terça-feira, abril 19, 2011

Portugal e a “ajuda externa”

Para acrescentar um pouco mais de confusão à já baralhada cabeça de muitos portugueses, trago-vos hoje uma parte de um artigo publicado no New York Times, escrito por Robert M. Fishman, professor de sociologia da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos. Segundo ele, a exemplo do que muitos outros têm já afirmado, Portugal não precisava assim tanto de ajuda. Pelo menos, daquela inevitabilidade de ajuda externa defendida por um sem número de especialistas.

“O pedido de ajuda de Portugal nada tem a ver com o seu défice. «Portugal teve uma performance económica forte nos anos 90 e estava a gerir a recuperação da recessão global melhor do que muitos países da Europa.


Como foi dito há alguns meses, e silenciado cada vez mais com o aperto crescente dos mercados, Portugal ficou sob pressão injusta e arbitrária de negociantes de obrigações, especuladores e analistas de crédito que, por miopia ou razões ideológicas, já conseguiram expulsar um governo democraticamente eleito e, potencialmente, amarrar as mãos do próximo.


Mercados que são um perigo, uma vez que deixados sem regulamentação estas “forças” ameaçam eclipsar a capacidade democrática dos governos (quem sabe mesmo dos EUA) de tomar as suas próprias decisões sobre os impostos.


Em Portugal a crise é completamente diferente da instalada na Grécia e na Irlanda. As instituições económicas e políticas não falharam e conseguiram importantes vitórias, antes de sermos submetidos às ondas de ataques dos especuladores.


O resgate que aí vem não irá resgatar Portugal, mas sim empurrá-lo para uma política de austeridade impopular que atinge quem mais precisa. São as bolsas estudantis, as reformas, o combate à pobreza e os salários de funcionários públicos que vão sentir na pele o resgate.


A dívida portuguesa está bem abaixo de países como a Itália e o défice tem diminuído “rapidamente” com os esforços do Governo. No primeiro trimestre de 2010, Portugal teve uma das melhores taxas de recuperação económica, acompanhando ou mesmo ultrapassando os vizinhos do Sul e até mesmo a Europa Ocidental.


As razões do ataque a Portugal são então duas. Por um lado, um cepticismo no modelo de economia mista de Portugal. «Os fundamentalistas do mercado detestam as intervenções keynesianas, nas áreas da política de habitação em Portugal - o que evitou uma bolha imobiliária e preservou a disponibilidade de baixo custo de rendas urbanas - a assistência de renda para os pobres. Por outro lado, a falta de perspectiva histórica é outra explicação. O crescimento do país nos anos 90 levou a uma melhoria nos padrões de vida e a uma taxa de desemprego das mais baixas da Europa.


Os ataques dos mercados condicionam não só a recuperação económica de Portugal, mas também a sua liberdade política. Se o 25 de Abril foi um ponto de partida para uma “onda democratização que varreu o mundo”, a entrada do FMI em Portugal, em 2011, pode ser o início de uma onda de invasão da democracia, sendo que as próximas vítimas poderão ser a Espanha, a Itália, ou a Bélgica.”


Confusos ou mais confusos ainda? De qualquer forma é sempre bom analisarmos as várias teorias possíveis. Qualquer que seja a verdadeira uma coisa é certa, a inevitabilidade das medidas muito austeras que vamos ter que suportar.




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