Foi, no mínimo, inesperado. Eu que nos últimos anos não tenho assistido aos Festivais da Canção por que os achava enfadonhos e falhos da qualidade mínima exigível, a este, e por mero acaso, vi-o todinho, de uma ponta à outra. E quando, no meio de bocejos, deparei com uns tipos que eu conheço vagamente porque costumam gozar com tudo e com todos, despertei definitivamente e prestei a atenção devida.
Os “Homens da Luta”, Neto e Falâncio (e mais uns quantos amigos), saltaram a terreiro para, no seu jeito habitual, interpretarem “A Luta é Alegria”, uma canção que bem poderia (poderá) ser de intervenção, muito ao jeito do saudoso PREC e que se destinava simplesmente (ou talvez não) a animar a malta e a acordar as plateias da sonolência provocada pelas outras canções concorrentes mais ou menos chochas e descoloridas.
E cumpria-se o programa. Analisadas as formas estéticas e musicais pelo júri nacional, a “A Luta é Alegria” quedava-se algures pelo lado de baixo da tabela, com a dita alegria entregue apenas aos seus intérpretes. A certa altura porém …ouviu-se a voz de um povo que em troca de chamadas a 0.60€ mais IVA votou massivamente no grupo que empunhava um megafone e uns cartazes mais ou menos “revolucionários”. E porque o povo é quem mais ordena, a canção ganhou.
Apesar da vontade popular, de imediato surgiram as críticas e os temores. “Parece mentira, eles vão representar Portugal na Alemanha, o que é que a Europa vai pensar de nós?” Sosseguem que ninguém vai pensar pior de nós do que já pensa agora. A verdade é que já não nos têm em grande conta e aquilo é só um concurso. Quanto ao que for dito, eles não vão entender patavina, quanto à performance podem pensar que nós até somos uns tipos alegres apesar de estarmos à beira da bancarrota.
A canção pode não ter uma qualidade musical por aí além, mas a verdade é que há anos que nos queixamos dessa mesma falta de qualidade. Ou será que ficámos incomodados por alguém ter tido o desplante de nos apresentar uma canção política, quando muito de protesto? Não creio em nada disso, acho-a mais uma canção de mera irreverência, de contestação à política (à política de uma forma geral, tanto a feita pela direita como pela esquerda) em que já ninguém acredita e ao desespero dos cidadãos pelo sentimento de tantas promessas falhadas desde a revolução dos cravos. Ou até, talvez, uma contestação ao próprio festival. Acima de tudo é uma canção bem-disposta e até razoavelmente construída do ponto de vista musical. Mas é sobretudo uma canção de troça, de gozo, de paródia interpretada pela dupla humorista e rebelde que nasceu, faz tempo, na SIC Radical. Nada mais!
1 comentário:
Olá meu bom e velho amigo,
Pois sim, é verdade, cada vez mais o nosso País é motivo de atracção, pois temos clima para todos os gostos, temos boa cerveja, oferecemos boa comidinha, alguns bons espectáculos e a nossa política oferece bons momentos de gargalhadas. Como se isso não bastasse, vamos mandar para a Alemanha em representação de Portugal, aquilo que de melhor sabemos fazer, ou seja, Palhaçadas. Sempre ouvi dizer que Portugal era um pouco de terra à beira mar plantado, eu cada vez mais diria que Portugal é uma “Tenda de Circo” à beira mar plantada e cheia de Palhacitos…Lol
Um grande abraço
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