… a determinada altura, alguém se aproximou do carro sem fazer ruído e tocou ao de leve no braço do homem, que continuava pousado na janela, completamente aberta.
O homem, deixou de olhar em frente e virando bruscamente a cabeça fixou o rosto de quem tinha vindo perturbar-lhe aquela tranquilidade aparente. A expressão, já de si muito fechada, tornou-se dura e o esgar que lhe perpassou pelo rosto mostrou bem o seu desagrado.
o-o-o-o-o
A muitos quilómetros dali, numa pequena vila chamada S. Bernardo do Outeiro, naquele mesmo instante, um outro homem – Justino do Ó Salgado – conduzia o seu carro quando sentiu um ligeiro arrepio a subir pelas costas. Não soube ao certo que sensação fora aquela, mas sabia que aquele calafrio o deixara indisposto e, sobretudo, apreensivo. O que se teria passado?
Parou o carro, saiu e dirigiu-se à pequena pastelaria que se encontrava na esquina que dava para a praça central da vila. Ao entrar, mirou-se num espelho que estava mesmo à entrada e tentou perceber se aquele mau estar lhe tinha provocado algum efeito visível na sua expressão. Tinha, tinha de facto carregado ainda mais as rugas da testa que, até ali, não passavam de umas simples rugas de expressão.
Chegou-se perto do balcão e falou em voz baixa com a empregada, que prontamente o atendeu. Chamava-se Marina, era uma jovem bonita e vistosa, de tez morena e cabelos longos e sedosos, talvez demasiadamente longos.
Conversaram durante alguns minutos, olhando frequentemente para a porta da pastelaria e para a vidraça que acompanhava integralmente um dos lados da casa e por onde se podia admirar a praça em toda a sua extensão. Pareciam recear estar a ser observados.
Justino pediu o telefone que pousava ao fundo do balcão, discou rapidamente um número e ficou a aguardar a ligação. Ninguém atendeu.
Voltou a marcar o número ainda mais duas vezes e nada. O olhar reflectia a preocupação e via-se que estava muito ansioso.
Chamou, de novo, por Marina, que acorreu de pronto, sempre com aquele seu ar alegre e brejeiro a que a juventude conferia um toque muito especial.
Conversaram mais uns breves segundos e quando se despediram, Marina deu dois beijos na cara de Justino que, apressado, saiu da pastelaria e rumou direito ao carro.
o-o-o-o-o
Algum tempo depois, soube por um vizinho meu, um senhor que anda sempre na rua a passear o cão, uma daquelas pessoas que está atenta a tudo o que por aqui se passa, que sabe, inclusive, quem são as pessoas que aqui moram e o que fazem, que chega a saber pormenores familiares dos que cá vivem, como as doenças de que padecem ou, até, os desentendimentos que desabam sobre as famílias e que já deram origem a alguns divórcios.
A muitos quilómetros dali, numa pequena vila chamada S. Bernardo do Outeiro, naquele mesmo instante, um outro homem – Justino do Ó Salgado – conduzia o seu carro quando sentiu um ligeiro arrepio a subir pelas costas. Não soube ao certo que sensação fora aquela, mas sabia que aquele calafrio o deixara indisposto e, sobretudo, apreensivo. O que se teria passado?
Parou o carro, saiu e dirigiu-se à pequena pastelaria que se encontrava na esquina que dava para a praça central da vila. Ao entrar, mirou-se num espelho que estava mesmo à entrada e tentou perceber se aquele mau estar lhe tinha provocado algum efeito visível na sua expressão. Tinha, tinha de facto carregado ainda mais as rugas da testa que, até ali, não passavam de umas simples rugas de expressão.
Chegou-se perto do balcão e falou em voz baixa com a empregada, que prontamente o atendeu. Chamava-se Marina, era uma jovem bonita e vistosa, de tez morena e cabelos longos e sedosos, talvez demasiadamente longos.
Conversaram durante alguns minutos, olhando frequentemente para a porta da pastelaria e para a vidraça que acompanhava integralmente um dos lados da casa e por onde se podia admirar a praça em toda a sua extensão. Pareciam recear estar a ser observados.
Justino pediu o telefone que pousava ao fundo do balcão, discou rapidamente um número e ficou a aguardar a ligação. Ninguém atendeu.
Voltou a marcar o número ainda mais duas vezes e nada. O olhar reflectia a preocupação e via-se que estava muito ansioso.
Chamou, de novo, por Marina, que acorreu de pronto, sempre com aquele seu ar alegre e brejeiro a que a juventude conferia um toque muito especial.
Conversaram mais uns breves segundos e quando se despediram, Marina deu dois beijos na cara de Justino que, apressado, saiu da pastelaria e rumou direito ao carro.
o-o-o-o-o
Algum tempo depois, soube por um vizinho meu, um senhor que anda sempre na rua a passear o cão, uma daquelas pessoas que está atenta a tudo o que por aqui se passa, que sabe, inclusive, quem são as pessoas que aqui moram e o que fazem, que chega a saber pormenores familiares dos que cá vivem, como as doenças de que padecem ou, até, os desentendimentos que desabam sobre as famílias e que já deram origem a alguns divórcios.
O meu vizinho, um reformado bancário, antigo delegado sindical e ex-revolucionário saudosista, é daquelas pessoas a quem recorremos quando temos curiosidade em saber o que se passa com certo morador ou de quem é determinado carro. Por isso, ele pertence àquela classe de criaturas que dá sempre jeito ter à mão na nossa rua.
Mas dizia eu que esse vizinho confidenciou-me que o tal senhor que eu via frequentemente dentro do carro, se chamava Manuel do Ó Salgado, era reformado da CP há alguns anos e que morava numa das ruas próximas.
Não consegui perceber quem é que tentara falar com o Manuel do Ó, mas pareceu-me, pela compleição e pelo trajar, que seria uma pessoa bastante jovem.O que reparei, isso sim, é que o Manuel mal se sentira tocado no braço, olhou instintivamente para o relógio, gesto esse que me levou, também, a olhar para as horas.
Pouco passava das onze e meia da manhã ...
2 comentários:
Conseguiste por-nos mais nervosos ainda. Afinal, o que é que o homem, o tal Manuel do Ó Salgado, estava a fazer no carro?
Estou cada vez mais confuso. Isto começa a parecer o "Lost".
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