Poderão achar que não estarei (de todo) bem da cabeça (e se calhar têm toda a razão para pensar assim), mas garanto-vos que já por diversas vezes, quando estou a ouvir um alto responsável do Estado ou de um qualquer grande grupo económico, estou sempre à espera de que ele diga qualquer coisa espirituosa, uma piada que seja, daquelas que, já se vê, seriam politicamente incorrectas e que, obviamente, eles não caiem na asneira de as dizer. No entanto, eu continuo sempre de olho neles …
É suposto, claro, que uma pessoa que é tão importante, seja o mais formal que se possa imaginar, que não cometa deslizes e, sobretudo, estando a falar em assuntos tão transcendentes e em público, não comece com piadas gagas que possam pôr em risco a compostura do acto e a sua própria posição.
Contudo às vezes, os tais deslizes acontecem. Recordo-mo que, há uns anos, um ministro tentou ser engraçado e contou uma anedota sobre alentejanos que faziam hemodiálise, justamente numa altura em que morreram pessoas (por acaso alentejanas) em transfusões com sangue que não estava em condições.
O senhor ministro não só não teve graça, como demonstrou uma imensa falta de bom senso. É que o assunto era demasiado grave, mexia com a saúde (e a morte) dos portugueses, e o resultado não se fez esperar. Foi demitido imediatamente. E bem, digo eu.
Mas mesmo sem estarmos a pensar em pessoas colocadas no topo da pirâmide, lembro que em tempos ainda não muito recuados, não era de bom tom um empregado, qualquer que fosse a sua empresa, ter graça ou contar alguma história que, supostamente, fosse engraçada. Quem tivesse a ousadia de ter alguma piada natural, não era, certamente, o indivíduo indicado para “determinado lugar”. Vi colegas meus serem afastados de postos de responsabilidade só porque, uma vez ou outra, contavam uma laracha.
Felizmente, também nesse aspecto, os tempos mudaram e hoje nada impede que um responsável possa ser um tipo charmoso, engraçado e, ao mesmo tempo, competente.
Apesar de tudo continuam a existir algumas reservas que, lentamente, vão sendo ultrapassadas e, algumas dessas pessoas, reconhecidamente competentes e com classe, vão dizendo o seu dichote, provando que as duas coisas não são, de todo, incompatíveis.
Todo este arrazoado para falar na postura e na formalidade patenteada nos retratos de todos os Presidentes da República, expostos na Galeria dos Presidentes, no Museu da Presidência. Todos eles, com excepção dos dois últimos, Mário Soares e Jorge Sampaio, que aparecem pintados de forma quase surrealista, vivos nas suas expressões, como que a dizer que estes Presidentes também eram gente, e a quebrar com a tradição de décadas, daqueles que os antecederam, com o ar austero, formal e de “Estado”.
Mário Soares escolheu Júlio Pomar para o retratar e Jorge Sampaio elegeu Paula Rego, dois pintores ímpares, nomes grandes da nossa pintura mas de quem, já se sabia, porque se conheciam as respectivas obras, iriam proporcionar-nos uma visão muito pessoal e completamente diferente do que estávamos habituados até então.
E vejam se tenho, ou não, razão. Dos 5 Presidentes que Portugal teve depois da Revolução de Abril de 1974, vejam só a diferença entre a postura dos três primeiros retratados e dos dois últimos.
O que nos faz questionar: Retratos ou Provocações?
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