Sinal dos tempos e do progresso, ou talvez não, a verdade é que a pouco e pouco nos vão tirando muitos daqueles prazeres que “transportámos” da nossa infância mais ou menos longínqua, de tal forma que não tardará muito a darmos razão àqueles que costumam dizer que tudo aquilo de que gostamos ou nos faz mal ou é pecado.
E digo isto porque veio publicitado na imprensa que o próximo alvo da ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica), cuja acção eu até já elogiei aqui, vai ser o de fiscalizar as bolas-de-berlim, aquelas mesmo que, seguramente, fazem parte do imaginário de todos nós.
Quem é que nunca comeu uma bola-de-berlim na praia, depois de um belo banho de mar ou de uns quantos mergulhos? E, digam-me lá, vocês ou os adultos que estavam convosco, será que não desconfiavam já que as bolas, os pasteis de nata, os bolos de arroz, as “línguas da sogra”, toda aquela doçaria que os vendedores transportavam nas caixas de lata, tinham grandes possibilidades de não terem os padrões mínimos de higiene que nos deviam deixar pelo menos um pouco preocupados?
Claro que sim mas, nesses tempos, queríamos lá saber disso. O que nos interessava é que o pregão do vendedor mal soava algures na praia, logo nos fazia puxar pelo braço da mãe ou do pai e nem era necessário dizer o que quer que fosse. Os nossos olhos e o hábito diário já interiorizado por toda a família, eram mais do que suficientes para chamar o vendedor e fazer sair da tal caixa mágica de lata, com a inscrição exterior de “BOLOS”, a deliciosa bola com creme a que o vendedor atenciosamente colocava sobre uma folha de papel pardo demasiado fino que mal conseguia absorver a gordura do bolo. E como eles eram engordurados.
Mas o facto de ter ido ao sótão das minhas memórias não significa que não esteja totalmente de acordo com a preocupação das autoridades em garantir que a higiene dos produtos vendidos na praia seja absolutamente rigorosa.
Sobretudo porque estamos a falar de bolos que têm creme, que muitas vezes não estão devidamente acondicionados e que a areia e o sol são os principais agentes da deterioração invisível do que à vista nos parece tremendamente apetecível.
Só que, nesse meu sótão de recordações, estão lá armazenados outros tempos, outras mentalidades, muitas despreocupações e demasiada falta de informação. Aquela mesma informação que é hoje considerada vital e que, outrora, nem médicos nem as chamadas autoridades competentes lhe ligava a mínima importância. Ou por desconhecimento ou, simplesmente, porque a ciência nessa matéria ainda não era muito avançada.
Então em que ficamos? Deve, ou não, continuar a venda na praia de bolos, gelados, batatas fritas (porque não?) e outros acepipes? Claro que sim, desde que isso seja feito dentro dos padrões de higiene hoje tidos como recomendados. Por isso é que é obrigatório e salutar que a ASAE controle a qualidade dessas verdadeiras preciosidades que, espero, irão continuar a deliciar as actuais e futuras gerações, como sempre aconteceu.
E aquele pregão
“Olha os bolos, olha a bola-de-berlim”
continuará a varrer as praias e a fazer sobressaltar corações.
2 comentários:
Não podemos esquecer que os ambientes estéreis conduzem a seres pouco imunes, portanto mais susceptíveis aos ataques de um qualquer cocos ... enfim, higiene por um lado e pouca resistência, no reverso. Paradigma para algum biologista tecer tese!
Não vou ficar a falar nelas... vou mesmo a elas! ( as bolas claro ...)
Boas férias, com pouca controvérsia ou muita, podem escolher!
Permissa venia (Com o devido respeito)
E é com todo o respeito, vexata, que lhe desejo umas boas férias e que tudo lhe corra bem.
No seu regresso, esperamos poder continuar a contar com a sua presença comentarista sempre tão interessante.
BOAS FÉRIAS!
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