segunda-feira, outubro 11, 2010

O Regabofe


Sempre defendi que mesmo nas situações de aperto financeiro não devemos dar uma imagem de miseráveis. Ou seja, mesmo em ocasiões de aflição devemos manter uma postura de dignidade. “Pobretes mas Alegretes”, como diz o povo (o povo diz cada coisa …). E, no que ao nosso país diz respeito, se bem que estamos a atravessar um período difícil (leia-se, sem dinheiro) não temos necessidade de dar a imagem de miserabilismo que muitos gostariam de transmitir. Há que haver sensatez na gestão da coisa pública e é isto que devemos exigir aos responsáveis que têm por missão dirigir os destinos de Portugal.

É consensual que temos que endireitar as contas públicas e reduzir drasticamente o endividamento externo. Pedem-nos, por isso (ainda) mais sacrifícios. Tudo bem, o povão amocha, faz mais uns furos no cinto (que os outros já tinham sido todos utilizados) para pagar mais impostos, para reduzir os seus já parcos salários e para ficar sem alguns dos apoios sociais que tinha e que julgava ser um direito adquirido. Explicaram-lhes (???) os porquês e, mesmo sem perceber as razões do descalabro, dispõem-se a “alinhar”

Porém, quando já assumiram que certas despesas – com a alimentação, com a saúde, com a cultura ou com o lazer – têm que sofrer alguns cortes, como vão entender que certas instituições do Estado gastam milhões em festas, brindes e consultores?

Como acham que se sentem todos aqueles que pagam direitinho os seus impostos e que de manhã à noite ouvem, a toda a hora, a palavra maldita – CRISE – quando sabem que os organismos do Estado, e todos que gravitam à sua volta, vivem em permanente festança sem se preocuparem com o que gastam.

Que acham que podemos sentir quando sabemos que, por exemplo, a ANACOM (a entidade reguladora das comunicações) gastou 150 mil euros na comemoração do seu 20º aniversário? Ou que o ICP (Autoridade Nacional de Comunicações) gastou 130 mil euros numa campanha sobre roaming internacional? Ou, ainda, que o Turismo dos Açores pagaram mais de milhão e meio de euros para organizar a cerimónia das 7 Maravilhas de Portugal? Ou, finalmente, que a Direcção-Geral das Contribuições e Impostos (aqueles que são responsáveis pela cobrança dos impostos, aqueles mesmos que “nos vão aos bolsos”) gastaram na celebração dos seus 160 anos mais de 220 mil euros (sem contar os custos de pernoita de cerca de 900 pessoas que se deslocaram a Lisboa para participar na festa)? O que acham que nós sentimos perante tal regabofe?

E não venham com o argumento já estafado que estão, desta forma, a estimular a economia por que há empresas que estão a ganhar com isso e que mantêm empregos, blá-blá-blá, blá-blá-blá. Tretas! Percebemos bem o que está por detrás de tudo isto.

E acabo como comecei. Comemorem o que têm que comemorar. Enalteçam os seus feitos e os seus colaboradores. É justo que o façam. O que queremos é que sejam comedidos nos seus gastos e, porque vivem do dinheiro dos contribuintes, alinhem connosco no esforço que nos está a ser exigido. Será pedir muito?


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