Já aqui tenho manifestado a minha preocupação pelos sinais que vão aparecendo na nossa sociedade e que revelam uma certa tendência para cercear liberdades fundamentais dos cidadãos, liberdades essas que são pilares da democracia, nomeadamente a liberdade de expressão.
Embora esses sinais sejam reais e tenham vindo a aumentar, gostaria de continuar a pensar, sob pena de me considerarem um tanto ou quanto ingénuo, que eles são fruto dos pequenos poderes que querem mostrar serviço e não que sejam veiculados do poder central.
Vem isto a propósito da visita de dois polícias que “se lembraram” de aparecer na sede do sindicato dos professores da região centro, em vésperas do primeiro-ministro José Sócrates se deslocar à Covilhã.
E a pergunta mais imediata que me ocorre é “o que foram fazer os dois PSP à paisana à sede do sindicato?”
Várias são as respostas possíveis:
- Segundo a Senhora Governadora Civil de Castelo Branco “os polícias iam à Câmara e, pelo caminho, passaram pelo sindicato”.
- Os polícias eram um bocado “cuscas” e, como estavam cheios de curiosidade em saber como o povo iria receber um ilustre filho da terra que até era primeiro-ministro, trataram de ir ao encontro das novidades à sede do sindicato dos professores, uma vez que, estes, estão geralmente bem informados.
- Porque na Covilhã toda a gente se conhece, os polícias decidiram passar pelo sindicato para beber um café, uma vez que a máquina lá da esquadra tinha pifado.
- A visita dos polícias nada tem de anormal porque o procedimento agora usado sempre se tem feito e até pelo telefone.
Como vêm existem múltiplas explicações para um caso que tem feito tanto ruído e, ao que parece, afinal, nada tem de especial. O que deve ter conduzido, aliás, a que o inquérito levado a cabo pelo MAI fosse arquivado “por não terem sido detectados indícios de infracção disciplinar”.
Com todas as (possíveis) explicações encontradas e ainda com o facto do processo ter sido arquivado, não vejo quaisquer motivos para que fiquemos sobressaltados. Sobretudo porque a Senhora Governadora Civil de Castelo Branco nos garantiu que “os polícias apenas tinham ido à Câmara e, portanto, nada mais natural de que, pelo caminho, pararem no sindicato dos professores”. Mais convincente do que isto é impossível...
O certo, porém, é que a chegada de José Sócrates à Covilhã foi bastante animada pelo som das músicas revolucionárias do tempo do PREC, cantadas por José Afonso, José Mário Branco e outros, pelas vaias, apupos e insultos dirigidas ao primeiro-ministro, pelo agitar das bandeiras todas vermelhas e pelas palavras de ordem gritadas a plenos pulmões, acompanhadas por silvos e apitos trazidos pelos manifestantes.
E a provar que em democracia enquanto uns apupam, outros aplaudem, quando Sócrates saiu da escola, onde antes de entrar ele ouvira assobios e vaias, agora à saída, foi obsequiado com aplausos e muitas palmadas nas costas.
Como se vê e como disse José Sócrates na altura, a “democracia é uma festa”!
2 comentários:
E numa festa não entra quem quer, só quem é convidado.
Os polícias "passaram" pelo sindicato para dizer que ninguém ali estava convidado... Mas eles, quais penetras, apareceram na mesma.
E Sócrates tem toda a razão, a “democracia é mesmo uma festa”!
Pena é que, às vezes, com tantos atropelos e interesses em jogo, se esqueçam disso.
Lembram-se do o verso “Já murcharam tua festa, pá”, daquela deliciosa canção “Tanto Mar”, que o Chico Buarque compõs na altura do nosso 25 de Abril.
Que pena continuar tão actual!
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