Encerra hoje a secular Feira de S. Martinho da Golegã e, simultaneamente, a XXXI Feira Nacional do Cavalo e a VIII Feira Internacional do Cavalo Lusitano que, durante uma semana, constituíram o ponto de encontro de todos os aficcionados do mundo equestre.
A importância deste certame é de tal monta, que é hoje um dos mais importantes eventos nacionais conhecidos mundialmente e que atrai milhares de pessoas vindos dos cinco continentes.
Como resultado deste facto, a Golegã foi designada oficialmente desde 1998 a Capital do Cavalo e, a partir do ano passado, passou a integrar as capitais europeias do cavalo na rede Euroequus, juntamente com Jerez de la Frontera (Espanha), Warengen (Bélgica) e Pardubice (República Checa).
Mas, para além da festa dos cavalos e dos cavaleiros, a maioria deles garbosos e vaidosos na sua apresentação, não faltaram, também, a água pé e as castanhas assadas próprias da época, os inúmeros "tascos" e restaurantes, roulotes e barracas de comes e bebes e a massa imensa de uma multidão que, presumo, tem vindo a aumentar de ano para ano.
E se, como parece, faz parte da festa a união tão próxima entre visitantes e cavalos, ambos em constante movimento nas estreitas ruas e ruelas da vila, festa, aliás, de características únicas, acho que chegou a altura dos respectivos promotores começarem a pensar menos nesse aspecto tão castiço e tradicional e reflectirem um pouco mais sobre a segurança que tal evento exige, tudo isto, sem que se perca a beleza e a pureza de uma festa que é tão bonita.
Definitivamente a complacência dos visitantes em serem "atropelados" por cavalos impacientes com tanta gente à sua volta, conduzidos por cavaleiros, alguns já com uns copos a mais ou, aqueles outros que fazem questão de mostrar a sua jactância montada em cima de um bicho a rondar os dois metros de altura, deve terminar.
Eu vi no passado sábado, dia 11, um cavalo escorregar na calçada e cair em cima de umas quantas pessoas que estavam mesmo ao lado do animal. Eu vi uma disputa entre cavaleiros que circulavam em sentido contrário e que impuseram a sua passagem à custa das esporas, e que levaram os pobres cavalos a empinarem-se e a assustar a multidão. Eu vi um cavalo ficar tremendamente assustado com o rebentar de um balão de uma criança e que, para além de se empinar, "disparou" uns quantos coices que só por milagre não atingiram quem estava por perto.
Sem que se perdesse a imensa beleza que é a festa do cavalo, os técnicos podiam equacionar a possibilidade de fazer circular as montadas por ruas exclusivas para elas até ao picadeiro central e deixar as outras artérias apenas para a multidão que deambula pela vila. Ou, não sendo possível, ou não querendo ser tão radicais para que não se perca a simbiose entre o público e os cavalos e cavaleiros, criar nas ruas mais largas, uma separação a meio da rua para que, de um lado, andassem as pessoas e do outro os cavaleiros.
A continuação da situação actual, porque é tradição ou porque sempre foi assim, não justifica nem beneficia quem quer que seja. Certamente que teremos todos melhores condições para admirar com muito mais detalhe e um olhar mais crítico, um bonito alazão, bem aparelhado e arranjado, montado por uma amazona vestida a rigor, que passe a três metros de nós, do que sentir o bafo quente do cavalo já nas nossas costas, ansioso por abrir caminho e empurrando e assustando quem segue no mesmo sentido. E há que não esquecer os milhares de crianças e idosos que se encontravam presentes na Golegã.
Até quando, pergunto? Será necessário que por ali aconteça um acidente que provoque males maiores, quem sabe se alguma morte? Deixem-nos gozar uma festa que é tão bela e que fascina milhares e milhares de visitantes vindos de todo o lado. Usem a imaginação e ponham em destaque o que, na verdade, nos leva ali.
Deixem-nos admirar a verdadeira essência da festa mas com os cuidados necessários para salvaguardar a segurança de quem, afinal, também faz parte dessa mesma festa, as pessoas.
3 comentários:
Perfeitamente de acordo. A “festa” tem que continuar com toda aquela beleza mas há que, urgentemente, adoptar medidas de segurança que protejam toda aquela gente que ali vai para se divertir e, fundamentalmente, para admirar cavalos e cavaleiros. Este ano eu também estive na Golegã e fiquei apreensivo com a enorme confusão que nunca antes ali tinha observado. De qualquer forma trata-se de um evento que não falho, desde que haja disponibilidade, e que recomendo vivamente a todos. Vão à Golegã e vão ver que vão adorar.
Ia já a trote em cima do texto quando, de repente, empinei-me com a frase “o certame atrai milhares de pessoas vindas dos cinco continentes” e eu li – juro que li - que “vinham milhares de pessoas vindas dos quatro cantos do mundo”. Ora, como o mundo é redondo e, portanto, não tem cantos, tive mesmo para te chamar um nome ... mas vá lá, desta escapaste!
Provavelmente ele já passou por essa discussão antes e egora estava atento.
Enviar um comentário