segunda-feira, abril 03, 2006

Felizmente, há mais gente que se irrita


Ao ler a crítica do Miguel Sousa Tavares, publicada no Expresso do último sábado, fiquei muito animado por sentir que não sou o único neste país, a ficar com a cara meio aparvalhada ao saber de certas situações.

Há muito que admiro o MST pela forma como escreve e pela sensatez e lucidez (sem ser cordato, pelo contrário) como aborda os problemas e como desafia certos poderes instalados. E como tem acesso a diversos meios de comunicação, as suas opiniões são, naturalmente, muito mais ouvidas e respeitadas.

Sem audiências que se comparem, tenho tido a preocupação de, neste espaço, manifestar por diversas vezes, não só a minha discordância em relação a muitas coisas que passam neste país, mas, principalmente, tenho tornado pública a minha revolta, a minha estupefacção e a minha indignação por essas mesmas situações. Muitas vezes - recordar-se-ão – chego mesmo a questionar se, por acaso, quem manda não estará a mangar connosco.

Foi, também, o que ele pensou quando escreveu o artigo no Expresso.

Resumidamente, a questão é esta. No ano se 2005 registaram-se aumentos constantes nos combustíveis, os quais foram justificados pelo aumento do petróleo na origem. Até aqui tudo bem, a nós custava-nos um bocado porque nos saía dos bolsos, mas percebíamos. Mas, o que não sabíamos (se bem que muitos já calculavam) é que o aumento que tínhamos que pagar cá, não correspondia inteiramente ao que o Estado tinha que pagar lá. A cada novo aumento, o Estado aumentava correspondentemente as suas receitas fiscais com os combustíveis, e as duas empresas que os exploram em regime praticamente de monopólio – a GALP e a EDP – iam naturalmente aumentando, e de que maneira, os seus lucros. De tal forma que, em 2005, o aumento dos lucros atingiu cerca de 300%

Esta já é uma questão gravíssima mas, atrás dela, vem outra. Como acontece com outras empresas que aqui temos denunciado, a GALP e a EDP perante tais resultados, vão ter que, obviamente, atribuir aos seus gestores, prémios pela sua boa gestão. E, presumo eu, prémios que serão chorudos.

Mas como diz Sousa Tavares:

“a lógica deste negócio é tão genialmente simples que faz pensar se terei percebido bem: “pega-se num produto essencial que é distribuído em situação de quase monopólio; aproveita-se a subida do preço da matéria-prima na origem e sobe-se proporcionalmente o preço do produto final ao consumidor, em lugar de tentar reduzir os custos ou obter ganhos de exploração. No fim do ano, fazem-se as contas e, obviamente, os lucros só podem ser imensos. Então, muito contentes com os resultados, distribuem prémios pela brilhante gestão e pela fabulosa produtividade.”

Daí a pergunta do Miguel Sousa Tavares: Estarão a gozar connosco ou fui mesmo eu que não percebi bem?

Claro que o Miguel percebeu, claro que percebemos todos qual é a lógica e o que ela provoca. Mas, para mim, não existe uma pergunta mas sim uma afirmação, que, talvez por isso, ainda me irrita mais:

“Eles estão mesmo a gozar connosco.”

3 comentários:

Anónimo disse...

E "agente" a ver...!

Anónimo disse...

A única coisa que podemos ir fazendo, uma vez que ainda temos liberdade de expressão, é continuarmos a manifestar a nossa indignação. De resto, porque, na verdade, se estão a borrifar para quem não faz parte do “grupio” nada adianta. Como dizia o outro, falamos, falamos e…

Anónimo disse...

Mesmo assim, é um direito que nos assiste, e eu penso que devemos ir resistindo. E, o Blog é um óptimo meio para o fazer. Vamos a eles.