terça-feira, outubro 23, 2007

Dois milhões de pobres em Portugal

Para responder à questão (e à dúvida) que o nosso companheiro “porcos no espaço” colocou no comentário que fez ao meu último post, e que, decerto, é partilhada por muita gente, decidi voltar ao assunto.


Para começar, direi que será interessante ler uma notícia, intitulada “O Banco de Isabel Jonet”, que o Nicolau Santos escreveu no Expresso do passado sábado e que passo a transcrever:

“É porque existem dois milhões de portugueses a viver abaixo do limiar da pobreza que é necessário o Banco Alimentar contra a Fome – e, desde esta semana, o Banco de Bens Doados. É porque o Estado não tem capacidade para resolver esta chaga social que são necessárias pessoas como Isabel Jonet e a sua equipa, que fazem um notável trabalho para minorar a fome e as carências destes portugueses. E a mensagem que Isabel nos passa é que a sociedade civil tem que se envolver neste esforço – porque os nossos filhos não vão querer viver e trabalhar num país violentamente desigual”.


Acrescentarei, também, que será igualmente interessante ler uma outra notícia, intitulada “Banco de Bens Doados beneficia 80 mil”, que veio igualmente publicada no último Expresso, e que diz o seguinte:

O banco de Bens Doados, um projecto criado pela Entrajuda – uma associação inspirada no projecto do Banco Alimentar Contra a Fome – vai fazer chegar a mais de 500 instituições de solidariedade roupas, material informático, cadeiras, mesas, entre outros bens não alimentares. Oitenta mil pessoas carenciadas serão beneficiadas com esta iniciativa apadrinhada com a presença do Presidente da República, Cavaco Silva. O BES é o principal parceiro deste projecto cuja finalidade é dar utilidade a bens que deixam de ter valor para as empresas e particulares”.



Tenho esperança que estes dois textos já tenham dissipado algumas das vossas incertezas. No entanto, gostaria ainda de acrescentar o seguinte:

- O Estado, como dizia o Nicolau Santos, não tem capacidade para resolver sozinho o problema da pobreza que constitui uma imensa chaga social que nos envergonha. Por isso, necessita tanto das instituições que realizam o imenso trabalho de ajuda e de apoio sistematizado que levam aos mais desfavorecidos. Nem sei mesmo o que aconteceria, se o Estado não pudesse contar com o apoio esforçado e continuado de todas as ONG e dos seus voluntários, que trabalham nesta área social.

- No artigo que escrevi e em que me referia aos dois milhões de pobres em Portugal, naturalmente que estava a pensar apenas naqueles cujos rendimentos são insuficientes para viver com dignidade - os considerados pobres ou em vias de se tornarem pobres.

Mas há todos os outros, que por não terem acesso à formação e à infomação, por serem info-excluídos, são igualmente considerados pobres neste mundo globalizado em que vivemos.

Daí que todos os apoios prestados pelo Banco Alimentar Contra a Fome, pela Entrajuda e por inúmeras organizações que combatem conjuntamente estes flagelos, com o mesmo ideal comum, serem de extrema importância na ajuda à erradicação da pobreza, nas suas várias vertentes, e à exclusão social.

- Mas então, “o que é que podemos fazer concretamente?”

A mente humana não tem limites e, cada um, saberá como “inventar” a melhor forma de ajudar, aquela em que se sinta mais confortável.

Tendo presente que um dos lemas que devemos interiorizar é “o combate ao desperdício”, poderemos, por exemplo, ajudar financeiramente ou com produtos, alimentares ou não, as diversas instituições que consideramos mais credíveis.

Mas para além disso, poderemos voluntariar-nos nessas instituições, contribuindo com o nosso trabalho, com aquilo que sabemos fazer, em prol de quem está mais necessitado. Nas ONG, nas instituições de solidariedade social por elas apoiadas ou directamente junto das pessoas mais carenciadas.

Há um mundo de trabalho para fazer. E, o que eu sugiro, é que, uma vez sentida a vontade de ajudar, de ser verdadeiramente solidário, devem contactar uma das ONG e, de peito feito, oferecer a vossa disponibilidade.

Acreditem que a reponsabilidade social das empresas e da dita sociedade civil não é mais um chavão para impressionar. Todos devemos ser efectivamente solidários para que, e evocando de novo o Nicolau Santos, “os nossos filhos não desistam de viver e trabalhar num país violentamente desigual”.

2 comentários:

Porcos no Espaço disse...

Essas ONGs minimizam o problema, mas o nosso país continuará, ainda assim, a ser "violentamente desigual" porque o sistema em que vivemos torna o fosso cada vez maior.

Os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, embora com estas ajudas não governamentais fiquem um bocadinho menos pobres.

E quanto a isso, o que é que podemos fazer?

Anónimo disse...

Como se costuma dizer, “uma coisa é uma coisa, uma outra coisa é uma outra coisa”.

Quanto ao avolumar das desigualdades, na verdade não se pode fazer muito, a não ser continuar a mostrar o nosso descontentamento e a nossa indignação. Que é isso, de resto, o que temos vindo a fazer neste espaço. Denunciando casos ou, pelo menos, não os deixando esquecer ou alertando, em muitos casos, aqueles andam mais distraídos.

Não é muito, eu sei, mas é aquilo que, ao nosso nível, nos é possível fazer. É uma forma de demonstrarmos que, enquanto cidadãos, permanecemos atentos e que exigimos ao Estado maior preocupação com os seus cidadãos e, sobretudo, com aqueles que estão mais desprotegidos.

Quanto à questão de ajudarmos, com a nossa acção, com o nosso trabalho, os mais carenciados, isso é bastante mais fácil, depende apenas de nós. Basta juntarmo-nos a instituições que comprovadamente estejam no terreno a prestar assistência a quem mais necessita e doar um pouco do nosso tempo e dos nossos saberes em prol da causa comum.