terça-feira, abril 22, 2008

Pipocas


Para começar, uma declaração de interesses. Detesto ver filmes ao som da mastigação de pipocas.

A esta hora já começaram a vociferar alguns dos meus amigos – espectadores incondicionais de filmes e de televisão que se costumam aconchegar a baldes ou taças de pipocas - que não devo estar bom da cabeça.

Mas é isso mesmo. Detesto ouvir o ruído daquela trituração infindável quando, o que eu pretendo, é tão simplesmente concentrar-me na película. E se em casa de cada um, são livres de fazer o que lhes der na real gana – podem comer pipocas, arrotar ou andar vestidos com fatos de treino bizarros – porque estão no seu território, estão à vontade e não incomodam ninguém, já nas salas de cinema a coisa muda de figura.

Acho deprimente quando as pessoas entram na sala carregadas com baldões enormes a transbordar de pipocas e uns copázios de dois litros de coca-cola. Não só acho que é deselegante como define logo o tipo de pessoa que transporta tais carregos. É, mal comparado, como aqueles que vestem uma roupinha catita mas que calçam uns sapatos mal amanhados. O pormenor dos sapatos faz toda a diferença, exactamente da mesma forma como acontece com o balde das pipocas.

E depois, é todo o remexer no balde, é toda a mastigação que não pára, é toda a agitação dos braços que cruzam o espaço para ir buscar mais uma mão-cheia de pipocas. Tudo enquanto o pacato cidadão se procura concentrar – inutilmente - na trama do filme que está a ser exibido.

No final, e como se a irritação já não chegasse, toda a minha gente se levanta e vai abandonando a sala, deixando atrás de si um enorme e aviltante “campo de batalha”, os copos de coca-cola abandonados, as poças de refrigerante derramado, os baldes de pipocas (por vezes meio cheios) espalhados pelo chão, tudo a lembrar um confrangedor e terrível cenário de guerra.

Tanta coisa que poderíamos ir copiar aos americanos e logo fomos importar esta moda. “Americanices”, como diz um amigo meu!

Para além do mais, considero que este negócio veio desferir um rude golpe na privacidade de cada um. Eu estou ali apenas para ver um filme e não incomodo ninguém. O mínimo que esperaria é que também não me incomodassem com a palpitante deglutição do milho empacotado. Ao fim e ao cabo, tudo se resume a uma simples questão de respeito.


2 comentários:

Anónimo disse...

Estou contigo, meu. Se quiseres posso indicar-te uns cinemas que não vendem pipocas.

Porcos no Espaço disse...

Eu tento ir a cinemas sem pipocas sempre que posso, mas devido ao horário das sessões, às pessoas que me acompanham ou à própria distribuição das cadeias, tal nem sempre é possível.

E como custa ter de levar com o suplício das pipocas! E no final é sempre a javardice que se vê.



Onde é anda a petição? Eu assino já.