segunda-feira, setembro 21, 2009

Certificação política


Na minha tertúlia de amigos falava-se este fim-de-semana sobre as próximas eleições. Conjecturavam-se cenários, delineavam-se políticas e discutiam-se as últimas sondagens, as compras de votos dentro dos partidos, as alegadas e tolas escutas em Belém, a paranóia da asfixia democrática aqui no Continente e as consequências que o projecto do TGV poderia acarretar para as gerações futuras. De repente, um dos presentes exclamou:


“Ah, isso é como lá na Ásia quando há cheias. Quando o rio sobe, o Bangla …desh”.


Assim, sem mais nem menos. Um trocadilho inteligente (!!!) que teve o condão de provocar a risota geral e desanuviar o ambiente.


Voltámos, no entanto, ao assunto das eleições mas, agora, abordando-o por uma outra perspectiva. O voto (que não é obrigatório no nosso país) deveria, ou não, ser uma prerrogativa de todos ou apenas concedida a alguns?


Era uma grande questão que até agora ainda ninguém tinha colocado. Afinal, se é necessário estar habilitado para se executarem certas tarefas porque não exigir aos cidadãos votantes uma certa preparação política, uma qualificação que fosse capaz de os preparar convenientemente para serem eleitores conscientes.


Disparate, disseram alguns. Então para se exercer o direito de voto vamos ter que criar uma espécie de certificação política?


Foi aí que a discussão começou a ficar mais acesa. Houve quem argumentasse que até para conduzir era necessária uma licença específica. Porque não para votar?


Um chegou mesmo a questionar se uma coisa desse género (a tal certificação) não seria de se aplicar também a quem pretendia ter filhos. E justificava que muitos dos casais (já com filhos) que conhecia não tinham a menor qualificação para assumirem essa responsabilidade.


Essa mesma falta de responsabilidade (política) que pode ser imputada a muitos eleitores. Vocês já viram aquelas entrevistas com os chamados “homens comuns” que passam na televisão? Muitas delas mostram bem que a maior parte dos eleitores vai lá pôr a cruzinha no boletim de voto por uma questão de simpatia pessoal com determinado candidato, porque certo partido lhes deu umas bugigangas giras ou porque ouviram um qualquer demagogo dizer que os iria beneficiar nisto ou naquilo. A alguns foi-lhes sacada a confissão de que estavam naquele comício mas não sabiam bem qual era o partido nem quem era o seu líder. Tinham-nos enfiado num autocarro e foram de passeio com umas sandes na bagagem.


O que nos levava a questionar onde é que, afinal, a consciência política se situa no meio disto tudo?


A noite ia caindo e o grupo começou a dispersar-se. Porém, fiquei com a ideia que esta história amalucada de uma certificação política para quem vai votar - por mais utópica que pareça – ficou a bailar na cabeça de todos nós.

2 comentários:

Vexata disse...

Certo...certo,concordo, porém não seria inteligente certificar também os políticos eleitos (todos), é que há alguns que estão bastante próximos daqueles das entrevistas ?

Ai está um tema novo para a Normalização, sim porque sem norma não há certificação, certo?

demascarenhas disse...

Certíssimo, Caro Vexata.
Só que, se houvesse a tal certificação para os eleitores, ela traria certamente mais consciencialização política e, como consequência, viria a enxotar muitos dos actuais políticos eleitos e futuros candidatos com iguais “qualificações”. Ganhar-se-ia, estou certo, a qualidade que nós gostaríamos de ver aos nossos representantes.