Finalmente, e com a pompa e circunstância que o momento exigia, inaugurou-se ontem no Centro Cultural de Belém, o Museu Colecção Berardo.
O numeroso acervo de arte contemporânea foi visitado por cerca de 800 convidados, num fim de tarde que reuniu figuras da política, da cultura, das finanças e das artes.
Um dos presentes, o primeiro-ministro José Sócrates, felicitou o facto de um coleccionador privado ter colocado a sua colecção "à disposição de todos os portugueses". Com a inauguração do Museu Colecção Berardo, acrescentou, Portugal "fica um país mais rico" e Lisboa "uma cidade mais competitiva, mais atraente e com uma maior oferta cultural". José Sócrates terminou afirmando que "antes, o roteiro da arte contemporânea terminava em Madrid. Hoje começa aqui, em Lisboa".
Em resposta o Comendador Berardo agradeceu ao primeiro-ministro e à ministra da cultura o desfecho feliz de dez anos de negociações.
Berardo está na ordem do dia. Conseguiu até ofuscar a figura do ministro Mário Lino, que até há pouco dominava todos os noticiários, as conversas de café e era um dos temas principais do anedotário nacional.
Berardo está em todas, na PT, no BCP, no Benfica, enfim, em tudo aquilo em que ele anteveja a hipótese de ganhar milhões. E, é justo reconhecer isso, o homem é um artista nessa área, tem uma habilidade inata para ganhar dinheiro. Ele não cria riqueza para o país, ele não cria postos de trabalho, ele não é um investidor, ele é apenas (e não é pouco) um especulador que compra, vende e factura.
E nesta coisa do Museu Colecção Berardo mais uma vez ele ganhou. Tinha, pois, bastos motivos para agradecer aos ministros que foram na sua conversa. E qual foi ela? Simplesmente, pôs à disposição as suas obras de arte, como já o tinha feito em Sintra, e daqui a uns anos logo se vê se elas ficam por cá ou se as vai vender a quem lhe der mais dinheiro.
Se eu, que sou um tipo perfeitamente inábil para o negócio, tivesse uma colecção de pintura com milhares de quadros, teria ficado com uma dor de cabeça dos diabos. Onde os iria guardar, como os iria expor?
Num país a sério, ou os doava ao Estado ou criava um museu privado. Não era assim tão difícil de arranjar uma saída.
Mas, cá na aldeia, o problema que deveria ser do coleccionador passou a ser do Estado, porque os senhores que mandam no Estado ficaram aflitíssimos quando o Comendador ameaçou que meteria os quadros no bolso e os levaria para o estrangeiro se não lhe garantissem uma solução.
De aterrorizados, os nossos governantes passaram a bajuladores do futuro Presidente do Banco do Benfica e dono do próprio clube e reservaram-lhe uma parte significativa do Centro Cultural de Belém para os quadros ficarem lá expostos, garantiram-lhe que ele ainda poderia gozar do direito vitalício de vetar o nome do director escolhido pelo próprio Estado para gerir a área do CCB exclusivamente reservada para a colecção e, como cereja no topo do bolo, as despesas seriam pagas na íntegra, cá pelos contribuintes até ... 2017.
E com isto, o país garantiu algum direito sobre as obras? NÃO, um rotundo NÃO!
Em 2017, Berardo voltará a pensar no assunto e decidirá então se vai vender tudo ao Estado, se vai voltar a ameaçar que se vai embora ou se vai mesmo embora para vender a sua colecção a quem lhe acenar com mais dinheiro.
Há quem seja acérrimo defensor de Berardo, pela forma ousada e desabrida de dizer as coisas sem rodeios. Pois para mim, já chegava o Alberto João Jardim que, como tenho dito, já não há pachorra para o aturar. Agora, apanhar com mais um ...
Ainda ontem foi a inauguração e, ainda ontem já Mega Ferreira, Presidente do Conselho de Administração do CCB e, simultaneamente, Presidente do Conselho de Fundadores da Fundação Colecção Berardo, enviara uma carta a Berardo a demitir-se deste último cargo.
E porque teria sido? Por divergências anteriores com o coleccionador, por discordar com esta grande “fraude” que nos tapou os olhos em troca do privilégio de podermos admirar os seus quadros até 2017, por achar que tinha, de facto, “falta de empenho” como o acusou Joe Berardo ou por já não estar para aturar tanta arrogância do madeirense que publicamente anunciou que tinha tido a amabilidade de oferecer aquele lugar a Mega Ferreira?
Ou será que Mega Ferreira já tinha conhecimento que o Comendador estava a ponderar a hipótese de, ele próprio, presidir ao Conselho de Fundadores, lugar que Berardo tinha prescindido em Junho do ano passado?
Resta saber se em 2017, os governantes e entusiastas de agora com este mega negócio (para Joe Berardo, evidentemente), continuarão a pensar que “Portugal ainda será um país rico” e “Lisboa uma cidade muito competitiva, muito atraente e com uma grande oferta cultural”, ou se, pelo contrário, “o roteiro da arte contemporânea” voltou a terminar em Madrid e Lisboa saiu definitivamente do mapa.
O numeroso acervo de arte contemporânea foi visitado por cerca de 800 convidados, num fim de tarde que reuniu figuras da política, da cultura, das finanças e das artes.
Um dos presentes, o primeiro-ministro José Sócrates, felicitou o facto de um coleccionador privado ter colocado a sua colecção "à disposição de todos os portugueses". Com a inauguração do Museu Colecção Berardo, acrescentou, Portugal "fica um país mais rico" e Lisboa "uma cidade mais competitiva, mais atraente e com uma maior oferta cultural". José Sócrates terminou afirmando que "antes, o roteiro da arte contemporânea terminava em Madrid. Hoje começa aqui, em Lisboa".
Em resposta o Comendador Berardo agradeceu ao primeiro-ministro e à ministra da cultura o desfecho feliz de dez anos de negociações.
Berardo está na ordem do dia. Conseguiu até ofuscar a figura do ministro Mário Lino, que até há pouco dominava todos os noticiários, as conversas de café e era um dos temas principais do anedotário nacional.
Berardo está em todas, na PT, no BCP, no Benfica, enfim, em tudo aquilo em que ele anteveja a hipótese de ganhar milhões. E, é justo reconhecer isso, o homem é um artista nessa área, tem uma habilidade inata para ganhar dinheiro. Ele não cria riqueza para o país, ele não cria postos de trabalho, ele não é um investidor, ele é apenas (e não é pouco) um especulador que compra, vende e factura.
E nesta coisa do Museu Colecção Berardo mais uma vez ele ganhou. Tinha, pois, bastos motivos para agradecer aos ministros que foram na sua conversa. E qual foi ela? Simplesmente, pôs à disposição as suas obras de arte, como já o tinha feito em Sintra, e daqui a uns anos logo se vê se elas ficam por cá ou se as vai vender a quem lhe der mais dinheiro.
Se eu, que sou um tipo perfeitamente inábil para o negócio, tivesse uma colecção de pintura com milhares de quadros, teria ficado com uma dor de cabeça dos diabos. Onde os iria guardar, como os iria expor?
Num país a sério, ou os doava ao Estado ou criava um museu privado. Não era assim tão difícil de arranjar uma saída.
Mas, cá na aldeia, o problema que deveria ser do coleccionador passou a ser do Estado, porque os senhores que mandam no Estado ficaram aflitíssimos quando o Comendador ameaçou que meteria os quadros no bolso e os levaria para o estrangeiro se não lhe garantissem uma solução.
De aterrorizados, os nossos governantes passaram a bajuladores do futuro Presidente do Banco do Benfica e dono do próprio clube e reservaram-lhe uma parte significativa do Centro Cultural de Belém para os quadros ficarem lá expostos, garantiram-lhe que ele ainda poderia gozar do direito vitalício de vetar o nome do director escolhido pelo próprio Estado para gerir a área do CCB exclusivamente reservada para a colecção e, como cereja no topo do bolo, as despesas seriam pagas na íntegra, cá pelos contribuintes até ... 2017.
E com isto, o país garantiu algum direito sobre as obras? NÃO, um rotundo NÃO!
Em 2017, Berardo voltará a pensar no assunto e decidirá então se vai vender tudo ao Estado, se vai voltar a ameaçar que se vai embora ou se vai mesmo embora para vender a sua colecção a quem lhe acenar com mais dinheiro.
Há quem seja acérrimo defensor de Berardo, pela forma ousada e desabrida de dizer as coisas sem rodeios. Pois para mim, já chegava o Alberto João Jardim que, como tenho dito, já não há pachorra para o aturar. Agora, apanhar com mais um ...
Ainda ontem foi a inauguração e, ainda ontem já Mega Ferreira, Presidente do Conselho de Administração do CCB e, simultaneamente, Presidente do Conselho de Fundadores da Fundação Colecção Berardo, enviara uma carta a Berardo a demitir-se deste último cargo.
E porque teria sido? Por divergências anteriores com o coleccionador, por discordar com esta grande “fraude” que nos tapou os olhos em troca do privilégio de podermos admirar os seus quadros até 2017, por achar que tinha, de facto, “falta de empenho” como o acusou Joe Berardo ou por já não estar para aturar tanta arrogância do madeirense que publicamente anunciou que tinha tido a amabilidade de oferecer aquele lugar a Mega Ferreira?
Ou será que Mega Ferreira já tinha conhecimento que o Comendador estava a ponderar a hipótese de, ele próprio, presidir ao Conselho de Fundadores, lugar que Berardo tinha prescindido em Junho do ano passado?
Resta saber se em 2017, os governantes e entusiastas de agora com este mega negócio (para Joe Berardo, evidentemente), continuarão a pensar que “Portugal ainda será um país rico” e “Lisboa uma cidade muito competitiva, muito atraente e com uma grande oferta cultural”, ou se, pelo contrário, “o roteiro da arte contemporânea” voltou a terminar em Madrid e Lisboa saiu definitivamente do mapa.
3 comentários:
Lamentavelmente, o texto de hoje não teve, como de costume, o título a que tinha direito, que, provavelmente, ficou esquecido entre as teclas do computador. Contudo, e pedindo desculpas pelo lapso, para que conste, o título que deveria aparecer no local apropriado é
"À disposição de todos os portugueses”
Espera aí! O Engº. Sócrates de tão entusiasmado que estava junto ao comendador, afirmou que “antes, o roteiro de arte contemporânea acabava em Madrid”?
Então e a Fundação Serralves que tem uma das melhores colecções da Europa de arte contemporânea?
O entusiasmo às vezes leva a estes exageros!...
A não ser que Serralves fique ali para os lados de Alcalla de Enares, que es cerca de Madrid, verdad?
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