terça-feira, setembro 11, 2007

Poder-se-á dizer que "uma mão lava a outra"?


Quando uma empresa que durante anos apresentou défices sucessivos, de repente, nos dois últimos exercícios, começa a ter resultados demasiadamente positivos, das duas uma:

Ou as administrações que a lideraram durante décadas, eram claramente incompetentes, ou a equipa que nestes dois últimos anos está à frente dos seus destinos é fantástica e soube aplicar devidamente uma gestão muito rigorosa e competente que conseguiu dar a volta à coisa, de forma a fazer corar de inveja os bancos que, tradicionalmente, são as empresas que conseguem gerar maiores (e mais escandalosos) lucros.

A empresa a que me estou a referir é os CTT que, a exemplo dos bons resultados obtidos no ano passado, registou este ano 27,5 milhões de euros só no primeiro semestre e, mais do que isso, conseguiu que os seus lucros aumentassem nada menos que 224%, permitindo, assim, pelo segundo ano consecutivo, distribuir dividendos ao accionista único, o Estado.


Mas, perdoem-me a incredulidade. Como é que se consegue passar tão rapidamente de resultados tão abaixo da linha de água para uns outros verdadeiramente excelentes?

- Com uma gestão de facto rigorosa e um planeamento bem pensado e bem executado?
- Com redução de efectivos e com recurso a contratações feitas com critérios duvidosos, que nada têm a ver com a história e a cultura da empresa?
- Poupando nos custos (???) com a formação adequada, necessária e sistemática?
- Recorrendo a uma engenharia financeira apropriada, com objectivos bem definidos e que passam, por um lado, pela entrega de dividendos ao accionista Estado e, por outro, pela projecção da imagem do seu presidente, Luís Nazaré, porventura na calha para mais altos voos, como, de resto, já se começaram a ouvir uns rumores por aí?


Qualquer dúvida é legítima e é natural que se pense que, em tudo isto, não joga lá muito bem a “bota com a perdigota”.

É que, ao mesmo tempo que se fazem soar as trombetas, anunciando os magníficos resultados conseguidos pela empresa, chegam-nos ecos da quantidade de carteiros contratados no Minho (e em outras regiões do país, por certo) que vão desde – e isto são notícias veiculadas pela comunicação social – reformados, toxicodependentes, marginais, etc..

Tudo isto é muito estranho de aceitar, sobretudo para as pessoas, como nós, que ainda temos uma certa visão romântica, e quiçá ultrapassada, do “velho” carteiro que nos conhece pelo nome, que nos trás as notícias (as boas e as más), que nos cumprimenta e que é capaz de nos confortar com uma palavra amiga.

Outras notícias que também parecem contrariar o bom desempenho dos correios, e também difundidas pela comunicação social, garantem que os CTT vão compensar os clientes pelas greves de 2006 (81 paralisações que, somadas, dá qualquer coisa como 10 mil dias/homem de interrupção na actividade normal da empresa).

E, aqui, surge mais uma dúvida, como vai processar-se essa compensação e quem vão ser os beneficiários? Para já, quem mais vai lucrar com a tal compensação devido à má qualidade dos serviços, são, obviamente, os clientes que têm contratos com os CTT, em princípio, os grandes clientes.

Depois, e para que não se diga que para o “povão” sobrou nada, a administração dos correios instituiu – ainda como compensação dos maus serviços - uma coisa a que chamou “happy hour” (que bela imaginação, onde é que foram buscar um nome destes, que nunca antes tínhamos ouvido?).

Assim, quem quiser aproveitar os benefícios da “happy hour”, terá que se apresentar às terças-feiras nas estações dos CTT, entre 10h00 e as 12h00, para receber “de borla” um envelope de correio azul pré-franquiado desde que ... desde que procedam, pelo menos, a um envio de correspondência (por acaso não estavam a pensar que lhes iam dar os envelopes de correio azul completamente de mão beijada, ou estavam?).


Bem, mas para além das compensações, por causa das tais greves, aos grandes clientes e a todos aqueles que quiserem usufruir da “happy hour” (que os correios estimam andem à volta de quase um milhão de clientes ocasionais, isto é, de reformados), o que gostaria que a administração dos CTT me esclarecesse é quando é que eu e mais uns milhões de utentes vamos ser compensados pelos maus serviços permanentes, que nada têm a ver com as greves, e que passam, nomeadamente, pelo atraso sistemático da entrega das correspondências ou pelas correspondências registadas que os carteiros se limitam a deixar um aviso nas caixas de correio, em vez de se deslocarem às residências onde os objectos registados deveriam ser entregues.


Então, e perante tantos lucros e compensações pelos inconvenientes provocados pelas grevezinhas, e não esquecendo, claro, a ”feliz ideia” da “happy hour”, resta-nos a nós, os demais prejudicados, questionar se poderemos acalentar uma ténue esperança que seja, não de uma eventual compensação para apaziguar os nossos queixumes, mas de podermos ter um dia à disposição um serviço eficaz e diligente, como já aconteceu em outros tempos?

Ou ficaremos pelas compensações onde “uma mão lava a outra”?

4 comentários:

Anónimo disse...

Realmente é vergonhoso darem emprego a "reformados, toxicodependentes, marginais".
Alguém com um destes rótulos devia ser banido da sociedade e nunca mais ter qualquer oportunidade.

Já agora há um velho ditado, preso por ter cão, preso por não ter cão. Se tem prejuízos é mau, se tem lucros, é mau.

Anónimo disse...

Quem nunca trabalhou e/ou nunca teve contactos com quem trabalha/trabalhou nos CTT, não sabe o que por lá se passa. E aquela muito batida história de que a imprensa publica o que quer, não é mania da perseguição! É mesmo verdade.
Fazer lucro à custa da exploração dos outros é fácil!! E é mais fácil explorar reformados, toxicodependentes e marginais. Porque é que será? Dar oportunidades a quem é banido pela maior parte da sociedade não é vergonhoso. Explorá-los é que é vergonhoso!

Anónimo disse...

Caro az. (com um ponto, como lhe é devido)


Vou tentar ser sucinto na respostas às questões que coloca:


A primeira tem a ver com o dar ou não emprego aos “reformados, toxicodependentes e marginais".

Para já, peço-lhe o favor de reparar que, desta vez, e pensando especificamente em si, tive o cuidado de referir que o anúncio dessas contratações a esses novos carteiros não foi “copiado” de uma crónica do MST. De facto, esse anúncio veio escarrapachado em vários jornais, e em alguns, na primeira página.

Se bem conseguiu interpretar o que eu quis dizer, não está em causa a concessão de uma nova oportunidade (a segunda, a terceira, a que seja) a quem quer trabalhar, muito menos a indivíduos que se podem “encaixar” no tipo de pessoas referidas. É claro que toda a gente tem direito a ter todas as oportunidades de trabalho, sem discriminações.

Agora, e sabendo que apreendeu verdadeiramente o que eu disse, e partindo do princípio que tem idade suficiente para ter convivido com as duas realidades de carteiros, os de outrora e os de hoje, terá que convir que este tipo de contratações não têm em conta uma coisa fundamental. Os correios prestam diferentes serviços, mas há um em especial que é particularmente querido da população e que tem a ver com a tradição e a cultura da empresa. É a proximidade que os carteiros têm com o utente. Eles são a “cara dos CTT”. E tem a certeza de que isso acontece hoje em dia? Não, digo eu. E, note-se, eu nem sequer aponto o dedo aos novos carteiros e ao seu comportamento, porque eles também são vítimas das estratégias montadas pela empresa que os obriga, por exemplo, a uma correria doida para fazer mais do que um “giro” por dia em áreas que, por vezes, são tremendamente extensas. Assim, como exigir-lhes mais?


Quanto à segunda questão, a de preso por ter cão e preso por não o ter, o az. acredita mesmo que, em tão pouco tempo, uma empresa com estas características pode ter uma revolução como a que publicitou?

Perdoar-me-á mas só por ingenuidade pode acreditar que uma empresa que tinha (e já não tem) o monopólio do transporte de correspondências, ainda por cima num tempo em que para além da concorrência feroz que enfrenta, em termos de outras empresas e de net, e mesmo apostando em outro tipo de negócios, pode em apenas dois anos ter uns lucros daquela ordem de grandeza.

Não acha que tantas “vitórias” conseguidas, poderão ter por detrás muita acção de marketing e, até, muitos objectivos políticos?

Como de costume, aguardo o seu contraditório.

Um abraço.

Anónimo disse...

Nada a acrescentar, não sei o que se passa nos CTT, não li notícias sobre os assunto, nem sobre políticas de contratação, nem como foram obtidos os lucros.

Sobre ter convivido com duas realidades de carteiro, não o fiz. Convivi com uma quando vivia em casa dos meus pais e agora não convivo porque estou a trabalhar.
Tal acontece como a maioria da população, assim não sei se foram os carteiros que se afastaram das pessoas ou se foi o contrário.

O contacto mais próximo que tive com carteiros nos últimos anos foi através da mulher de um deles.

Para mim continuam a ser aquelas pessoas que vão entregar as cartas a casa.