
Como é habitual, fazemos aqui a nossa pausa para férias.
O blogue volta em 31 de Agosto, dia em que o “Por Linhas Tortas” faz anos. Estaremos aqui para festejar a data.
Fiquem bem.
Té já!
Não é todos os dias (aliás, é raríssimo) que um Ministro se disponha a ir a um aeroporto para receber uns quantos portugueses que se destacaram numa competição lá fora. A exemplo, aliás, do que acontece com a maioria da população que, de uma forma geral, se está nas tintas para aqueles que, nas várias actividades, conseguem atingir a excelência fora (e dentro) de fronteiras. A excepção resume-se aos adeptos do futebol que raramente deixam os seus créditos por mãos alheias, isto é, enchem as zonas de chegada dos aeroportos para saudar os seus clubes, nomeadamente a rapaziada do norte que tem tido muito mais razões para festejar do que os do sul.
Como referi, não é normal que um Ministro vá receber uma equipa (ou uma personalidade) vencedora numa competição internacional. Mas às vezes o improvável acontece. Há dias o novo Ministro da Educação e Ciência – Nuno Crato - recebeu no aeroporto de Lisboa a comitiva que concorreu às Olimpíadas Internacionais de Matemática. Uma equipa fantástica que conseguiu uma medalha de ouro e duas de bronze. Feito inédito e valoroso de que nos devemos orgulhar.
E devemos, também, aplaudir, a presença do Ministro. Se para alguns a sua atitude é considerada populista, para mim, ela representa o reconhecimento oficial de um governante que quis publicamente dar o devido relevo ao mérito daqueles jovens. É um estímulo que lhes deve ter sabido bem e que demonstra que, cá no burgo, ainda há quem se preocupe com outras coisas para além do futebol. Até que enfim!
Fiquei embasbacado quando ouvi no último domingo na sua habitual crónica da TVI, Marcelo Rebelo de Sousa denunciar que o Ministério da Cultura tinha um apartamento em Veneza para albergar convidados do Estado. Sobretudo, adiantou, aquando da Bienal de Veneza.
O que só prova que o facto de andarmos literalmente de mão estendida à caridade internacional e de, nós contribuintes, sermos sistematicamente sobrecarregados de impostos, não impede, ainda assim, que apresentemos uma fachada de alguma prosperidade. Ou seja, “Está-se bem”, na versão mais moderna ou “Pobretes mas alegretes” como se dizia dantes.
Com que então, um apartamento na maravilhosa Veneza para acolher as distintas personalidades que vão visitar a Bienal de Veneza, a exposição internacional de arte que se realiza desde 1895, de dois em dois anos. Perante isto só me ocorre dizer “Vivó luxo”.
Claro que não se pode confiar em tudo o que é veiculado pela net e, por isso, tenho sempre o maior cuidado em reencaminhar os mails que recebo e abstenho-me de tecer grandes comentários a certos assuntos, sobretudo aqueles que nos causam mais admiração ou maior revolta.
Porém, às vezes, a coisa é mesmo a sério, como aquele que agora veio a público e está a ser amplamente divulgado nas redes sociais, nos blogues e através de mails. A presidente da Assembleia da República - Assunção Esteves – atribuiu a Mota Amaral, na qualidade de ex-presidente do Parlamento, um gabinete, uma secretária, um BMW 320 e um motorista.
Diz o despacho publicado no Diário da República, II Série-E – Número 1, de 24 de Junho de 2011:
“Ao abrigo do disposto no artigo 13.º da Lei de Organização e Funcionamento dos Serviços da Assembleia da República (LOFAR), publicada em anexo à Lei n.º 28/2003, de 30 de Julho, e do n.º 8, alínea a), do artigo 1.º da Resolução da Assembleia da República n.º 57/2004, de 6 de Agosto, alterada pela Resolução da Assembleia da República n.º 12/2007, de 20 de Março, determino o seguinte:
a) Atribuir ao Sr. Deputado João Bosco Mota Amaral, que foi Presidente da Assembleia da República na IX Legislatura, gabinete próprio no andar nobre do Palácio de São Bento;
b) Afectar a tal gabinete as salas n.º 5001, para o ex-Presidente da Assembleia da República, e n.º 5003, para a sua secretária;
c) Destacar para o desempenho desta função a funcionária do quadro da Assembleia da República, com a categoria de assessora parlamentar, Dr.a Anabela Fernandes Simão;
d) Atribuir a viatura BMW, modelo 320, com a matrícula 86-GU-77, para uso pessoal do ex-Presidente da Assembleia da República;
e) Encarregar da mesma viatura o funcionário do quadro de pessoal da Assembleia da República, com a qualificação de motorista, Sr. João Jorge Lopes Gueidão;
Palácio de São Bento, 21de Junho de 2011
A Presidente da Assembleia da República, Maria da Assunção Esteves”
Assim, tal e qual. Esta é a prova provada de que a nossa Assembleia da República, não aplica a si própria a contenção que o governo tem vindo a impor aos portugueses. E o que os portugueses não conseguem entender - e ainda que as leis permitam que as benesses atribuídas às 2ªs figuras do Estado (mesmo quando deixam o cargo) - é que essas leis não sejam imediatamente revogadas, dado o estado actual do país. Tanto mais que é o erário público que suporta esses custos.
Apesar dos “sinais”, como aqui comentávamos há dias, isto não vai lá só com viagens em turística e com a possibilidade de se trabalhar sem gravata. Não, é preciso mais …
Há muito que se sabe das “ligações perigosas” entre a indústria farmacêutica e a classe médica, onde a tão badalada corrupção se materializa através de viagens e fins-de-semana em estâncias turísticas (algumas em lugares distantes e paradisíacos e muitas vezes a pretexto de congressos científicos ou acções de formação), cheques-prenda, consolas ou até mesmo “dinheiro vivo” entregue em sobrescritos. Tudo isso e muito mais oferecido a médicos como contrapartida da prescrição dos medicamentos oriundos dos vários laboratórios. Quanto mais embalagens forem receitadas, maior será o valor da contrapartida. E, assim, neste esquema em que não há culpados, lá se tem vivido, com alegria e impunidade. Mas isso já nós sabíamos e condenávamos, e embora seja crime, parece que nos habituámos à ideia.
Agora a novidade é que foram apanhados alguns clínicos que em troca das tais prescrições aceitaram bilhetes para jogos internacionais do Benfica e as respectivas estadas em Lisboa. E este facto – o de virem assistir aos jogos do Glorioso - altera tudo. É que o favorzito, neste caso, nunca poderá ser considerado um crime mas antes a manifestação mais forte de fervor nacional. Provavelmente os senhores doutores pensarão “Ah, é pr’a ir ver o Benfica, então vou receitar uma caterva dos vossos medicamentos”. E, por esta ser uma boa razão, constitui uma atenuante de peso, caso algum mal intencionado advogado se lembre de colocar uma acção contra esse distinto médico benfiquista. Não concordam? É que uma coisa é uma coisa e uma outra coisa é uma outra coisa.
Com a escalada do preço do ouro nos mercados internacionais nos últimos dias, logo se equacionou a hipótese de Portugal vender as suas reservas de ouro para amortizar a dívida que tem. Uns (cá de dentro), por pura ignorância dos acordos entre o Banco Central Europeu e os Bancos Centrais dos vários países, outros (os de lá de fora e, sobretudo, os alemães), a colocarem mais lenha na fogueira e a defender que deveríamos vender mesmo o nosso ouro antes de pensar em receber o empréstimo (a ajuda) já combinada com as instâncias internacionais.
E a verdade é que tendo o nosso país uma quantidade apreciável de ouro (382,5 toneladas que faz de nós a sétima nação do mundo com maior reserva de ouro) parece da mais elementar sensatez desfazermo-nos das barras de ouro para liquidarmos as nossas dívidas e acabar com os nossos problemas. Parece mas não é.
E não é por duas razões básicas. A primeira, porque o ouro é propriedade do Banco de Portugal e não do Estado e, portanto, se fosse vendido, o lucro era do BdP que, quando muito, distribuiria, mais tarde, os dividendos ao patrão-Estado. A segunda é que, mesmo que o nosso ouro valha agora 11,6 mil milhões de euros não chega nem de longe para cobrir a nossa dívida pública que é de 159,6 mil milhões de euros e um défice de 14,9 mil milhões.
Daí que, mesmo que isso fosse possível, para quê alienar uma reserva que não iria resolver coisíssima nenhuma? O que faz sentido, isso sim, é que o Estado mude de atitude e promova o necessário para reactivar o seu tecido produtivo a fim de gerar riqueza. Enquanto isso, irá agindo pelo lado da receita fácil, isto é, vai continuar a lançar mais impostos sobre os cidadãos.
Portanto, vão-se preparando para mais impostos que, fatalmente, chegarão e esqueçam a pergunta “e se Portugal vendesse o ouro?”. Como se disse, além de não poder, isso não resolveria os nossos problemas. E, já agora, esqueçam também a velha frase “vão-se os anéis mas fiquem os dedos” porque mesmo que se vendessem os anéis (o ouro), ficaríamos com os dedos (neste caso, as dívidas) ligados a um futuro nada risonho.
Para ser franco não me impressionou por aí além o facto de uma fabriqueta nacional comprar produtos lá fora para, depois, os vender aos turistas como “Produto de Portugal”. Fiquei indignado, isso sim, quando há uns anos se soube que alguns países andavam a produzir o nosso “vinho do Porto” de uvas que nasciam lá nas suas terras quando o verdadeiro “Porto” é legitimamente um vinho natural e fortificado, produzido exclusivamente a partir de uvas provenientes da região demarcada do Douro, em Portugal. E não é despiciente a forma como é utilizada a palavra “exclusivamente”.
O que se passa com este “produto algarvio” é que a empresa da zona de Torres Vedras que vai comprar a granel os figos secos à Turquia e o miolo de amêndoa aos Estados Unidos (por serem mais baratinhos) embala-os, depois, da mesmíssima forma como sempre se fez no Algarve e vende o produto final como um “Souvenir de Portugal”. Só não se sabe em que parte do mundo foram comprar os cestos e os celofanes.
Poder-se-á dizer que se está a vender gato por lebre. É verdade que sim, mas a verdade também é que o produto (a sua criação) é tradicional cá da terra e provavelmente dá trabalho a alguns portugueses que trabalham na tal fabriqueta. E não deixa de ser também uma lembrança de Portugal, o país onde os estrangeiros (e se calhar os nacionais) adquiriram a mercadoria. Ainda assim, e para aqueles que se mostram mais indignados com a “marosca”, apetece-me perguntar se nunca compraram uma peça de roupa ou de artesanato num determinado país que, mais tarde e depois do regresso a casa, verificaram ter sido feita na China ou na Índia?
O que se questiona verdadeiramente é se em vez de irem comprar a matéria-prima lá fora não o poderiam ter feito cá dentro, no próprio Algarve … terra de maravilhosas praias e de figueiras e amendoeiras. Quanto mais não fosse por uma questão de nacionalismo, num tempo em que o país tanto necessita da ajuda de todos nós.
Ah pois é. A língua portuguesa é tão complexa que, às vezes (muitas vezes), nos deixa completamente boquiabertos.
Eu que sei quase tudo, confesso que não fazia a mínima ideia que houvesse um palíndromo nem, tão-pouco, uma tautologia, termos que, à primeira vista, parecem-me coisas do período paleolítico ou quejando.
De qualquer forma e por via das dúvidas consultei o dicionário e lá estavam as duas palavras - altaneiras, vivas e resplandecentes - como que a troçar da minha cara à banda por tamanha ignorância. Especificando …
Palíndromo – Adjectivo – Diz-se da palavra ou da frase em que o sentido é o mesmo, quer se leia da esquerda para a direita quer da direita para a esquerda.
Exemplos de palavras:
OVO – OSSO – RADAR
De frases:
A DROGA DA GORDA
A TORRE DA DERROTA
O GALO AMA O LAGO
Resumindo um palíndromo é uma palavra ou uma frase que se lê da mesma maneira da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda.
Já a Tautologia é um substantivo feminino que significa a repetição inútil da mesma ideia.
Exemplos:
Subir para cima
Acabamento final
Todos foram unânimes
Criação nova
Ou seja, repetições que são perfeitamente dispensáveis.
Bem, por hoje o caldo de cultura está dado. Fiquemo-nos, então, por aqui antes que haja uma “surpresa inesperada”.
Ohps!!! Será que existirá alguma surpresa esperada?
Bem sei que o comentário feito pelo José ao post publicado na última sexta-feira se integrava num outro contexto, mas à sua pergunta “Unanimidade é coisa que exista?” quase que sou obrigado a responder que sim, que existe, pelo menos em relação à reacção portuguesa e europeia à descida do rating de Portugal para uma categoria considerada "lixo". Classificação essa que nos deixou muito abalados. Ninguém gostou que nos considerassem LIXO! Aliás, esta foi, indiscutivelmente, a palavra mais utilizada na semana passada e, quem sabe, se não será a que mais peso terá nos próximos tempos em Portugal e lá fora.
Na verdade, foi violenta a reacção da maioria dos políticos, dos economistas e da generalidade das pessoas ao considerarem que se tratou de uma medida injustificada face aos compromissos que assumimos com a troika e face às medidas duras já anunciadas pelo recém-empossado governo com maioria parlamentar. Para a maioria dos cidadãos, houve arrogância e análise superficial e ignorante por parte da agência de notação.
Pode até ter havido todas essas coisas mas o que, quanto a mim, está por detrás de tudo isto são os interesses (os ganhos) dos clientes destas agências (e delas próprias) que assentam num princípio bem definido “quanto mais um país e as suas grandes empresas correrem o risco de não pagar, mais estes senhores ganham”. Como disse José Gomes Ferreira num comentário recente “só os ingénuos é que podem pensar que estas descidas de rating têm a ver com critérios puramente técnicos”. Portanto, e sejamos claros, existe especulação pura e dura. Isto, claro está, para além da guerra suja entre o euro e o dólar, em que o primeiro se valoriza consistentemente em relação à moeda americana e, portanto, há que, de uma vez por todas, dar cabo do euro através da liquidação dos alvos mais fáceis, para já a Grécia, a Irlanda e Portugal. E não julguem que estou para aqui a magicar uma teoria da conspiração, porque ela – a conspiração - existe mesmo.
No meio da tormenta, em que parece que toda a gente anda enjoada mas onde ninguém toma medidas, houve uma acção levada a cabo pela agência de publicidade BBDO Portugal a que achei imensa piada. Em protesto contra o corte de notação que nos classificou em “lixo”, os criativos da BBDO encheram um saco de lixo verdadeiro e enviaram-no pelos correios para a sede da Moody’s, nos Estados Unidos. Todo o processo foi gravado em vídeo que está disponível no YouTube - http://www.youtube.com/watch?v=Y3hnH1ezHzY – que é acompanhado pela música 'Fuck You', de Cee Lo Green. Uma nota final para a última imagem do vídeo. Uma frase, uma mensagem bem conseguida, em minha opinião:
“Working to improve our rating
Assinada: Portugal”
Acredito que todos saibam o que é uma alforreca. O que não sei é se saberão quem é João Gonçalves, o actual adjunto político de Miguel Relvas, o Ministro dos Assuntos Parlamentares. Eu não sabia, confesso.
Pois João Gonçalves é o autor de um blogue muito conhecido que escreve umas coisas um tanto ou quanto “inconvenientes” e que lhe poderiam causar alguns amargos de boca. Neste caso, porém, não se deu mal.
Vejamos, então, alguns dos comentários (que transcrevo do Expresso desta semana) que fez sobre o actual Primeiro-Ministro:
Quando há nove meses Passos Coelho apresentou uma proposta de revisão constitucional, João Gonçalves escreveu: “Insensível ao curso da realidade, tal qual uma alforreca perdida com a mudança das marés e das correntes. Passos deu à costa com um tema perfeitamente escusado, mal explicado e sem o menor interesse. Passos já vai na terceira ou quarta oportunidade e ainda não conseguiu uma primeira boa impressão. Palpita-me que tem um lindo futuro atrás dele”.
Em 2010, depois de ver uma entrevista de Passos Coelho à RTP, Gonçalves desabafava: “dói-me a tola. Passos provoca enxaqueca porque aquilo é Sócrates sem os anos de palco que Sócrates leva … oscila entre o velho cacique da jota e o antigo candidato à Câmara da Amadora, numa gravitas que cheira a falso”.
Numa outra entrevista em Dezembro de 2009, comentou: “Reparem na clareza dos lugares-comuns facilmente parafraseáveis por um qualquer Secretário de Estado da nomenclatura de Sócrates. Reparem na subtileza digna de um mediano treinador de futebol”.
Ao longo dos tempos, João Gonçalves foi bastante agressivo com Pedro Passos Coelho e com o próprio Miguel Relvas, de quem agora depende. Mas a verdade é que a vida dá muitas voltas e os “encontrões” que Passos Coelho levou do bloguista parecem não o ter ofendido, nem sequer quando lhe chamou alforreca. Afinal as alforrecas vivem no mar e Portugal é um país de marinheiros …
Já se via por aí muita gente a bater palmas ao novo Governo. Provavelmente pela forma discreta como se organizaram, pela juventude dos seus membros que deixava antever a ausência de vícios que se conheciam aos anteriores e, sobretudo, pela esperança de uma mensagem que apontasse para uma maior transparência. A tal “verdade ao povo” que o povo tanto ansiava.
Mas as palmas têm vindo a diminuir desde o debate do programa de Governo que foi efectuado na Assembleia da República na semana passada. Não porque esse primeiro encontro tivesse sido marcado por toda aquela crispação a que nos habituámos nos últimos anos. Ao contrário, houve uma calma e uma civilidade muito grande e uma enorme mudança de tom. Possíveis, penso eu, pela expectativa da oposição mas, também, pela postura que os novos ministros apresentaram. Muitos deles tão serenos que pareciam pedir desculpa por estarem ali.
Mas, então, por que é que as palmas têm vindo a abrandar? Principalmente porque a mudança de tom não é, por si só, suficiente e as “mentirinhas” que já conhecíamos a outros executivos começaram a aparecer. Pois não foi este Primeiro-Ministro que garantiu há poucos meses que, a aumentar os impostos só o faria sobre aqueles que penalizassem o consumo e nunca os dos rendimentos? Pois foi e aí está, preto no branco, o imposto extra sobre o subsídio de Natal que vai afectar uns largos milhões de portugueses. Na senda de Guterres, de Durão Barroso e de Sócrates, também Passos Coelho prometeu e não cumpriu.
Mas há uma coisa que me deixa ainda mais perplexo. Como justificar que se tenha aberto uma crise política e derrubado um governo a pretexto de que o famosíssimo PEC 4 não resolvia os problemas do país e, nomeadamente, com o argumento de que não havia motivos para que um pacote daqueles viesse a castigar ainda mais os portugueses? E o que se verifica, é que a nova maioria, uma vez no poleiro, apresenta um programa (chamemos-lhe PEC 5) que responde ao memorando assinado com a troika (pudera, tinha que ser) mas é ainda mais arrojado e mais penalizador para os cidadãos do que o outro que tinha sido rejeitado.
Até agora, o único apontamento positivo (se é que se pode considerar assim) consiste na mudança de tom. Aparentemente há mais serenidade e maior abertura para responder aos adversários mas, quanto ao resto, fico à espera. É que eu, ao contrário de muito boa gente, não costumo avaliar as pessoas apenas pela simpatia ou pela escolha das gravatas ou dos adereços que utilizam. Necessito ver resultados e esses (para além do 13º) ainda levam algum tempo a chegar. É que a procissão ainda vai no adro…
Do poeta português Al Berto (1948 – 1997) “A minha tragédia”
Tenho ódio à luz e raiva à claridade
Do sol, alegre, quente, na subida.
Parece que a minh’alma é perseguida
Por um carrasco cheio de maldade!
Ó minha vã, inútil mocidade,
Trazes-me embriagada, entontecida!...
Duns beijos que me deste noutra vida,
Trago em meus lábios roxos, a saudade!...
Eu não gosto do sol, eu tenho medo
Que me leiam nos olhos o segredo
De não amar ninguém, de ser assim!
Gosto da Noite imensa, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim!...