Para fugir ao tal vírus informático que teimou em me azucrinar durante mais de uma semana, achei por bem ter uns dias de férias para tentar restabelecer-me da contrariedade, de modo a poder regressar em força à minha actividade normal. Em vão, porém. O tal vírus transformou-se em bactéria e tomou conta deste humilde bloguista, a ponto de me deixar doente. E de tal forma doente que, estando na altura na cidade do Porto, tive que recorrer aos serviços da Urgência do Hospital de Santo António.
Para quem nunca teve a necessidade de utilizar as urgências dos hospitais públicos, não sabe a aventura que aquilo é. Trata-se de um mundo de gabinetes e corredores onde se amontoam doentes e mais doentes e onde se vão observando cenas que impressionam qualquer pessoa, sobretudo pela falta de acompanhamento do pessoal de serviço - médicos, enfermeiros e funcionários. Falta de acompanhamento que, em muitos casos, se arrasta por horas infindáveis e em que tudo se torna mais dramático ainda quando se trata de doentes em estado mais grave e, sobretudo, de doentes muito idosos a que a falta de uma palavra amiga, de um simples gesto de carinho ou de um chegar de um copo de água tornam esse desacompanhamento numa situação desumana.
Durante as quase onze horas que permaneci na urgência tive o tempo suficiente para observar como, em certas fases do processo, o tempo é completamente desperdiçado. Seguramente poder-se-ia fazer mais e melhor. Se compreendo que se tenha que esperar algumas horas pelos resultados de alguns exames, se admito que muitas das esperas sejam o resultado das “urgências” dentro da própria urgência, como por exemplo ter que ir ao bloco operatório fazer uma cirurgia a um doente que requer uma intervenção imediata, outras esperas há em que, por muita compreensão que exista, elas são completamente inaceitáveis.
Vi, por exemplo, pessoas – eram pessoas que estavam ali – em macas, completamente sós, a gritarem de dor, a necessitarem de um apoio para satisfazerem as suas necessidades fisiológicas, horas seguidas a gritar sem que qualquer profissional lhes prestasse a mínima atenção. E fazia doer o coração ver os tais profissionais passarem por esses doentes, completamente insensíveis ao sofrimento traduzido por aqueles gritos lancinantes. Creiam que não estou a exagerar, havia por ali doentes que já estavam à espera de serem atendidos quando eu cheguei e, quando saí, eles continuavam exactamente na mesma situação.
Vi, também, algumas voluntárias muito arranjadinhas que se passeavam aos pares por alguns corredores - não por aqueles onde estavam os doentes que eventualmente mais precisariam delas - em descontraída conversa, pondo os assuntos em dia, mas não acorrendo aos lugares onde, de facto, mais seriam necessárias e onde, certamente, poderiam prestar um serviço eficaz e solidário.
Em suma, vi ali no Hospital de Santo António, no Porto, a mesma desorganização e a mesma falta de atenção para com os doentes que já vi noutras alturas e noutras urgências de outros estabelecimentos hospitares deste país. Admito que temos muito bons médicos e enfermeiros mas a tal desorganização necessita de uma urgentíssima reorganização.
E quando oiço os responsáveis do governo exaltar as inúmeras vantagens e avanços do serviço de saúde público, não posso deixar de pensar em como seria bom que eles se disfarçassem de povo anónimo e se fossem misturar com os demais para verem, ao vivo e sem disfarces, como as coisas acontecem verdadeiramente.
Para quem nunca teve a necessidade de utilizar as urgências dos hospitais públicos, não sabe a aventura que aquilo é. Trata-se de um mundo de gabinetes e corredores onde se amontoam doentes e mais doentes e onde se vão observando cenas que impressionam qualquer pessoa, sobretudo pela falta de acompanhamento do pessoal de serviço - médicos, enfermeiros e funcionários. Falta de acompanhamento que, em muitos casos, se arrasta por horas infindáveis e em que tudo se torna mais dramático ainda quando se trata de doentes em estado mais grave e, sobretudo, de doentes muito idosos a que a falta de uma palavra amiga, de um simples gesto de carinho ou de um chegar de um copo de água tornam esse desacompanhamento numa situação desumana.
Durante as quase onze horas que permaneci na urgência tive o tempo suficiente para observar como, em certas fases do processo, o tempo é completamente desperdiçado. Seguramente poder-se-ia fazer mais e melhor. Se compreendo que se tenha que esperar algumas horas pelos resultados de alguns exames, se admito que muitas das esperas sejam o resultado das “urgências” dentro da própria urgência, como por exemplo ter que ir ao bloco operatório fazer uma cirurgia a um doente que requer uma intervenção imediata, outras esperas há em que, por muita compreensão que exista, elas são completamente inaceitáveis.
Vi, por exemplo, pessoas – eram pessoas que estavam ali – em macas, completamente sós, a gritarem de dor, a necessitarem de um apoio para satisfazerem as suas necessidades fisiológicas, horas seguidas a gritar sem que qualquer profissional lhes prestasse a mínima atenção. E fazia doer o coração ver os tais profissionais passarem por esses doentes, completamente insensíveis ao sofrimento traduzido por aqueles gritos lancinantes. Creiam que não estou a exagerar, havia por ali doentes que já estavam à espera de serem atendidos quando eu cheguei e, quando saí, eles continuavam exactamente na mesma situação.
Vi, também, algumas voluntárias muito arranjadinhas que se passeavam aos pares por alguns corredores - não por aqueles onde estavam os doentes que eventualmente mais precisariam delas - em descontraída conversa, pondo os assuntos em dia, mas não acorrendo aos lugares onde, de facto, mais seriam necessárias e onde, certamente, poderiam prestar um serviço eficaz e solidário.
Em suma, vi ali no Hospital de Santo António, no Porto, a mesma desorganização e a mesma falta de atenção para com os doentes que já vi noutras alturas e noutras urgências de outros estabelecimentos hospitares deste país. Admito que temos muito bons médicos e enfermeiros mas a tal desorganização necessita de uma urgentíssima reorganização.
E quando oiço os responsáveis do governo exaltar as inúmeras vantagens e avanços do serviço de saúde público, não posso deixar de pensar em como seria bom que eles se disfarçassem de povo anónimo e se fossem misturar com os demais para verem, ao vivo e sem disfarces, como as coisas acontecem verdadeiramente.
2 comentários:
Votos que estejam ultrapassados os problemas de saúde.
Caro anónimo
Muito obrigado pelo seu cuidado. Felizmente, parece que o pior já lá vai. Sinto-me em franca recuperação.
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