Já quase desistira de acreditar que, algum dia, iriam melhorar em Portugal os padrões de higiene no ramo alimentar, tantas e tantas vezes eu tinha assistido ou soubera, de um sem fim de imundícies que se verificavam em restaurantes, cafés, pastelarias e quejandos.
E desesperava porque toda a gente tinha consciência que havia porcaria a mais e fiscalização a menos.
E, ao longo dos anos vi tanta coisa.
Vi, por exemplo, baratas e outros animais rastejantes passearem-se calmamente por cima de balcões, ou pior ainda, por cima de queijo e de fiambre que se preparavam para serem protagonistas de “saborosas” sandes ou tostas mistas.
Vi copos que uma vez despejados de cerveja, eram passados rapidamente por um fio de água corrente para mais rapidamente ainda voltarem a ser cheios de deliciosa cerveja e servidos aos clientes.
Vi colheres de café que, em princípio, só serviriam para mexer o açúcar da bica, voltarem a ser colocadas em novas bicas sem sequer passarem por água, mesmo sabendo os empregados que, algumas delas, tinham sido lambidas com deleite por pessoas mais gulosas.
Vi serem servidos bolos com tenazes que tinham caído ao chão e que não foram lavadas antes de voltarem a servir.
Vi serem confeccionadas sandes com produtos que nitidamente não estavam nas melhores condições.
Estou mesmo a ver que, neste preciso momento, alguém estará a pensar que tudo isto se passou há “séculos”, tanto mais que, felizmente, nestes últimos anos, é notório que há muito mais cuidado no que respeita à higiene dos estabelecimentos, dos produtos e dos empregados.
É verdade que sim, reconheço que na maior parte dos estabelecimentos os empregados são mais cuidadosos e não se vê porcarias tão aberrantes como as que descrevi. Mas não se iludam, porque há muito pouco tempo e em estabelecimento acima de qualquer suspeita, vi alguns desses mesmos descuidos.
Mas onde, na verdade, eu queria chegar era a isto. Eu pude indignar-me, barafustar e reclamar quando assisti a tais imundícies. Mas, e as que eu e os meus amigos, nunca conseguimos ver porque elas se passavam para além das paredes enfeitadas desses estabelecimentos? Também aí os cuidados que, agora, parece haver à vista de todos, são observados escrupulosamente? Receio bem que não.
Foi, por isso, com enorme surpresa e grande alegria que dei conta que a renovada Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (agora presidida por António Nunes) está no campo, a actuar de facto, e já fez uma série de “estragos” que, espero, continuem para o bem de todos nós.
Para já, são conhecidos os resultados decorrentes de mais de 300 estabelecimentos inspeccionados: 5 detidos, 7 processos-crime, 57 contra-ordenações por falta de higiene e de normas de controlo de qualidade, e foram encerrados restaurantes chineses e roulottes de venda ambulante de cachorros e quejandos.
Mais, nas semanas que antecederam a Páscoa, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, lançou a “Operação Páscoa” e 36 brigadas de inspectores fiscalizaram pastelarias, confeitarias, fábricas de ovos, matadouros de cabritos, borregos e leitões, tudo relacionado com os produtos que a população normalmente consome nesta época, e descobriram de tudo um pouco. Abate clandestino, cabritos e centenas de frangos sem selo oficial de garantia, e a culminar, foram encontrados numa pastelaria da baixa de Coimbra, 400 quilos de produtos estragados, no meio de dejectos de ratos, baratas e muito lixo. E esta, hem?
Vamos lá ver se é desta. Como vêm as minhas preocupações tem razão de ser mas as acções agora efectuadas trouxeram-nos uma nova esperança.
Meus amigos, estamos a falar de saúde pública e de higiene alimentar, quer no que respeita aos alimentos quer quanto aos próprios estabelecimentos que os comercializam. Como cidadãos temos o direito de exigir uma fiscalização actuante e forte.
Esperemos que a força agora demonstrada pela ASAE não perca a validade.
Vamos acreditar.
2 comentários:
Algures na zona do Porto.
Um cliente entra num estabelecimento comercial - um tasco - e olha para o balcão, indeciso.
A dada altura repara nuns rissóis que pareciam ter menos mau aspecto que os restantes produtos ali expostos e resolve perguntar ao empregado qual era o recheio.
O empregado pega num exemplar com uma das mãos. Com a outra, estica o dedo mindinho (exibindo uma unhaca capaz de fazer inveja a muito taxista) e, num movimento já automático, rasga o rissol com a unha, deixando ver o seu interior.
Então o empregado responde: "É de camaroum."
Tenho pena que cenas tão pitorescas e genuínas - e, por que não dizê-lo, javardolas - como esta corram risco de desaparecer.
...Mas como a esperança é a última a morrer, porque antes disso vão os germes, o lado bom é que talvez já possa ir ao Porto mais descansado.
Ai meu Lico chinês,
que tantos desgostos me dás;
Só peLgunto os poLquês,
da desbunda nos AlvaLás.
Estes saboLes exóticos,
de Lefundido fLitado;
São sem duvida heLóicos,
de tão malefico pLepaLado.
Aqui pLó poLtuguês,
tem de paLeceL estuLjão;
Há que fazeL da tLampa Lês,
e do cliente, paLvalhão.
Ai tão Lica cozinha,
que finos pLepaLos, enfim;
Não queiLam vós, a pontinha
do pato moLto à Pequim.
Mutatis mutandis
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