Nas últimas semanas as televisões têm transmitido um anúncio patrocinado pelo governo, em que figuras bem conhecidas de todos – Judite de Sousa, Pedro Abrunhosa, Carlos Queirós e Maria Gambina – passam a mensagem que eles não seriam quem são, se não tivessem acabado os respectivos estudos.
Nesses anúncios Judite de Sousa é uma balconista de café, Pedro Abrunhosa um empregado que presta apoio a eventos musicais, Carlos Queirós um funcionário que corta a relva de um campo de futebol e Maria Gambina uma costureira.
Naturalmente que foi uma sorte para eles terem tido a oportunidade e o mérito de terem acabado os seus estudos. Mas, pergunto, e se não os tivessem concluído, o que é que teria acontecido? O seu trabalho não seria tão respeitado pelo facto de não terem obtido os diplomas? Para o governo, pelos vistos, e a ilação é bem clara no anúncio, eles não passariam de uns falhados.
Admito que mais uma vez a minha opinião seja susceptível de provocar polémica mas, o governo, ou a agência de publicidade que realizou os anúncios (sempre com a responsabilidade do governo, é claro), cometeu aqui vários lapsos inadmissíveis.
Primeiro, dá a impressão que todas as outras profissões que são desempenhadas por não licenciados, por pessoas que não quiseram ou não puderam estudar, são menos dignas, menores até, que as executadas por pessoas com o “canudo”. E, naturalmente, que todas as profissões para além de dignas são necessárias para a vida de todos.
Segundo, os estudos nunca se acabam. Qualquer profissional minimamente conscencioso sabe que tem sempre de continuar a estudar durante toda a vida, para tentar acompanhar a evolução das novas técnicas e das transformações que as próprias empresas vão sofrendo ao longo dos tempos. Mal dos que pensam que, a partir de certa altura, já nada há para aprender ...
Terceiro, o Governo dá a entender que os estudos apenas servem para alcançar o sucesso e estatuto social, ser famoso, ter poder, e não o contrário, que os estudos são fundamentais, sobretudo, para se saber mais, para se auto-valorizar, para ter mais competências. O resto poderá vir por arrasto, se vier...
Na minha perspectiva este anúncio não foi devidamente avaliado. Com a mensagem (enganadora) que quis transmitir, fez sentir a muitos licenciados que trabalham nas mais variadas profissões, das tais consideradas menores e que, por isso, não chegaram à fama e ao estatuto social que pretendiam, que também eles eram e são uns falhados.
Não acredito que este anúncio leve mais portugueses a voltarem a estudar por forma a conseguir “concluir” os seus cursos. Tanto mais que é público que cerca de 56 mil licenciados estão desempregados e a tendência parece ser a de que o desemprego continue a crescer, afectando sobretudo os licenciados.
Há uma outra questão que tem a ver com a sangria desatada que leva o governo a querer que se atinjam qualificações cada vez mais altas. A verdade é que esse objectivo não tem só a ver com as necessidades reais do país, mas com a necessidade que o país tem de não ficar em posições secundárias nas comparações que são feitas constantemente com os demais países da Europa a que pertencemos.
Mas, voltando ao anúncio, penso que este é um belo exemplo de uma péssima mensagem que menoriza a maior parte dos trabalhadores e das actividades em que trabalham, e que não valoriza nem destaca aquilo que é, de facto, o essencial, e que se deve estimular (com anúncios ou sem eles) que são o estudo e o querer saber mais.
Quanto a estatutos, fama e outras coisas associadas, não é só por se ter um curso superior que se chega lá. Para além da preparação académica, é necessário que haja mais qualquer coisa, como talento, génio e competência.
Que o digam Cristiano Ronaldo, Alexandre O’Neill, Sophia de Mello Breyner, José Saramago e tantos outros ... que, apesar de não terem cursos superiores, não consta que sejam ou tivessem sido uns falhados!
Nesses anúncios Judite de Sousa é uma balconista de café, Pedro Abrunhosa um empregado que presta apoio a eventos musicais, Carlos Queirós um funcionário que corta a relva de um campo de futebol e Maria Gambina uma costureira.
Naturalmente que foi uma sorte para eles terem tido a oportunidade e o mérito de terem acabado os seus estudos. Mas, pergunto, e se não os tivessem concluído, o que é que teria acontecido? O seu trabalho não seria tão respeitado pelo facto de não terem obtido os diplomas? Para o governo, pelos vistos, e a ilação é bem clara no anúncio, eles não passariam de uns falhados.
Admito que mais uma vez a minha opinião seja susceptível de provocar polémica mas, o governo, ou a agência de publicidade que realizou os anúncios (sempre com a responsabilidade do governo, é claro), cometeu aqui vários lapsos inadmissíveis.
Primeiro, dá a impressão que todas as outras profissões que são desempenhadas por não licenciados, por pessoas que não quiseram ou não puderam estudar, são menos dignas, menores até, que as executadas por pessoas com o “canudo”. E, naturalmente, que todas as profissões para além de dignas são necessárias para a vida de todos.
Segundo, os estudos nunca se acabam. Qualquer profissional minimamente conscencioso sabe que tem sempre de continuar a estudar durante toda a vida, para tentar acompanhar a evolução das novas técnicas e das transformações que as próprias empresas vão sofrendo ao longo dos tempos. Mal dos que pensam que, a partir de certa altura, já nada há para aprender ...
Terceiro, o Governo dá a entender que os estudos apenas servem para alcançar o sucesso e estatuto social, ser famoso, ter poder, e não o contrário, que os estudos são fundamentais, sobretudo, para se saber mais, para se auto-valorizar, para ter mais competências. O resto poderá vir por arrasto, se vier...
Na minha perspectiva este anúncio não foi devidamente avaliado. Com a mensagem (enganadora) que quis transmitir, fez sentir a muitos licenciados que trabalham nas mais variadas profissões, das tais consideradas menores e que, por isso, não chegaram à fama e ao estatuto social que pretendiam, que também eles eram e são uns falhados.
Não acredito que este anúncio leve mais portugueses a voltarem a estudar por forma a conseguir “concluir” os seus cursos. Tanto mais que é público que cerca de 56 mil licenciados estão desempregados e a tendência parece ser a de que o desemprego continue a crescer, afectando sobretudo os licenciados.
Há uma outra questão que tem a ver com a sangria desatada que leva o governo a querer que se atinjam qualificações cada vez mais altas. A verdade é que esse objectivo não tem só a ver com as necessidades reais do país, mas com a necessidade que o país tem de não ficar em posições secundárias nas comparações que são feitas constantemente com os demais países da Europa a que pertencemos.
Mas, voltando ao anúncio, penso que este é um belo exemplo de uma péssima mensagem que menoriza a maior parte dos trabalhadores e das actividades em que trabalham, e que não valoriza nem destaca aquilo que é, de facto, o essencial, e que se deve estimular (com anúncios ou sem eles) que são o estudo e o querer saber mais.
Quanto a estatutos, fama e outras coisas associadas, não é só por se ter um curso superior que se chega lá. Para além da preparação académica, é necessário que haja mais qualquer coisa, como talento, génio e competência.
Que o digam Cristiano Ronaldo, Alexandre O’Neill, Sophia de Mello Breyner, José Saramago e tantos outros ... que, apesar de não terem cursos superiores, não consta que sejam ou tivessem sido uns falhados!
7 comentários:
Concordo plenamente!
Não sei se valeria a pena estar a "gastar" um comentário só para dizer isto, mas de facto o texto traduz exactamente aquilo que pensei quando me deparei com a campanha!
Outra vez, não !
Estamos pois de acordo ;.
Até parece que as mais recentes campanhas publicitárias publicas, pelo menos no pagamento, estão a bater na porta do lado sistematicamente, primeiro foi a do “All Garve”, agora esta ... “All study boys“, poderia ter sido a base desta campanha da rapaziada do sucesso !
E que tal uma campanha baseada em valores ?
a competência; o conhecimento; o saber; a dedicação; o ensinar os outros; o respeito pelo saber;
(... eu não sou criativo! Eu não sou criativo! ... – por vezes começo por aqui a parir ideias novas, mas parvas !)
Claro que estamos em desacordo, para variar. Quando o assunto é publicidade, temos pontos de vista divergentes, fruto de experiências diferentes.
E hoje estamos em desacordo essencialmente num pormenor: Não é uma má campanha publicitária, é uma iniciativa infeliz do governo.
Não são maus criativos, são maus briefings de maus clientes, num contexto inoportuno.
Do ponto de vista da comunicação, esta campanha não tem nada de errado. Não é brilhante e pessoalmente não me estimula muito, mas é uma questão de gosto. No entanto, acho que face ao que terá sido pedido, cumpre e não choca.
Eu sempre ouvi que tinha de "estudar para ser alguém na vida". E isto não é menorizar ninguém. Quem tem estudos, em teoria tem mais hipóteses de conseguir chegar mais longe. É uma ambição perfeitamente legítima. Acho errado reduzi-la a uma mera questão de status ou fama.
Se dessem ao apanha-bolas a possibilidade de ser um treinador de sucesso, duvido que ele fosse recusar.
E para se ser um jornalista de topo, ainda deve ser necessário ter um grau académico para além do 9º ano.
Parece-me que isto está claro para toda a gente.
O que não percebo é a tendência das pessoas em racionalizar mensagens e levá-las demasiado à letra, a ponto de criar novos significados e corromper (ou talvez apenas desvirtuar) a mensagem original.
Dizer que é preciso estudar para se chegar a algum lado não pressupõe que quem não estuda não vai a lado nenhum, da mesma forma que tirar um curso (e é a isso que a campanha se refere) não implica dar os estudos por terminados.
Não está lá escrito e nem está implícito. São leituras livres, das muitas possíveis.
Importante é perceber o que nos é dito: quem segue os estudos, à partida está melhor preparado para os desafios profissionais. E isto não está nada errado.
Concordo com o Porcos. Os estudantes cábulas é que dão exemplos de pessoas famosas que não estudaram. "Olha o Cristiano Ronaldo, ele não estudou e agora ganha muito" é o argumento de qualquer miúdo preguiçoso de 12 anos.
Ninguém sabia que o Abrunhosa estudou mas o que a campanha diz é que ele só fez o que fez porque estudou. O canudo não lhe deu status por si, deu-lhe conhecimento e competência de forma a atingir o sucesso. Tal como o Carlos Queirós.
Que todas as profissões são dignas, etc, etc, todos concordamos. Mas aposto que não é isso que dizem aos vossos filhos: "Olha, se não quiseres estudar, tudo bem, vais rasgar bilhetes de cinema que é uma profissão como qualquer outra".
A campanha pode ter alguns defeitos e ao sair na altura em que se soube que o primeiro ministro comprou o curso é infeliz, no entanto não tenho nada a apontar relativamente à mensagem em si.
Estou-me nas tintas se a campanha está mal feita, se é de mau gosto ou se se trata de uma iniciativa infeliz do governo.
O que penso é que a interpretação de ter que "estudar para ser alguém na vida" não pode ser reduzida à sua expressão mais simples. Ou seja, que se estudarmos podemos vir a ser uns senhores doutores e, a partir daí, poderemos vir a ter dinheiro e notoriedade.
Não, a ideia que tenho de “estudar para ser alguém na vida” é que o esforço continuado no estudo, dará mais conhecimento, mais competência e mais valorização pessoal. Se estes factores nos conduzirem à licenciatura tanto melhor. E se estes valores ainda nos proporcionarem mais dinheiro e melhor posição nas empresas e na sociedade, então, será ouro sobre azul.
Mas é bom recordar o princípio, o estudo, dar-nos-á mais conhecimento, mais competência e mais valorização pessoal.
Até que enfim que alguém descobriu alguma coisa de concreto para incriminar o primeiro ministro.
O azul disse claramente que José Sócrates comprou o curso.
A partir de agora a Procuradoria Geral da República e a Polícia Judiciária já podem avançar!
Ó provocador, quem estudou numa universidade a sério sabe que nunca se faz um curso como fez o Sócrates. Ele pode não ter tido favores especiais e aquilo pode ser a regra em muitas universidades privadas, mas não deixa de ser uma compra: pagou a mensalidade e teve o curso. Houve aqui alguém há tempos que disse que tirar um curso limitava-se a cumprir formalidades. Essa pessoa deve ter frequentado um curso como o de Sócrates.
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