O tempo do PREC já lá vai há muito. Nessa época, era frequente assistirmos à nomeação para cargos de administração, de pessoas que apenas se sabia serem do círculo de amizades de quem tinha o poder nessa altura ou, pior ainda, de pessoas que eram militantes do partido do governo. Critérios como competência, profissionalismo, honestidade e formação adequada para os cargos, não eram sequer considerados.
Poder-se-ia ser levado a pensar que no Portugal de hoje, país que pertence à União Europeia, que faz parte do clube fundador do euro, que está no grupo dos mais evoluídos do mundo (embora nós, os cidadãos, não sintamos isso nos bolsos e, como país, estejamos à beira de apenas poder ser comparáveis com os dois últimos países que entraram em Janeiro para a Europa dos 27), poder-se-ia pensar, dizia, que hoje em Portugal haveria o bom senso de aproveitar os melhores talentos e se escolheria apenas os mais capazes para gerir as empresas e o país. Puro engano! Ainda hoje, e ainda por motivos políticos, continuam-se a esquecer aqueles que mais sabem, os que estão melhor preparados e os que já deram provas suficientes de serem competentes nas mais diversas áreas.
O nome de Arménio Matias não dirá grande coisa à maioria das pessoas, mas a verdade é que este senhor já foi administrador da CP (entre 1985 e 1990), administrador da Teledifusão de Portugal (telecomunicações), administrador do Metro do Porto, do Metro do Mondego e da Rave (Rede Ferroviária de Alta Velocidade), onde foi, aliás, um dos responsáveis pelo desenho da rede de alta velocidade.
Desde que saiu da administração da Rave, em meados de 2001, e voltou à CP, os sucessivos conselhos de gerência da empresa não lhe atribuíram qualquer função ou tarefa, muito embora Arménio Matias tivesse comunicado, por diversas vezes, que aceitaria qualquer função que lhe fosse atribuída.
O facto é que Arménio Matias, um dos quadros mais conhecidos do sector ferroviário, durante cinco anos e meio limitou-se a participar em três reuniões de quadros da empresa e nada mais lhe foi dado para fazer. "Estive rigorosamente sem fazer nada", afirmou.
É legítimo que se pergunte. Será que Matias já não correspondia às expectativas de quem comandava a CP, ou que ele estava desactualizado ou desmotivado? Bem, se fosse isso, porque é que não o reformaram?
Não, nada disso deve ter acontecido. Eu penso que simplesmente se esqueceram dele (?) e, por isso, deixaram-no sem funções durante tanto tempo, desaproveitando todo o seu saber, mas não se esquecendo, porém, de lhe pagarem 100 mil euros por ano, mais telemóvel, mais automóvel e secretária.
Este é mais um caso de má gestão de uma empresa de capitais públicos. Um entre tantos outros. Um que veio a público, apenas porque Arménio Matias decidiu contar a sua história num blog que criou especificamente para o efeito, e onde afirma que o seu não é caso único e que há mais quadros qualificados na prateleira, enquanto as sucessivas administrações da CP vão contratando outras pessoas no exterior.
Por estas e por outras, é que eu continuo a perguntar “Quando é que, finalmente, as administrações das empresas e dos institutos públicos começam a ser responsabilizadas pelos seus actos de má gestão, que, em certas situações, poderiam até passar pela responsabilidade civil e/ou criminal dos próprios administradores?”. Quando é que vai haver coragem para isso?
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