Não pude deixar de ouvir os comentários de um grupo de senhoras com quem me cruzei numa das escadas do edifício. Dizia uma, entre risos silenciados por uma mão posta a tapar a boca, “senão fosse pelo respeito pelas outras pessoas que ali estavam, juro-vos que tinha desatado à gargalhada…”
Se calhar tinha razão para isso … ou talvez não. Estávamos no Museu de Arte Contemporânea de Serralves e, como todos sabemos, a chamada “arte contemporânea” quase sempre provoca as mais díspares reacções. Uns gostam, outros nem tanto, outros, ainda, simplesmente não chamam “arte” àquele tipo de manifestação artística.
E, na verdade, estar-se-á longe de saber se poderemos considerar “arte” qualquer obra que resulte da criação de um artista.
Esta tem sido uma preocupação ao longo dos tempos, discutida por sectores um tanto ou quanto intelectualizados, mas que vem ao encontro daquilo que as pessoas, as pessoas comuns, pensam deste tipo de obras, e que, no fundo, poderá ser, tão-somente, uma questão de sensibilidade e de gosto, dos olhos que as contemplam.
Mas eu percebo, e digo-o francamente porque eu próprio a senti, a perplexidade, para não dizer outra coisa, daquelas senhoras, quando deram de caras:
- com uma sala completamente despida de objectos, de paredes pintadas de branco e, em três delas, apenas se via escrito em letra miúda:
- “nada que ouvir em sítio nenhum”, numa das paredes;
- “ nada que se mova em sítio nenhum”, na noutra parede;
- “ nada que ver em sítio nenhum”; na terceira parede.
- ou com um quadro pintado de branco que tinha a seguinte legenda “Correcção”.
- ou com uma parede pintada totalmente de branco, que tinha como legenda “Grande Erro”.
- ou com uma estante mal amanhada em madeira, completamente vazia, e cuja legenda rezava “Livros”.
Ou com outros quadros, de pinturas estranhas, que tinham títulos como “A repetição é a alternância do nada”, ou “Não existir outra ordem que a do acaso”, ou ainda, “Todo o texto encerra uma maldição”.
Perplexidade, quem sabe se incredulidade em olhar para “obras” que, em princípio, as senhoras não conseguiam entender como arte.
Provavelmente eu ficaria muito mais bem visto se não confessasse a minha ignorância e falta de sensibilidade nesta matéria, mas, de facto, certos “quadros” e respectivas legendas também me fizeram sorrir.
Mas a obra desta exposição que achei mais emblemática foi a de um tal Ignasi Aballi, intitulada “Desperdiçar”, que era constituída por um conjunto de 20 latas de alumínio (daquelas latas de tinta de 5 litros), em cujos interiores deixaram secar, numas mais noutras menos, 250 quilos de tinta industrial de cor branca.
Perante tudo isto, interrogo-me:
Tendências e conceitos à parte, estamos perante uma Arte ou uma Não Arte?
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