quarta-feira, fevereiro 16, 2011

A aula de hidroginástica

A crónica de hoje poderia ser dedicada a gente de todas as idades dado que, julgo, todos se reveriam, de uma maneira ou de outra, no que vou contar.

A cena passa-se num dos melhores ginásios da capital e no início de uma aula de hidroginástica.

Desde já gostaria de dizer que esta era a minha primeira aula e que só acedi “alinhar” nesta actividade depois de grandes esforços de familiares para me convencer. Embora a “Hidro” seja aconselhada pelos médicos por ser um bom exercício que visa melhorar a qualidade de vida, confesso, eu que sempre pratiquei desporto de competição, que sempre olhei para aquelas classes como reuniões de pessoas idosas que se juntam para se divertir e para conviver.

É claro que esta actividade é também isso, ou seja, também serve para aumentar a interacção social, para diminuir o isolamento, para melhorar os níveis de independência e autonomia, para ocupar os tempos livres de forma saudável, enfim, para promover o bem-estar geral.

Mas é mais do que isso, é um exercício físico exigente, que faz mexer todas as partes do corpo e que apenas por estarmos dentro de água não nos deixa suar da forma habitual. Ah, e quanto àquela ideia da reunião de pessoas desocupadas e com idade avançada esqueçam, não é nada disso. Comparecem às aulas pessoas de todas as idades que têm um fim comum – fazer exercício.

Mas voltemos à minha primeira aula de “Hidro”. Normalmente, as sessões são acompanhadas de música mexida, cujo ritmo ajuda a execução dos exercícios ministrados pelo professor.

Ora, desta vez, logo no início da aula o aparelho de som avariou. A jovem monitora, impotente para resolver o falhanço da máquina, tratou de “puxar” pelos alunos, começando a entoar canções mais ou menos conhecidas e, claro está, mais ou menos actuais. Como a classe não respondeu a contento, provavelmente por desconhecimento das letras, a jovem recorreu às suas memórias de infância e foi buscar músicas populares e de artistas também populares – do género “atirei o pau ao gato” ou “eu tenho dois amores” - para angariar novas energias e para que a aula decorresse normalmente dentro da anormalidade, o que conseguiu.

Foi então que dei conta que a maioria das minhas companheiras (os participantes são maioritariamente senhoras) entoava com entusiasmo as canções propostas (ou eram elas próprias a sugeri-las) a ponto de se transformar uma aula de “Hidro” num grupo coral a roçar o folclórico.

E, quando olhei ao redor e vi uma boa parte do grupo a entoar de forma entusiástica as canções populares, esquecendo o que os levara ali, percebi que tinha apanhado o comboio errado. Aquilo não era uma aula de hidroginástica mas um autocarro de excursão de seniores animados.

2 comentários:

Fernando Gomes disse...

Amigo Palma,

Uma das características do ser humano é a subjectividade, a capacidade que temos de fazer várias representações da realidade e de tudo o que nos rodeia. No presente caso, eu faria outra interpretação do sucedido, ou seja: Há muito que é sabido que os Portugueses têm uma enorme capacidade de “improvisação”, de uma situação embaraçosa e em que tudo teima em falhar, nós, os Tugas, lá arranjamos uma forma de dar a volta à questão. No caso relatado, a representação que faço é de uma “boa profissional”, que não deixou que a aula se realizasse em virtude do equipamento do som se ter avariado. Atenta, adoptou uma postura de cativar e envolver todos os participantes na aula, acabando todos por fazer exercício físico de uma forma descontraída e divertida. Quanto ao meu amigo Palma, fico muito contente que continua activo a fazer coisas que lhe dão prazer e a cuidar do corpo e da mente. Parabéns e um grande abraço.

provocador disse...

Essa de “atirei o pau ao gato” já era. Agora, por causa das associações de defesa dos animais, a canção canta-se de outra maneira: “atirei o lenço ao gato”.

Actualiza-te, meu.