Os nomes que dão dados às ruas das grandes cidades, estão normalmente associados a muitas histórias e em especial à mudança de regimes políticos. Uma rua que tenha hoje um determinado nome, pode amanhã, se houver uma revolução, ostentar um nome completamente diferente.
Foi assim com o 28 de Maio, com o 25 de Abril mas, sobretudo, com a mudança do regime monárquico para a República. Como se tivesse havido um sismo, varreram-se as placas com os nomes de personalidades, de santos e até de acontecimentos que estavam ligados à monarquia.
A Avenida António Maria de Avelar é hoje a Avenida Cinco de Outubro, a Avenida D. Amélia passou a chamar-se Avenida Almirante Reis, a Avenida Ressano Garcia mudou de nome para Avenida da República e a Ponte Salazar passou a Ponte 25 de Abril. Isto só para dar alguns exemplos.
Mas outra característica da atribuição de nomes de ruas é marcada pelas datas. São a Rua Primeiro de Maio, Rua Primeiro de Dezembro, Rua Nove de Abril, Avenida Vinte e Quatro de Julho e a Avenida Cinco de Outubro, por exemplo, mas muitas outras existirão por esta cidade.
Independentemente dos critérios de atribuição dos nomes que vão constar nas placas, um pouco como se disse, ao sabor dos acontecimentos políticos de cada época e/ou da relevância na vida nacional de certas personalidades do mundo das artes ou da ciência, existem dois graves problemas nesta matéria que, aparentemente, não há grande vontade em resolver.
O primeiro tem a ver com a colocação das próprias placas com a indicação do nome das ruas e avenidas que, normalmente, só se encontram no início e no fim de cada artéria e, apenas, de um dos lados, e isto, quando essas ruas são identificadas, o que nem sempre acontece.
Ora, se uma rua ou avenida tem uma grande extensão e é atravessada perpendicularmente, e por diversas vezes, por outras ruas, acontece que só sabemos o nome dessa rua ou avenida quando entramos nela ou quando já vamos de saída. Muito raramente e só nas ruas com muitos quilómetros, como é o caso da Av. Almirante Reis, o nome da rua principal é indicada mais do que uma vez em toda a sua extensão. Por isso, o normal quando saímos de uma rua secundária é não sabermos em que rua nos fomos meter. Bem podemos olhar para as esquinas dos prédios que não vemos qualquer indicação, o melhor é mesmo perguntar.
O segundo problema tem a ver com a informação, neste caso com a falta dela, sobre quem foi aquele nome ali plantado na placa ou que data é que se pretende comemorar. Uma explicação simples que fosse, ajudar-nos-ia a perceber melhor a nossa História e não seria por colocar mais umas quantas letras em cada placa que os cofres camarários iriam à falência.
Alguns exemplos talvez ajudem a perceber o que quero dizer:
- Rua Tomás Ribeiro
Olhamos para a placa, que ainda por cima está suja que se farta, como, de resto, a esmagadora maioria das restantes, e o que é que aquele nome nos diz? Nada, provavelmente. Mas se a seguir ao nome pusessem
1831 – 1901 - Advogado, Político, Poeta e Dramaturgo Português;
- Rua Andrade Corvo
Quem teria sido e em que época viveu?
Mas se a seguir viesse a indicação
1824 – 1890 - Escritor e Político Português
- Av. Duque de Loulé
Bem, era um Duque, logo da monarquia. Mas como qual seria o seu nome? Bastava que a placa indicasse
1804 – 1875
Nuno José Severo de Mendonça Rolim de Moura Barreto
9.º conde de Vale de Reis, 2.º marquês e 1.º duque de Loulé
General, Deputado e Conselheiro de Estado
- Avenida Fontes Pereira de Melo
Todos sabemos que é a avenida que vai do Marquês de Pombal ao Saldanha. O que não sabemos é quem foi o homem que dá nome à Av. Uma pequena indicação e ficaríamos esclarecidos.
1819 – 1887 - Estadista e Engenheiro Militar
E, tantas e tantas outras ruas e avenidas que careceriam de uma pequena informação que nos ajudasse a perceber quem estávamos a homenagear. Para já não falar naquelas outras ruas, becos, azinhagas e outros, cuja explicação se perderá na bruma dos tempos e que terão a ver com factos passados e que, provavelmente, nunca se saberão os porquês como, por exemplo, o “Largo do Cabeço de Bola”, ali para o lado dos Anjos.
Admito que este tipo de toponímica custaria uns quantos euros e levaria um certo tempo a compor a nova imagem, mas o resultado final seria, tenho a certeza, muito positivo. Datas e personagens ficariam identificados e, para quem tivesse interesse e curiosidade em saber um pouco mais sobre quem somos, isso poderia constituir um motivo de pesquisa e, consequentemente, de cultura.
Senhores presidentes das autarquias deste país, vamos a isto!
2 comentários:
Concordo, embora já tenha visto por aí algumas placas que identificam minimamente a personalidade em questão.
O mesmo talvez já não aconteça em relação a datas.
De qualquer forma, ainda bem que vivemos na era da internet, com acesso a enciclopédias on-line, como o www.wikipedia.org, por exemplo.
Tu queres ver que plano tecnológico do Sócrates sempre vem a dar jeito?
Oh demascarenhas, e não te lembraste tu de falar naquela rua onde morava um amigo nosso
a “Rua do Lá Vai Um”, porta não tem, número cem.
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