Irritam-me as análises superficiais e o modo ligeiro como se debatem determinadas matérias - sem a ponderação devida - e como se chega a certas conclusões. Mesmo quando se trata de textos meus que padecem desse mesmo mal que eu condeno. E irritam-me igualmente as opiniões em que se aplicam julgamentos implacáveis a pessoas que não agem ou pensam da mesma forma do que a maioria considera razoável.
Vem isto a propósito das notícias que têm saído nos últimos dias sobre as férias que muitos portugueses se preparam para fazer nesta Páscoa. Férias, gastar uma data de massa num tempo em que estão prestes a desabar (para muitos já começou) sobre as nossas cabeças as medidas de austeridade que o FMI vai determinar? Então em tempo de crise ainda pensam no trolaró?
Para que conste, eu não vou sair nos tempos mais próximos mas acho muitíssimo bem que aqueles que têm condições para fazê-lo possam gastar o seu dinheiro da maneira que melhor acharem. Férias no Algarve, no Brasil ou nas Caraíbas? Óptimo, e que lhes façam muito bom proveito, que gozem o máximo por que têm todo o direito e ninguém tem nada a ver com isso.
Mas a questão tem o outro lado, aquele em que geralmente pouco se pensa. É que estas viagens e estadias dos que se propõem fazê-las dão a possibilidade a muitos milhares de pessoas a manterem ou a voltarem a ter um emprego, a ganhar dinheiro, a sustentar famílias, a dinamizar a economia.
Quantos hotéis e restaurantes vão ser reabertos por uns dias que seja e vão ter que chamar trabalhadores para mantê-los? Quantas pessoas estão envolvidas em todo este sistema de comércio e de lazer, desde os que trabalham nas agências de viagens, nos aviões, nos restaurantes, nos postos de gasolina, nos que comercializam todo o tipo de alimentos e bebidas, nos que vendem artesanato, enfim, em todos os que sucumbiriam caso não houvesse este fluxo migratório que gera riqueza e que, para muitos, constitui o necessário balão de oxigénio que lhes permitem continuar a sonhar?
Bem podem torcer o nariz - sobretudo aqueles que não pertencem à Europa do Sul onde existe sol, e mais ainda aqueles que nos emprestam o dinheiro de que necessitamos – e tecer todo o tipo de críticas a estes portugueses loucos que estão a queimar os últimos cartuchos antes de se lançarem no precipício. Assiste-lhes, certamente, alguma razão. Eles que têm uma cultura de rigor muito diferente da nossa esquecem-se (ou não percebem), porém, da outra face da moeda onde estão incluídos milhares de trabalhadores que sobrevivem graças à “loucura” dos que, nesta Páscoa, estão a esgotar os destinos de férias.
1 comentário:
Olá meu bom amigo,
Concordo em pleno com as suas palavras. Porque razão não haveriam de ir de férias todas aquelas pessoas que têm possibilidades de ir? Se os seus recursos financeiros o permitem, acho que fazem muito em aproveitar uma merecidas férias. Além do mais que estas férias gozadas por algum vai permitir dinamizar a economia Nacional, o que é bastante positivo.
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