Estamos desde há alguns meses a comemorar os 200 anos da transferência da corte portuguesa para o Brasil, medida que foi tomada para fugir aos efeitos das invasões napoleónicas e poder manter mais ou menos intacta a soberania de Portugal a partir do Rio de Janeiro.
Mas para além do lançamento de um selo comemorativo em Salvador e da presença do Presidente da República Cavaco Silva no Rio de Janeiro, que mais é que sabe a generalidade dos portugueses sobre o que significou, de facto, a ida da corte para o Brasil?
Sem pretender efectuar o relato detalhado dos acontecimentos que podem, eventualmente, ser maçadores para quem não demonstra grandes interesses pelo conhecimento da nossa História, direi apenas que a família real era constituída pela Rainha D. Maria I, o Príncipe regente D. João (futuro D. João VI), sua mulher Carlota Joaquina e todo o seu enorme séquito.
E sobre a figura do rei, a quem muitos consideravam medroso, solitário e que tinha dificuldades em tomar decisões, gostaria de dizer que a sua presença no Brasil veio a manifestar-se muito importante. O Brasil era, nessa altura, uma colónia atrasada e sem identidade nacional. D. João em apenas 13 anos conseguiu transformar esse enorme território, onde as províncias eram rivais entre si, num verdadeiro país. Num país único, com os contornos que hoje tem e com a pujança que se lhe conhece, que sem a sua intervenção poder-se-ia ter transformado em meia dúzia de repúblicas, como aconteceu na restante América espanhola de então.
E é curioso que o nosso D. João VI, de seu nome João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança, cognominado “O Clemente” foi sempre mais querido no Brasil do que no seu próprio país de origem.
Todo este período histórico é muito rico e merecedor de leituras mais aprofundadas, por interessantes. Mas este espaço é apenas um blogue e não uma cátedra de História. Por isso, e para terminar, deixo-vos hoje com um poema/canção delicioso de A. Rodrigues e R. Calado, sobre precisamente D. João VI, que se intitula:
“D. João VI e a mulata”
Quando a corte de D. João VI
Chegou a Paquetá
Tudo servia de pretexto
P’ra censurar, p’ra criticar
Certa mulata que havia lá
Diziam que ela era um perigo
Que ela era uma tentação
E que um marquês de novo antigo
Desdenhava o rei, não cumpria a lei,
P’ra ser só dela o cortesão.
Mas quando alguém o censurasse
Pedindo ao rei que a exilasse
Pelo mal que fazia
D. João VI trincava uma coxinha
De frango ou de galinha
E sempre respondia
Já lhes disse que aqui em Paquetá
Eu sigo a lei da corte de Lisboa
E não me digam que a mulata é má
Porque eu decreto que a mulata é boa
Certa noite muito escura
A moça se assustou
Vendo surgir uma figura
Gorda, a ofegar
Que sem falar
Nos gordos braços logo a apertou
Ela sentiu-se muito aflita
Como dizer que não
Até na treva era bonita
E lá fez de conta, que ficava tonta
Sem saber que era o seu D. João.
Mas quando alguém o censurasse
Pedindo ao rei que a exilasse
Pelo mal que fazia
D. João VI trincava uma coxinha
De frango ou de galinha
E sempre respondia
Já lhes disse que aqui em Paquetá
Eu sigo a lei da corte de Lisboa
E não me digam que a mulata é má
Porque eu já sei como a mulata é boa.
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