quinta-feira, maio 10, 2007

Onde se fala, uma vez mais, do ensino que temos ...


Já por diversas vezes tenho aqui manifestado a minha opinião sobre a qualidade do ensino em Portugal, tendo mesmo afirmado que, na minha perspectiva, não estamos a formar da melhor forma os nossos jovens. Apesar de termos cada vez mais licenciados, o que é bom, esses números servem, muitas vezes, apenas para alimentar as estatísticas e as inevitáveis comparações com os demais países, mas, francamente, pouco mais valem.

Como disse em tempos, o que provocou, na altura, um exacerbado coro de protestos

“... no actual sistema educativo, ser licenciado não representa um atestado de competência, mas uma mera credencial em como um indivíduo frequentou o ensino durante uns quantos anos e cumpriu certas formalidades legais ... regista-se uma grande discrepância entre as competências transmitidas pelas escolas e universidades e aquilo que é exigido pelas empresas. Isto porque o sistema não consegue ajustar os programas escolares às exigências do mercado de trabalho e da sociedade...”


Afinal, uns meses depois, é a própria Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que vem admitir que alguns programas e manuais escolares poderão ser demasiado extensos e não ter qualidade.

E para ser totalmente clara, Maria de Lurdes Rodrigues afirmou:

"Pode acontecer que nem sempre a qualidade dos programas e dos instrumentos de ensino esteja assegurada e pode acontecer também que alguns programas não tenham a dimensão adequada e que seja necessário pôr em prática mecanismos de controlo da qualidade dos currículos e dos livros escolares”.
Mas não foi só a Ministra que criticou o actual sistema de ensino, também o Reitor da Universidade Aberta, Carlos Reis, teceu duras críticas à qualidade dos programas e dos manuais, considerando que muitos "servem para infantilizar os jovens". A preocupação, disse, "origina-se na situação que estamos a viver. O desempenho dos nossos alunos, a todos os níveis, está longe de ser satisfatório”.



Na verdade, se queremos ter mais e melhores técnicos alguma coisa tem que ser alterada. Os programas dos cursos, os conteúdos dos manuais, a exigência do cumprimento dos objectivos por parte de alunos e professores e a definição do perfil dos próprios professores, parecem-me aspectos fundamentais para que se consigamos chegar a um patamar de competência que todos desejamos.

Vamos ver se, face às declarações da Ministra e do Reitor da Universidade Aberta, não vão chover, desta vez, os protestos indignados de quem acha que tudo isto, afinal, não é tão mau como se quer pintar ...

8 comentários:

Anónimo disse...

Sou o primeiro a dizer que há muito coisa que pode ser melhorada no ensino superior. Agora não venha dizer que os nossos médicos e engenheiros são piores formados que os dos outros países. Pode haver muitas escolas más, nomeadamente no ensino privado, e mesmo no ensino público há muitos programas que podiam ser melhores. Mas em termos globais os cursos são bons e garanto-lhe que a falta de exigência não é um dos seus defeitos. Isto é dito por quem passou pelo nosso sistema de ensino e trabalha diariamente com engenheiros de diversas nacionalidades, tais como a alemã, uma das referências da engenharia mundial.
Mas quem diz medicina e engenharia, pode dizer matemáticas, letras e outras áreas. Há muitos cursos bom e exigentes. Não misture tudo. Digo-lhe bastante mais: muitas vezes são as empresas portuguesas que não têm qualidade para aproveitar esses licenciados. Conheço muitos que emigraram e trabalham nas melhores empresas mundiais, na Noruega, na Alemanha, na Holanda, na Espanha, etc.

Se continua a achar que licenciar-se em Portugal é limitar-se a "cumprir formalidades legais", ok, está no seu direito.

Anónimo disse...

Há cursos bons, claro.

Mas 4 ou 5... em 100. A esmagadora maioria são maus e desajustados à realidade. Quando os pobrezitos saem das faculdades estão em branco e há um mercado todo fechado à sua frente.

Também passei pelo ensino superior e não foi assim há muito tempo, e aquilo que vi por lá foi assustador. Não sei como é que se pode sair de lá com a ideia de que este ensino vale alguma coisa.

Se calhar fui eu que tive más experiências.

Anónimo disse...

Em todas as actividades encontramos bons e maus trabalhadores. Os licenciados não fogem a esta regra. Durante o meu percurso profissional tive a oportunidade de trabalhar e dirigir licenciados de grandes capacidades e saber e outros que apenas tinham tirado um curso.

Por isso, ao contrário do que diz, meu caro azul, eu não afirmo com prazer que “licenciar-se em Portugal é limitar-se a cumprir formalidades legais”. Nada disso. Embora considere utópico, tomara eu que toda a gente conseguisse ter acesso às universidades e conseguisse concluir os seus cursos superiores.

Mas, ainda assim, continuaríamos a ter enormes problemas quanto à qualificação técnica desses licenciados, porque, e continuo a bater na tecla, os programas, os conteúdos dos manuais e muitos dos professores, estão desajustados da realidade actual.

Temos bons médicos e bons engenheiros? Claro que sim, felizmente. Veja o que se passa na Ziemens onde as outras fábricas da marca espalhadas pelo mundo, pretendem levar os nossos engenheiros. E não deve ser por eles não perceberem nada do assunto. Faço-lhe notar, contudo, que essa apetência pela qualidade desses engenheiros se estende igualmente aos operários que já demonstraram ser, também, muito bons.

Mas não é a teimosia que me faz radicalizar a opinião. Digamos que será, antes, a constatação. E, pelos vistos partilhada por muitas pessoas, até pela Ministra da Educação e pelo Reitor da Universidade Aberta, o que me fez escrever novamente sobre esta matéria.

Um abraço.

Anónimo disse...

"(...)nomeadamente no ensino privado (...)": afinal nem tudo o o que publico é mau e nem tudo o que é privado é bom?! Oh! Lá se vai um dos grandes argumentos pró-privatização de tudo e mais alguma coisa!

Anónimo disse...

Caro anónimo silvestre, não é ser público ou privado que traz qualidade. É a concorrência. PT, EDP, Galp, Brisa, podem ser privadas, se a concorrência é pouca ou nenhuma, o serviço prestado face ao preço continua a ser mau. Mas isso é outra conversa.

Anónimo disse...

"Com a PT a conversa é outra", eles admitem.

Anónimo disse...

Não sei se ainda vou a tempo para fazer um comentário ao post de hoje mas, mesmo assim, não resisto a transcrever uma parte da notícia que foi hoje (16 de Maio) publicada no Diário de Notícias:

“O acesso às carreiras mais altas da função pública vai deixar de exigir licenciatura aos candidatos. Esta é uma das novidade do novo regime de vínculos, carreiras e remunerações que se encontra em fase final de negociação e que deverá dar entrada na Assembleia da República até final de Junho de modo a entrar em vigor em Janeiro do próximo ano...

... Deste modo, o Governo seguiu a recomendação da comissão técnica presidida por Luís Fábrica, que elaborou um relatório sobre a reforma do regime de vínculos e carreiras na função pública. No relatório divulgado em Setembro, a comissão questionava "se a sobrevalorização do título académico e das habilitações literárias traduz o regime mais adequado ao bom exercício de funções públicas - sobretudo quando se sabe que o sistema de ensino em Portugal continua a privilegiar a aquisição de conhecimentos teóricos". Por isso, a comissão propôs "terminar com a sobrevalorização do saber lógico-formal em detrimento da inteligência prática".

Finalmente, vai prevalecer a capacidade e o desempenho profissional, independentemente se os candidatos sejam licenciados ou não.

Pode ser que o bom senso ainda chegue a tempo!

José Carrancudo disse...

Todos sabemos o diagnóstico, e os remédios estão aqui.

O País está em crise educativa generalizada, resultado das políticas governamentais dos últimos 20 anos, que empreenderam experiências pedagógicas malparadas na nossa Escola. Com efeito, 80% dos nossos alunos abandonam a Escola ou recebem notas negativas nos Exames Nacionais de Português e Matemática. Disto, os culpados são os educadores oficiosos que promoveram políticas educativas desastrosas, e não os alunos e professores. Os problemas da Educação não se prendem com os conteúdos programáticos ou com o desempenho dos professores, mas sim com as bases metódicas cientificamente inválidas.

Ora, devemos olhar para o nosso Ensino na sua íntegra, e não apenas para assuntos pontuais, para podermos perceber o que se passa. Os problemas começam logo no ensino primário, e é por ai que devemos começar a reconstruir a nossa Escola. Recomendamos vivamente a nossa análise, que identifica as principais razões da crise educativa e indica o caminho de saída. Em poucas palavras, é necessário fazer duas coisas: repor o método fonético no ensino de leitura e repor os exercícios de desenvolvimento da memória nos currículos de todas as disciplinas escolares. Resolvidos os problemas metódicos, muitos dos outros, com o tempo, desaparecerão. No seu estado corrente, o Ensino apenas reproduz a Ignorância, numa escala alargada.

Devemos todos exigir uma acção urgente e empenhada do Governo, para salvar o pouco que ainda pode ser salvo.

Sr.(a) Leitor(a), p.f. mande uma cópia ao M.E.
email: gme@me.gov.pt, se.adj-educacao@me.gov.pt, se.educacao@me.gov.pt