Já há uns tempos que a ideia não me sai da cabeça. À medida que vou ouvindo jovens papás a fazer recomendações atrás de recomendações às suas crianças, não posso deixar de me interrogar como é que a rapaziada da minha geração conseguiu sobreviver?
Eu sei que a intenção deles é a melhor, mas será que não se está a exagerar um pouco?
Quem nasceu nas gerações de 60, 70 e até mesmo 80 do século passado (esta coisa de termos vivido no século anterior pode, provavelmente, explicar muita coisa) teve com toda a certeza muitas noites de insónia só de pensar como é que conseguimos fintar a sorte, já que:
- os carros não tinham cintos de segurança, nem apoios de cabeça, nem sequer airbags para o condutor, quanto mais para o passageiro do lado, os ocupantes de trás e os outros airbags laterais; pequenos ou já grandotes íamos soltos sem cintos de segurança e ninguém nos ralhava porque não era perigoso;
- as camas de grades e os brinquedos (eles eram tão poucos e nem todos os meninos tinham a sorte de ter brinquedos) eram pintados com tintas muito duvidosas, que continham chumbo e outros venenos;
- andávamos de bicicleta para lá e para cá e não havia capacetes de protecção;
- brincávamos à vontade nas ruas até as nossas mães nos chamarem já de noite escura;
- bebíamos água da torneira, de uma mangueira, de uma bica ou de uma fonte em vez de beber águas minerais, em garrafas esterilizadas e com datas de validade;
- não havia telemóveis e os nossos pais, a maior parte das vezes, não faziam qualquer ideia onde é que nós estávamos;
- tínhamos aulas só de manhã ou só de tarde e íamos almoçar a casa. Não tínhamos explicações se havia más notas, o que havia era um ralhete, às vezes uma tareia e fazíamos um esforço redobrado para termos mais aproveitamento;
- cabeças partidas e joelhos ensanguentados, alguém se queixava disso ou alguém ficava preocupado?
- comíamos à vontade doces e pão com manteiga e ninguém andava obsecado com obesidades ou colesterol;
- Nem sei se vão acreditar, mas não havia playstations, Nintendos, jogos de vídeo, CD’s, computadores e chats na net. Não havia sequer Net, só amigos;
- na escola quando reprovávamos (embora ainda ninguém se preocupasse com o insucesso escolar) os papás não iam a correr consultar um psicólogo ou um psicoterapeuta. Quando muito davam-nos um valente par de bofetadas e punham-nos a trabalhar no emprego mais ranhoso que houvesse perto de casa, durante os três meses de férias, para aprendermos;
- não se falava em dilexia, problemas de concentração e hiperactividade;
- tínhamos liberdade, fracassos, sucessos, deveres e aprendíamos a lidar com cada um deles;
E a pergunta que tanto nos atormenta é, afinal, como conseguimos, apesar de tudo, sobreviver e, acima de tudo, como conseguímos crescer, desenvolver a nossa personalidade e ter valores morais e éticos.
Podia ser uma grandessíssima chatisse mas, no fundo, lá bem no fundo, nós éramos muito felizes, oh se éramos!
Eu sei que a intenção deles é a melhor, mas será que não se está a exagerar um pouco?
Quem nasceu nas gerações de 60, 70 e até mesmo 80 do século passado (esta coisa de termos vivido no século anterior pode, provavelmente, explicar muita coisa) teve com toda a certeza muitas noites de insónia só de pensar como é que conseguimos fintar a sorte, já que:
- os carros não tinham cintos de segurança, nem apoios de cabeça, nem sequer airbags para o condutor, quanto mais para o passageiro do lado, os ocupantes de trás e os outros airbags laterais; pequenos ou já grandotes íamos soltos sem cintos de segurança e ninguém nos ralhava porque não era perigoso;
- as camas de grades e os brinquedos (eles eram tão poucos e nem todos os meninos tinham a sorte de ter brinquedos) eram pintados com tintas muito duvidosas, que continham chumbo e outros venenos;
- andávamos de bicicleta para lá e para cá e não havia capacetes de protecção;
- brincávamos à vontade nas ruas até as nossas mães nos chamarem já de noite escura;
- bebíamos água da torneira, de uma mangueira, de uma bica ou de uma fonte em vez de beber águas minerais, em garrafas esterilizadas e com datas de validade;
- não havia telemóveis e os nossos pais, a maior parte das vezes, não faziam qualquer ideia onde é que nós estávamos;
- tínhamos aulas só de manhã ou só de tarde e íamos almoçar a casa. Não tínhamos explicações se havia más notas, o que havia era um ralhete, às vezes uma tareia e fazíamos um esforço redobrado para termos mais aproveitamento;
- cabeças partidas e joelhos ensanguentados, alguém se queixava disso ou alguém ficava preocupado?
- comíamos à vontade doces e pão com manteiga e ninguém andava obsecado com obesidades ou colesterol;
- Nem sei se vão acreditar, mas não havia playstations, Nintendos, jogos de vídeo, CD’s, computadores e chats na net. Não havia sequer Net, só amigos;
- na escola quando reprovávamos (embora ainda ninguém se preocupasse com o insucesso escolar) os papás não iam a correr consultar um psicólogo ou um psicoterapeuta. Quando muito davam-nos um valente par de bofetadas e punham-nos a trabalhar no emprego mais ranhoso que houvesse perto de casa, durante os três meses de férias, para aprendermos;
- não se falava em dilexia, problemas de concentração e hiperactividade;
- tínhamos liberdade, fracassos, sucessos, deveres e aprendíamos a lidar com cada um deles;
E a pergunta que tanto nos atormenta é, afinal, como conseguimos, apesar de tudo, sobreviver e, acima de tudo, como conseguímos crescer, desenvolver a nossa personalidade e ter valores morais e éticos.
Podia ser uma grandessíssima chatisse mas, no fundo, lá bem no fundo, nós éramos muito felizes, oh se éramos!
1 comentário:
No vosso tempo não havia chats nem net? Estão a gozar ca gente, não estão?
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