segunda-feira, março 14, 2011

“Geração em Luta”

Não me juntei aos muitos mil que desfilaram na Avenida da Liberdade em Lisboa no último sábado mas, provavelmente, fiz mal. Como o apelo tinha sido feito em nome da “Geração à Rasca”, entendi que, pela idade que tenho, já não faria parte dessa Geração. Ainda assim, devia ter ido. Se bem que ache o “À Rasca” uma expressão um tanto ou quanto grosseira. Mas isso são detalhes.

A verdade, meus Amigos, é que pertenço a uma geração que está perfeitamente enquadrada no espírito dos que agora se sentem à rasca. É certo que quando entrámos no mercado de trabalho não havia nem falta de empregos nem precariedade laboral mas, em compensação, havia uma guerra que matava e deixava muitos jovens destruídos quer física quer psicologicamente e que desfazia as perspectivas de vida de famílias inteiras. E o que dizer de quem viveu as agruras de uma ditadura que, ao menor sinal de contestação, encarcerava e torturava sem qualquer apelo? Quanto à exploração, não é fenómeno novo. Passámos por isso e sofremos também.

E chegámos aqui, a um tempo em que julgávamos ser de tranquilidade. Mas não, voltaram muitas das “velhas” preocupações e inquietudes pela nosso futuro e pelo dos nossos filhos. Afinal, estudaram, preparam-se melhor e estão diante de um buraco de que não se consegue avaliar a profundidade. Um desespero tamanho e sem soluções à vista.

A minha Geração sente-se, pois, atingida pelo corte das pensões, pelo aumento dos impostos e, sobretudo, pela frustração de ver os nossos filhos sem trabalho e sem esperança. Como não havemos de nos rever na “Geração em Luta” (gosto mais desta designação, deixem lá o “à rasca”)?

Tenho, porém, uma outra preocupação. No sábado houve manifestações e desfiles que mostraram o descontentamento reinante. Mas eu pergunto, acham que isso basta? Pensam mesmo que, pelo facto de protestarem, os governantes vão ser substituídos de imediato e que todas as políticas vão mudar de repente de maneira a fazerem “chover” empregos bem remunerados? Sabemos que as coisas não funcionam assim.

Depois do último sábado toda aquela energia, bem patenteada por jovens de várias gerações, deveria ser aproveitada para continuar a lutar – dentro e no respeito das normas democráticas - por um futuro melhor. Como? É uma questão que nos compete decidir.


2 comentários:

Porcos no Espaço disse...

http://acatarcomestimaoinsulto.blogspot.com/2011/03/mais-coisas-rasca.html

Pode ter sido só uma primeira etapa. É bom sentir que não estamos só a encolher os ombros com descrédito. É bom perceber que há demasiada gente demasiado farta. Pode ser que parta daí.

demascarenhas disse...

Porcos no Espaço, Bem-Vindo! Já sentia a falta dos teus comentários.

Pois pode ser. Mas continuo na minha, para além dos sinais exteriores de insatisfação, tem que haver continuidade na acção. As vontades não podem ficar por isso mesmo, têm que se traçar objectivos e formas de os alcançar. Dentro e no respeito das normas democráticas, insisto. E estas manifestações de sábado foram um bom exemplo de civismo que, ao contrário do que aconteceu noutros países onde provocaram distúrbios, podem ser, de facto, um bom começo.

Como afirmei no texto, pertenço a uma geração que fez (e que continua a querer fazer) a diferença.