De Eça de Queiroz já quase tudo se disse mas, por vezes, há a necessidade de recordar a sua genialidade e a sua coragem.
Vejam uma passagem de uma entrevista que ele concedeu ao jornal “O Distrito de Évora” … em 1867:
“De uma maneira geral, todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA.
É assim que, há muito tempo em Portugal, são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. Um país que é governado ao acaso, governado por vaidades e interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência da camarilha, será possível que se possa conservar a sua independência?“
Isto foi dito há mais de 100 anos. Façam um esforço de memória e vejam se encontram algumas afinidades com o que se passou aqui em Portugal, nestes últimos 30 anos?
6 comentários:
Mais uma prova da intemporalidade de Eça. Definitivamente temos que convencer a nossa silvestre a ganhar vergonha e lê-lo!!!!!!
A sensação com que fico é que o mérito não deve ir todo para Eça.
Eça relata uma situação que se vivia na altura, e que, acaso ou não, ainda se vive presentemente.
Foi a situação que se manteve inalterada e não Eça que viu mais além.
Se olharmos com atenção para a nossa História, verificamos que sempre tivemos realidades semelhantes ao longo dos tempos. Mesmo antes de Eça. Portugal é rico em períodos de instabilidade, em maus governantes, em desenganos, enfim, infelizmente nada de novo.
Enganos e desenganos é uma expressão tão batida que às vezes já os trocamos. Quis dizer "enganos", obviamente.
Quero lá saber qual é o mérito que se deve atribuir ao Eça ou se teve, ou não, a percepção das situações que os anos vindouros nos trariam. O que me interessa é que o nosso país, em termos de corrupção e de incompetência, está praticamente na mesma do que nos finais do século XIX, e é isso que me desgosta.
Outra coisa é a coragem que o Eça teve para, publicamente, fazer tais críticas (o que naqueles tempos não devia ser nada fácil).
Outra coisa, ainda, foi a forma brilhante como o fez, com dureza mas, ao mesmo tempo, com sagacidade, o que faz do Eça um homem genial e intemporal.
- "Quero lá saber qual é o mérito que se deve atribuir ao Eça"
(...)
- "..o que faz do Eça um homem genial e intemporal."
É exactamente disso que eu falava. Eça não é tão intemporal como o pintam, a situação é que é a mesma desde essa altura.
- "o nosso país, em termos de corrupção e de incompetência, está praticamente na mesma do que nos finais do século XIX"
Aliás, o cenário é semelhante ao do século XIX, como o é em relação a séculos anteriores até. O desgoverno está nos genes de Portugal.
Como canta o outro, "Ah Portugal, Portugal, de que é que tu estás à espera? Tens um pé numa galera, e outro no fundo do mar."
Conheço o autor dos versos a que te referes. Por acaso até é meu primo. Se calhar, e para não ser diferente dos outros que põem os amigos nos píncaros (às vezes até nas administrações das empresas, mas isso não interessa para o caso) um dia destes ainda escrevo alguma coisa sobre o Jorge.
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