante do nosso comércio e indústria e o facto não menos importante de o número de espanhóis a residir no nosso país ter aumentado muito nos últimos anos.




Mas serão estas razões suficientes para justificar uma integração plena do nosso país numa super Espanha tendo, ela própria, grandes problemas com outras províncias que se querem autonomizar (caso do País Basco) ou até tornar-se independentes (caso da Corunha que já manifestou por diversas vezes querer fazer parte integrante de Portugal)?




Mas se Saramago “profetiza” que um dia poderemos ser mais uma província de Espanha em termos políticos e económicos, já quanto aos aspectos culturais é bem mais prudente e refuta essa possibilidade. “Não nos converteríamos em espanhóis”, afirma.




Seria de facto muito difícil que isso acontecesse. Ninguém acredita que deixássemos de escrever e de falar em português e seria praticamente impossível “esquecer” toda a nossa riquíssima História, de um país que deu novos mundos ao mundo e que, embora em moldes e em circunstâncias bem diferentes das actuais, pode-se dizer que foi o país que iniciou aquilo a que hoje se chama globalização ou mundialização.

Mas, imaginemos que um dia essa união se venha a verificar de facto. Numa República Monárquica que seria, provavelmente a primeira de todo o mundo, num território que poderia vir a ter o nome de Ibéria, e com as características bem diferentes dos dois povos, como é que seria formado um governo comum, composto maioritariamente por espanhóis, tendo em conta o seu maior território e população. Não consigo imaginar!

Não esquecendo o caso de Olivença que uns quantos portugueses continuam a afirmar que nos foi roubada e que, por direito próprio, continua a ser território nacional, se tivermos que nos juntar um dia a outro país, para podermos gozar das mesmas regalias que os cidadãos desse país, então que nos juntemos não só a Espanha como também a França, à Alemanha e ao Luxemburgo. Isto porque são países que ficam mais perto de Portugal.

Porque se pudermos ir um pouco mais longe, porque não juntarmo-nos aos países nórdicos?

1 comentário:

Anónimo disse...

Não podia ser mais oportuna a publicação deste post dado que, de acordo com a generalidade das fontes ouvidas pelo jornal espanhol El País, a união ibérica é vista como uma utopia não desejada.

Segundo o correspondente daquele jornal em Portugal, embora os portugueses adorem ir à Zara ou ao Corte Inglês, antes mortos que renunciar à pátria ou à bandeira para se converterem numa comunidade autónoma e fundirem-se num país de 55 milhões de habitantes chamado “Ibéria”.

O que parece ser desejado é a necessidade da intensificação de uma relação cultural mais intensa e recíproca, em que ambos os povos tenham um orgulho comum por Cervantes ou Camões, por Eça de Queiroz ou Benito Pérez Galdós.

Para o catedrático Basílio Losada, uma união política não é possível nem desejável.


Do lado português também houve algumas reacções curiosas. Enquanto D. Duarte, herdeiro da monarquia lusa, frisou estar-se perante "mais uma fantasia de Saramago", a escritora Inês Pedrosa reagiu com humor: "Temo que tenham diminuído as vendas dos livros do mestre."